1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA ANNA KARLA SILVA DO NASCIMENTO GEOMETRIAS NÃO-EUCLIDIANAS COMO ANOMALIAS: Implicações para o ensino de geometria e medidas NATAL-RN 2013 2 ANNA KARLA SILVA DO NASCIMENTO GEOMETRIAS NÃO-EUCLIDIANAS COMO ANOMALIAS: implicações para o ensino de geometria e medidas Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como pré-requisito para obtenção do título de mestre. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Giselle Costa de Sousa NATAL-RN 2013 3 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET. ANNA KARLA SILVA DO NASCIMENTO Nascimento, Anna Karla Silva do. Geometrias não-euclidianas como anomalias: implicações para o ensino de geometria e medidas / Anna Karla Silva do Nascimento. - Natal, 2013. 114 f. : il. Orientadora: Profa. Dra. Giselle Costa de Sousa. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática. 1. História da matemática – Dissertação. 2. Geometria não-euclidiana – Dissertação. 3. Ensino de geometria – Dissertação. 4. Anomalia – Dissertação. 5. Investigação matemática – Dissertação. I. Sousa, Giselle Costa de. II. Título. RN/UF/BSE-CCET CDU: 51(091) 4 ANNA KARLA SILVA DO NASCIMENTO GEOMETRIAS NÃO-EUCLIDIANAS COMO ANOMALIAS: implicações para o ensino de geometria e medidas Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como pré-requisito para obtenção do título de mestre. Orientadora: Profa Dra Giselle Costa de Sousa Aprovada em: ____ de ____________ de _____. BANCA EXAMINADORA Prof.ª Dr.ª Giselle Costa de Sousa (Orientadora) Departamento de Matemática – UFRN Prof.º Dr.º Iran Abreu Mendes UFRN (Examinador interno) Prof.º Dr.º Josildo José Barbosa da Silva UERN (Examinador externo) 5 À minha família! 6 AGRADECIMENTOS Ao Deus Todo Poderoso pelo cuidado, pelo carinho, pelo amor que me é dado. Aos meus pais (Carlos e Celia) que me apoiam em tudo, pela educação que me concederam, pela oportunidade que me deram para eu estudar, pelo amor, carinho, cuidado etc. Meu infinito agradecimento! Aos meus irmãos, Huguinho e Kaline, por me amarem. Eu também os amo! À minha orientadora pela paciência que tem comigo, por ter me escolhido como orientanda, sou orgulhosa por tê-la comigo. Sempre disponível e disposta a ajudar, querendo que eu aproveitasse cada segundo dentro do mestrado para absorver algum tipo de conhecimento. A meus amigos do mestrado, pelos momentos divididos juntos, especialmente a Ana e Damião que se tornaram verdadeiros amigos e quase irmãos (Amo vocês!). Obrigada por compartilharem comigo as angústias, dúvidas e alegrias, por ouvirem minhas bobagens. Foi bom poder contar com vocês! Aos meus amigos queridos − Giselle, Patrícia, Bel, Simone, Elvis, Mariana, Hérica, Lilly, Nary, Amanda, Thaíse − por me compreenderem nas minhas ausências, tenho ciência que estive muito distante durante o período de mestrado, mas prometo dar mais atenção a todos vocês a partir de agora. Aos funcionários do CCET. Agradeço, também, a CAPES pelo apoio financeiro. Finalmente, agradeço a Universidade Federal do Rio Grande do Norte por ter aberto suas portas e me concedeu este sonho de escrever uma dissertação de mestrado. Muito obrigada a todos! 7 RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo mostrar ao leitor a Geometria não-euclidiana enquanto anomalia indicando as implicações pedagógicas e em seguida propor uma sequência de atividades distribuídas em três blocos, as quais mostram a relação da geometria euclidiana com a não-euclidiana, tomando a euclidiana com referência para análise da anomalia na não- euclidiana. Está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte na linha de pesquisa de História, Filosofia e Sociologia da Ciência no Ensino de Ciências Naturais e da Matemática. Aborda aspectos relativos a Euclides de Alexandria, bem como sobre a sua obra mais famosa Os Elementos e, além disso, enfatiza o Quinto Postulado de Euclides, sobretudo às dificuldades (que perduraram vários séculos) que os matemáticos tinham em compreendê-lo. Até que, no século XVIII, três matemáticos: Lobachevsky (1793 – 1856), Bolyai (1775 – 1856) e Gauss (1777-1855) foram convencidos que tal axioma era correto e que existia uma outra geometria (anômala) tão consistente quanto a de Euclides, mas que não se enquadrava em seus parâmetros. É atribuída a esses três o advento da geometria não-euclidiana. Para o percurso metodológico são pontuadas algumas definições de caráter bibliográfico sobre as anomalias, depois elas são caracterizadas, para que a definição seja melhor compreendida pelo leitor e, em seguida,são destacadas as geometrias não-euclidianas (Geometria Hiperbólica, Geometria Esférica e a Geometria do Motorista de Táxi) confrontando-as com a euclidiana para que sejam analisadas as anomalias existentes nas geometrias não-euclidianas e observemos sua importância ao ensino. Após tal caracterização segue-se a parte empírica da proposta que consistiu na aplicação de três blocos de atividades em busca de implicações pedagógicas de anomalia. O primeiro sobre as retas paralelas, o segundo sobre o estudo dos triângulos e o terceiro sobre a menor distância entre dois pontos. Esses blocos oferecem um trabalho com elementos básicos da geometria a partir de um estudo histórico e investigativo das geometrias não-euclidianas enquanto anomalia de modo que o conceito seja compreendido juntamente com suas propriedades sem necessariamente estar vinculada a imagem dos elementos geométricos e, consequentemente, ampliando ou adaptando para outros referenciais. Por exemplo, o bloco aplicado no segundo dia de atividades proporciona que se amplie o resultado de soma dos ângulos internos de um triângulo qualquer, passando a constatar que não é sempre 180° (somente quando Euclides é referência que esta conclusão pode ser tirada). Palavras-chave: Anomalia. Geometria. Geometria não-euclidiana. História da Matemática. Investigação Matemática. 8 ABSTRACT This present research the aim to show to the reader the Geometry non-Euclidean while anomaly indicating the pedagogical implications and then propose a sequence of activities, divided into three blocks which show the relationship of Euclidean geometry with non- Euclidean, taking the Euclidean with respect to analysis of the anomaly in non-Euclidean. PPGECNM is tied to the line of research of History, Philosophy and Sociology of Science in the Teaching of Natural Sciences and Mathematics. Treat so on Euclid of Alexandria, his most famous work The Elements and moreover, emphasize the Fifth Postulate of Euclid, particularly the difficulties (which lasted several centuries) that mathematicians have to understand him. Until the eighteenth century, three mathematicians: Lobachevsky (1793 - 1856), Bolyai (1775 - 1856) and Gauss (1777-1855) was convinced that this axiom was correct and that there was another geometry (anomalous) as consistent as the Euclid, but that did not adapt into their parameters. It is attributed to the emergence of these three non- Euclidean geometry. For the course methodology we started with some bibliographical definitions about anomalies, after we’ve featured so that our definition are better understood by the readers and then only deal geometries non-Euclidean (Hyperbolic Geometry, Spherical Geometry and Taxicab Geometry) confronting them with the Euclidean to analyze the anomalies existing in non-Euclidean geometries and observe its importance to the teaching. After this characterization follows the empirical part of the proposal which consisted the application of three blocks of activities in search of pedagogical implications of anomaly. The first on parallel lines, the second on study of triangles and the third on the shortest distance between two points. These blocks offer a work with basic elements of geometry from a historical and investigative study of geometries non-Euclidean while anomaly so the concept is understood along with it’s properties without necessarily be linked to the image of the geometric elements and thus expanding or adapting to other references. For example, the block applied on the second day of activities that provides extend the result of the sum of the internal angles of any triangle, to realize that is not always 180° (only when Euclid is a reference that this conclusion can be drawn). Keywords: Anomaly. Geometry non-Euclidean Geometry. History of Mathematics. Mathematics Research. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Albert Einstein ....................................................................................................... 24 Figura 2- Imagem Ilustrativa da Teoria da Relatividade 1 .................................................... 24 Figura 3- Imagem Ilustrativa da Teoria da Relatividade 2 .................................................... 24 Figura 4- Antonie Lavoisier ................................................................................................... 25 Figura 5- Georg Cantor .......................................................................................................... 27 Figura 6- Hotel Hilbert .......................................................................................................... 29 Figura 7- Quadrado de lado 1 ................................................................................................ 30 Figura 8- Nicolai Lobachevsky ............................................................................................. 32 Figura 9- Janos Bolyai ........................................................................................................... 32 Figura 10- Triângulo Euclidiano ............................................................................................ 32 Figura 11- Triângulo Esférico ................................................................................................ 32 Figura 12- Triângulo Hiperbólico .......................................................................................... 32 Figura 13- Euclides de Alexandria ........................................................................................ 36 Figura 14- Cidade de Alexandria no Egito ............................................................................ 37 Figura 15- Localização da Biblioteca de Alexandria ............................................................. 37 Figura 16- Folha de rosto da primeira versão inglesa de Os Elementos................................ 39 Figura 17- Axioma hiperbólico ............................................................................................. 49 Figura 18- Plano hiperbólico 1 ............................................................................................. 50 Figura 19- Esfera 1 ................................................................................................................ 51 Figura 20- Esfera 2 ................................................................................................................ 51 Figura 21- Esfera 3 ................................................................................................................ 51 Figura 22- Noção de distância ............................................................................................... 52 Figura 23- Kit entregue aos alunos ........................................................................................ 58 Figura 24- Sela de Biscuit ..................................................................................................... 59 Figura 25- Esfera de Isopor ................................................................................................... 59 Figura 26- Transferidor ......................................................................................................... 59 Figura 27- Compasso ............................................................................................................. 60 Figura 28- Régua ................................................................................................................... 60 Figura 29- Verificando os ângulos ......................................................................................... 65 Figura 30- Sela 1 ................................................................................................................... 68 Figura 31- Sela 2 ................................................................................................................... 68 10 Figura 32- Turma do turno matutino ..................................................................................... 69 Figura 33- Turma do turno vespertino ................................................................................... 70 Figura 34- Tentativa de construção de retas paralelas na sela ............................................... 72 Figura 35- Tentativa de construção de retas paralelas na esfera ............................................ 72 Figura 36- Triângulo da Sela ................................................................................................. 74 Figura 37- Triângulo da Esfera .............................................................................................. 74 Figura 38- Tabela da soma dos ângulos internos dos triângulos ........................................... 74 Figura 39- Conclusão do aluno A .......................................................................................... 75 Figura 40- Conclusão do aluno B .......................................................................................... 75 Figura 41- Atividade 1 ........................................................................................................... 77 Figura 42- Passeando em Brasília ......................................................................................... 78 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Categorização das anomalias ............................................................................... 33 Quadro 2- Atividades dos blocos ........................................................................................... 61 Quadro 3- Momentos na realização de uma investigação ..................................................... 63 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 2 SOBRE ANOMALIAS .............................................................................................. 18 2.1 DISCUSSÃO SOBRE O CONCEITO ......................................................................... 18 2.2 EXEMPLOS NA MATEMÁTICA E OUTRAS CIÊNCIAS ....................................... 22 2.2.1 Teoria da Relatividade ............................................................................................... 23 2.2.2 A descoberta do oxigênio ........................................................................................... 25 2.2.3 Infinitos de cantor ...................................................................................................... 26 2.2.4 A incomensurabilidade .............................................................................................. 29 2.2.5 A geometria não-euclidiana ....................................................................................... 31 2.3 CATEGORIZAÇÃO DAS ANOMALIAS .................................................................. 33 3 RECORTE HISTÓRICO DA GEOMETRIA NÃO-EUCLIDIANA ENQUANTO ANOMALIA ....................................................................................... 35 3.1 UM POUCO SOBRE EUCLIDES E OS ELEMENTOS ............................................ 35 3.2 SOBRE A GEOMETRIA EUCLIDIANA E OS CINCO POSTULADOS .................. 41 3.3 UM RECORTE HISTÓRICO SOBRE A GEOMETRIA NÃO- EUCLIDIANA ........ 44 3.3.1 As principais geometrias não-euclidianas sob enfoque histórico e anômalo ........ 48 3.3.1.1 A geometria hiperbólica ............................................................................................. 48 3.3.1.2 A geometria elíptica e a geometria esférica ............................................................... 50 3.3.1.3 A geometria do motorista de táxi ............................................................................... 52 3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A GEOMETRIA NÃO-EUCLIDIANA COMO ANOMALIA ................................................................................................... 53 4 AS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DA GEOMETRIA NÃO-EUCLIDIANA ENQUANTO ANOMALIA E UMA PROPOSTA DE ATIVIDADES HISTÓRICAS E INVESTIGATIVAS PARA A GEOMETRIA E MEDIDAS .............................................................................................................. 55 4.1 SOBRE AS ATIVIDADES .......................................................................................... 57 4.1.1 Público-alvo e carga horária ..................................................................................... 57 4.1.2 Material ....................................................................................................................... 58 4.1.3 As atividades ............................................................................................................... 60 4.2 SOBRE A APLICAÇÃO DAS ATIVIDADES ............................................................ 67 4.2.1 Sobre a aplicação do piloto ........................................................................................ 67 13 4.2.2 Sobre a aplicação do experimento ............................................................................ 69 4.2.2.1 Sobre o questionário .................................................................................................. 70 4.2.2.2 Sobre o primeiro bloco de atividades ........................................................................ 71 4.2.2.3 Sobre o segundo bloco de atividades ......................................................................... 73 4.2.2.4 Sobre o terceiro bloco de atividades .......................................................................... 76 4.3 IMPLICAÇÕES ........................................................................................................... 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 81 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 82 APÊNDICES ........................................................................................................................ 87 APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO ........................................................................................ 88 APÊNDICE B- BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE AS RETAS PARALELAS ................ 92 APÊNDICE C- BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE TRIÂNGULOS ................................. 99 APÊNDICE D- BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE A DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS ..................................................................................................................... 106 14 1 INTRODUÇÃO Esta dissertação traz considerações acerca de algumas questões em aberto que surgiram através de indagações não respondidas ao longo da história e que por sua vez são geradoras de certos conflitos cognitivos. A essas questões em aberto é dado o nome de anomalias. Aqui também serão apresentadas a importância e as implicações no ensino- aprendizagem de Matemática dessas anomalias, particularmente, no campo da geometria não- euclidiana. Para isso, partiremos da geometria euclidiana como referência para o desenvolvimento desta pesquisa, considerando a geometria não-euclidiana como anômala neste referencial. É pertinente destacar que a inquietação em investigar a anomalia na Matemática começou com as observações sobre o tema anomalia em Matemática, oriundas de um artigo de Barnett (2000), em que discute a existência das anomalias na Matemática, das quais a autora cita três exemplos e esclarece em seu trabalho: os infinitos de Cantor, a incomensurabilidade e a geometria não-euclidiana, no entanto, o referido estudo não apresentava uma definição, mas sinalizava para possibilidades de exploração do potencial pedagógico do tema. Diante dos esclarecimentos proposto no estudo de Barnett, creditou-se a relevância uma apreciação do que seja anomalia juntamente com algumas discussões e caracterização, em especial, as geometrias não-euclidianas em relação ao processo de ensino-aprendizagem de matemática. Para isso, partiu-se um recorte histórico sobre Euclides (por volta do século IV a.C.) e a sistematização de sua geometria com a publicação de Os elementos, enfatizando os cinco postulados. Dos cinco, evidenciou-se o quinto (equivalente ao axioma das paralelas) que foi motivação para discussões entre matemáticos de diversos séculos por não possuir o mesmo grau de evidência que os outros axiomas. Em seguida, serão apresentadas a geometria não-euclidiana expondo o motivo pelo qual a transforma em uma anomalia (uma questão que permaneceu em aberto por mais de 20 séculos provocando inquietações) quando é tomada a geometria euclidiana como referência. Posteriormente, serão mostradas algumas geometrias não-euclidianas e as especificações que as tornam anômalas em paralelo a apreciação histórica com o intuito da apropriação dessas discussões para propor sequências de atividades que explorem seu potencial pedagógico que, por sua vez, ampliam conceitos de geometria. Isso se deu porque, em um levantamento inicial, feito através de um questionário 15 (conferir APÊNDICE A), com o qual se identificou a limitação dos alunos quando são solicitados para definir e perceber a relevância do tema. Diante disso, surge a indagação: quais seriam implicações pedagógicas voltadas ao estudo da geometria não-euclidiana como anomalia? Com essa preocupação foi proposta uma sequência de atividades distribuídas em três blocos: o primeiro trata sobre o paralelismo de retas, o segundo destaca a soma dos ângulos internos de triângulos e o terceiro enfatiza a menor distância entre dois pontos, todos sendo analisados em espaços (geometrias) distintos de modo a aproveitar o conflito cognitivo gerado pelo confronto com o padrão euclidiano e com base na investigação matemática 1 como recurso. Assim, o intuito deste estudo é exibir a geometria não-euclidiana como anomalia a fim de indicar as suas implicações pedagógicas e elaborar uma sequência de atividades, para explicitar as diferentes características da geometria euclidiana e da não-euclidiana, de modo a suscitar uma visão mais ampla de conceitos geométricos e de medida. Com esse objetivo, apresenta-se um parâmetro de definição de anomalia e, a partir dele, propõem-se exemplos que se refiram a essa definição, comparando-os e caracterizando-os de modo a estabelecer relações entre os diferentes casos, expondo suas particularidades, o que elas têm em comum e mostrando as características semelhantes das anomalias. Para tal abordagem, exibe-se a geometria não-euclidiana como anomalia, seguindo seu desenvolvimento histórico desde os questionamentos sobre a veracidade do Postulado das Paralelas com Euclides, passando por Lambert (1728 - 1777), Saccheri (1667 - 1733), dentre outros, até os formuladores dessa geometria, ou seja, Bolyai (1802 - 1860), Lobachevsky (1792 - 1856) e Gauss (1777 - 1855) para que o leitor tenha contato com a história dessa geometria que provocou questionamentos durante gerações. Com base no problema proposto e objetivos externados, a pesquisa foi desenvolvida, inicialmente, através de uma busca bibliográfica de caráter investigativo em dicionários, enciclopédias, livros, artigos e outras mídias para melhor esclarecer a definição de anomalia e seus exemplos, assim como apresentar um caráter histórico. Através desse aporte, comparou-se e caracterizaram-se exemplos de anomalias existentes na Ciência e na Matemática diante de um confronto das diferentes apreciações históricas para que se realizasse um levantamento histórico do conhecimento produzido nesse 1 Investigação matemática significa para os matemáticos uma maneira de “descobrir relações entre objetos matemáticos conhecidos ou desconhecidos, procurando identificar as respectivas propriedades”, conforme Ponte; Brocardo e Oliveira (2009, p.13). 16 ramo a fim de verificar suas contribuições para o desenvolvimento da Matemática. Desse levantamento inicial, a pesquisa seguiu o caráter qualitativo e exploratório particularizando a matemática com foco nas geometrias não-euclidianas – geometria hiperbólica, geometria esférica e geometria do motorista de táxi – de modo a capturar algumas características das anomalias quando comparadas com a geometria axiomatizada por Euclides em sua obra Os Elementos. Em seguida, elaborou-se uma sequência de atividades utilizando a história da geometria não-euclidiana e investigação matemática a partir da averiguação dos resultados suscitados através da aplicação em estudo piloto composto de um minicurso voltado para geometrias. Segue a parte empírica com o aperfeiçoamento deste estudo em um segundo experimento que consistiu da aplicação das atividades referidas em duas turmas da disciplina de Didática da Matemática do curso de Licenciatura em Matemática da UFRN, nos turnos matutino e vespertino, com vinte e três alunos, seis do turno matutino e dezessete do turno vespertino. Em paralelo a aplicação das atividades, coletaram-se os dados e fez-se depois uma análise para observação e verificação do resultado da pesquisa que será exposto no último capítulo desta dissertação. Os dados coletados sinalizam para as implicações pedagógicas da proposta que, de modo geral, apontam para identificação que as retas paralelas existem para geometria euclidiana, pois quando há troca da geometria para uma não-euclidiana, essa construção pode ou não resultar em retas paralelas, tomando as principais características de paralelismo que considera que retas paralelas são aquelas que nunca se cruzam quando elas tendem ao infinito. Também é constatado que a soma dos ângulos internos de um triângulo será 180° apenas na geometria euclidiana, e, verificou-se que a menor distância entre dois pontos nem sempre é um segmento de reta, esta conclusão depende do meio em que a situação está inserida, como pode ser observado no Apêndice 4. Frente ao prólogo exposto, a presente dissertação é composta, além desta introdução, que consideramos o primeiro, por mais três capítulos. No capítulo dois, é discutido um parâmetro para definição de anomalia, através de pesquisa bibliográfica sobre o conceito para que se obtenha uma base que será usada durante todo o trabalho. Assim, tal capítulo é chamado de Sobre Anomalias e traz alguns exemplos de anomalias na Matemática e nas Ciências Naturais. O capítulo três recebe o título de Recorte histórico da geometria não-euclidiana Enquanto Anomalia e contempla um recorte histórico da geometria não-euclidiana enquanto 17 anomalia. Para isso, mostramos alguns conflitos existentes durante um longo período, desde a Grécia Antiga até o século XIX, tratando sobre Euclides e sua obra Os Elementos e, posteriormente, apresentando-lhe a geometria não-euclidiana como anomalia, revelando seus precursores e suas inquietações sobre o Quinto Postulado de Euclides, trazendo três destas geometrias: a geometria hiperbólica, a geometria elíptica, particularizada neste trabalho pela geometria esférica e, por fim, a geometria do motorista de táxi. No capítulo quatro, intitulado por As implicações pedagógicas da geometria não- euclidiana enquanto anomalia e uma proposta de atividades históricas e investigativas para a geometria, é onde se trata das implicações pedagógicas da proposta. Nesse sentido são apresentados os dados do experimento e produto em paralelo a sua análise. A saber, temos que o produto educacional possui uma sequência de atividades dividida em três blocos sobre geometrias, o primeiro bloco discute o paralelismo de retas em espaços distintos, o segundo bloco trata sobre o triângulo no espaço euclidiano, hiperbólico e esférico para que sejam capazes de definir triângulos e caracterizá-los, somando seus ângulos internos concluindo, assim, essas somas e consigam diferenciar a imagem do triângulo em espaços distintos. Por fim, o último bloco questiona a geometria do motorista de táxi, onde concentraremos as atividades na distância entre dois pontos. Ao fim desta parte, são colocadas, em suma, as implicações pedagógicas são para o paralelismo entre duas retas apenas na geometria euclidiana, respeitando o quinto postulado de Euclides, pois na geometria hiperbólica e na esférica há uma deformação, fazendo com que não respeite fidedignamente tal axioma; para a soma dos ângulos internos conseguimos separar a imagem das características quando apresentamos a figura o triângulo em geometrias distintas e com a soma dos ângulos internos diferente de 180° quando não está no espaço euclidiano; e, finalmente, pudemos esclarecer aos alunos (provavelmente, futuros professores de matemática) que a menor distância entre dois pontos é uma reta quando estamos em situações ideais para cálculos nos projetos específicos sem impedimentos, para uma área plana e sem resistências. Este trabalho constitui-se uma leitura e experiências sobre as anomalias em geometria, um olhar primeiro e que sirva também como fonte para outros estudos. 18 2 SOBRE ANOMALIAS Este capítulo traz ao leitor discussões sobre anomalias na Matemática e nas Ciências Naturais, mediante pesquisa bibliográfica com intuito de aproximá-lo do tema, expressando os motivos para o início dos questionamentos do objeto de estudo, que são as geometrias não- euclidianas enquanto anomalias quando é tomada a euclidiana como referência e suas implicações pedagógicas. Caracterizaremos essas anomalias para que o leitor se aproprie das similaridades que transformam a geometria não-euclidiana em anomalia. 2.1 DISCUSSÃO SOBRE O CONCEITO Neste trabalho, a anomalia é relacionada com ampliação de conceitos através dos conflitos cognitivos provocados pelos questionamentos e crises geradas que perduraram por diversos séculos. Assim, propomos um parâmetro de definição para anomalias como sendo: um paradigma 2 que surge para ser quebrado, questionando – para certos referenciais – as definições antes tidas como verdades absolutas, mostrando irregularidades, não negando, mas ampliando e fazendo com que se observe o desvio acentuado do que até o momento tínhamos como padrão normal 3 , uma vez que, eram questões em abertos que ao serem solucionadas, estendem o conceito já existente, mediante conflito cognitivo interno ao indivíduo. Vale ressaltar que tal opção de definição respalda-se nas discussões que seguem neste capítulo. A fim de melhor esclarecer a definição citada vejamos algumas definições gerais de anomalias. Segundo o Houaiss (2001, p. 226, grifo nosso), anomalia é “1. estado ou qualidade do que é anômalo; anormalidade 4 ; irregularidade”. Já a ENCICLOPÉDIA... (1994, p.142, grifo nosso) define anomalia como “s.f. (gr. anomalia). 1. Desvio acentuado de um padrão normal; anormalidade, desigualdade, irregularidade, monstruosidade... 3. aberração, exceção à regra”. O Dicionário de Filosofia traz que anomalia é “o termo empregado para designar o que se afasta de um tipo considerado normal. Não é uma derrogação das leis naturais, pois as mesmas leis, que presidem ao desenvolvimento normal, são as que determinam as anomalias.” (SANTOS, 1963, p. 113, grifo nosso). 2 Algo que segue um padrão ou um modelo. 3 Não contraria regra, age de acordo com a norma. 4 Os destaques no meio dos capítulos durante quase todo corpo deste trabalho foram feitos pela pesquisadora e estão em negrito. 19 Nessas definições podem ser examinadas certas similaridades que compõem e esclarecem o que tomamos como sendo anomalia numa perspectiva de algo que está fora do padrão normal. Para Kuhn (2009, p.78, grifo nosso), anomalia “é o reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal 5.” Contribuindo com essa conceituação, de acordo com Mehrtens (2010, p.9), “as anomalias são fenômenos que não atendem as expectativas da matriz disciplinar aceita”. Assim, a anomalia é tida como uma quebra de paradigmas 6 pelo fato de ser algo que é fora do padrão. Logo, tem-se que uma nova ideia surge conflitando com o conhecimento anterior. Vale salientar que a identificação de uma anomalia provoca um choque e, por esse motivo, muitas vezes demora bastante para ser aceita pela comunidade científica em virtude do desvio do padrão normal, não por trazer uma ideia que inicialmente é considerada como nova, mas porque traz um pensamento que se opõe com o anterior provocando um desequilíbrio, ou seja, uma perturbação dentro da própria comunidade, incluída como uma crise de pensamento. O intuito de estudar sobre algumas anomalias se dá pelo fato de tê-las muito próximas da ciência em geral e de que trazem muitas curiosidades e paradoxos que necessitam ser compreendidos pela comunidade científica. A princípio, anomalia não é algo estudado pela ciência normal, porque ela se contrapõe ao que era cientificamente comprovado. Então, a comunidade científica “não a vê com bons olhos” porque quando a anomalia aparece, geralmente, movimenta temas que até então estavam despercebidos pela comunidade, como questões em aberto que perduram por anos e até séculos. Desse modo, seu estudo pode causar indisposição por parte dos cientistas em aceitá-la porque a existência ou surgimento da anomalia, ao menos inicialmente, gera dúvida sobre sua veracidade, até que sejam plenamente comprovadas por esta comunidade. De acordo com Kuhn (2009, p.78), “[...] depois que elas se incorporam à ciência, o empreendimento científico nunca mais é o mesmo [...]”, pois as anomalias provocam uma crise dentro de uma comunidade específica gerada pela quebra de padrões, causando assim a revolução científica ao por em choque algo antes inquestionável para esta comunidade, gerando muitas vezes resultados sólidos e importantíssimos para o progresso científico de 5 Ciência normal, segundo Kuhn (2009, p. 29) é “a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior”. 6. Consideramos quebra de paradigmas como sendo violação do que era tido como verdade absoluta. 20 qualquer comunidade científica. Na matemática, não é diferente. As anomalias revolucionam o conhecimento matemático, provando que em meio há tantos questionamentos e tentativas de refutações são propostas novas questões que ficam em aberto gerando conflitos cognitivos em membros da comunidade científica que ao serem reconhecidos (conflitos), contribuem substancialmente para o desenvolvimento da matemática, à medida que, trabalhos parados, que teoricamente não tinham solução, começam a ter outro ponto de vista e/ou uma nova ramificação, a exemplo do surgimento da geometria não-euclidiana (ver capítulo seguinte) e passam a ser questões resolvidas, codificadas noutra ótica, anômala a anterior (respeita, mas não limita, amplia). De outro modo disposto, a citação abaixo declara que é no advento de novidades dentro da ciência normal que surge o novo paradigma, conforme segue: É no interior das atividades ali [ciência normal] desenvolvidas que é gestado o devir de uma nova ordem científica, de um novo paradigma. Assim, quando um paradigma falha nos seus objetivos, ou mais especificamente, quando um cientista ou um grupo de cientistas se defronta com uma situação para a qual o paradigma não preparara com uma situação que não podia ser formulada como questão no marco do paradigma compartilhado, aí emerge com poder de inquietação, o que Kuhn (1982) denomina anomalia de um paradigma (MARTINS, 2005, p.78, grifo do autor). Destarte, o objetivo da ciência normal não é trazer novidade, mas mostrar o resultado esperado, visto que se trata de uma questão resolvida. Mendes (2013) alega em seu ciclo de problematização, construído através de um fluxograma, que essas questões resolvidas que compõem a ciência normal são o conhecimento construído de forma gradativa e sem crise, porém esses problemas resolvidos contribuem para solucionar as questões em aberto que, no caso em questão, denominam-se anomalias. Essa crise, afirma Kuhn (2009, p.107), “são uma pré-condição necessária para a emergência de novas teorias”. Para Martins (2005), a ciência normal não faz desabrochar novidades, porém é a partir dela que, na maioria das vezes, surge uma nova ordem científica, daí brota um paradigma (que é suscitado pelas anomalias). Quando falamos em ciência normal, geralmente, relaciona-se com paradigma, pois faz a verificação da existência de uma ciência sem cortes, sem questionamentos, muito bela, porém, sem muitas inovações, um quebra-cabeças a ser montado, que se desenvolvia gradualmente com êxito, porém sem um entusiasmo, já que não provoca discussões ou dúvidas, todos sabem de onde partiu e onde tem que chegar. Diferentemente das discussões sobre anomalias, pois são problemas propostos que não tiveram solução, consideradas, a 21 princípio, questões em aberto, já que não dispõem de solução até que seja resolvida e iniciam- se quando faltam peças para montar o quebra-cabeça, provocando crises e questionamentos que não são respondidos rapidamente, tais interrogações podem ser perpassadas de séculos em séculos, como foi o caso da geometria não-euclidiana que será apresentado no capítulo seguinte. O estudo das anomalias está em constante desenvolvimento devido ao progresso da própria ciência. Cada passo à frente que a ciência dá abre segmentos que podem ser indagações já resolvidas ou não. Quando esses questionamentos ainda não foram solucionados (questões em aberto), provocam um incômodo na comunidade gerando conflitos que antes de solucionados são anômalos. Esse crescimento da anomalia incita à identificação e implicação que passa por desenrolar histórico do próprio conceito ou sua origem aos questionamentos dos padrões, porque é necessário conhecer o motivo do questionamento que está, quase sempre, no centro de sua história. Desse modo, é interessante a análise das anomalias, não só como um agente colaborador ao desenvolvimento da Matemática, mas como algo que contribui para o avanço de toda a ciência com um enfoque histórico devido ao contexto que conduziu a descoberta da anomalia. Os exemplos históricos das anomalias explicitam exatamente que sua presença na Matemática pareceu estimular o crescimento e o desenvolvimento da própria Matemática e não suprimi-lo. Esse crescimento foi muitas vezes acompanhado pelo aumento dos níveis de abstração e mudanças nos padrões aceitos de rigor. Para essa abordagem será reservado o subitem 2.2 deste estudo. A ideia da anomalia provoca, de certa forma, uma confusão na mente de quem pretende estudá-la. Por causa deste desajuste − mesmo que momentâneo − o seu estudo torna-se eficaz aos alunos devido às ações instrumentais do desenvolvimento da cognição do ser humano que são similares ao processo de assimilação e acomodação que, segundo Piaget (1969), são os agentes de equilibração, gerando desequilíbrios e conduzindo ao esforço de estabelecer novo equilíbrio tornando-se o autorregulador do desenvolvimento. Nesse sentido, as anomalias causam um conflito cognitivo nos estudantes análogo aos entraves enfrentados pelos que se depararam com a anomalia historicamente, donde o crédito para o ensino pode ser obtido com as características de sua superação. Barnett (2000), em seu trabalho intitulado Anomalies and Development of Mathematical understanding, no qual discorre sobre o processo de aceitação do indivíduo para novas intuições, afirmando que esse processo pode ser demorado, contudo ressalta ainda 22 que usando a história como recurso pedagógico, ele pode se transformar em um agente motivador e se tornar um grande auxiliador para o sucesso da aprendizagem do assunto. Para a autora, uma anomalia surge quando há conflitos de intuições pré-estabelecidas, e assim serve ao ensino à medida que o conflito cognitivo é gerado e a anomalia surge como um elemento motivador para provocar do conhecimento do aluno. Conforme Barnett (2000), a intuição é baseada na experiência e não na lógica. Para chegar a esta conclusão, cita Cantor (1845 - 1918) como exemplo, afirmando que ele não definiu os números transfinitos do nada, mas ele foi levado a crer e verificar que existia essa classe de números, e ela credita tudo isso a experiência adquirida através de pesquisas anteriores cujo conteúdo será visto na seção seguinte. Ainda de acordo com Barnett (2000), o uso das anomalias na sala de aula pode definir questões relevantes do estudo, mas, para isso, a história possui um papel importante para que obtenha sucesso durante o processo de aprendizagem utilizando a anomalia. Assim, a história deve ser utilizada como um guia, já que o processo de preparação do indivíduo para aceitar novas intuições é demorado, e o seu uso pode tornar-se um facilitador desse processo intuitivo. A autora, em sua experiência, também demonstrou preocupação em relação ao manuseio errôneo da anomalia na sala de aula, pois a forma equivocada conduz a confusão ao invés de esclarecer os fatos, e essa confusão provoca o insucesso. Nesse sentido, o que era para ser utilizado como fonte motivadora na sala de aula acaba sendo fonte de perturbação, colaborando para que o aluno continue sem estímulo e sem interesse de participar das aulas de Matemática. A fim de esclarecer o conceito de anomalia e seu uso para o ensino, seguem alguns exemplos de anomalias na Matemática e em algumas Ciências Naturais. 2.2 EXEMPLOS NA MATEMÁTICA E OUTRAS CIÊNCIAS Inspirados nas considerações supracitadas, e a fim de clarificar a definição de anomalia, apresentaremos, sumariamente, dois exemplos de anomalias ligados as Ciências Naturais e utilizados por Kuhn (2009) em A Estrutura das Revoluções Científicas. Além disso, este estudo traz três referentes à Matemática, seguindo a ordem que Barnett (2000) fez em seu trabalho. Logo, optou-se como exemplos de anomalias na Ciência, a Teoria da Relatividade e a Descoberta do Oxigênio. Para a Matemática, foram escolhidos os infinitos, 23 os incomensuráveis e a geometria não-euclidiana, a qual será o foco principal de nossa pesquisa. Outra referência aqui mencionada trata-se da tese de doutorado do professor João Carlos Gilli Martins (2005) que traz, de maneira detalhada, alguns temas e revoluções existentes na própria matemática mostrando que, segundo ele, são anomalias. Salientamos que, para a apreciação de tais exemplos e clarificação dos mesmos enquanto anomalias trataremos da abordagem histórica como orienta a própria Barnett (2000). Conforme posto, com o intuito de esclarecer sua definição e ressaltar que em todos os casos houve um avanço, sobretudo, conceitual no desenvolvimento científico discorremos então acerca dos exemplos de anomalia supracitados inspirados na análise das considerações da seção 2.1 à luz da apreciação dos três exemplos foi destacado o caso da geometria não- euclidiana analisando o que proporcionou ser chamada de anomalia, o que provocou a descoberta desta anomalia, como foi identificada anomalia, o que aconteceu depois que foi descoberta e quais as implicações pedagógicas de tais considerações. A seguir algumas demonstrações de anomalias além da Matemática. 2.2.1 Teoria da Relatividade Um assunto bem conhecido e já estudado nas escolas do nível básico é a Teoria da Relatividade, do físico alemão Albert Einstein (1879-1955). O objetivo desta teoria, anunciada em 1905, não era negar a Mecânica Clássica − publicada em 1687, desenvolvida por Isaac Newton (1643-1727), que afirmava que a massa, o comprimento e o tempo eram grandezas com valores absolutos – mas, sim resolver problemas de fronteiras como Einstein considerava, esses problemas ficavam na fronteira entre a eletrodinâmica e a mecânica. Neste sentido, Einstein mostrou que essas três grandezas têm valores relativos para velocidades muito elevadas, ou seja, não desprezíveis se comparadas com a velocidade da luz no vácuo, que é aproximadamente 3,0 x10 8 m/s. 24 Figura 1 − Albert Einstein Fonte: Mélo (1979, p. 21 ) A Teoria da Relatividade foi uma revolução para o século XX, pois provocou inúmeras transformações em conceitos básicos como também proporcionou que fatos importantes, ainda não explicáveis, pudessem ser explicados. Por esse motivo, é tida como anomalia na Física. Esclarecendo, a teoria da relatividade é composta de duas outras teorias: Teoria da Relatividade Restrita, que estuda os fenômenos em relação a referenciais inerciais, e a Teoria da Relatividade Geral, que aborda fenômenos do ponto de vista não-inercial. Apesar de formar uma só teoria, elas foram propostas em tempos diferentes. No entanto, ambas trouxeram o conhecimento de que os movimentos do universo não são absolutos, mas relativos. Embora a Teoria da Relatividade não faça parte de nosso cotidiano, ela é imprescindível para a tecnologia, para o estudo avançado da Física, quando colocados com velocidades próximas a da luz. Contribui diretamente para o avanço da gravitação, da cosmologia e até para aplicações da geometria não-euclidiana, na matemática. Figura 2 − Imagem Ilustrativa da Teoria da Relatividade 1 Figura 3 − Imagem Ilustrativa da Teoria da Relatividade 2 Fonte: O UNIVERSO... (2013a) 7 Fonte: O UNIVERSO... (2013b) 8 7 Disponível em: . Acesso em: 21 fev. 2013. 25 A Teoria da Relatividade, formulada por Einstein, é tida ainda como anomalia, pois quando Newton desenvolveu a Mecânica Clássica provou que a massa, o tempo e o comprimento são grandezas absolutas para qualquer valor estudado, e a Teoria da Relatividade, de Einstein, mostrou que, para valores onde a velocidade é próxima à velocidade da luz, isto não seria verdadeiro. Dessa forma, contradiz o que Newton havia exposto, não negando toda a sua teoria, mas contradizendo uma parte muito importante dela, em favor da ampliação de horizontes na área que tem contribuído diretamente para o desenvolvimento tecnológico. 2.2.2 A descoberta do oxigênio Lavoisier (1743-1794) que elaborou a Lei da Conservação das Massas no século XVIII foi o primeiro a observar que o oxigênio, em contato com uma substância inflamável, produz a combustão. Também foi considerado o precursor da Química moderna. Figura 4 − Antonie Lavoisier Fonte: Neves (2008, p.54) Antes desse enunciado de Lavoisier, os estudiosos acreditavam que as substâncias, ao queimarem, formavam cinzas e por isso não tinham peso nenhum, eram chamadas de substâncias flogísticas. Os idealizadores desta ideia foram Priestley (1733-1804) e Scheele (1742-1786). Lavoisier comportou-se como um grande detetive. Tendo percebido muitas anomalias na Química, conseguiu profetizar a sua ação revolucionária, registrando-a, antecipadamente, junto à Academia de Ciências Francesa. A proposta lavoiseriana de uma nova teoria da 8 Disponível em: . Acesso em: 21 fev. 2013. 26 combustão abriu caminho para um novo paradigma que incorporou profundas mudanças conceituais na Química (OKI, 2004). À medida que a proposta de Lavoisier levou a um deslocamento de conceitos que eram utilizados pelos cientistas para interpretar os fenômenos e o mundo. Dessa forma, é considerada uma anomalia porque veio alterar a situação que havia anteriormente, a de que os flogistas não previam em seus resultados, e a teoria da combustão favoreceu o desenvolvimento da área. Depois desses exemplos de anomalia na Física e na Química, e com o objetivo de aprofundar nossa pesquisa, observemos alguns exemplos de anomalias existentes na Matemática para que o leitor compreenda e verifique que realmente existem revoluções em Matemática, como destacam Martins (2005), Barnett (2000) e que essas revoluções quebram paradigmas dando outro norte para o tema estudado. Observemos, a seguir, alguns questionamentos em aberto ou anomalias na Matemática. 2.2.3 Infinitos de Cantor Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor (1845-1918), um matemático nascido na Rússia e criado na Alemanha, desde cedo mostrava grandes habilidades com a Matemática até que decidiu seguir carreira como matemático. Estudou em Zurique e em Berlim formando-se em Matemática, Filosofia e Física. Foi aluno de grandes matemáticos da época como Karl Weierstrass (1815-1897) e Leopold Kronecker (1823-1891) e em 1867 recebeu o título de doutor pela Universidade de Berlim. Em 1872 foi nomeado, pela Universidade de Halle, professor assistente de Matemática. Cantor foi um profissional brilhante, embora tenha tido vários problemas de saúde, sendo internado em clínicas para tratamentos mentais. De fato, Cantor foi um dos Matemáticos mais importantes da História da Matemática. Seus estudos iniciais com funções de séries trigonométricas o levou a observar as descontinuidades destas funções e perceber que se não progredisse com o desenvolvimento da Matemática Pura, seu trabalho talvez não fosse respeitado. 27 Figura 5 − Georg Cantor Fonte: Dauben (1990) Para que este estudo de séries trigonométricas tivesse crescimento teórico, observou que o conjunto dos números reais é fundamentalmente diferente do que o conjunto dos números racionais, a começar denso 9 , contínuo 10 e completo 11 , enquanto o último é denso (anomalia). Essas diferenças sugerem a Cantor que há um sentido em que o conjunto dos números reais é maior que o conjunto dos números racionais, porém, no desenrolar dos seus estudos, Cantor verificou que não existe um conjunto maior que o outro, mas que existe uma bijeção entre os dois conjuntos os quais Cantor definiu como cardinalidade – conforme é abordado na citação a seguir: Cantor viu que os conjuntos infinitos não são todos iguais. No caso finito, dizemos que conjuntos de elementos têm o mesmo número (cardinal) se podem ser postos em correspondência biunívoca. De modo um tanto semelhante, Cantor se dispôs a construir uma hierarquia de conjuntos infinitos conforme a Mächtigkeit ou ‘potência’ do conjunto. O conjunto dos quadrados perfeitos ou o conjunto dos números triangulares tem a mesma potência que o conjunto de todos os inteiros positivos, pois eles podem ser postos em correspondência biunívoca. Esses conjuntos parecem muito menores que o conjunto de todas as frações racionais, no entanto Cantor mostrou que também esse último conjunto é contável ou enumerável −isto é, também esse pode ser posto em correspondência biunívoca com os inteiros positivos, portanto tema mesma potência (BOYER, 1974, p.414, grifo do autor). É conveniente esclarecer que Cantor sempre partiu de problemas matemáticos concretos até conseguir generalizar sua teoria, mas precisou recorrer à filosofia para fundamentar sua tese. Desde sua época de estudante ele sempre se familiarizou com a rigorosa interpretação dos fundamentos da Análise Matemática. Wussing (1998) afirma que, em 1873, Cantor sabia que podia fazer uma relação biunívoca entre o conjunto dos números naturais e o 9 Denso: “Diz-se que um conjunto A é denso num conjunto B se todo ponto de B que não pertencer a A é ponto de acumulação de A.” (ÁVILA, 2005, p. 141, grifo do autor). 10 Contínuo: É aquele que não pode ser dividido em dois conjuntos fechados. 11 Completo: “Todo o subconjunto não vazio e majorado de R tem supremo” (NEVES, 2008, p.126). 28 conjunto dos números racionais e que o conjunto dos números reais é enumerável 12 , existindo assim diferentes ordens de magnitude nos conjuntos transfinitos. Esta formulação foi conhecida em 1874 em um trabalho cujo título é Sobre a propriedade do conjunto de todos os números algébricos. Com a publicação deste trabalho, Cantor dá início a Teoria dos Conjuntos. Depois de tal publicação, Cantor não parou mais de estudar e pesquisar sobre os infinitos da Matemática e anunciando assim vários artigos sobre o assunto. Nessa pesquisa incessante, definiu conjunto denso, conjunto fechado 13 , números transfinitos 14 , dentre outras definições, sendo de fundamental importância o desenvolvimento da análise matemática e contribuindo para o seu progresso, bem como evolução da Teoria dos Conjuntos e também grande parte da aritmética transfinita. Depois de toda essa pesquisa, Cantor encontrou dificuldades em justificar sua teoria já que Kronecker (1823 - 1891), que foi seu professor em Berlim, se opunha a sua pesquisa, pois ele baseava a sua abordagem à Matemática na premissa de que um objeto matemático não existe a menos que seja passível de construção com um número finito de passos. De acordo com Boyer (1974, p.416), Kronecker “rejeitava categoricamente a construção dos números reais de seu tempo pelo fato de não poder ser efetuada só com processos finitos”, contrariando a ideia de Cantor, que defendia a infinitude. A anomalia observada no estudo dos infinitos de Cantor está no momento em que foi verificado que os conjuntos racionais eram densos, mas o conjunto dos números reais podia ser visto como maior que o conjunto dos números racionais e, porém Cantor provou que não é e que há uma cardinalidade entre os mesmos. A história do Hotel de Hilbert explicita bem a ideia dos infinitos de Cantor: O Hotel de Hilbert é um ‘paradoxo’ originalmente criado pelo matemático alemão David Hilbert. Suponha que você está de viagem em um lugar muito estranho na Alemanha, já está tarde e você precisa de um quarto de hotel. Depois de algum tempo procurando, você descobre que todos os hotéis estão lotados. Um senhor muito respeitável lhe recomenda que passe no hotel de um velhinho chamado Hilbert e te dá o endereço. Chegando lá, o velho Hilbert diz a você que seu hotel também está com todos os quartos ocupados. Mas antes de você lhe agradecer e virar-lhe as costas, Hibert exclama: ‘Mas meu hotel tem infinitos quartos! Posso arranjar um quarto para você’. Supondo que você não questione a sanidade do velho e acredite no que ele disse, o que o fato de ter infinitos quartos muda se todos estão ocupados? Bem, muda tudo. 12 Enumerável: “Chama-se conjunto enumerável todo conjunto equivalente a |N.” (ÁVILA, 2005, p.33). 13 Conjunto fechado é quando ele coincide com seu fecho (C = = C ∪ ). (ÁVILA, 2005). 14 Números transfinitos são os tipos de ordem de conjuntos infinitos e bem ordenados. (SANTOS; LOPES; CUNHA, 2001). 29 Quase toda a lógica intuitiva que temos para conjuntos finitos simplesmente não se aplica a conjuntos infinitos. E então, como você acha que Hilbert resolveu este problema sem despejar ninguém que já estava hospedado? A solução não é tão difícil. De fato, se transferíssemos o cliente do primeiro quarto para o segundo, o cliente do segundo para o terceiro, etc. sempre transferindo um cliente para o próximo quarto adjacente, ninguém ficaria sem quarto, afinal existem infinitos deles. Além disso, conseguimos liberar o quarto 1.Viajando um pouco mais, e se você trouxesse sua família infinita com você? Precisaria de infinitos quartos. É ‘possível’ liberar infinitos quartos; você sabe como? Se alocarmos o cliente do quarto 1 para o quarto 2, o do quarto 2 para o quarto 4, o do quarto 3 para o quarto 6, etc. o do quarto n para o quarto 2n, ficaríamos com todos os quartos ímpares vagos. Mas quantos números ímpares existem? Infinitos! Portanto resolvemos nosso problema (LE GAUSS, 2011)15. A figura a seguir mostra uma ilustração de como seria o Hotel Hilbert: Figura 6 – Hotel Hilbert Fonte: Gaglione (2013) A seguir será enfatizado outro exemplo de anomalias – a incomensurabilidade – que trata da relação de grandezas que não podem ser representadas por números inteiros ou fracionários. 2.2.4 A incomensurabilidade Na Grécia Antiga, os pitagóricos afirmavam que os números naturais, ou a razão entre eles, poderiam justificar tudo o que existe no mundo. No entanto não se sabe ao certo em que período da história nem quem observou que existia um conjunto de números que não podiam ser mensurado. Esses números, que não podiam ser mensurados, foram denominados de números incomensuráveis e uma das versões que explicam a origem desses números é a demonstração de que a razão entre o lado e a diagonal do quadrado nem sempre pode ser dada por um 15 Disponível em: < http://legauss.blogspot.com/2009/04/o-hotel-de-hilbert.htm>. Acesso em: 01 dez. 2011. 30 número inteiro, ou seja, a afirmação de que não se podiam medir a diagonal de um quadrado qualquer que não se chegasse a um número incomensurável que seria um múltiplo da . Eles usavam a matemática para melhor entender a natureza. Segundo Boyer (1974) foi Hipasus de Metapontun (~470-400 a.C.), no século V a. C., o pitagórico responsável por tal verificação. Vale ressaltar que os pitagóricos relutaram e refutaram por várias vezes este número, não o aceitavam de maneira alguma, pois isto lançaria por terra toda sua filosofia de querer justificar o mundo através dos números. As circunstâncias que rodearam a primeira percepção da incomensurabilidade são tão incertas quanto à época da descoberta. Comumente se supõe que a percepção veio em conexão com a aplicação do Teorema de Pitágoras ao triângulo retângulo isósceles, Aristóteles se refere a uma prova da incomensurabilidade da diagonal de um quadrado com seu lado, indicando que se baseava na distinção entre pares e ímpares (BOYER, 1974, p.54). A seguir, a figura mostra que a diagonal do quadrado de lado 1 é um valor que está em função da raiz de dois. Figura 7 − Quadrado de lado 1 Fonte: Sandoval (2009) A anomalia existente na formulação dos incomensuráveis é baseada no fato de que os gregos afirmavam que todas as razões resultariam em um número inteiro, mas quando se calculou a razão entre o lado e a diagonal de alguns quadrados (como o da figura anterior, por exemplo) verificou-se que nem sempre essa afirmação estava correta. A crise que ocorreu na escola pitagórica perdurou por um bom tempo até que não tinham mais argumentos para refutar tal anomalia e aceitar que a diagonal de um quadrado qualquer é verdadeiramente um múltiplo de e que realmente existiam números que não podiam ser medidos e esses números seriam os números incomensuráveis. 31 2.2.5 A geometria não-euclidiana Euclides de Alexandria, que tem sua existência contestada por muitos autores, foi um filósofo e matemático que viveu em 300 a.C. na Grécia e publicou uma coleção com treze volumes que tem por título Os Elementos. Esta coleção sistematizou toda a geometria grega da época, axiomatizando algumas propriedades e contribuindo para o progresso e disseminação da geometria, sendo, pois, de fundamental importância para que a geometria se desenvolvesse através dos séculos. Dentre a verificação de algumas propriedades geométricas, enfatizaram-se bastante cinco postulados dentre os quais os quatro primeiros eram claros e objetivos, nos moldes euclidianos, contudo, o quinto gerava questionamentos em meio à comunidade científica que passaram séculos e séculos para serem esclarecidas. O quinto Postulado de Euclides, mais conhecido como O Postulado das Paralelas, afirma que: Se uma reta cortando duas retas faz os ângulos interiores de um mesmo lado menores que dois ângulos retos, as duas retas, se prolongadas indefinidamente, se encontram desse lado em que os ângulos são menores são menores que dois ângulos retos (BOYER, 1974, p.77). Como posto, esse postulado foi, durante o decorrer da história da geometria, bastante questionado pelos matemáticos, pois queriam mostrar que não se tratava de um axioma 16 , mas um teorema 17 , e as tentativas de demonstrá-lo foram incessantes. Segundo Barnett (2000), no século I a.C. Posidônio (cerca de 50 a. C.) já dava importância a esse postulado afirmando que podia ser demonstrado. Tempos depois, no período moderno, veio Gerolamo Saccheri (1667 – 1733), Lambert (1728 - 1777) e Legendre (1752 - 1853) que também duvidaram do axioma e tentaram demonstrá-lo, porém, suas tentativas de demonstração foram através da redução ao absurdo, mas também não obtiveram sucesso em sua tentativa. Após várias tentativas frustrantes, no decorrer do tempo, Lobachevsky (1793 – 1856) e Bolyai (1775 – 1856) começaram as suas investigações, assumindo que uma geometria não-euclidiana era possível e passaram a acompanhar esta hipótese as suas conclusões lógicas e analíticas. 16 Algo que é tomado como verdade. 17 Necessita de uma demonstração. 32 Figura 8 − Nicolai Lobachevsky Figura 9 − Janos Bolyai Fonte: Eves (2011, p.543) Fonte: Gaussianos (2013)18 De outro modo disposto, as figuras postas a seguir mostram os triângulos em espaços diferentes, a primeira é um triângulo usado na geometria plana − é sabido que a soma de seus ângulos internos mede 180°. Ao seu lado, tem-se um triângulo esférico – no qual se observa que os ângulos internos dos triângulos formados na geometria esférica têm valor maior que 180°. Já a terceira imagem é conhecida como sela (ver figura 12) entre os matemáticos, onde é perceptível (na geometria hiperbólica) que no triângulo aí posto, a soma dos ângulos internos tem valor menor que 180°. Figura 10 – Triângulo euclidiano Figura 11– Triângulo esférico Fonte: (O autor) Fonte: FATOS... (2013)19 Figura 12 – Triângulo hiperbólico Fonte: TRIÂNGULO... (2013) 18 Disponível em: < http://gaussianos.com/el-verdadero-rostro-de-janos-bolyai/>. Acesso em: 10 jan. 2013. 19 Disponível em: < http://fatosmatematicos.blogspot.com.br/2011/10/lei-dos-senos-da-trigonometria- esferica.html>. Acesso em: 10 jan. 2013. 33 A fim de fechar as exposições sobre a definição de anomalia, apresentamos a seguir uma sistematização das considerações postas até o momento mediante a categorização das anomalias. 2.3 CATEGORIZAÇÃO DAS ANOMALIAS Tomando como base a definição de anomalia usada por Kuhn (2009), bem como as considerações nas seções preliminares deste trabalho, propõe-se uma categorização das anomalias para proporcionar ao leitor um melhor entendimento sobre o motivo pelo qual cada descoberta foi considerada anomalia. Por isso, elaborou-se um quadro classificando o tema pesquisado e a anomalia. É salutar mencionar que se optou em deixar de fora a geometria não-euclidiana porque esta será melhor detalhada no capítulo subsequente. Quadro 1 - Categorização das anomalias Tema pesquisado Anomalia Teoria da relatividade  Não negou, mas questionou a Mecânica Clássica, para o referencial absoluto;  Quando formulada, revolucionou a Física, quebrando paradigmas. O surgimento do oxigênio  Incorporou mudanças conceituais na Química;  Mostrou que o flogismo20 estava equivocado. Infinitos de Cantor  O questionamento foi sobre a crença de que não conseguiria provar a existência do infinito;  Construir uma relação biunívoca entre conjuntos com densidades diferentes;  Os conjuntos possuírem a mesma cardinalidade provocou conflitos. A incomensurabilidade  A diagonal do quadrado de lado 1 é um número incomensurável pôs em dúvida o pensamento pitagórico, mostrando que era limitado;  Existir um conjunto de números que até então não era conhecido pela comunidade pitagórica. Fonte: (O autor) A finalidade das anomalias para o ensino de matemática é simples, pois seria interessante que o aluno, que cursa os anos finais do ensino fundamental, tenha familiaridade com o assunto. Conforme já mencionado nesse estudo, o contato com as anomalias gera 20 Em química: “no passado, denominação atribuída ao oxigênio; fluido que, acreditava-se, associado a uma substância e, através de calor e luz, se manifestava nos corpos e produzia combustão; relativo a esse fluido; em medicina, mais conhecido como inflamatório” (HOUAISS, 2001, p.1357). 34 conflito cognitivo. Em contrapartida, essa familiarização com esses conceitos desde cedo com os jovens estudantes proporciona um entendimento, que por sua vez provoca um conhecimento significativo, atentando para o surgimento dessa anomalia, para que serve, quais as contribuições para o desenvolvimento da Matemática e até para outras ciências. 35 3 RECORTE HISTÓRICO DA GEOMETRIA NÃO-EUCLIDIANA ENQUANTO ANOMALIA Este capítulo discorre sobre Euclides, apresentando sua história, sua principal publicação os Elementos, o quinto postulado (que se encontra no Livro 1 desta obra), os questionamentos que sobrevieram por mais de 20 séculos sobre esse postulado e, posteriormente, tratará acerca a geometria não-euclidiana, demonstrando o que faz dela anômala ao referencial euclidiano, e como foi enunciada pelos grandes matemáticos do século XIX. 3.1 UM POUCO SOBRE EUCLIDES E OS ELEMENTOS É curioso mencionar que não se sabe bem ao certo a origem de Euclides, alguns estudos até questionam sua existência. Diversos pesquisadores, como Tomei (2006), por exemplo, defendem a tese que esse nome está relacionado a uma entidade que existiu na antiguidade. Já Eves (2004) afirma veementemente que Euclides de Alexandria foi professor da Biblioteca e Museu de Alexandria construída e fundada durante o governo de Ptolomeu II (309 - 246 a.C.). Essa biblioteca tornou-se o maior centro de matemática, ciência e filosofia da época, sendo local de trabalho e de estudo dos principais sábios e estudiosos do período e sendo considerada o primeiro instituto estatal de pesquisas do mundo, como afirma Mlodinow (2004). Considerando a existência desse pensador, Euclides formou-se, possivelmente, pela Escola Platônica de Atenas. Contudo, mesmo com todas essas dúvidas, é considerado um dos principais nomes da História da Matemática de todos os tempos. Uma das traduções de Os Elementos 21 faz um breve relato sobre a Grécia Antiga, os filósofos e matemáticos da época e traz, também, considerações sobre a falta de informações acerca da vida de Euclides. Do que consta na referida obra tem-se que “para testemunhos de como se constituiu e como se desenvolveu a geometria grega, ficamos extremamente dependentes da escassez de notícias espalhadas em escritores antigos.” (EUCLIDES, 2009, p. 57, grifo do autor). 21 Obra publicada originalmente por Euclides, por volta do século IV, importante para o estudo da geometria euclidiana e que foi traduzida por diversos séculos e discorreremos sobre suas versões e seu conteúdo, sucintamente, neste capítulo. 36 Por sua vez, Eves (2011, p.167) relata que “é desapontador, mas muito pouco se sabe sobre a vida e a personalidade de Euclides”. Esses comentários comprovam o quanto é frustrante ter poucas informações sobre um dos grandes nomes da matemática desde a Antiguidade aos dias atuais. Compartilhando da ideia de sua existência, autores como Ávila (2001) afirmam que Euclides de Alexandria viveu por volta de 300 a.C. sendo, possivelmente, grego uma vez que viveu boa parte da sua vida em Alexandria no Egito, ensinando e pesquisando sobre Geometria. Figura 13 – Euclides de Alexandria Fonte: Wikipédia (2013) 22 Reiterando o mencionado no início desta seção, devido à questão de insuficiência de documentos sobre a carreira de Euclides, não se pode precisar ao certo em que ano nasceu. No entanto, através de deduções feitas por Proclus – primeiro comentador crítico sobre Euclides − (cerca de 300 d.C.), este pesquisador, do mesmo modo sustenta que Euclides era da escola platônica e que mantinha um forte relacionamento com sua filosofia, menciona que Euclides seria oriundo de tal escola se dá por causa da construção das figuras platônicas, ou seja, poliedros regulares,em sua obra Os Elementos (EUCLIDES, 2009). Para ilustrar, a seguir estão duas imagens (as figuras 14 e 15) da cidade de Alexandria − uma das nomeadas por Alexandre, onde, provavelmente, Euclides tenha vivido e contribuído substancialmente para a geometria grega − e a outra mostra o mapa atual da cidade com a localização da Biblioteca em que, possivelmente, Euclides trabalhou ativamente funcionando como um organizador de toda geometria grega vista até então em uma obra com treze volumes que comentaremos posteriormente neste capítulo. 22 Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Euklid-von-Alexandria_1.jpg> . Acesso em: 20 fev. 2013. 37 Figura 14 ‒ Cidade de Alexandria no Egito Fonte: Ferreira (2010, p.102) Nos dias de hoje, utilizando-se de recursos tecnológicos, eis a localização aérea biblioteca de Alexandria. Figura 15 – Localização da Biblioteca de Alexandria Fonte: BIBLIOTECA... (2013) 23 23 Disponível em: . Acesso em: 16 jun. 2013. 38 Foi nesse período, segundo a história, o Período Helenístico (século IV a.C.), onde Alexandre Magno, conhecido também como Alexandre O Grande, foi Imperador por parte dessa época, e seu exército invadiu a Ásia Menor, a Fenícia, o Egito e derrotou os Persas. De fato, Alexandre constituiu um império muito grande conhecido como o Império de Alexandre. De acordo com Ferreira (2010), Alexandre, quando criança, fora aluno de Aristóteles, nesse período helenístico houve uma aproximação do Ocidente com o Oriente, contribuindo para um avanço cultural, crescimento tecnológico e descobertas científicas dos povos orientais. O imperador iniciou a construção da cidade de Alexandria, no Egito, uma cidade com estrutura para tornar-se “centro cultural, comercial e governamental”, como afirma Mlodinow (2004, p.49), anos depois, Alexandre faleceu e a cidade foi fundada por Ptolomeu I (cerca de 305 a. C.). Euclides, como professor da Biblioteca e pesquisador, foi o autor do texto matemático mais bem-sucedido de toda geração que continua sendo estudado até os dias de hoje, chamado de Os Elementos, esta coleção é considerada, atualmente, como uma obra especialmente de valor histórico já que foi escrita durante a Antiguidade em um período muito rico para o progresso da cultura grega e antiga em geral. Em Euclides (2009, p.16) tem-se que “a história de Os Elementos confunde-se, em larga escala, com a história da matemática grega”. De fato, a ênfase dada a esta obra foi muito grande uma vez que continha todo o arcabouço grego da época. Não há registros que sejam capazes de datar a verdadeira época que Os Elementos foram escritos, porém creditamos a sua escrita no século IV a.C. pois foi o presumível período vivido por Euclides, o responsável por sua publicação. Esta obra foi publicada em várias versões e a mais antiga a ser noticiada teria sido publicada por Théon de Alexandria − um estudioso do século IV que traduziu a obra e editou a proposição XXXIII do livro VI. Todas as traduções anteriores as de 1814 eram baseadas pela tradução de Théon, afirma Euclides (2009). Porém, no século XIX, segundo Eves (2004), quando Napoleão Bonaparte ordenou que fossem tomadas as bibliotecas italianas e enviadas à Paris os manuscritos de valor, encontraram uma edição anterior àquela obra publicada por Théon. Segundo Eves (2004), nenhuma obra, exceto a Bíblia, foi tão estudada quanto esta publicada por Euclides. A imagem seguinte revela a folha de rosto da primeira versão inglesa de Os Elementos. 39 Figura 16 − Folha de rosto da primeira versão inglesa de Os elementos. Fonte: Ávila (2001) Antes da publicação de Os Elementos, existiram outras publicações parecidas com a obra de Euclides, mas não tiveram tanto êxito quanto o célebre Os Elementos. Segundo Eves (2004), a primeira obra escrita com o mesmo objetivo da de Euclides foi publicada por Hipócrates de Quio 24 . Conforme o mesmo autor, Lêon também escreveu uma obra similar a de Hipócrates só que era considerada mais completa, uma vez que possuía mais proposições a serem analisadas. Teúdio também escreveu suas proposições e alguns autores consideram-no como o precursor de Os Elementos de Euclides. Além de Os Elementos também foi atribuída a Euclides a publicação de outras obras com conteúdo matemático, como Os dados, Divisão de figuras, Pseudaria, Porísmas, Cônicas além da escrita de livros sobre matemática aplicada como Os Fenômenos e a Óptica, dentre outros trabalhos. Embora muitos pensem que nesta coleção, Os Elementos, a produção seja apenas 24 O matemático e astrônomo Hipócrates, originário da ilha de Quios, floresceu na segunda metade do século - V; especula-se que tenha vivido entre -470 e -410. Segundo a tradição, ele foi enganado em Bizâncio, perdeu sua fortuna (Ps.-Arist. EE. 1247a) e teve que ganhar a vida em Atenas, ensinando Geometria, possivelmente entre - 450e -430) (GRÉCIA ANTIGA, 2012). 40 Geometria, estão enganados, pois os 13 volumes, contemplam também Álgebra e Aritmética, contudo, dentre eles, a geometria contida é maioria e foi capaz de ajustar todo o estudo matemático para aquela época. Esclarecendo, esta coleção é composta por 465 proposições e treze volumes divididos da seguinte forma:  os volumes I, III, IV, VI, XI, XII e XIII tratam sobre a geometria plana e espacial;  o volume II traz algumas transformações de áreas e também a álgebra geométrica da escola pitagórica 25 ;  o volume V, segundo Eves (2004, p.173) “é uma exposição magistral da teoria das proporções de Eudoxo” e essa teoria das proporções cooperou com a descoberta dos números irracionais pelos pitagóricos;  os volumes VII e VIII têm uma abordagem focada na Teoria dos Números, traz o conhecido algoritmo euclidiano, progressões geométricas e o importante Teorema Fundamental da Aritmética;  no volume IX, Euclides provou, elegantemente, a infinitude dos números primos por meio da redução ao absurdo e  o volume X trata dos irracionais com os créditos dados a Teteeto, mas com uma considerável colaboração de Euclides. Como pode ser observada nessa síntese, a obra de Euclides de Alexandria era muito mais que geometria em si, já que, conforme posto, aborda vários assuntos voltados à Matemática, como a álgebra e a aritmética. Tal produção fez com que Euclides se transformasse em uma das pessoas mais influentes da história, pois axiomatizou a geometria e formulou os famosos cinco postulados que serão citados na seção seguinte. Desse modo, Euclides deu a base para o desenvolvimento da geometria que temos hoje, e, nesse sentido, sua obra perdurou e/ou perdura como referência ao longo dos tempos como espécie de Bíblia que, inclusive, dita o conhecimento geométrico escolar, uma vez que os livros didáticos remetem-se, exclusivamente, a geometria euclidiana. Euclides e seus predecessores reconheceram o que, nos dias de hoje, todo estudante de Filosofia sabe: que não se pode provar tudo. Na construção de uma estrutura lógica, uma ou mais proposições devem sempre ser admitidas como axiomas a partir dos quais todas as outras são deduzidas (CASTRO, 2011, p. 302). 25 Escola pitagórica: escola de filosofia, política, esoterismo e matemática, originada em Crotona e liderada por Pitágoras (EVES, 2004). 41 Alguns autores como Eves (2004) enfatizam a formalidade com que Os elementos foram elaborados e credita-os como protótipo da formalidade da Matemática Moderna. 3.2 SOBRE A GEOMETRIA EUCLIDIANA E OS CINCO POSTULADOS Como ressaltado, a geometria teve maior espaço no mundo quando Euclides de Alexandria publicou sua coleção chamada Os Elementos, que possui treze volumes dos quais seis são dedicados à geometria plana. Tais volumes enfatizam a axiomatização da geometria, dedução de sequências lógicas e a formulação de deduções precisas garantindo uma compreensão de reciprocidade entre palavras e símbolos. De fato, nesta obra, Euclides esquematiza a geometria com uma estrutura lógica e um rigor muito bem elaborados, sendo tal estruturação considerada muito importante para a Matemática. Vale destacar que as demonstrações matemáticas deste período grego não eram aritmetizadas como temos atualmente, eram totalmente geométricas. Por exemplo, a demonstração do Teorema de Pitágoras, antes da álgebra era toda geometrizada, como podemos conferir a seguir. Observam-se duas demonstrações do Teorema de Pitágoras, a primeira é clássica de acordo com Euclides (2009) e a segunda, por Oliveira (2008) tem mais ilustrações e pode se aproximar do que os professores ensinam na sala de aula, embora a maioria dos livros didáticos não disponibilize para apreciação dos alunos. Em Os Elementos, a proposição 47 de diz que “nos triângulos retângulos, o quadrado sobre o lado que se estende sob o ângulo reto é igual aos quadrados sobre os lados que contêm o ângulo reto”. A seguir, a prova através da figura que trata de uma análise em demonstração matemática. 42 Seja o triângulo retângulo ABC, tendo o ângulo sob BAC reto; digo que o quadrado sobre a BC é igual aos quadrados sobre as BA, AC. Fiquem, pois, descritos, por um lado, o quadrado BDEC sobre a BC, e, por outro lado, os GB, HC sobre as BA, AC, e, pelo A, fique traçada a AL paralela a qualquer uma das BD, CE; e fiquem ligadas as AD, FC. E, como cada um dos ângulos sob BAC, BAG é reto, então, as duas retas AC, AG, não postas do mesmo lado, fazem relativamente a alguma reta, a BA, e no ponto A sobre ela, os ângulos adjacentes iguais a dois reto; portanto, a CA está sobre uma reta com a AG. Pelas mesmas coisas, então, também a BA está sobre uma reta com a igual a AH. E, como o ângulo sob DBC é igual ao sob FBC; pois, cada um é reto; fique adicionado o sob ABC comum; portanto, o sob DBA todo é igual ao sob FBC todo. E como, por um lado, a DB é igual à BC, e, por outro lado, a FB, à BA, então, as duas DB, BA são iguais às duas FB, BC, cada uma a cada uma; e o ângulo sob DBA é igual ao ângulo sob FBC; portanto, a base AD [é] igual à base FC, e o triângulo ABD é igual ao triângulo FBC; e, por um lado, o paralelogramo BL [é] o dobro do triângulo ABD; pois, tanto têm a mesma base BD quanto estão nas mesmas paralelas BD, AL; e, por outro lado, o quadrado GB é o dobro do triângulo FBC; pois, de novo, tanto tem a mesma base FB quanto estão nas mesmas paralelas FB, GC. [Mas os dobros das coisas iguais são iguais entre si;] portanto, também o paralelogramo BL é igual ao quadrado GB. Do mesmo modo, então, sendo ligadas as AE, BK, será provado também o paralelogramo CL igual ao quadrado HC; portanto, o quadrado BDEC todo é igual aos quadrados GB, HC. E, por um lado, o quadrado BDEC foi descrito sobre a BC, e, por outro lado, os GB, HC, sobre as BA, AC. Portanto, o quadrado sobre o lado BC é igual aos quadrados sobre os lados BA, AC. Portanto, nos triângulos retângulos, o quadrado sobre o lado que se estende sobre o ângulo reto é igual aos quadrados sobre os lados que contêm o [ângulo] reto; o que era preciso provar (EUCLIDES, 2009, p. 132). Agora a demonstração geométrica, porém com o uso da álgebra do mesmo teorema: Considere um quadrado ABCD de lado b + c. Sobre os lados desse quadrado marque pontos M, N, P, Q, como na figura a seguir, de modo que: 43 Pelo caso de congruência LAL os triângulos retângulos QAM, MBN, NCP e PDQ são congruentes ao triângulo retângulo da hipótese. Daí segue que MN = NP = PQ = QM =a. Isso implica que o quadrilátero MNPQ é um losango. Vamos mostrar que, de fato, ele é um quadrado. Suponhamos que os ângulos agudos do triângulo de hipótese sejam: α e β. Pela congruência dos triângulos QAM, MBN, NCP e PDQ descritos acima, os ângulos agudos destes triângulos retângulos medem α e β, de acordo com a figura acima. Como α + β = 90º segue que cada ângulo interno do quadrilátero MNPQ deve ser reto. Isso demonstra que MNPQ é um quadrado de lado a. Daí a área do quadrado de lado b +c é igual à soma da área do quadrado de lado a com a área de quatro triângulos retângulos de catetos b e c. Isto é: , como queríamos demonstrar. (OLIVEIRA, 2008, p.7) Diante da demonstração original do Teorema de Pitágoras e de uma demonstração geométrica com colaboração algébrica, observa-se a diferença de termos usados em ambos os casos. Na primeira, a formalização grega é riquíssima com sua preocupação em expor a figura geométrica e a prova do rigor matemático, porém o que se torna mais interessante é a clareza dos dados muito bem escritos para uma geometria grega bastante antiga, mas com uma preocupação forte na linguagem geométrica da época. Já a atual é mais detalhada com a separação das figuras e o uso da álgebra que contribui com um melhor para a linguagem contemporânea da matemática. Assim, diante da força euclidiana, toda essa geometrização perdurou no ocidente por mais de um milênio após o declínio da civilização helenística. Dentro dessa estruturação lógica, Euclides escreveu cinco postulados, e diferentemente de Aristóteles que tinha definições distintas para axiomas e postulados, não via variação e tratando-os como se fossem a mesma coisa. Desses cinco axiomas, quatro eram 44 diretos e claros, tanto é que não eram questionados e nem questionáveis dentro da comunidade científica da época, entretanto o quinto postulado foi motivo de muitas inquietações e dúvidas que perduraram por diversos séculos da história porque não era claro e nem simples de ser verificado. Mlodinow (2004, p.46) diz que o postulado “não era suficientemente simples para um postulado, e deveria ser demonstrável como um teorema”, essa falta de simplicidade incomodou estudiosos por diversos séculos, e falaremos sobre isto mais a frente. A seguir, estão descritos o os cinco postulados de Euclides (2009, p. 98): 1. Fique postulado traçar uma reta a partir de todo ponto até todo ponto. 2. Também prolongar uma reta limitada, continuamente, sobre uma reta. 3. E, com todo centro e distância, descrever um círculo. 4. E serem iguais entre si todos os ângulos retos. 5. E, caso uma reta, caindo sobre duas retas, faça os ângulos interiores e do mesmo lado menores do que dois retos, sendo prolongadas as duas retas, ilimitadamente, encontrarem-se no lado no qual estão os menores do que dois retos. Os matemáticos e filósofos não aceitavam que o postulado das paralelas não fosse passível de prova, eles queriam e tentavam, de qualquer forma, mostrar que se tratava de um teorema e não um postulado 26 , como afirmara Euclides em sua obra. Neste sentido, queriam mostrar que havia um equívoco em um dos volumes de Os Elementos. Um exemplo deste questionamento foi feito por Saccheri (1667- 1733), onde discutiremos posteriormente e que culminaram no surgimento de uma nova geometria. Na seção seguinte, aponta-se a discussão sobre esse quinto postulado, alvo de tantos estudos, questionamentos e o “pontapé” inicial para uma geometria que até então não era conhecida, o que atesta uma das características de anomalia, isto é, avanço para o ramo diante do padrão. 3.3 UM RECORTE HISTÓRICO SOBRE A GEOMETRIA NÃO-EUCLIDIANA Nesta seção discorrerá sobre as forma mais abrangente da geometria não-euclidiana, destacando desde os primeiros questionamentos ocorridos na Grécia Antiga até os que provocaram o descobrimento desta geometria tão influente para os dias atuais. 26 De acordo com o Dicionário: Postulado ˗ “S.m. (1813)1 o que se considera como fato reconhecido e ponto de partida, implícito ou explícito, de uma argumentação; premissa; 2 afirmação ou fato admitido sem necessidade de demonstração” (HOUAISS, 2001, p. 1532). Teorema ˗ “S.m. (1685) proposição que procede ser demonstrada por meio de um processo lógico [...]” (HOUAISS, 2001, p. 1829). 45 Desde a Antiguidade, quando Euclides apresentou seus postulados, o quinto sempre foi analisado de forma cautelosa por seus contemporâneos por que não é tão evidente e direto quanto os quatro anteriores. Muitos intelectuais davam por certo que se tratava de uma proposição 27 ao invés de um axioma, porém não obtendo êxito em suas pesquisas. Mas foi a partir desses questionamentos sobre a demonstrabilidade desse axioma que surgiu uma nova geometria, a geometria não-euclidiana. O surgimento da geometria não-euclidiana foi visto como um desenvolvimento revolucionário e notável ocorrido durante a primeira metade do século XIX, autoconsistente e diferente da usual geometria euclidiana. Os filósofos tentavam demonstrar o postulado das paralelas desde a antiguidade, porém não obtendo êxito, como Ptolomeu, século II, que tentou demonstrá-lo baseados nos outros axiomas da própria obra de Euclides. Esses questionamentos duraram vários séculos, alguns pesquisadores tentaram provar tal postulado, mas, de acordo com Eves (2011, p. 540), “a primeira investigação realmente científica do postulado das paralelas só foi publicada em 1773 e seu autor é o jesuíta italiano Girolamo Saccheri (1667-1733).”. Girolamo Saccheri foi um professor da universidade de Pavia que nasceu no século XVII, e teve a oportunidade de ler Os Elementos, de Euclides. A partir dessa leitura ele se interessou pelo método da redução ao absurdo e, com isso, começou a escrever sobre lógica. Saccheri escrevia textos matemáticos voltados para o método de redução ao absurdo até que, em um determinado período de sua carreira acadêmica, decidiu aplicar este método ao 5º Postulado, sendo mais um a querer demonstrá-lo, porém não obtendo o sucesso esperado. Mas, de acordo com Eves (2004, p. 540), sua hipótese era válida e consistente para provar a existência da geometria não-euclidiana, contudo, por algum motivo não conseguiu verificar tal feito. O suíço Joahnn Heinrich Lambert (1729-1777) também usou o método da redução ao absurdo e escreveu algo parecido com o que seu antecessor Saccheri. De acordo com Eves (2004) sua investigação foi intitulada Die Theorie Parallellinien que só veio a ser publicada após sua morte. Lambert não obteve êxito, pois suas conclusões foram imprecisas e insatisfatórias. Legendre (1752-1833) foi outro que tentou demonstrar, também sem sucesso, na sua pesquisa. Dados históricos contidos em Eves (2004) afirmam que este francês foi o último a tentar demonstrar o 5º postulado crendo que poderia conseguir provar que se tratava de uma 27 Proposição: Sinônimo de teorema. 46 proposição, pois no mesmo século nasceram os matemáticos, os quais aceitaram em suas hipóteses concordaram com a veracidade do axioma e chegaram a um resultado revolucionário e de extrema valia ao descobrimento e desenvolvimento desta nova geometria, a geometria não-euclidiana. Os créditos para o seu surgimento foram dados a três respeitados pesquisadores, são eles: Bolyai (1802-1860), Lobachevsky (1793-1856) e Gauss (1777-1855). A seguir, serão detalhadas as contribuições desses pensadores sobre só terem questionado o 5º postulado, mas a partir de tal questionamento terem visto que existia uma nova geometria. Janos Bolyai foi um oficial do exército húngaro, filho do matemático Farkas Bolyai (professor universitário e contemporâneo de Gauss). Conta-se que Farkas, passou tanto tempo tentando demonstrar esse postulado, que ao ver o seu filho trabalhar sobre a mesma coisa, decidiu escrever-lhe uma carta (em 1820) pedindo-lhe que não continuasse a trabalhar sobre esse assunto e fosse pesquisar outros temas. Um trecho da carta é citado por Struik (1989, p.270). Devias detestar tanto isso como as coisas perversas, que te podem privar de todo lazer, da tua saúde, do teu descanso e de toda a alegria da tua vida. Esta escuridão insondável podia talvez destruir um milhar de poderosos Newtons, sem nunca haver luz na Terra [...]. Eves (2004, p.542), afirma que Janos entendeu a coerência que havia no axioma e ficou entusiasmado comentando, em 1829, ao pai que havia criado um “universo novo e estranho”. Após isso, Farkas insistiu para que seu trabalho fosse publicado como um apêndice de sua obra, enfim, no ano de 1832 o trabalho foi publicado com sucesso. Esse foi o único trabalho notório de Janos, embora tivesse escrito diversos manuscritos que caracterizavam a GNE (geometria não-euclidiana). Outro matemático que, por sinal, era contemporâneo de Janos, foi Nicolai Lobachevski, um professor universitário russo que se tornou reitor da Universidade de Kazan. Lobachevsky publicou seu primeiro artigo sobre GNE em 1829, antes de Bolyai, que só conseguiu três anos depois. Segundo Eves (2004), seu trabalho não teve a atenção que lhe era merecida, talvez por causa do idioma em que fora escrito, o russo. Onze anos mais tarde, após sua primeira publicação sobre as GNE, Lobachevski publicou um livro, esta feita escrito em alemão, cujo título traduzido para o português é Investigações Geométricas Sobre a Teoria das Paralelas. Depois, em 1855, antes do seu falecimento, escreveu outro em francês, chamado de Pangeometria. 47 As informações existentes naquele século sobre as GNE eram poucas e seu conhecimento se espalhava lentamente, por isso, Lobachevsky não conseguiu usufruir dos méritos de suas descobertas, cujo reconhecimento veio depois de sua morte. O terceiro matemático a quem foi atribuída a descoberta das GNE foi Carl Friederich Gauss, um alemão, considerado o príncipe da Matemática. Desde criança era tido como criança-prodígio, Eves (2004), devido seus feitos, professor Universitário, escreveu aos mais diversos ramos da Matemática como a geometria, a álgebra e aritmética. Quando Bolyai descobriu que tinha criado uma nova geometria, seu pai, Farkas que era amigo de Gauss, enviou-lhe uma carta falando sobre o grande feito de seu filho, mas Gauss lhe respondera informando que já tinha pesquisado sobre o assunto, porém não havia publicado por causa do pensamento de Kant que ia de encontro com a ideia da geometria não-euclidiana para sua época. Vale ressaltar que, qualquer geometria que não satisfaça o axioma das paralelas é considerada geometria não-euclidiana, por isso alguns não a chamam de geometria não- euclidiana e sim as geometrias não-euclidianas. A descoberta das geometrias não euclidianas é um capítulo fascinante da história da Matemática, que se inicia no próprio momento em que Euclides trouxe a público os Elementos, em que apresentava a Geometria Euclidiana numa forma axiomática. As tentativas de provar o quinto postulado a partir dos outros, ao longo dos outros, ao longo de tantos séculos, transformaram-se, ao final, no estudo da Geometria e permitiram o entendimento de que havia de fato da uma família de proposições equivalentes ao quinto postulado (CASTRO, 2011, p. 2). Com a publicação dessa nova geometria de Lobachevsky, em 1829, e Bolyai, em 1831, ficou provado que o postulado das paralelas era verdadeiro em outro referencial e que, além disso, existia uma geometria diferente da que era conhecida, a geometria não-euclidiana que quebrava alguns padrões da euclidiana, mas a respeitava. Com o surgimento das geometrias não-euclidianas foi solucionada a interminável dúvida que se alastrou durante séculos sobre o postulado das paralelas, mostrou sua independência em relação aos quatro axiomas anteriores, solucionou o questionamento que havia se o mesmo se tratava de um axioma ou de uma proposição, extinguiu a ideia de que existia apenas a geometria plana, libertando-a para que surgissem outras tão relevantes quanto à inicialmente conhecida e perfeitamente axiomatizada por Euclides. Eves (2004, p. 544) cita que: Com a possibilidade de inventar geometrias puramente “artificiais”, tornou-se evidente que o espaço físico devia ser visto como um conceito empírico derivado de 48 nossas experiências exteriores e que os postulados da geometria, formulados para descrever o espaço físico, são simplesmente expressões dessas experiências, com leis de uma ciência física. A descoberta das geometrias não-euclidianas deixou clara e bem estabelecida a abstração existente na matemática, em todas as suas linhas de pesquisa, uma vez que o pensamento filosófico da época era o de Kant (1724-1804) e regava que o espaço era algo que fazia parte do espírito humano e sem os postulados de Euclides não haveria a possibilidade de um raciocínio consistente sobre o espaço. Na verdade, de modo geral, os conceitos na nova geometria são mantidos como o de circunferência e triângulo, mas o referencial é outro e as formas mudam (deformação). Ao observar a história, nota-se que houve uma quebra de paradigmas e a partir daí começou a notar que a geometria desenvolvida por Euclides não era única. Nesta perspectiva o surgimento da geometria não-euclidiana é anomalia, pois não veio para negar a já existente, mas trouxe uma visão mais ampla (que de certo modo deforma as concepções euclidianas 28 ) e contribuiu para o surgimento das novas geometrias. 3.3.1 As principais geometrias não-euclidianas sob enfoque histórico e anômalo Depois que a Geometria não-euclidiana foi descoberta, as portas foram abertas para os mais diversificados ramos da matemática, fazendo com que essa geometria tivesse ramificações e ficasse conhecida no mundo matemático. Logo, surgiram algumas geometrias não-euclidianas, dentre elas, destacaremos algumas que tem mais ênfase atualmente. 3.3.1.1 A geometria hiperbólica Quando falamos sobre a origem da geometria não-euclidiana também nos referimos à origem da Geometria Hiperbólica, pelo fato que Lobachevsky e Bolyai ao publicarem sobre a geometria não-euclidiana estavam se referindo justamente a geometria hiperbólica. A primeira publicação sobre a Geometria Hiperbólica é atribuída a Nicolai Lobachevsky, no ano de 1929, um dos matemáticos mais importantes da Rússia. Boyer (1974, p.396) afirma que Lobachevsky foi “o homem que revolucionou o assunto [geometria euclidiana] pela criação de todo um ramo novo [o da geometria não-euclidiana]”. Janos Bolyai, também publicou sobre a geometria hiperbólica três anos mais tarde de 28 Essa questão de deformar as concepções euclidianas é baseada nas características dos postulados de Euclides. 49 Lobachevsky, aceitando a hipótese da veracidade do 5º postulado e, também, negando sua unicidade. Começou a aceitar o postulado de Euclides como um axioma independente e descobriu que era possível construir uma geometria, baseada noutro axioma, na qual, através de um ponto do plano, se pudesse traçar uma infinidade de rectas que não intersectam uma linha nesse plano [...] (STRUIK, 1989, p.270, grifo nosso). Na geometria hiperbólica assumem-se todos os axiomas da geometria euclidiana, mas substitui o postulado das paralelas pelo axioma hiperbólico que é a negação de sua unicidade. Observe como é definido o axioma hiperbólico, segundo Greenberg (2003, p. 187), “In the hyperbolic geometry there exist a line / and a point P not on / such that at least two distinct lines parallel to / pass through P.”29 Figura 17‒ Axioma hiperbólico Fonte: (O autor) Assim, esclarecendo, vejamos algumas características da geometria hiperbólica, tomando como base as características dadas por Rocha (2012):  Num triângulo hiperbólico, temos que a soma das amplitudes dos ângulos internos de um triângulo qualquer é menor que 180 0 ;  Representada por uma superfície com curvatura negativa;  Por um ponto P podem passar infinitas retas paralelas a outra reta. A próxima imagem é de triângulo hiperbólico cuja soma de seus ângulos internos é menor que 180°. 29“Na geometria hiperbólica existe uma reta r e um ponto P fora da reta, tal que, pelo menos duas retas paralelas a r distintas passam por P” (GREENBERG, 2003, p. 187, tradução nossa). 50 Figura 18‒ Plano hiperbólico1 Fonte: Queiroz; Santos e Augustini (2006, p.1) A anomalia gerada no descobrimento da geometria hiperbólica foi quando houve a negação do quinto postulado, mostrando assim que entre dois pontos pode passar mais de uma reta paralela, claro que isto agora no espaço não-euclidiano, fato que não era aceito e nem se havia descoberto antes de Lobachevsky e Bolyai. 3.3.1.2 A geometria elíptica e a geometria esférica Conhecida como geometria riemmaniana, a geometria elíptica na qual a reta não é infinita e substitui-se o postulado das paralelas pelo de Riemann, diz que quaisquer duas retas em um plano têm um ponto de encontro. Portanto, na geometria elíptica considera-se como modelo a esfera, ou melhor, a superfície esférica, onde retas seriam os círculos máximos ou geodésicas 30 dessa superfície. A geometria elíptica foi divulgada pela primeira vez em uma aula inaugural ministrada em 1851 por Riemann para sua admissão como professor-adjunto na Universidade de Göttingen. Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826 - 1866) foi um matemático alemão que deu grande contribuição à geometria e também à análise matemática. Thomaz e Franco (2007, p. 5) define geometria elíptica como “uma geometria tal que, dada uma reta L e um ponto P não pertencente a L, não existe reta paralela a L passando por P.” Logo, afirma nessa definição que na geometria elíptica não há retas paralelas entre si, dados dois pontos. Alguns modelos da geometria elíptica são a Geometria Projetiva 31 , a geometria estereográfica 32 e a geometria hiperesférica 33 . 30 Remete-se a geodésia ou mensuração da terra. 31 O princípio de dualidade e o princípio de continuidade estudado por Poncelet (EVES, 2004). 32 Uma “aplicação pela qual se representam os pontos de uma esfera, exceto um dos polos, por suas projeções, a partir desse polo, sobre o plano equador” (EVES, 2004, p.221). 51 Vejamos algumas características da geometria elíptica:  A soma dos ângulos internos de um triângulo é maior do que dois retos;  O plano é uma superfície esférica, e a reta uma geodésica, ou circunferência do círculo máximo;  Duas retas distintas perpendiculares a uma terceira se interceptam;  Uma reta não é dividida em duas por um ponto;  A área de um triângulo é proporcional ao excesso da soma dos seus ângulos;  Dois triângulos com ângulos correspondentes iguais são congruentes. As figuras que seguem trazem um pouco da geometria esférica, a figura 19 traz a imagem de um triângulo na esfera, onde mostra claramente que a soma de seus ângulos internos é maior que 180°. Figura 19 - Esfera1 Figura 20 ‒ Esfera 2 Fonte: ESFERA... (2012) Fonte: ESFERA... (2012) Figura 21 ‒Esfera 3 Fonte: ESFERA... (2012) Com a descoberta desta outra geometria ficou evidente que o postulado das Paralelas não podia ser generalizado e usado para todos os referenciais possíveis, uma vez que, para a 33“Os pontos do espaço elíptico n-dimensional são os versores pertencentes a . Acesso em: 16 jun. 2013. BOYER, Carl Benjamin. História da Matemática. São Paulo: Edgar Blücher, 1974. BRASÍLIA no Google Maps. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2013. CASTRO, Karina Aparecida de. A Geomeria Hiperbólica como um exemplo das Geometrias Não-euclidianas. 2011. Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2011. DAUBEN, Joseph Warren. Georg Cantor: His Mathematics and Philosophy of the Infinite. 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Para futuros encaminhamentos, solicitamos a gentileza de responder este questionário e devolvê-lo em seguida. Não precisa se identificar. Agradecemos-lhe por responder. Dados pessoais: NOME:__________________________________________________- IDADE: _____ NÍVEL DE FORMAÇÃO: ( ) ENSINO MÉDIO COMPLETO ( ) ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO ( ) ENSINO SUPERIOR COMPLETO ( ) ESPECIALIZAÇÃO ( ) MESTRADO INCOMPLETO ( ) MESTRADO COMPLETO ( ) DOUTORADO INCOMPLETO ( ) DOUTORADO COMPLETO 89 TIPO DE FORMAÇÃO ( ) Licenciado ( ) Bacharel ( ) Técnico Em que curso?_____________________________________________ Caso seja professor, ( ) nível fundamental ( ) nível médio ( ) nível superior Instituição: ( ) Pública ( ) Privada INFORMAÇÕES DE CONTEÚDO: 1. O que você sabe de geometria? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 2. Você conhece a geometria euclidiana? ( ) SIM ( )NÃO ( ) Em parte 3. Considera que no ensino básico você estudou todo assunto proposto para geometria? ( )SIM ( )NÃO ( ) Em parte. 4. De 0 a 100%, qual a porcentagem que considera que estudou até o ensino médio? ______________ 5. Já fez algum curso sobre geometria? ( )SIM ( )NÃO . Caso sim, quando e onde? ________________________ 6. Em sua opinião, é importante estudar geometria na rede básica de ensino? Por que e em qual nível? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 90 7. Para você, existe ou já existiu algum questionamento sobre a geometria de Euclides? ( )SIM ( ) NÃO. Caso sim, qual (is)? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 8. Quais os elementos que considera básicos da geometria euclidiana? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 9. O que você entende sobre ponto? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 10. O que você entende sobre reta? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 11. O que é necessário para que duas retas sejam paralelas? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 12. O que você entende sobre triângulo? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 13. A soma dos ângulos internos de um triângulo é sempre de 180°? ( ) SIM ( ) NÃO 14. Você já ouviu falar em anomalia ( ) SIM ( )NÃO 91 15. O que você entende por anomalia? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 16. Já ouviu falar em anomalia na matemática? ( ) SIM ( ) NÃO 17. Já ouviu falar nas geometrias não-euclidianas? ( ) SIM ( ) NÃO. Caso sim, qual (is)? 18. Conhece sua história? ( ) SIM ( ) NÃO 19. Já fez algum curso de formação sobre as geometrias não-euclidianas? ________________________________________________________________ 20. Existe algum paralelo entre a geometria euclidiana e a não-euclidiana? Pode citar algum? ________________________________________________________________ 21. Conhece alguma aplicação da geometria não-euclidiana? Caso sim, qual? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 92 APÊNDICE B – BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE AS RETAS PARALELAS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ALUNO: ______________________________________________________________ CURSO: ______________________ TURNO: _______________________________ DATA: ___/___/______ BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE AS RETAS PARALELAS Foi durante o período áureo da matemática grega que a geometria euclidiana teve mais destaque no mundo e um dos que contribuíram para isto foi Euclides de Alexandria que, segundo Eves (2004), viveu por volta de 300 a.C. , publicou a obra Os Elementos, na qual estão várias proposições, demonstrações e axiomas da geometria que usamos até os dias de hoje. De fato, nesta obra, Euclides esquematiza a geometria com uma estrutura lógica e um rigor muito bem elaborada sendo tal estruturação considerada muito importante para a matemática. Vale destacar que, as demonstrações matemáticas deste período grego não eram aritmetizadas como temos atualmente, elas eram geométricas. Dentre os axiomas que estão na obra (coleção de treze livros), existe um em especial, o livro I, que foi responsável pela perturbação de vários matemáticos, pois foi muito questionado por causa da sua falta de clareza. Parecia mais um teorema que um postulado e, por isso, inúmeros matemáticos de diversas épocas queriam demonstrá-lo para que pudessem contradizer aquilo que Euclides afirmava. O responsável por toda esta discussão e que levou em torno de dois milênios para ser esclarecido foi o 5º Postulado de Euclides, também conhecido como o Postulado das Paralelas. Adiante, na atividade 1, exporemos tal postulado. É com base neste postulado que elaboramos as atividades sobre retas paralelas deste bloco, fazendo com que o aluno possa realizar sua investigação e verificar sua veracidade para referenciais distintos. Linhas paralelas são linhas num único plano que não convergem nem divergem, mas têm todas as perpendicularidades, desenhadas dos pontos de uma para os da outra, iguais” (Próclus, séc V, 176.5-176.11). Isto é, duas rectas são paralelas se forem equidistantes, ou seja, se a distância medida numa qualquer perpendicular de uma delas, for sempre igual, independentemente da perpendicular escolhida (CUORE, 2011). 93 Segundo a geometria euclidiana, as paralelas são retas que possuem uma mesma distância entre si e, com isto, nunca se cruzam. Ou seja, nesta geometria as retas paralelas nunca se encontram, são equidistantes. Mas será que esta afirmação serve para qualquer geometria? Baseando-se neste questionamento construiremos retas paralelas em espaços diferentes para ver se este axioma se encaixa em todos os espaços e a partir daí analisar se existe ou não uma anomalia. Objetivo deste bloco de atividades: Levar o participante a perceber se há contradição no 5° postulado ao afirmar que duas retas são paralelas quando são equidistantes entre si à luz da geometria euclidiana e as não-euclidianas. Material: folhas de papel sulfite, lápis grafite, régua, compasso, esfera de isopor e setor hiperbólico de biscuit. ATIVIDADE 1 – Retas na geometria euclidiana Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear régua e compasso. Recorte histórico / Definição: Os Elementos foram publicados por Euclides em cerca de 300 a.C.. Nele estão alguns axiomas, os famosos Postulados de Euclides, onde se encontra o Postulado das Paralelas que afirma o seguinte: E, no caso de uma reta, caindo sobre duas retas, faça os ângulos interiores e do mesmo lado menores do que dois retos, sendo prolongadas as duas retas, ilimitadamente, encontraram-se no lado no qual estão os menores do que dois retos (EUCLIDES, 2009, p.98). Com isto, vamos construir tais retas paralelas e verificar a veracidade para a geometria euclidiana. 94 Objetivo da atividade: Construir retas paralelas no plano euclidiano. Procedimentos: Sobre uma superfície plana representada por uma folha de papel sulfite, execute os seguintes passos: a) Dados dois pontos quaisquer, trace uma reta que passe pelos dois e chame-a de reta r; b) Marque um ponto P fora da reta; c) Construa com um arco de centro P, que intersecte a reta r; d) Determine o ponto A nessa interseção; e) Em seguida, construa outro arco, de mesmo raio, com centro em A, determinando o ponto B a interseção do arco com a reta r; f) Após isto, construa um arco de centro em B, de mesmo raio e que intersecte em algum ponto do arco de centro P. Chame o ponto da interseção de Q. g) Trace uma reta que passe pelos pontos PQ e chame-a de reta s. h) A reta s é paralela a reta r, tomando como referência a geometria euclidiana de acordo com a definição do recorte histórico? ( ) Sim ( ) Não Justifique. ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ ATIVIDADE 2 – Existe paralelismo na geometria esférica? Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear régua e compasso. Recorte histórico / Definição: Quaisquer duas retas em um plano têm um ponto de encontro. Portanto, na geometria elíptica considera-se como modelo a esfera, ou melhor, na superfície esférica, onde retas seriam os círculos máximos ou geodésicas41 dessa superfície. 41 Remete-se a geodésia ou mensuração da terra. 95 Nesta Geometria, as retas são consideradas como os círculos máximos, chamados de geodésicas, que dividem a esfera em duas partes iguais, assim como a linha do equador ou as linhas de longitude da Terra. Esses círculos são chamados de máximos, pois são os maiores círculos que podem ser traçados na esfera e desta forma são os caminhos com menor curvatura. Sendo assim, tem-se uma analogia com as retas no plano euclidiano, pois o caminho mais curto formado por dois pontos da esfera é um arco do círculo máximo que passa por estes pontos. Dois grandes círculos se cruzam, de modo que não existem retas paralelas nesta geometria (CAMARGO, 2012, p.57). Objetivo da atividade: Verificar se podem ser construídas retas paralelas no plano esférico ou elíptico. Procedimentos: Sobre uma superfície esférica que é representada por uma esfera de isopor, execute os passos: a) Dados dois pontos quaisquer, trace uma reta que passe pelos dois e chame-a de reta t; b) Marque um ponto P fora da reta; c) Construa com um arco de centro P, que intersecte a reta t; d) Determine o ponto A nessa interseção; e) Em seguida, construa outro arco, de mesmo raio, com centro em A, determinando o ponto B à interseção do arco com a reta t; f) Após isto, construa um arco de centro em B, de mesmo raio e que intersecte em algum ponto do arco de centro P. Chame o ponto da interseção de Q. g) Trace uma reta que passe pelos pontos P e Q e chame-a de reta u. h) A reta que passa por u é paralela à reta t, tomando como referência a geometria euclidiana? ( ) Sim ( ) Não Justifique. ___________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ATIVIDADE 3 – Paralelismo na geometria hiperbólica Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear régua e compasso. 96 Recorte histórico / Definição: Para Lobachevsky (1792 – 1856), a ideia das retas paralelas no plano hiperbólico não era a mesma estruturada por Euclides em sua obra Os Elementos, pois chegou à conclusão que se o espaço muda a imagem e a definição também mudará. Foi assim, quando desenvolveu seu axioma, o qual substitui o 5º postulado de Euclides, para sua geometria hiperbólica. Seu postulado afirma o seguinte “existe uma reta r e um ponto P que não pertence a r tal que por P passa ao menos duas retas paralelas à reta r” (FRANCO, [2008] apud CAMARGO, 2012, p.49), entendendo reta como geodésica do espaço hiperbólico. Procedimentos: Sobre uma superfície hiperbólica, representado por uma sela de biscuit, execute os passos: a) Dados dois pontos quaisquer, trace uma reta que passe pelos dois e chame-a de reta m; b) Marque um ponto P fora da reta; c) Construa com um arco de centro P, que intersecte a reta m; d) Determine o ponto A nessa interseção; e) Em seguida, construa outro arco, de mesmo raio, com centro em A, determinando o ponto B a interseção do arco com a reta m; f) Após isto, construa um arco de centro em B, de mesmo raio e que intersecte em algum ponto do arco de centro P. Chame o ponto da interseção de Q. g) Trace uma reta que passe pelos pontos P e Q e chame-a de reta n. h) A reta que passa por n é paralela a reta m, tomando como referência a geometria euclidiana? ( ) Sim ( ) Não Justifique. ___________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ATIVIDADE 4 – Identificando as anomalias? Tipo de Atividade: Atividade individual Objetivo da atividade: Analisar e perceber as similaridades e divergências que há na construção de uma reta paralela à outra quando o espaço é mudado para diferentes geometrias, observando se há a anomalia (deformação). 97 Procedimentos: a) Mesmo sendo construídas em espaços distintos, as retas perderam sua principal característica? ______________________________________________________________ b) As retas continuam sendo retas em todos os espaços? ( ) Sim ( ) Não Justifique. _____________________________________________________________________ __________________________________________________________ c) Possuem a mesma aparência física? ( ) Sim ( ) Não Justifique. _________________________________________________________ d) Quais as similaridades encontradas nas três retas construídas? _____________________________________________________________________ _________________________________________________________ e) Quais as características divergentes das três retas? __________________________________________________________ f) Houve alguma deformação em relação à definição de reta paralela do Quinto Postulado de Euclides? Qual? ________________________________________________________________ g) Que conclusão sobre paralelismo pode ser tirada a partir destas construções? __________________________________________________________ h) Podemos continuar afirmando que este tipo de construção, usada nas três atividades, sempre chegará a duas retas paralelas? Por quê? __________________________________________________________ __________________________________________________________ i) Diante dessas construções feitas, como você seria capaz de afirmar existem retas paralelas em qualquer espaço? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 98 REFERÊNCIAS CAMARGO, Keilla Cristina Arsie. A Expressão Gráfica e o Ensino das Geometrias Não Euclidianas. 2012. 144f. Dissertação (Mestrado em Ciências e em Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012. Disponível em: < http://www.ppgecm.ufpr.br/Disserta%C3%A7%C3%B5es/005_KeilaCristinaArsieCamargo.p df>. Acesso em: 21 nov. 2012. CUORE, Raul Enrique. A Demonstração do Quinto Postulado de Euclides : Postulado das Paralelas. 2011. Disponível em: . Acesso em: 21 nov. 2012. EUCLIDES. Os Elementos. São Paulo: UNESP, 2009. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Tradução: Hygino H. Domingues. Campinas: Editora da UNICAMP, 2004. 99 APÊNDICE C − BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE TRIÂNGULOS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ALUNO: ______________________________________________________________ CURSO: ______________________ TURNO: _______________________________ DATA: ___/___/______ BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE TRIÂNGULOS Os triângulos são figuras geométricas que contêm três lados e, consequentemente, três ângulos. É o polígono convexo com o menor número de lados. Há três tipos de triângulos, o escaleno, cujos três lados são distintos; o triângulo isóscele, que possui dois lados congruentes e o triângulo equilátero que possui os três lados iguais. Durante vários séculos, mais precisamente, desde quando o conjunto de livros organizado por Euclides de Alexandria (cerca de 300 a.C) chamado de Os Elementos − não se tinha conhecimento de outro espaço, além do euclidiano e, por consequência, da existência das entidades geométricas concebidas por Euclides em outro referencial, mas no século XVIII, depois de várias tentativas de demonstrações do 5º postulados de Euclides, três matemáticos, Bolyai (1802-1860), Lobachevsky (1793-1856) e Gauss (1777-1855) foram responsáveis por uma revolução ocorrida na matemática a partir do descobrimento das geometrias não-euclidianas. O surgimento da Geometria não-euclidiana foi visto como um desenvolvimento revolucionário e notável ocorrido durante a primeira metade do século XIX, auto-consistente e diferente da usual geometria euclidiana. Dentre este desenvolvimento revolucionário, foram mudadas algumas propriedades − como a da soma dos ângulos internos de um triângulo que não pode ser considerada a mesma para qualquer espaço − ou até mesmo obtidas generalizações das entidades geométricas. Acompanharemos o processo anômalo, que notadamente implica em deformações nas figuras euclidianas, mas que conserva sua definição com adaptações das propriedades. É, pois, o caso do triângulo. Isto posto, propomos generalizar a definição de triângulo para diferentes espaços e desprender tal definição da imagem. Além disso, dispomos por verificar se a soma dos seus ângulos internos é sempre 180º mesmo que mude o espaço a ser estudado, a partir disto verificaremos a quebra de paradigmas das definições de somas de triângulos do espaço 100 euclidiano. Pois é sabido que os livros do ensino básico e superior como, Giovanni Júnior (2009), Iezzi (2009), dentre outros, generalizam a definição desta soma não revelando para que referencial isto serve, por algum motivo a generalizam. Vamos iniciar as atividades com uma abordagem investigativa para que o aluno observe as semelhanças e divergências das construções feitas nos espaços distintos. Objetivo deste bloco de atividades: Conduzir o participante a definição geral de triângulo independente da geometria e, consequentemente, a ampliação do conceito e das propriedades do triângulo desprendida, necessariamente, da imagem. Através das figuras geométricas construídas em espaços distintos, eles verificarão as diferentes características das geometrias. Material: Folhas de papel sulfite, lápis grafite, régua, esfera de isopor, setor hiperbólico de biscuit e transferidor. ATIVIDADE 1 – Construção do triângulo na geometria euclidiana Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear o compasso. Recorte histórico: Quando nos referimos aos triângulos vem em nossa mente aquela figura convexa com três lados não colineares, Euclides, no livro I de sua obra, Os Elementos, chama figuras com três lados de triláteras e as define da seguinte forma: “E das figuras triláteras, por um lado, triângulo equilátero é o que tem os três lados iguais, e, por outro lado, isósceles, o que tem só dois lados iguais, enquanto escaleno, o que tem os três lados desiguais”. (EUCLIDES, 2009, p.98). Apoiado nesta definição histórica os livros didáticos trazem: Definição de triângulo: “Dados três pontos A, B e C não colineares, chama-se ABC a reunião dos segmentos ·, e ”. (IEZZI, 2009, p.99) Estudamos no ensino básico que a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo qualquer mede 180°, como afirmam os livros do Iezzi (2009) e do Giovanni Júnior (2009). Tomando esta afirmação como parâmetro, vamos construir figuras com base nestes passos alguns espaços diferentes e verificar se a imagem é nítida ou se há deformação. 101 Objetivo da atividade: Induzir o participante a construir um triângulo no plano euclidiano que está incluído nos parâmetros curriculares brasileiros. (BRASIL, 1997, p.38) Procedimentos: a) Marque três pontos não colineares em uma folha de papel. b) Ligue estes pontos. c) Que figura formou? ________________________________________________________________ ATIVIDADE 2 – Construção do triângulo na geometria esférica Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear o compasso. Recorte histórico: Conhecida como geometria riemmaniana a geometria elíptica consiste naquela em que reta não é infinita e onde se substitui o postulado das paralelas pelo de Riemann, o qual afirma que quaisquer duas retas em um plano têm um ponto de encontro. Portanto, na geometria elíptica considera-se como modelo a esfera, ou melhor, na superfície esférica, onde retas seriam os círculos máximos ou geodésicas 42 dessa superfície. Objetivo da atividade: Fazer com que o participante identifique no traçado na geometria elíptica e construa um triângulo neste espaço. Procedimentos a) Pegue uma esfera de isopor e marque três pontos não colineares sobre sua superfície. b) Ligue estes pontos. c) Que figura formou? _____________________________________________________________ 42 Remete-se a geodesia ou mensuração da terra a partir do pólo norte ao pólo sul. 102 ATIVIDADE 3 – Construção do triângulo na geometria hiperbólica Tipo de atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear o compasso. Recorte histórico: O matemático francês Henri Poincaré (1854 - 1912) criou um mapa que auxilia na visualização do plano hiperbólico. Esse mapa é um desenho gráfico que se propõe a representar, sobre uma superfície plana, o que existe na realidade em uma região acidentada. O site Seara da Ciência43 afirma que, mapa de Poincaré é do tipo que os matemáticos chamam de mapa conforme. Nesse tipo de mapa, os ângulos são mantidos invariantes pela transformação. Isto é, se duas retas do espaço hiperbólico se cruzam e formam um ângulo qualquer, as representações dessas duas retas no mapa também se cruzam formando o mesmo ângulo. Definição: Um triângulo consiste numa figura escrita sobre um plano hiperbólico com três lados e três ângulos. Objetivo: Fazer com que o participante identifique no traçado na geometria elíptica e construa um triângulo neste espaço. Procedimentos: a) Com o uso dessa sela conhecida como setor hiperbólico, um sólido feito de biscuit, marque três pontos não colineares sobre sua superfície. b) Ligue estes pontos. c) Que figura formou? ATIVIDADE 4 – Fazendo algumas verificações nas figuras (Soma dos ângulos internos das figuras) Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber manusear o transferidor e somar ângulos. 43 Disponível em: < http://www.seara.ufc.br/>. Acesso em: 20 nov. 2011. 103 Recorte histórico: Estudamos no ensino básico que a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo qualquer mede 180°, como afirmam os livros do Iezzi (2009) e do Giovanni Júnior (2009). Tomando esta afirmação como parâmetro, vamos verificar se esta propriedade da soma dos ângulos internos serve para qualquer espaço. Objetivo da atividade: Conduzir o participante a verificação das somas dos ângulos internos das figuras construídas. Procedimentos: Com o auxílio de um transferidor, meça as medidas formadas pelos ângulos obtidos pelas figuras, depois as some, completando a tabela. a) A tabela abaixo será completada com a soma dos ângulos internos das figuras que você construiu nas três atividades anteriores. Logo, a figura da Atividade 1, a tabela aparecerá como Figura 1, na da Atividade 2, aparecerá Figura 2 e na Atividade 3, Figura 3. Figura 1 Figura 2 Figura 3 Medida do ângulo 1 Medida do ângulo 2 Medida do ângulo 3 Soma das medidas destes ângulos b) O que pode concluir sobre a soma dos ângulos internos das figuras em seus respectivos espaços? É sempre180º? __________________________________________________________________ ____________________________________________________________ 104 c) Essa característica de triângulo pode ser generalizada para todos os espaços? ( ) Sim ( )Não d) Como você escreveria? __________________________________________________________________ _____________________________________________________________ ATIVIDADE 5 – E as anomalias Tipo de Atividade: Atividade individual Objetivo da atividade: Analisar e perceber as similaridades e divergências que há na construção de um triângulo quando o espaço é mudado, observando a anomalia existente quando o referencial é o espaço euclidiano e fazendo com que obtenha um conceito geral independente do espaço, e desligando-o, necessariamente, da imagem. Procedimentos: a) Mesmo sendo construídas em espaços distintos, as figuras perderam sua principal característica? ____________________________________________________________________ b) As figuras possuem a mesma aparência física? ____________________________________________________________________ c) A soma dos ângulos internos dos três triângulos é igual? ___________________________________________________________________ d) Que conclusão pode ser tirada a partir destas construções? ____________________________________________________________________ e) Houve alguma deformação em relação ao triângulo de Euclides? Qual? ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ f) Podemos continuar afirmando que a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo mede 180°? Por quê? g) Quais as similaridades encontradas nas três figuras construídas? ____________________________________________________________________ h) Quais as características divergentes das três figuras? 105 REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : matemática /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. EUCLIDES. Os Elementos. São Paulo: UNESP, 2009. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2011. GIOVANNI JÚNIOR, José Ruy. A Conquista da Matemática. São Paulo: FTD, 2009. IEZZI, Gelson. Matemática e Realidade. São Paulo: Atual, 2009. 106 APÊNDICE D – BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE A DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ALUNO: ______________________________________________________________ CURSO: ______________________ TURNO: _______________________________ DATA: ___/___/______ BLOCO DE ATIVIDADES SOBRE A DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS A necessidade de se encontrar a menor distância entre dois pontos existe desde a antiguidade, uma vez que, obviamente, é procurado o menor percurso a ser feito quando se desloca de um lugar para outro. Indícios nos levam a acreditar que os primeiros cálculos feitos para que se calculasse essa menor distância fosse através do Teorema de Pitágoras, onde em um triângulo retângulo é mostrado que o quadrado da hipotenusa é igual a soma dos quadrados de seus catetos, ou seja, tomando um triângulo de lados abc, onde a é a hipotenusa, b e c os catetos, o cálculo é feito pela seguinte fórmula: a 2 = b 2 + c 2 . A partir daí a fórmula da distância entre dois pontos (desenvolvida na Geometria Analítica) surgiu séculos mais tarde, quando Descartes desenvolveu o estudo sobre o plano cartesiano e Leibniz 44 (1646 - 1716) e, segundo Eves (2011), nomeou o eixo das coordenadas, sendo o eixo horizontal é a abscissa e o eixo vertical é a ordenada, em 1692. Segundo o site Taxicab geometri45no final do século XIX, Herman Minkowski (1864- 1909) desenvolveu uma métrica considerada uma geometria não-euclidiana, e conhecida como a geometria do motorista de táxi. Nela, a menor distância entre pontos é calculada de forma diferente a que Euclides demonstrou em sua obra Os Elementos. Na geometria do táxi, considera-se como referência a zona urbana de uma cidade com suas ruas bem definidas e fazendo o percurso nos sentidos horizontais e verticais (quadras). Se considerarmos cidades com ruas bem definidas, a exemplo de Brasília e analisarmos matematicamente, este menor caminho será a menor distância entre dois pontos 44 Gottfried Wilhelm Leibniz foi um matemático alemão que nasceu no século XVII e foi bastante influente para matemática da época, sendo considerado o grande gênio universal do século XVII, como afirma (EVES, 2011). 45 Disponível em: < http://www.taxicabgeometry.net/index.html>. Acesso em: 23 nov. 2013. 107 que estudamos na geometria euclidiana? Para moradores de cidades diferentes é preciso fazer um deslocamento de um local para o outro e o mais comum é procurarmos realizar o menor caminho para se chegar ao local desejado. Nas atividades que seguem desejamos mostrar ao aluno que nem sempre a menor distância entre dois pontos é uma reta como afirma Euclides. Com isso, provaremos a existência das anomalias também na distância entre dois pontos a medida que veremos a quebra do paradigma euclidiano neste aspecto quando mostramos que a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta e que o referencial a ser visto tem que ser pré- estabelecido, a exemplo das distâncias na métrica do taxi e na esférica. Objetivo deste bloco de atividades: Mostrar ao leitor a geometria do taxi juntamente com sua métrica (anômala ao referencial euclidiano) onde serão observadas as diferenças dos cálculos das distâncias e nas próprias medições com régua nas geometrias não-euclidianas e euclidianas. Material: Folhas de papel sulfite, esfera de isopor, lápis grafite e régua. ATIVIDADE 1 – A entrega da pizza Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber marcar pontos no plano euclidiano e calcular distância entre dois pontos na geometria euclidiana. Recorte histórico: Quando se marca três pontos não colineares sobre o plano cartesiano, pode- se formar um triângulo retângulo, onde a hipotenusa é a reta que liga dois destes pontos. Desta forma, a menor distância entre dois pontos calculadas no plano cartesiano é encontrada da seguinte maneira: Observe o triângulo retângulo a seguir e com base nele, será feita a demonstração da fórmula da distância entre dois pontos. 108 Dados dois pontos distintos A e B marcados no plano cartesiano, é traçada uma reta que ligue estes dois pontos. O segmento AB é a hipotenusa do triângulo retângulo ABC, o segmento AC é um cateto e o segmento BC é o outro cateto, logo: [d(A, B)] 2 = [d(A,C)] 2 + [d(B,C)] 2 , como: [d(A,C)] 2 = (x1 – x2) 2 e [d(B,C)] 2 = (y1 – y2) 2 temos, [d(A, B)] 2 = (x1 – x2) 2 + (y1 – y2) 2 então: d(A, B) = Com o tempo, foi-se observando que o cálculo dessas distâncias não poderia ser usado para todos os tipos de referenciais, com isto surgiu a necessidade de observar se havia um outro tipo de métrica que fosse capaz de calcular distâncias em outros espaços e foi assim que surgiu a geometria do táxi. Objetivo: Mostrar ao leitor a geometria do táxi juntamente com sua métrica (anômala ao referencial euclidiano) onde será observada a diferenças dos cálculos das distâncias nas geometrias não-euclidianas e euclidianas. Figura 1 - Triângulo retângulo Fonte: (O autor) 109 Problemática Uma pizzaria de Natal recebe duas ligações de clientes encomendando duas pizzas, concomitantemente. A primeira entrega será no ponto A(-3; 4) e a segunda será no ponto B(2; -3). Sabendo que a pizzaria se encontra no ponto C(3; 3). Procedimentos: a) Utilizando a malha abaixo, marque os pontos A, B e C. Figura 2 – Trajeto da pizzaria as residências Fonte: (O autor) b) Usando a fórmula da distância da geometria analítica, calcule a menor distância d(C, A) e d(C, B). d(C, A)= d(C, B)= 110 c) Usando a métrica do táxi, calcule a menor distância ente os pontos d(C, A) e d(C, B). d(C, A)= d(C, B)= d) As distâncias medidas nas duas métricas são iguais? ( ) Sim ( ) Não e) Na prática, qual seria um dos caminhos percorridos do ponto C ao ponto A? E do ponto C ao ponto B? ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ f) E na teoria? ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ g) É viável proceder com o cálculo da geometria analítica nesta situação? Por quê? ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ h) Diante desta situação, você pode generalizar a afirmação que a distância entre dois pontos sempre será uma reta? ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ i) Quais as similaridades encontradas nos cálculos dessas distâncias? _____________________________________________________________ j) Quais as características divergentes dos cálculos dessas distâncias? _____________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 111 ATIVIDADE 2 – Problema do urso Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Saber os pontos cardeais. Recorte histórico: Como explicado no bloco de atividades sobre triângulos, a geometria esférica foi descoberta pelo famoso matemático Riemann (1826-1866) que viveu pouco, mas deixou uma enorme contribuição à matemática. Vejamos a citação seguinte, na qual relata de forma sucinta seu pensamento sobre a geometria não-euclidiana: Em 1854, Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826 - 1866) mostrou que, descartando-se a infinitude da reta, e admitindo-se simplesmente que a reta seja ilimitada, então, com alguns outros ajustamentos pequenos nos demais postulados, pode-se desenvolver uma outra geometria não-euclidiana consistente a partir da hipótese do ângulo obtuso (EVES, 2011, p. 544). Problemática: “Um urso saiu de sua casa, caminhou 100 km ao sul. Depois virou ao oeste e caminhou por 100 km. Então virou novamente e caminhou 100 km ao Norte. Qual não foi a sua surpresa quando percebeu que voltara novamente para a sua casa. Responda, qual é a cor do urso?” Figura 3 – O Urso Fonte: O URSO... (2013) Objetivo da atividade: Argumentar sobre o cálculo de distâncias na geometria elíptica e verificar a diferença desse cálculo relacionando-o com o da geometria euclidiana. 112 Procedimentos: a) Desenhe em uma folha de papel, com uma determinada escala, o caminho percorrido pelo urso. b) De acordo com a situação acima é possível que o urso volte ao ponto de partida? ( ) Sim ( )Não c) Desenhe sobre uma esfera o caminho percorrido pelo urso. d) Analisando o percurso desenhado sobre a superfície esférica, é possível para o urso voltar ao mesmo ponto de partida? ( ) Sim ( ) Não e) A mudança do plano para a esfera modificou o trajeto? Explique. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ f) O que houve para que essa conclusão seja tomada? ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ g) Houve alguma deformação em relação à geometria euclidiana? Qual? ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ATIVIDADE 3 – Passeando em Brasília Tipo de Atividade: Atividade individual Conhecimentos prévios: Lápis grafite e régua. Recorte histórico: Brasília foi construída para se tornar a capital do país. Foi propositalmente planejada com suas ruas bem desenhadas e com o objetivo de ser o berço dos três poderes do Brasil. A cidade de Brasília que hoje tem dois milhões e meio de habitantes, é conhecida mundialmente por ter aplicado os princípios estabelecidos pela carta de Atenas de 1933 e ter concretizado o pensamento urbanístico dos anos 50. Sua construção começou em 1956, sendo Lucio costa seu urbanista e Oscar Niemeyer o principal 113 arquiteto. Três anos e dez meses mais tarde, em 21 de abril de 1960, se transformou oficialmente na capital brasileira. Brasília foi declarada Patrimônio Histórico da Humanidade pela Unesco em 1987, sendo a única cidade construída no século XX que recebeu esta honra. (BRASILIA 50..., 2013) Como as ruas de Brasília foram planejadas para se tornar uma cidade moderna e bem localizada, tomamos uma parte do mapa da cidade para fazer nosso experimento e calcular uma distância entre dois pontos a partir de geometrias distintas. Objetivo: Mostrar ao leitor a geometria do t áxi juntamente com sua métrica (anômala ao referencial euclidiano) onde será observada a diferenças dos cálculos das distâncias nas geometrias não-euclidianas e euclidianas. Problemática: Um grupo de turistas do Rio Grande do Norte estava passeando na cidade de Brasília e em um determinado dia resolveram conhecer a Praça dos Três Poderes. Chegando à Safs Quadra 1, olharam o mapa e calcularam um possível deslocamento a ser feito para chegar o mais rápido à Praça. Observem o mapa que liga a Safs Quadra 1 até a Praça dos Três Poderes. Figura 4 – Praça dos Três Poderes Fonte: BRASILIA... (2013) Procedimentos: a) Com o uso de uma régua e usando a escala da imagem, encontre a distância a ser percorrida, pelo grupo a partir do ponto A ao ponto B contidos na figura, que está tracejado de vermelho. 114 b) Quantos centímetros? _________________________________________________ c) Esse caminho pode ser perfeitamente percorrido pelo grupo? Por quê? _____________________________________________________________________ _______________________________________________________________ d) Agora com esta mesma régua, meça o caminho traçado de azul, que sai do Safs Quadra 1 à Praça dos Três Poderes. e) Quantos centímetros? ________________________________________________________________ f) Qual trajeto é mais curto para se chegar ao ponto B, o primeiro ou o segundo? ________________________________________________________________ g) Qual trajeto é mais viável, o primeiro ou o segundo? Justifique. ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ h) Diante desta situação, podemos concluir que a menor distância entre dois pontos, neste caso, percursos, sempre será uma linha reta, independente do obstáculo que venha ser encontrado? Justifique. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ i) Quais as similaridades encontradas nos cálculos dessas distâncias? _____________________________________________________________ j) Quais as características divergentes dos cálculos dessas distâncias? __________________________________________________________ 115 REFERÊNCIAS BRASÍLIA no Google Maps. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2013. BRASILIA 50 anos: meio século da capital do Brasil. 2013. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2013. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2011. O URSO. 2013. Disponível em: < http://khaostopia.blogspot.com.br/2010/01/geometria- com-ursos-geometria-nao.html> . Acesso em: 10 jan. 2013. TAXICAB Geometry. Disponível em: . Acesso em: 23 nov. 2012.