UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA LUANA DE ARAÚJO BEZERRA A BIBLIOTERAPIA NA MELHOR IDADE: uma proposta para o Centro de Convivência de Idosos Geraldo Pinheiro em Macaíba - RN NATAL / RN 2018 LUANA DE ARAÚJO BEZERRA A BIBLIOTERAPIA NA MELHOR IDADE: uma proposta para o Centro de Convivência de Idosos Geraldo Pinheiro em Macaíba - RN Monografia apresentada ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Profª Dra. Monica Marques Carvalho Gallotti NATAL / RN 2018 CATALOGAÇÃO DA PUBLICAÇÃO NA FONTE S365b Bezerra, Luana de Araújo. A Biblioterapia na melhor Idade: uma proposta para o Centro de Convivência de Idosos Geraldo Pinheiro em Macaíba - RN/ Luana de Araújo Bezerra. – Natal: UFRN, 2018 Orientadora: Monica Marques Carvalho Gallotti (PhD) Monografia (Bacharelado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Biblioteconomia. Curso de Graduação em Biblioteconomia. R1.N B/i bUlFio/t DerEaCpINia – Monografia. 2. Bibliotecário – Monografia. 3C.D BUib 0li2o7te.4r apeuta – Monografia. 4. Leitura – Monografia. I Borba, Maria do Socorro Azevedo. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. Como o Bibliotecário pode se inserir nas atividades de leitura como Biblioterapia?. LUANA DE ARAÚJO BEZERRA A BIBLIOTERAPIA NA MELHOR IDADE: uma proposta para o Centro de Convivência de Idosos Geraldo Pinheiro em Macaíba - RN Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito básico para conclusão do curso. Orientadora: Profª Dra. Monica Marques Carvalho Gallotti Data da Defesa: ____/____/____ Banca examinadora Prof.ª Dr.ª Monica Marques Carvalho Gallotti Orientadora (UFRN) Prof. Ms. Francisco de Assis Noberto Galdino de Araújo Membro da banca (UFRN) Profa. Dra. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus Membro da banca (UFRN) A meus avós, D. Francisca Neris e Seu Bené (in memoriam), e D. Dina (in memoriam) e João Bezerra (in memoriam), minha bisavó, Bela Neris, minha tia-avó/madrinha, D. Maria Bezerra (in memoriam), à minha amiga Zefa. AGRADECIMENTOS A Deus, razão de minha existência e motivação nos momentos mais difíceis. À minha família, especialmente minha mãe e minha irmã, por sempre me incentivarem e não me permitirem desistir, e também aos meus amigos, minha segunda família, por sua presença, inspiração e dedicação. Notadamente, a Wallas Thomaz, meu parceiro de crime, à “Turma da Rosquinha”: Rita Almeida, Kate Jesus, Cristiane França e Edileide Fernandes, minhas irmãs de formação e de alma, e a Martina Brizolara, cujo apoio e palavras de encorajamento foram fundamentais. Aos professores que, com sua sabedoria e paciência me guiaram até este momento. À Profª Renata Passos, por sua direção no projeto de extensão “Era uma vez... Conta de novo?”, que me proporcionou uma visão mais ampla da Biblioterapia, além de ter sido, de uma forma geral, uma experiência extremamente gratificante. Neste ensejo, agradeço também aos colegas participantes do Bibliocena, por sua amizade e pelos ótimos momentos que vivemos juntos. À Profª Ivanny Rhavenna Medeiros, por me nortear na idealização deste trabalho. À Profª Mônica, por me conduzir nesse processo tão desafiador, agradeço por sua paciência e confiança em mim. A Simone Lopes de Melo, psicóloga do Núcleo de Apoio ao Discente, cujo apoio e dedicação foram imprescindíveis. A todos que contribuíram para o meu desenvolvimento pessoal e acadêmico, meus mais sinceros agradecimentos. “Quando morre um africano idoso é como se se queimasse uma biblioteca”. (Amadou Hampaté-Bâ, 1994). RESUMO A sociedade atual é complexa e desafiadora do ponto de vista econômico, político e social. Devido a avanços da tecnologia como um todo e da ciência em específico, as populações tem se tornado mais longevas. Esta longevidade por sua vez tem causado impactos importantes nesse meio social fazendo com que seja necessário a criação de mecanismos e políticas públicas para cooperar com esta nova realidade. Nesse contexto, um dos aspectos chave é a atenção à saúde mental da população. Uma das alternativas que têm se apresentado nesta seara é a Biblioterapia. Este tipo de ação visa a promoção da atividade do uso de material bibliográfico aliado à medicina ou à psicoterapia, de modo a estimular as pessoas a resolverem seus problemas emocionais. O trabalho visa de forma geral promover uma revisão de literatura sobre o assunto da Biblioterapia com vistas a refletir sobre o tema à luz de sua aplicação para o público idoso. Especificamente o trabalho tem como objetivos: identificar os benefícios da Biblioterapia para os idosos, descrever o Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro” no município de Macaíba/RN e por fim propor atividades de Biblioterapia para o referido centro. A metodologia empregada foi a de pesquisa bibliográfica em fontes de informação pertinentes ao assunto tais como livros, artigos científicos, relatórios estatísticos em formato convencional e eletrônico. Além disso, foi feito um estudo de caso, por meio de uma abordagem exploratória no referido centro. Esta abordagem teve por finalidade a elaboração de uma proposta indicativa de ações em torno da Biblioterapia para esta referida comunidade. Por fim, considera-se que a Biblioterapia pode trazer variados benefícios para a população da terceira idade e que é uma prática auxiliar à terapia para este tipo de público. Palavras-Chave: Biblioterapia. Idosos. Mediação da Informação. Bibliotecário. ABSTRACT Current society is complex and challenging regarding the economic, political and social point of view. Due to advances in technology and science in particular, populations have become longer lasting. Longevity in turn has caused important impacts in this social environment making it necessary to create mechanisms and public policies to cooperate with this new reality. In this context, one of the key aspects is the attention to mental health of the population. One of the alternatives that have been presented in this area is Bibliotherapy. This type of action aims to promote the activity of using bibliographic material allied to medicine or psychotherapy, in order to stimulate people to solve their emotional problems. This work aims in general to promote a literature review on the subject of Bibliotherapy in order to reflect on the theme regarding its application to the elderly public. Specifically, the objective of the study is to identify the benefits of Bibliotherapy for the elderly, to describe the Elderly Center "Geraldo Pinheiro" in the city of Macaíba / RN, and to propose Bibliotherapy activities for the center. The methodology used was the bibliographical research in pertinent information sources such as books, scientific articles, statistical reports in conventional and electronic format. In addition, a case study was made, through an exploratory approach in the mentioned elderly center. The aim of this approach was the elaboration of an indicative proposal of actions around Bibliotherapy for this community. Finally, it is considered that the bibliotherapy can bring varied benefits for the population of the old age and that is an auxiliary practice to the therapy for this type of public. Key words: Bibliotherapy. Elderly. Information Mediation. Librarian. Proposta De Biblioterapia Para o Centro de Convivência do Idoso “Geraldo Pinheiro” LISTA DE FIGURAS E QUADROS Figura 1 - Gráfico de envelhecimento da população..................................................29 Figura 2 - Dimensões da saúde do idoso...................................................................30 Figura 3 - Atividade social do Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro”.....................................................................................................................38 Figura 4 - Atividade social do Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro”.....................................................................................................................38 Quadro 1 - Evolução da Biblioterapia.........................................................................19 Quadro 2 - Tipos de leitura.........................................................................................24 Quadro 3 - Sequência da Biblioterapia aplicada aos idosos......................................32 Quadro 4- Proposta De Biblioterapia Para o Centro de Convivência do Idoso “Geraldo Pinheiro”.....................................................................................................................39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12 2 BIBLIOTERAPIA: CONCEITO, EVOLUÇÃO E ESTADO DA ARTE ........................... 18 2.1 Tipologia da Biblioterapia ........................................................................................... 24 2.2 O profissional Bibliotecário e a Biblioterapia ............................................................ 25 3 BIBLIOTERAPIA E O PÚBLICO IDOSO ...................................................................... 27 3.1 Processo de Envelhecimento ..................................................................................... 27 3.2 Biblioterapia para Idosos ............................................................................................ 31 3.3 Iniciativas e Boas Práticas .......................................................................................... 34 4 CENTRO DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS “GERALDO PINHEIRO”.............................................................................................................................36 4.1 Proposta de Intervenção Biblioterápica no Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro” ............................................................................................................ 39 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 41 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 43 12 1 INTRODUÇÃO Na atualidade um dos fenômenos que tem se destacado na sociedade é o envelhecimento das populações. De acordo com Barreto (2009) “O envelhecimento da população mundial, em especial o crescimento acelerado da população idosa nos países em desenvolvimento, é certamente o maior desafio do século XXI”. Diante dessa realidade é necessário refletir e propor alternativas que visem a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Em relação a este aspecto, é fundamental pensar em diversos assuntos correlatos tais como a saúde física e mental deste público. Torna- se necessário a aplicação de estratégias especificas que auxiliem esta população a fim de atingirem a maturidade com uma boa qualidade de vida. Uma das alternativas tem sido ações de mediação de leitura tais como a Biblioterapia. A Biblioterapia tem como objetivo ser um tipo de terapia que visa auxiliar as pessoas a lidar com problemas emocionais de diversos espectros. Trabalha com a aplicação e uso de materiais literários que são utilizados como apoio para o tratamento de saúde. Este tipo ação informativo surge como alternativa coadjuvante no tratamento psicológico dos indivíduos. Este assunto tem sido alvo de interesse da comunidade científica ao longo do tempo. Variados autores têm se debruçado em pesquisas sobre este assunto. Por exemplo, Ouaknin (1996), Marrs (1995), Glasgow (1978), dentre outros. No entanto, têm surgido na literatura científica algumas pesquisas relacionando a Biblioterapia - ao fazer do profissional da informação, o bibliotecário. Dentre estas podemos mencionar Caldin (2005), Bentes (2005), Pardini (2002). Neste ínterim de forma mais especializada tem surgido um interesse maior de aplicação dos preceitos da Biblioterapia para o público específico de idosos. Neste sentido podemos apontar Castro (2005), Seitz (2006), Rossi et al (2007), Fernández Vázques (1978). A motivação para o desenvolvimento deste trabalho surgiu durante o curso de biblioteconomia por meio da experiência no projeto de extensão intitulado Bibliocena: Era uma vez… Conta de novo?, voltado para a contação de histórias para o público infantil. Tal projeto permitiu aos participantes colocar em prática uma experiência próxima à Biblioterapia e, então, o interesse pela temática foi 13 aumentando, o que resultou na escolha do assunto do trabalho de conclusão de curso. Especificamente, a facilidade de relacionamento com pessoas idosas fez pensar a aplicação da Biblioterapia para esta população e, portanto, definiu o público-alvo do trabalho. O assunto Biblioterapia também possibilita uma conexão com questões relativas à saúde psicológica, especialmente, ao idoso no que se refere aos aspectos cognitivos e afetivo-emocionais nessa idade. Outro motivo deve- se ao fato de que apesar de existir literatura sobre o assunto ainda se faz necessário novas contribuições. O Centro de Convivência de Idosos (CCI) “Geraldo Pinheiro” é o principal espaço de socialização para idosos na cidade de Macaíba, e é considerado um dos melhores do estado do Rio Grande do Norte, atraindo não apenas habitantes do município, mas também de cidades circunvizinhas, atendendo a cerca de 400 pessoas, que podem usufruir de diversas atividades de cultura e lazer, além de assistência médica. Nesse sentido, uma proposta de Biblioterapia para o referido espaço traria inúmeras vantagens para o público em questão. Há, na literatura, diversos trabalhos voltados para a promoção da leitura entre crianças e jovens, mas tende-se a deixar de lado os adultos e idosos nessa questão. Faz-se necessário chamar a atenção para essa faixa etária e para os benefícios que a leitura pode fornecer. Por isso, pensando no uso dos conhecimentos da biblioteconomia para a melhor idade, que observamos ser a técnica de Biblioterapia adequada para as necessidades dos idosos. O trabalho visa, em Geral:  Discutir acerca da Biblioterapia com foco na terceira idade, visando a criação de uma proposta de intervenção para o CCI “Geraldo Pinheiro”. Especificamente o trabalho tem como objetivo:  Identificar os benefícios da Biblioterapia para os idosos;  Descrever o CCI “Geraldo Pinheiro” no município de Macaíba/RN.  Propor atividades de Biblioterapia para o referido centro. 14 Para a consecução dos objetivos propostos acima, este trabalho utilizou procedimentos metodológicos a fim de enfatizar o tema da Biblioterapia. Inicialmente, foi realizada uma visita preliminar ao local de pesquisa, além de entrevista com os responsáveis. Concomitantemente, para atender ao objetivo geral realizou-se uma pesquisa bibliográfica. Gil (2008, p. 50) entende que: “a pesquisa bibliográfica se constitui numa proposta de se tentar compreender e/ou explicar um fenômeno a partir de um referencial teórico, que pode ser composto por livros, artigos científicos, dentre outras fontes”. Já Lakatos e Marconi (2009) apontam que este tipo de recurso documentário visa ao levantamento de toda bibliografia já publicada em forma de artigos em revistas e sites, teses, dissertações, livros, publicações avulsas e imprensa escrita ou online. Em suma, em relação a esta técnica Andrade (2001) indica que a pesquisa bibliográfica é uma habilidade fundamental nos cursos de graduação uma vez que constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Portanto, nosso referencial teórico foi compilado utilizando-se esta técnica com o intuito de identificar pesquisas sobre a Biblioterapia no geral e a Biblioterapia aplicada ao público idoso. No tocante aos outros objetivos propostos, os específicos, foram usadas outras estratégias metodológicas. A fim de contemplar a descrição do publico alvo da pesquisa foram utilizadas estratégias do tipo pesquisa descritiva. A este respeito Gil (2002) indica que esse tipo de pesquisa tem como objetivo descrever as características de determinada população ou fenômeno estabelecendo a relação entre as variáveis. Já Andrade (2002) contempla que a pesquisa descritiva tem como objetivo a observação dos fatos, seu registro, análise, sua classificação e interpretação sem a interferência do pesquisador. Já Triviños (1987) aponta que a pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade. Recorreu-se ainda a uma abordagem do tipo Qualitativa. Godoy (1995, p.58) elenca algumas características principais de uma pesquisa qualitativa tais como considerar o ambiente como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento chave; possuir caráter descritivo; enfatizar o processo de pesquisa como elemento central; a não obrigatoriedade de uso de métodos estatísticos, a interpretação dos fenômenos como elemento central. Por outro lado, Para Gerhardt 15 (2009) aponta que a pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica. Minayo (2011) por sua vez, enfatiza que este tipo de pesquisa: Trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, dentre outros aspectos. (MINAYO, M.C.S., 2011, p. 22). Ainda segundo a autora, os instrumentos de trabalho de campo na pesquisa qualitativa permitem uma mediação entre o marco teórico-metodológico e a realidade empírica. Optou-se ainda por utilizar o método indutivo, que é “um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas” (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 86). Portanto, acredita-se que o conjunto destas estratégias atendem ao objetivo proposto. Para o enfoque da realidade específica, ou seja, para entender a realidade do CCI “Geraldo Pinheiro” em Macaíba foi adotado a técnica do estudo de caso. Nesse sentido, o tipo de caso realizado foi descritivo. Foram observadas e descritas as principais características deste centro. O tipo de pesquisa estudo de caso caracteriza-se por ser um tipo de abordagem em que se estuda um fenômeno ou um caso específico com vistas a um aprofundamento no assunto a fim de se elaborar inferências sobre tal realidade. Para Gulsecen; Kubat (2006), este tipo de estudo é reconhecido pelas Ciências Sociais e permite a exploração e entendimento de variados tipos de fenômenos, desde o mais complexo aos mais simples. Para os autores pode ser considerado um método robusto e ainda holístico pois compreende o fenômeno no todo. Já Andrade (2001) analisa que este tipo de método consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades com a finalidade de obter generalizações. O estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas, por meio de diferentes técnicas de pesquisa, com o objetivo de apreender a totalidade de uma situação e descrever a complexidade de um caso 16 concreto (GOLDENBERG, 1997). O objetivo final deste tipo de estratégia no contexto desta pesquisa é o de subsidiar a construção de uma proposta no campo da Biblioterapia a ser aplicada aos idosos do CCI. Este trabalho foi dividido em partes. A introdução apresenta, de forma resumida, o tema a ser explorado, além da justificativa para a sua confecção. Elenca ainda os objetivos. e os procedimentos metodológicos. A segunda parte, associada ao referencial teórico, intitulada Biblioterapia, aborda o conceito de Biblioterapia, seu histórico e evolução e os métodos utilizados nessa atividade. Ainda nesta parte enfatiza-se o papel do bibliotecário no processo da Biblioterapia. A terceira discorre sobre o processo de envelhecimento e as relações entre a Biblioterapia e o idoso, a importância da prática como uma ferramenta para proporcionar uma melhor qualidade de vida para as pessoas na terceira idade. Apresenta ainda alguns exemplos de boas práticas biblioterapêuticas. A quarta parte apresenta o local examinado, o Centro de Convivência de Idosos (CCI) Geraldo Pinheiro, em Macaíba, relatando a sua importância para a população idosa da cidade. Indica ainda uma proposição pontual de intervenção de ações de Biblioterapia para o referido espaço. Por fim são feitas as considerações finais e apontadas as referências utilizadas na pesquisa. 17 2 BIBLIOTERAPIA: CONCEITO, EVOLUÇÃO E ESTADO DA ARTE Na sociedade atual que se encontra desafiadora do ponto de vista social, econômico, as pessoas têm buscado formas de cooperar com o mundo ao seu redor. Umas das alternativas nesse processo é a terapia que se reveste em uma estratégia para auxiliar em seu equilíbrio emocional e psicológico. Atualmente, tem-se dado maior atenção à saúde mental dos cidadãos, buscando-se compreender e amenizar os impactos dos transtornos mentais em suas vidas. Desses transtornos, pode-se destacar os mais comuns como sendo a ansiedade e a depressão, que afetam principalmente mulheres e pessoas mais velhas. De acordo com dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (2015), cerca de 4,4% da população mundial sofriam com a depressão, sendo prevalente em adultos mais velhos, entre 55 e 74 anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde1, a doença é um dos principais fatores incapacitantes para o ser humano. No Brasil foram documentados, no ano de 2015, mais de 11.500.000 casos de depressão, representando 5,8% da população do país, sendo a maior incidência dessa patologia na América Latina. Estima-se ainda que, em 2020, a depressão seja a principal causa de afastamento do trabalho. Faz-se necessário criar estratégias que promovam a saúde mental dos indivíduos, especialmente os idosos, para fornecer melhor qualidade de vida. Dentre as estratégias utilizadas na terapia para o combate a caos tais como o descrito acima, temos a Biblioterapia. Esta por sua vez, é descrita por diversos autores como Dali (2018), Caldin (2001) Ferreira (2003) como o ato de utilizar material literário para auxiliar no tratamento de doenças e problemas emocionais. A Biblioterapia tem sido definida como sendo um tipo de terapia que visa auxiliar as pessoas na resolução de problemas de ordem psicológica geral tais como os problemas emocionais. Surge como um tratamento coadjuvante da psicoterapia (CALDIN, 2001). 1 https://www.paho.org/bra/ 18 Conforme observado, a Biblioterapia é um procedimento importante e tem potencialmente o poder de auxiliar o paciente no tratamento de sua enfermidade. No entanto, é importante lembrar que Biblioterapia é diferente de psicoterapia. Como afirma Dali* (2014): A terapia não está no livro. Nem está no ato de ler. A terapia está na discussão subsequente, guiada por um terapeuta qualificado. Além disso, há um perigo claro de colocar romances nas mãos de pessoas em perigo, adolescentes e crianças, esperando que isso resolva seus problemas.2 Dessa forma, de acordo com o exposto acima vemos que a Biblioterapia preocupa-se em realizar a mediação da informação e não apenas realizar uma contação de estórias de forma desconexa. Há uma preocupação em torno desta ação informativa de modo a trabalhar direcionada a apoio a objetivos de promoção de saúde por parte dos pacientes, mas sem necessariamente confundir-se com a psicoterapia. Outro aspecto a ser mencionado é que este tipo de ação requer preparo por parte do profissional e por vezes a formação de equipes multidisciplinares. É importante dissociar a ação da Biblioterapia da terapia em estado puro. Pereira (1996) confirma isso ao declarar que: Biblioterapia não é psicoterapia. A. palavra terapia origina-se da palavra grega para cura. No entanto, Biblioterapia não se restringe ao contexto cura, mas vale também como descoberta do sentido verdadeiro do mundo. A meta da Biblioterapia deveria ser vista internamente e ser compreensível. É importante que os biblioterapeutas estejam conscientes do poder que podem engendrar no cliente. (PEREIRA, 1996, p. 41). Etimologicamente, Biblioterapia significa a terapia por meio dos livros: o termo é formado a partir dos radicais gregos “biblion”, que significa livro, e “therapeia”, que significa tratamento (OUAKNIN, 1996). Trata-se do uso de material bibliográfico aliado à medicina ou à psicoterapia, de modo a estimular as pessoas a resolverem seus problemas emocionais. De acordo com Alice Bryan (apud CALDIN, 2 Documento eletrônico não paginado, ver * Dr. Keren Dali, Faculty of Information & Media Studies, Western University, Ontario, Canada. ON BIBLIOTHERAPY. Disponível em: , acesso em 22 de maio de 2018. 19 2001), Biblioterapia é a prescrição de materiais de leitura que auxiliem a desenvolver maturidade e nutram e mantenham a saúde mental. No entanto, De acordo com Mattews e Lonsdale (1992 apud Caldin, 2001) indica que a Biblioterapia constitui-se em uma terapia de leitura imaginativa, que compreende a identificação com uma personagem, a projeção (o leitor discerne a ligação da personagem com o seu caso), a introspecção (o leitor entende e educa suas emoções), e a catarse (a resposta emocional). Shrodes (1955 apud Caldin, 2001) conceitua a Biblioterapia como sendo “um processo dinâmico de interação entre a personalidade do leitor e a literatura imaginativa, que pode atrair as emoções do leitor e liberá-las para o uso consciente e produtivo”. Ainda segundo Shrodes (1955), este tipo de terapia realiza a “leitura dirigida e discussão em grupo, que favorece a interação entre as pessoas, levando-as a expressarem seus sentimentos: os receios, as angústias e os anseios”. Já Buonocore (1976, p. 71) define Biblioterapia como “a arte de curar as enfermidades por meio da leitura”. Convém mencionar, nem sempre houve esse consenso em relação à nomenclatura como pode ser visto na passagem abaixo: Houveram muitos problemas acerca da terminologia, pois muitos estudiosos não aceitaram o termo Biblioterapia afirmando que essa terminologia era muito ampla. Dessa forma, surgiram diversos termos, como biblio-diagnóstico para avaliação, ou bibliofilaxia como o uso preventivo pela leitura, bibliogomia e também terapia bibliotecária. Conforme Pereira (1996, p.47), “os termos têm aplicações mais amplas porque não são limitados pela palavra Terapia. Terapia de grupo tutelada e Literapia tem também sido usadas para evitar o prefixo Biblio”. Literapia é formado por literatura e terapia, termo apresentado pelo Dr. Michael Shiyo. Até o momento, Literapia foi considerado o termo mais adequado, pois enfatizou a literatura “imaginativa, mais do que simplesmente um estudo didático, informativa e também apresentar a literapia como BONA FIDE, método de primeira qualidade da psicoterapia”. (PEREIRA, 1996, p. 47) No entanto, de forma geral, percebe-se que a Biblioterapia é um método que se utiliza da leitura e outras atividades lúdicas como coadjuvante no tratamento de pessoas acometidas por alguma doença física ou mental. É aplicada como educação e reabilitação em indivíduos em diversas faixas etárias. 20 O campo científico tem evoluído bastante especialmente desde o início dos anos 40 do século passado. Houve um aumento considerável na quantidade de publicações especialmente de 2015 em diante. Atualmente já existem grupos de pesquisa que dedicam ao aprofundamento do assunto. Dentre estes pode-se apontar o Centro de Estudos Acumen da Universidade do Alabama, o Karolinska Institutet na Suécia e o Bibliotherapy Centre em King´s College-Londres, todos em nível internacional3. Já nacionalmente, o assunto também tem sido debatido em universidades tais como o Laboratório de Estudos em Biblioterapia, Bibliotecas Escolares e Leitura da UFSC, o Laboratório de Investigações Bakhtinianas Relacionadas a Cultura e Informação - LIBRE-CI, Grupo de capacitação Biblioterapia em Estudo, realizado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e Grupo Ledores iiLer na PUC-Rio.4 Já existem também cursos em nível de extensão oferecidos pela UFSC. Os primeiros indícios do uso da Biblioterapia como uma terapia remonta dos anos 40 do século passado como vemos no quadro abaixo: QUADRO 1- Evolução da Biblioterapia ANO DE REFERÊNCIA FATO HISTÓRICO 1940 Programa da Biblioteca do McLean Hospital, em Massachussets, envolvendo os aspectos psiquiátricos da leitura; ainda nesse ano, a Meninger Clinin eleva a Biblioterapia ao status de ciência. 1941 O Orland’s Ilustrated Medical Dictionary estabelece a primeira definição para Biblioterapia, que é o emprego de livros e a leitura deles no tratamento de uma doença nervosa. 1949 A pesquisadora Caroline Shrodes defendeu tese de Doutorado em Filosofia e Educação na Universidade de Berkeley, na Califórnia, com o trabalho Bibliotherapy: a theoretical and clinica- experimental study 1961 O Webster’s Third Internacional Dictionary, define Biblioterapia como o uso de materiais de leituras selecionados como auxiliares terapêuticos em medicina e psiquiatria, bem como o auxílio na solução de problemas por meio de uma leitura dirigida. 1996 Ouaknin afirmou que a Biblioterapia era o tratamento através do livro, ou seja, a utilização de materiais de leitura como auxiliares em 3 Dados coletados em Maio de 2018 na Base de Dados Scopus com a expressão de busca “Bibliotherapy” 4 Informação extraída do Diretório de grupos de Pesquisa do CNPQ em Maio de 2018. 21 tratamentos medicinais e psiquiátricos. Fonte: Adaptado de: Lopes (2018) Como observado, uma institucionalização da prática da Biblioterapia ocorre especialmente após a década de 40 do século passado. No entanto, as práticas literárias têm sido utilizadas com este fim há mais tempo do que isso. É importante ressaltar que o uso da leitura como algo recreativo e do ponto de vista terápico tem sido feito há bastante tempo, sem no entanto ser denominado de Biblioterapia. O processo da Biblioterapia é semelhante ao da psicoterapia, como explica Silva et al (2013): Os elementos presentes na Biblioterapia são comparáveis aos da psicoterapia: universalização, identificação, catharsis e "insight". O conteúdo do livro é apresentado como uma experiência que pode trazer a recordação de um fato ao qual o leitor está preso. O conteúdo da leitura pode trazer a identificação entre o leitor e um personagem do texto apresentado. Esta experiência pode provocar também subitamente o "insight" levando o paciente à aceitação da realidade. (SILVA, Noemy Candida da Silva Candida et al., 2013. p. 3079-3094). Observa-se que a Biblioterapia como atividade prática se desenvolve no âmbito de ações de comunicação por meio da leitura, por vezes com auxílio de outros materiais tais como elementos audiovisuais ou recursos semelhantes: A terapia pode ser aplicada de várias maneiras. A leitura do material escolhido pode ser feita antes ou durante a reunião. O terapeuta pode ler alto ou o grupo poderá ler alto, junto ou individualmente. Geralmente o livro é escolhido pelo paciente dentro de um limite de opções. Em seguida, o médico debate o assunto. Isso poderá ser feito em forma de uma simples discussão ou através de psicodrama, criação literária nos diversos estilos, em grupo ou isoladamente (idem). Assim, nota-se que a atividade da Biblioterapia vai além de leitura mecânica de um item de informação. O seu intuito é provocar uma conexão com o receptor e a partir disso lhe trazer não só informação, mas divertimento e até mesmo reflexão sobre sua situação psicológica. Paiva (2011) aponta que esse tipo de terapia poderá auxiliar o indivíduo a enxergar outras perspectivas e perceber outras opções de comportamento, pensamentos e sentimentos; a capacidade de avaliar questões de 22 seu cotidiano com mais clareza para enfrentar as dificuldades, ajudando no distanciamento da sua dor e a expressar seus pensamentos e sentimentos, possibilitando uma percepção mais apurada de sua própria condição existencial, favorecendo a redução da ansiedade. A Biblioterapia tem variados objetivos, como: Ajuda na adaptação à vida hospitalar; a melhora na autoestima; o alívio às tensões diárias; o revigoramento das forças; a amenização da ansiedade e do estresse; ajuda para lidar com os sentimentos negativos, como a raiva e a frustração; condução ao riso; preservação da saúde psicológica; propício na compreensão emocional e intelectual; favorecimento na socialização pela participação em grupo e a permissão a uma conexão com o mundo e o contato com a realidade. (VALENCIA; MAGALHÃES, 2016, p. 5). Conforme exposto, a Biblioterapia apresenta inúmeras vantagens especialmente às relacionadas à prevenção de doenças, promoção da inclusão social bem como auxiliar na gestão da saúde psicológica. Visa outrossim uma reflexão natural da condição do paciente e uma alteração de seu estado emocional trazendo benefícios ao paciente, ao seu meio e familiares. A Biblioterapia pode ser aplicada de diversas formas e em contextos variados. A literatura clássica da área sumariza e indica as seguintes áreas: Medicina Geral: tanto com adultos quanto com crianças, tem sido aplicada a diversos problemas, incluindo deficientes visuais, idosos e doentes crônicos. Psiquiatria: a técnica poderá ser aplicada em várias síndromes, como psicose, esquizofrenia, alcoolismo e problemas comportamentais; sendo que a Biblioterapia, geralmente, é utilizada com outras técnicas, como psicodrama, hipnose etc. Educação: a utilização poderá mudar atitudes raciais, como bullying e desvio de comportamento, sendo valiosa para o ensino de crianças com dificuldade de aprendizado ou superdotadas. Correcional: poderá ser aplicada em delinquentes juvenis, reclusos ou não em instituições de reabilitação social e química etc., sendo usada como meio de libertação de sentimentos hostis, para tratamentos específicos, ocasionados por drogas e transtornos emocionais. (ORSINI, 1982). Além dos campos mencionados, a Biblioterapia tem forte ligação com a área da Biblioteconomia. Isto pôde ser evidenciado historicamente pelo fato de que o caráter terapêutico da leitura se deve aos bibliotecários da Cruz Vermelha, que 23 contribuíram na construção de bibliotecas nos hospitais do Exército, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). (SILVA, Noemy Candida da Silva Candida et al., 2013). Na área da biblioteconomia a Biblioterapia se encaixa perfeitamente uma vez que o bibliotecário, como profissional da informação foi formalmente educado para atuar com a mediação da informação. Segundo Almeida Júnior (2009, p. 92), o conceito de mediação da informação é percebido como: Toda interferência – realizada pelo profissional da informação –, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural; individual ou coletiva; que propicia a apropriação de informação que satisfaça, plena ou parcialmente, uma necessidade informacional […]entende-se que mediação da informação está diretamente ligada às ações implícitas e explícitas, voltadas para o usuário, e que a mesma é fundamental nas práticas do profissional da informação No contexto da Biblioterapia, a mediação é do tipo consciente e a interação se dá entre o biblioterapeuta/bibliotecário e o paciente. Esse tipo de ação se reveste em uma ação de comunicação da informação mediante a leitura que é feita sob o ponto de vista lúdico e terapêutico. 2.1 Tipologia da Biblioterapia Para ser aplicada, a Biblioterapia necessita de um ambiente propício e de um contexto específico. Outro elemento a ser considerado é o tipo, ou a motivação para o seu desenvolvimento. São variados os tipos de práticas associadas à Biblioterapia. O quadro a seguir indica três tipos: QUADRO 2- Tipos de Leitura TIPOS DE TERAPIA DE LEITURA DESCRIÇÃO Leitura de crescimento Tipo de leitura que visa a diversão e educação do paciente Leitura Factual Visa preparar o paciente para o tratamento hospitalar Leitura Imaginativa Busca explorar os sentimentos e tratar problemas emocionais. 24 Fonte: Adaptado de: MATTHEWS; LONSDALE (1992) Conforme apontado, os tipos relacionam-se às modalidades de leitura, ações de mediação da informação com distintos objetivos. A união dos tipos de leitura é que trará benefícios ao paciente. Por outro lado, Ferreira (2003) classifica a Biblioterapia em clínica, institucional e para o desenvolvimento pessoal. A primeira se destina a pessoas que possuem sérios problemas comportamentais, e é aplicada principalmente em instituições de saúde, como clínicas e hospitais. A segunda é um tipo de auxílio fornecido por uma instituição a seus usuários, visando a conscientização sobre doenças mentais, distúrbios de comportamento, ajustamento e desenvolvimento pessoal, e deve ser aplicada por um conjunto de profissionais, incluindo um bibliotecário treinado e profissionais de saúde ou educação. A última é descrita como um apoio literário personalizado, que pode ser utilizado como forma de prevenção ou de correção. Pereira (1996), por sua vez, confirma os tipos acima citados, e aponta que no caso da Biblioterapia clínica e institucional faz-se necessário o acompanhamento de um profissional de saúde. Já a Biblioterapia desenvolvimental pode ser aplicada pelo bibliotecário. Acrescenta ainda que esse tipo de Biblioterapia pode auxiliar a pessoa a suportar problemas individuais, tais como divórcio, gravidez, morte, preconceitos e outros desafios presentes no cotidiano. Dentro do contexto acima mencionado está o biblioterapeuta que tem evidentemente um papel fundamental neste processo sendo o de: [...] cuidar do ser, isto é, essencialmente, cuidar da liberdade e da abertura que provoca uma linguagem em movimento. O terapeuta deve assim “desfazer” não somente os “nós da alma”, que são um entrave a vida e a inteligência criadora, mas também os “nós da linguagem”, palavras encerradas na prisão de um sentido único. (OUKANIN, 2006, p.21). Portanto, de acordo com o exposto anteriormente a Biblioterapia se reveste de uma importante atividade que pode gerar muitas vantagens para aqueles que necessitam. Se bem aplicado promove a evolução do quadro de saúde de indivíduos e contribui para a promoção do bem-estar e qualidade de vida. 25 2.2 O profissional Bibliotecário e a Biblioterapia O bibliotecário enquanto profissional da informação tem como responsabilidade principal lidar com a informação em seus variados suportes, promover ações organização, tratamento e disseminação desta. Dessa forma, quaisquer ações voltadas para a mediação da informação estão ligadas ao seu “metier”. Nas ações de Biblioterapia o bibliotecário atua como mediador entre a informação contida nos itens e o paciente que recebe e internaliza estas informações. O conceito de mediação é melhor explorado por Naves e Almeida Júnior (2004, p. 85): Mais do que a informação, o bibliotecário deve estar preocupado com a mediação da informação. Hoje, nossa reflexão aponta para a mediação – muito mais do que a informação – como o objeto principal da Biblioteconomia e, portanto, do fazer bibliotecário. Tendo a mediação como diretriz, como norte, como objeto, o bibliotecário pode alterar, pode transformar sua ação social, não a ideal, mas a real. o profissional mediador pode interferir eticamente no cotidiano da pessoa, fomentando a busca de informação e de leituras, e, por meio destas, um conhecimento adquirido se torna uma construção constante da vida. (NAVES; ALMEIDA JUNIOR. 2004, p. 85). Portanto, pode-se ver que a mediação da informação pode aplicada ao campo social e é justamente nesse espaço é que se enquadra a Biblioterapia. O papel do bibliotecário nesse processo é o de selecionar os itens de informação adequados às necessidades do público, participar de ações de contação de estórias e teatros com uso de fantoches, organizar eventos voltados para ações literárias, organizar brinquedotecas, auxiliar em ações de musicoterapia. No entanto, este profissional necessita de conhecimentos, de educação continuada para exercer as atividades mencionadas acima e fazer parte da equipe da Biblioterapia. Nesse sentido, a educação do bibliotecário deverá contemplar disciplinas que voltem a discussão para este tema. Ainda são poucos os cursos que têm em seu currículo assuntos relacionados a Biblioterapia. Pinto (2005) questiona a atuação do bibliotecário e conclui: 26 [...] a Biblioterapia é uma seara de atuação para o bibliotecário, porém a sua prática necessita de conhecimentos do terreno da psicoterapia; portanto essa vivência deveria ser implementada conjuntamente com psicólogos, terapeutas e outros profissionais desse ramo. É (sic) interessante que, nas discussões travadas no âmbito dos cursos de Biblioteconomia, em virtude da implantação dos seus projetos políticos pedagógicos, a Biblioterapia como lócus de ação do profissional de informação (bibliotecário) também seja contemplada, de maneira a oferecer (sic) oportunidades aos que buscam conhecimentos sobre esta disciplina (PINTO, 2005, p. 42). No entanto, é importante discutir os contextos específicos onde são aplicados a este tipo de procedimento. Um destes contextos importantes é a realidade da Biblioterapia aplicada aos idosos. Desta forma, a seguir abordar-se-á este assunto. 27 3 BIBLIOTERAPIA E O PÚBLICO IDOSO Antes de enveredar pelo assunto da Biblioterapia aplicada ao público idoso faz-se necessário pontuar uns elementos chave tais como: conceitos e características deste período de desenvolvimento humano, o processo de envelhecer, e por fim a relação Biblioterapia e tratamento de pessoas idosas. 3.1. Processo de Envelhecimento O Conceito de velhice/idoso5 pode ser definido como sendo uma fase da vida em que os seres humanos atingem uma maturidade do ponto de vista biológico e cronológico. Essa linha de pensamento pode ser corroborada uma vez que para Henrard (1997) indica que “o envelhecimento é um conceito de duplo sentido que engloba a senescência como expressão do desenrolar do tempo biológico, e o avanço da idade como o desenrolar do tempo cronológico”. Portanto, pode-se perceber que este conceito é complexo e possui múltiplos ângulos. O conceito de velhice é amplo e subjetivo atrelado a fatores ligados ao contexto em que vive o idoso, a sua condição de saúde, econômica e social. Para Brito e Litvoc (2004) “o envelhecimento é um fenômeno que atinge todos os seres humanos, independentemente. Sendo caracterizado como um processo dinâmico, progressivo e irreversível, ligados intimamente a fatores biológicos, psíquicos e sociais”. Para Birren e Schroots (1996), a definição do envelhecimento pode ser compreendida a partir de três subdivisões: Envelhecimento primário, secundário; e terciário conforme vemos a seguir: 5 No Brasil a questão da velhice pode ser analisada à luz da Lei no 10.741/2003, o Estatuto do Idoso, o Estatuto define como idosa a população de 60 anos ou mais, o que ratifica o patamar estabelecido pelas Nações Unidas em 1982. Em 1994, a esperança de vida ao nascer da população brasileira foi estimada em 68,1 anos. Entre 1994 e 2011, este indicador aumentou 6,0 anos e, entre 2003 e 2011, 2,8 anos, alcançando 74,1. Isso tem sido acompanhado por uma melhoria das condições de saúde física, cognitiva e mental da população idosa, bem como de sua participação social. Em 2011, 57,2% dos homens de 60 a 64 anos participava das atividades econômicas” 28 Envelhecimento primário, envelhecimento normal ou senescência: é uma característica genética típica da espécie humana, que atinge de forma gradual e progressiva o organismo, possuindo efeito cumulativo. Nesse período, o indivíduo está sujeito à influência de vários fatores determinantes para o envelhecimento, como exercícios, dieta, estilo de vida, exposição a evento, educação e posição social; Envelhecimento secundário ou patológico: refere-se a doenças que não se confundem com o processo normal de envelhecimento. Estas enfermidades variam desde lesões cardiovasculares, cerebrais, até alguns tipos de cancro (este último podendo ser oriundo do estilo de vida do sujeito, dos fatores ambientais que o rodeiam, como também de mecanismos genéticos). Envelhecimento terciário ou terminal: o período caracterizado por profundas perdas físicas e cognitivas, ocasionadas pelo acumular dos efeitos do envelhecimento, como também por patologias dependentes da idade. Ainda nesta linha de pensamento outros autores, como Netto (2002), indicam que o envelhecimento primário é geneticamente pré-programado e universal, enquanto o envelhecimento secundário resulta das interações das influências externas, e pode variar de acordo com o meio em que o indivíduo está inserido. Esse pensamento é compartilhado por Spirduso (2005), que aponta ainda a forte interação entre o envelhecimento primário e secundário, embora suas causas sejam distintas, visto que o estresse e doenças podem acelerar o processo de envelhecimento e aumentar a vulnerabilidade do indivíduo. Como observado, as três fases não são concomitantes, são progressivas e cada uma delas caracteriza-se por situações próprias. Torna-se importante distinguir as três fases para que qualquer que seja a abordagem de trabalho com esse público possa ser feita de forma mais efetiva. Além de situar a questão do envelhecimento atrelado a fases distintas, um outro tipo de abordagem para o entendimento do processo de envelhecimento relaciona- se a compreensão da idade cronológica, biológica, psicológica e social (FECHINE, 29 2015). Os fatores ligados a origem cronológica, ligado evidentemente a uma situação de tempo. Já outra faceta do envelhecimento estaria correlacionada a condicionantes ligados à idade biológica que seria regida por condições do organismo humano. Uma última faceta deste espectro seria ligada a idade psicológica que se refere a elementos de maturação mental. Por fim, a idade social que se refere a uma percepção da idade ligada ao contexto social do país, onde por exemplo em um país considera-se uma pessoa de 60 como idosa, já outro com uma taxa de mortalidade maior esta pessoa pode ser considerada de meia idade. Na atualidade o avanço da tecnologia beneficiou sobremaneira a ciência e esta por sua vez, contribuiu para o incremento da promoção à saúde e qualidade de vida o que tem ocasionado uma maior longevidade da população no geral. Nesse sentido este fenômeno é considerado importante e suas consequências têm sido estudadas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) apontou estatísticas relacionadas a este fenômeno no Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde de 20156 que até o ano de 2050 haverá no mundo mais de 1.800,000 pessoas idosas, conforme gráfico abaixo: Figura 1- Gráfico de Envelhecimento da População 6 Para mais informações consultar: https://bit.ly/2JBvLPO 30 Fonte: Organização Mundial de Saúde (2015) Portanto, pode-se perceber acima que existe um aumento gradativo da população idosa com mais de 60 anos. Essa estatística cria impactos sociais muito importantes. Se por um lado existem mais pessoas idosas por outro será necessário a criação de políticas públicas que trabalhem diretamente com esta população. Estas políticas por sua vez precisam enfatizar todas as dimensões do envelhecer, desde aspectos ligados a saúde e lazer, do convívio social, familiar, dentre outros. São necessários programas sociais e a existência de instituições que promovam ações para este tipo de público. Para o atendimento destas necessidades, a Organização Mundial de Saúde leva em consideração quatro dimensões para o atendimento global ao idoso, expostas na Figura 1: Figura 2: Dimensões da Saúde do Idoso Física Espiritual Psicológica Social Fonte: OMS (2018) Portanto, nota-se que as quatro dimensões formam um ciclo contínuo, se complementam e precisam ser tratadas a fim de promover a saúde global deste tipo de população. Este trabalho enfatiza as dimensões psicológica e social do idoso, abordando-se ações ligadas a Biblioterapia para este tipo de público. Em seguida discorrer-se-á sobre ações de Biblioterapia aplicadas a este tipo de público. 31 3.2. Biblioterapia para Idosos Como mencionado anteriormente, a saúde do idoso é algo complexo e precisa ser levado em consideração no todo, enfatizando-se todas as suas facetas. Todas as áreas são importantes mas o fortalecimento da dimensão psicossocial é fundamental e contribui para dar sustentação às outras áreas. Neste contexto, existem variadas alternativas e estratégias de atendimento. Uma destas alternativas é a da aplicação dos preceitos da Biblioterapia a este tipo de público. Nesse sentido uma personalização biblioterápica é fundamental. Deve-se levar em consideração as particularidades deste grupo, suas suscetibilidades a fim de propor tais ações de informação. As ações de mediação da informação no campo da Biblioterapia iniciam-se por meio de um contato do bibliotecário com o público alvo. Em geral os procedimentos são realizados em instituições, centros de cuidados de idosos ou em hospitais, clínicas, dentre outros. É importante o que biblioterapeuta tenha conhecimentos básicos da Biblioterapia e esteja apto e treinado para tal. Torna-se importante que o profissional tenha formação na área e que seja parte de uma equipe composta por outros profissionais da saúde. Como apontado no capítulo 2 deste trabalho, a Biblioterapia é aplicada numa sequência específica, em fases distintas com objetivos próprios. Ao todo são recomendados a aplicação de seis componentes, conforme exposto no quadro abaixo: QUADRO 3- Sequência da Biblioterapia Aplicada aos Idosos Identificação O mediador apresenta os personagens e diante disso há uma empatia do paciente para com estes. Quanto mais o paciente se “enxergar” no personagem mais produtivo será o processo. Catarse O biblioterapeuta promove a sensibilização do paciente no sentido de levá-lo a um estado de catarse. Partindo do pressuposto que toda experiência poética é catártica, dessa forma, catarse pode ser entendida como pacificação, serenidade e alívio das 32 emoções. Uso do Humor Refere-se ao uso deste recurso nas ações de Biblioterapia. Textos que privilegiem o humor constituem um exemplo de possibilidade terapêutica por meio da leitura. O uso deste tipo de recurso tem como objetivo transformar as possíveis situações de dor em situações de prazer por meio do estímulo lúdico. Introjeção A introjeção constitui-se em um processo evidenciado pela investigação analítica: "o sujeito faz passar, de um modo fantasístico, de ‘fora’ para dentro’, objetos e qualidades inerentes a esses objetos" (LAPLANCHE; PONTALIS,1994,p. 248). Está estreitamente relacionada com a identificação. Projeção A projeção é a transferência aos outros de nossas ideias, sentimentos, intenções, expectativas e desejos. Segundo Laplanche; Pontalis (1994, p. 374), a projeção é, "no sentido propriamente dito, operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro – pessoa ou coisa – qualidades, sentimentos, desejos e mesmo ‘objetos’ que lê, desconhece, ou recusa nele. Introspecção A introspeção, segundo Michaelis (1998, p. 699), é a "descrição da experiência pessoal em termos de elementos e atitudes" a "observação, por uma determinada pessoa, de seus próprios processos mentais". Dessa forma, a leitura, ao favorecer a introspecção, leva o indivíduo a refletir sobre os seus sentimentos – o que é terapêutico, pois sempre desponta a possibilidade de mudança comportamental. Fonte: elaborado pela autora Como foi visto, a aplicação da Biblioterapia visa promover o engajamento e envolvimento do idoso de forma paulatina, apelando para a sua sensibilização ao longo do processo. Por meio da discussão de estórias e outras realidades trazidas pela ficção, pela poesia é possível enfatizar situações delicadas ou situações problema buscando-se soluções para as mesmas, mas ainda promovendo um certo distanciamento. A ideia central do processo é permitir, por meio desta atividade, a externalização de emoções, fazendo com que o idoso possa conseguir alívio para suas angústias e melhorar sua condição psicológica, e com isso promover um 33 atendimento e melhoria global de sua situação de saúde. Em outro aspecto a ação biblioterápica convida a reflexão da condição individual do idoso e sua inserção na sociedade em que vive. A este respeito Bachert (2006, p. 62) indica que nesta sequência: […] devem ser criadas atividades cujo principal objetivo é tornar seu efeito significativo para cada participante. Neste sentido, deve-se incentivar o estabelecimento de relações entre as informações apresentadas e o tema trabalhado, colocando em segundo plano a interpretação e análise textual dos recursos utilizados, informações que poderão ser utilizadas apenas para contextualização da obra em foco. Os membros do grupo devem ser incentivados a expor suas opiniões com liberdade, tendo claro que não existem repostas certas, mas sim a necessidade de buscar soluções e conseguir definir estratégias que possam viabilizar sua transposição para situações vivenciadas por cada um em seu cotidiano. (BACHERT, Cristina Maria D. et al. 2006, p. 62). Portanto, nota-se que esta atividade pode trazer inúmeros benefícios para este tipo de público. Dentre algumas vantagens pode-se mencionar: estímulo à reflexão da sua realidade, busca por solução de problemas vivenciados, estímulo pelo gosto da leitura, aumento da socialização, como alternativa a auxilio à combate a depressão, auxílio na adaptação ao ambiente institucional, alívio do stress, ansiedade, melhora na autoestima, melhoria na comunicação e desenvolvimento emocional, melhor autoconhecimento, melhoria na condição de gestão emocional como raiva e ansiedade, favorece o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, dentre outros benefícios. Outro aspecto a ser relatado é que esta prática é inclusiva uma vez que pode ser realizada com todos os tipos de público, mesmo os iletrados ou os que são privados de audição e visão. Percebe-se ainda que a Biblioterapia não é sinônimo de contar estórias, mas sim uma ação importante auxiliar no desenvolvimento psicossocial do idoso. Os benefícios proporcionados pela leitura são amplamente reconhecidos por diversos autores. A leitura, além de fundamental para o exercício da cidadania, sendo a principal forma de se adquirir informações, proporciona também momentos de lazer, o que é de grande importância para a manutenção da saúde e qualidade de vida. Dessa forma, o hábito da leitura pode trazer diversos benefícios para a pessoa idosa, prevenindo o surgimento ou o agravamento de doenças como o Alzheimer ou a depressão. Em seguida, apontar-se-á algumas iniciativas e boas práticas nesse campo. 34 3.3. Iniciativas e Boas Práticas Para o sucesso de ações de Biblioterapia é necessário reunir condições favoráveis para a sua aplicação. Inicialmente o trabalho deve ser realizado por profissionais competentes e preparados no assunto, de preferência por uma equipe multidisciplinar, como foi visto anteriormente. Deve ser realizado em um local adequado com uma infraestrutura também apropriada. Em termos institucionais é preciso que a proposta da Biblioterapia esteja alinhada aos objetivos de onde está sendo aplicado. Do ponto de vista do paciente é necessário criar uma sensibilização e ainda uma aceitação completa das propostas a fim de que seja bem-sucedida e alcance seus objetivos. Por fim torna-se importante a continuação da ação e a análise clínica do paciente a fim de verificar uma evolução em seu estado psicológico. Na literatura são relatados alguns casos de sucesso com práticas biblioterápica. Dentre elas pode-se mencionar:  Projeto da Bibliotecária da Universidade Federal da Paraíba, Marília Guedes Pereira, que coordenou e implantou um programa de leitura para deficientes visuais (1996);  Aplicação de Biblioterapia para as crianças internadas na ala pediátrica do Hospital Universitário de Florianópolis, coordenada por Clarice Fortkamp Caldin, em 2002;  Aplicação da Biblioterapia para idosos da Sociedade Espírita Obreiros da Vida Eterna (SEOVE), por Tatiana Rossi, Luciene Rossi, Maria Raquel Souza em 2006;  Biblioterapia para alunos com necessidades educacionais especiais na APAE de Capitólio-MG, por Daniela Alves Arantes, em 2008; Portanto, pode-se perceber que boas práticas de ações de Biblioterapia são alcançadas em locais que se mostram favoráveis à sua implantação, e ainda locais 35 em que os gestores acreditam e apoiam tal proposta. De toda forma são variadas as comunidades que necessitam e podem ser beneficiar de ações deste tipo. Um destes locais favoráveis são os centros de convivência de idosos. Neste trabalho, como grifado anteriormente, foi enfatizado o caso do Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro”. Na próxima seção será descrito o local de pesquisa. 36 4 CENTRO DE CONVIVÊNCIA DE IDOSOS “GERALDO PINHEIRO” Fundado em março de 1990, sob a gestão da Prefeita Mônica Dantas, e mantido pela gestão municipal, o Centro de Convivência de Idosos (CCI) “Geraldo Pinheiro” é o principal espaço de convivência para pessoas da melhor idade na cidade de Macaíba. Este centro é considerado um dos melhores do Estado do Rio Grande do Norte, atraindo pessoas não apenas do município, mas também de cidades circunvizinhas. O CCI atende a, aproximadamente, 400 idosos, que podem usufruir de diversas atividades de cultura e lazer, além de assistência médica. Um dos objetivos do espaço é o acolhimento a pessoas idosas em situação vulnerável. São acolhidas pessoas baseadas nos critérios de idade, renda e vulnerabilidade social. Os centros de conivência de idosos são mantidos por meio de verbas federais por meio do Piso Básico Variável que consiste em no: Tipo de financiamento federal para custeio de ações socioassistenciais complementares e articuladas ao Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família (PAIF). O recurso pode ser utilizado para custear serviços de convivência e fortalecimento de vínculos que se destinam às crianças de até 6 anos e pessoas idosas7. Todos os centros são regidos pela Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, que regulamenta os serviços socioassistenciais. Em geral como parte da equipe dos centros são contratados profissionais da área de serviço social, enfermeiros, psicólogos, administradores bem como profissionais de apoio tais como assistentes de administração, cozinheiros, dentre outros, De acordo com a resolução mencionada, os objetivos básicos os CCIs são os de proporcionar ao idoso, o desenvolvimento da convivência na participação comunitária, na cultura, no esporte e no lazer, visando a melhoria em sua qualidade de vida, estimulando e fortalecendo a convivência familiar e social. Tem como público alvo atender pessoas com idade superior a 60 anos ou em acelerado 7 Informações extraídas de https://goo.gl/Yb9gMX, documento eletrônico não paginado 37 processo de envelhecimento, de ambos os sexos, preferencialmente encaminhados pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Além disso, em geral promovem atividades tais como artesanato, vivências e dinâmicas, dança, educação física, momento de reflexão, palestras informativas. A partir de entrevista preliminar com a Direção do CCI, foi possível caracterizar o local da pesquisa. O CCI “Geraldo Pinheiro” foi fundado em março de 1990, sob a gestão da então Prefeita, Monica Dantas, atendendo ao apelo dos próprios idosos do município, que sentiam falta de um lugar onde pudessem ser reunir e confraternizar. Inicialmente, era um espaço reservado apenas ao lazer, passou por mudanças durante as gestões de Fernando Cunha e Marília Dias (2000-2012), sendo ampliado e passando a atender outras necessidades dos idosos, tais como atendimento médico, aulas de alfabetização e desportos, com atividades tais como hidroginástica, zumba, além de dança (forró) e jogos (dominó, sinuca). Além destas atividades ligadas diretamente ao público idoso, o centro desenvolve atividades envolvendo crianças e jovens, promovendo a integração entre as gerações. A equipe do CCI conta ainda com um psicopedagogo, um psicólogo, uma assistente social, uma geriatra, uma copeira, um ASG, três vigias, uma administradora e um coordenador. A inclusão do idoso se dá via cadastro. Neste sentido, são realizadas perguntas no sentido de traçar o perfil dos mesmos e se são alfabetizados, moram sozinhos e ainda, quantas pessoas moram com eles bem como são sondadas as motivações para participar do espaço. Todos os idosos precisam estar inseridos no cadastro único da prefeitura e precisam ter documentos válidos. São feitas variadas atividades sociais, como pode ser visto na Figuras 3 e 4: 38 Figura 3 - Atividade social do Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro8” Figura 4 - Atividade social do Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro” Em seguida apontaremos a nossa proposta para a implantação de ações de Biblioterapia neste espaço. 8 Fotografias extraídas do site da Prefeitura de Macaíba. Ver: . 39 4.1 Proposta de Intervenção Biblioterápica no Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro” Esta seção tem como objetivo indicar os elementos relativos a proposta de ações de Biblioterapia para o Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro”. Tal proposta se baseia em duas dimensões a saber: a parte teórica presente no referencial teórico desta pesquisa e parte prática possível por meio da visita realizada no referido centro. Diante da junção das duas dimensões foi possível a elaboração desta proposta. Em termos de contribuição do estudo para a comunidade, pretendeu-se investigar a possibilidade do uso da Biblioterapia em um Centro de Convivência de Idosos. Sendo assim, buscou-se uma instituição de referência no município de Macaíba. Para a efetivação de ações de Biblioterapia é necessário inicialmente um trabalho de conscientização da Direção e equipe de funcionários do CCI. Esta conscientização visa sensibilizar os dirigentes quanto às vantagens trazidas pela Biblioterapia para a comunidade de idosos atendida. Além disso, pretende-se ampliar o leque de possibilidades de ações de cultura no referido espaço, despertar o gosto pela leitura por parte dos idosos e de suas famílias bem como implantar um trabalho de caráter interdisciplinar com a equipe que compõe o CCI. A proposta será coordenada por um bibliotecário e um psicólogo e será feita por fases distintas. A proposta será executada ao longo de um período de dois meses, com frequência de duas vezes por semana. Cada seção será realizada durante quarenta minutos. A cada duas semana haverá necessidade de reunião da equipe para o acompanhamento e avaliação das atividades. O trabalho será feito na seguinte sequência conforme o Quadro 4 a seguir. 40 QUADRO 4-Proposta De Biblioterapia Para o Centro de Convivência do Idoso “Geraldo Pinheiro” ATIVIDADE RESULTADOS ESPERADOS Reunião com a Direção e equipe de -Conscientização da Direção e Equipe da psicólogos e psicopedagogo a fim de importância da implantação do projeto; elaborar a proposta de Biblioterapia.  -Planejamento da proposta e elaboração dos seus objetivos e prospecção dos resultados esperados. Promover uma visita a Biblioteca Pública e -Promover uma parceria com a Biblioteca a Biblioteca do CRAS a fim de estabelecer Pública da cidade e inserir os bibliotecários parcerias para ação, realizar cadastro e no planejamento e execução das empréstimo semanal de material atividades. informacional.9 Reunião com os idosos a fim de explicar os Informar e envolver os idosos à cerca da procedimentos a serem adotados para a importância das ações da Biblioterapia execução da proposta. apontando-se os seus benefícios. Iniciar as ações por meio de contação de -Realizar o procedimento de acordo com a estórias sequencia indicada da Biblioterapia; -Cativar o público idoso e envolvê-lo nas estórias -Promover a mediação da informação e a interação com o campo da terapia. Verificação com o público dos resultados -Avaliar a eficácia das ações da por meio de sondagem, entrevista e biblioterapia; questionários; -Colher o feedback a fim de servir de insumo para as próximas ações. Aplicação de técnicas de terapia de grupo a -Sondar as expectativas e avaliar se os fim de avaliação da experiência e objetivos foram plenamente atendidos internalização dos conteúdos, empatia com as estórias e autorreflexão Preenchimento do Modelo de Registro10 Colher as informações necessárias à respeito do público idoso Avaliação da atividade pela equipe, -Avaliação final com vistas a perceber se os apontando-se os pontos fortes e fracos objetivos da proposta foram plenamente atendidos. Idealização de novas intervenções. A partir dos dados colhidos durante a aplicação da proposta bem como da avaliação realizada elaborar um novo planejamento visando a correção dos pontos fracos e reforço dos pontos positivos. 9 O material informacional será selecionado pelo psicólogo e pelo bibliotecário baseado nos objetivos clínicos pretendidos; 10 Neste modelo constam informações tais como: Data do encontro • Tempo de duração do encontro • Nome do biblioterapeuta • Aplicada ( ) Individual ( ) Em grupo • Número de participantes • Identificação • Idade (s) • Problemática em tratamento • Título do livro • Período proposto para leitura • Período proposto para discussão • Número do encontro • Observações O registro faz parte do processo de acompanhamento das atividades, e será feito ao fim de cada sessão, permitindo melhor análise e informação para novas sessões. 41 Espera-se, com essa proposta, contribuir para o estímulo da leitura em todas as fases da vida humana, contribuir para a integração da população idosa do município, evitando o isolamento social e garantindo melhor qualidade de vida. Em seguida as nossas considerações finais. 42 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final da pesquisa pode-se perceber que a atual sociedade é complexa e marcada por uma evolução muita rápida e mudanças constantes, inaugurando novos paradigmas sociais. Um dos elementos mais complexos na sociedade atual e que demanda muita atenção é o envelhecimento populacional. O idoso na atualidade tem um papel central na sociedade, não apenas pela sua presença em termos numéricos, mas também devido a novas necessidades de políticas sociais voltadas para o atendimento global de suas necessidades. Faz-se necessário um repensar do papel do idoso na sociedade, dos serviços dispensados a estes. São variados os serviços voltados para o atendimento desta população. Um dos serviços necessários é o atendimento especializado voltado à saúde mental dos indivíduos idosos. Este tipo de atendimento visa garantir a saúde psicológica nesta fase da vida. No contexto acima mencionado a Biblioterapia apresenta-se com um coadjuvante deste tipo de ação A Biblioterapia é uma alternativa importante de mediação de informação e uma prática importante no campo da Biblioteconomia. Ao longo do trabalho foi percebido que a Biblioterapia é um tipo de atividade que visa o trabalho em torno da seleção de itens de informação de literatura e o uso destes para a melhoria da saúde mental dos indivíduos. O processo como um todo visa a promoção de melhorias cognitivas dos pacientes promovendo bem-estar e propiciando a vivência de experiências lúdicas, sociais fazendo com que a pessoa reflita sobre sua condição de vida e até seu papel na sua comunidade e sociedade. Foi visto também que a ação biblioterápica precisa ser feita de forma cuidadosa, por profissionais habilitados de preferência por uma equipe multidisciplinar para que se tenha resultados mais satisfatórios. A Biblioterapia enquadra-se no âmbito da Biblioteconomia e Ciência da Informação uma vez que ambas trabalham com a informação e seus suportes bem como a comunicação desta em variados ambientes. Apesar da importância da Biblioterapia, ainda existem muitas lacunas no conhecimento referente a estas práticas, especialmente voltada ao público idoso. Nesse sentido, são necessários novos trabalhos que discutam esta temática. Dessa 43 forma, esse trabalho visou promover uma revisão de literatura sobre o assunto da Biblioterapia com vistas a refletir sobre a sua aplicação para o público idoso. Visou especificamente entre outros objetivos, uma proposição pontual de ações de Biblioterapia para o Centro de Convivência de Idosos “Geraldo Pinheiro”. Foi visto que este tipo de proposta poderá trazer benefícios para a comunidade estudada tais como a diversificação de atividades sociais, a melhoria de padrões de cognição deste público, maior diversão, possibilidade de combate de situações de saúde tais como ansiedade, depressão (dentre outras) e ainda, promover maior autoconhecimento, dentre outras vantagens. Ao final, recomenda-se ainda estudos futuros sobre questões ligadas ao assunto bem como a continuação por meio da implantação efetiva da proposta elaborada nesta pesquisa. 44 REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria Margarida de; et al. Introdução à metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2001. BACHERT, Cristina Maria D. et al. Estratégias da Biblioterapia de desenvolvimento aplicadas na orientação de problemas de disciplina. Dissertação de Mestrado Universidade PUC-Campinas, 2006. BARRETO, Sandhi Maria. Envelhecimento: prevenção e promoção da saúde. Cadernos de Saúde Pública, 2006, 22: 2009-2009. BIRREN, James E., et al. 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