UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA MESTRADO EM GEOGRAFIA A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE DO PASSO DA PÁTRIA EM NATAL-RN MÔNICA PEDROSA MACHADO ORIENTADOR: PROF. DR. ELIAS NUNES NATAL-RN 2007 MÔNICA PEDROSA MACHADO A PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE DO PASSO DA PÁTRIA EM NATAL-RN Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como requisito parra a obtenção do grau em Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Elias Nunes NATAL-RN 2007 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Biblioteca Setorial Especializada do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA). NNBSCCHLA. Machado, Mônica Pedrosa. A percepção dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal- RN / Mônica Pedrosa Machado. - Natal, RN, 2007. 92 f. Orientador: Prof. Dr. Elias Nunes. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Rio Gran- de do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pos- graduação e Pesquisa em Geografia. 1. Comunidade do Passo da Pátria – Natal (RN) – Dissertação. 2. Lugar - Conceito – Dissertação. 3. Ambiente – Dissertação. 4. Percepção – Disserta- ção. I. Nunes, Elias. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ti- tulo. RN/BSE-CCHLA CDU 911.37 MÔNICA PEDROSA MACHADO A PERCEÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DA COMUNIDADE DO PASSO DA PÁTRIA EM NATAL – RN A Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Elias Nunes APROVADA EM: ___/____/_____ BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Elias Nunes - UFRN __________________________________________________________________________ Examinador Externo:Profª. Drª. Solange Terezinha de Lima Guimarães UNESP/RC _________________________________________________________________________ Examinador Interno: Prof. Dr. Anelino Francisco da Silva – UFRN AGRADECIMENTOS Terminar um mestrado é sempre motivo de muita felicidade que gostaria de partilhar com os meus bons amigos que me acompanham nesta trajetória. Neste momento tão especial quero agradecer a DEUS, para Ele o meu especial agradecimento por ter me ensinado o significado do AMOR e pela graça redentora de estar com todos os meus sentidos aguçados para exercer o milagre de estar viva. Aos meus pais por me ensinarem desde cedo a noção de solidariedade. Aos meus filhos, Karina, João Paulo e Carla as minhas melhores produções. A Vanessa e Alexandre pelo significado, cor e tom que deram à minha vida. Ao meu orientador, mais que tudo um bom amigo, o professor Elias Nunes, os meus sinceros agradecimentos. Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que através da diversidade e competência do seu corpo docente permitiu-me ampliar conhecimentos acerca de uma geografia comprometida com a existência. Agradeço à todos os habitantes da comunidade do Passo da Pátria que foram sempre muitos solícitos e contribuíram para a riqueza deste trabalho. Agradeço a todos os amigos da turma de mestrado em especial ao Gustavo, companheiro de todas as horas e de muitos trabalhos, pelas inúmeras conversas e discussões enriquecedoras que tivemos naquele período. Por fim, não posso deixar de agradecer a todos os meus amigos que de maneira direta ou indireta contribuíram para chegar nesta etapa, pos “muitos deles... não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure!” Vinicius de Moraes – 2002. “A casa é um estado da alma onde deságuam lembranças e sentimentos de segurança, de proteção, de habitar e de fazer algo. É um canto no mundo onde se reúne o coração e a imaginação para construir imagens que elevam o sujeito”. (MACEDO, 2003). RESUMO MACHADO, Mônica Pedrosa. A percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. Natal, 2007.75 f. (Dissertação de Mestrado) - Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2007. O presente trabalho intitulado: A percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN tem como principal objetivo investigar a percepção dos moradores em um ambiente degradado em fase de urbanização, localizado à margem do Rio Potengi. Trata-se de uma área de risco ambiental, que ao longo dos anos foi sendo negligenciada pelo poder público, mas que atraiu inúmeras pessoas pela facilidade de acesso às áreas urbanizadas da cidade de Natal e ao mesmo tempo pela riqueza advinda do mangue e do mar. Assim, frente às pressões econômicas pela falta de emprego, seus habitantes foram construindo moradias aleatoriamente, sem a mínima proteção social, ocupando um espaço inadequado para a manutenção do equilíbrio ambiental urbano. A comunidade pesquisada está exposta a enchentes das marés, dos vetores de doenças, além de atividades marginais como gangues organizadas e indícios de tráfico de drogas. O nosso intuito nesta pesquisa é observar a convivência de seus moradores com o meio ambiente e suas perspectivas de transformação cidadã. A pesquisa tem como fundamentação teórica os estudos de Tuan (1983), Nunes (2000) e principalmente do médico e cientista natural Wilhem Reich (1998) de quem retiramos o conceito de percepção, servindo aqui de uma importante categoria para analisar nosso corpus. O primeiro capítulo deste trabalho discute o conceito de lugar, não numa visão materialista histórica, mas dentro de uma perspectiva fenomenológica; o segundo capítulo apresenta a repercussão da urbanização na percepção da comunidade e o terceiro capítulo trata da análise da percepção da comunidade do Passo da Pátria. A partir dessa análise veio confirmar que as condições de vida dos moradores são extremamente perigosas; no entanto, a maior parte deles não percebe tais perigos, chegando a afirmar que se sentem bem em sua comunidade. Palavras-chave: Lugar; Ambiente; Passo da Pátria; Percepção. ABSTRACT This essay: The perception environmental of the Passo da Pátria dwellers in Natal-RN has as its goal, investigate the perception of the dwellers in an degraded environment in ways of urbanizing, at the Potengi River riverine. This is an area in zone environmental risk, which year after year was even forgotten by the municipality, but which attracted a huge estranger public because of its facility in access urbanized areas in Natal at the same rate of its natural riches from the mangue and the sea. Front to problems of economical nature as scarce job offers, its habitants build their dwellings without any kind order or social protection, occupying an inadequate space for the well keeping of the urban environmental equilibrium. The analyzed community is exposed to water floods, tropical diseases, and to criminal problems like gangsters and drug dealers. We propose in such essay observe the connivance of the dwellers with the natural environment and their expectations o citizen transformations. This essay has as its bases the studies of Tuan (1983), Nunes (2000) and principally in Wilhem Reich (1998) in who we found our concept of perception, that here plays like an important analytical category to confront our corpus. Our first chapter debates the concept of place, not in an historical materialistic vision, but within an phenomenological survey; the second chapter presents the impacts of the urbanization in the community perception, and in the third one is analyzed the perception of the Passo da Pátria community. Based in this analyzes we confirmed that the conditions of living of the dwellers are extremely dangerous; but, the most of them do not see such dangers, even saying that are well living in its community. Key words: Place; Environment; Passo da Pátria; Perception LISTA DE ILUSTRAÇÕES Pág. Fotografia 1 O traço vermelho indica as comunidades Passo da Pátria, Areado e Pantanal / Ocidental de baixo,,,,,,,.............................. 23 Fotografia 2 Nesta foto pode ser visualizado o canal do Baldo..................... 24 Fotografia 3 A comunidade que se desenvolve em área manguezal.............. 29 Fotografia 4 Coudbuster................................................................................ 32 Fotografia 5 Fotografia 6 Vista aérea do Bairro Cidade Alta e no alto a direita Passo da Pátria no estuário do Rio Potengi............................................... Mapa da Cidade de Natal........................................................... 39 40 Fotografia 7 A Prefeitura Municipal de Natal anuncia as obras de urbaniza- ção da comunidade do passo da Pátria ...................................... 41 Fotografia 8 Pôr do sol no estuário do Rio Potengi ....................................... 44 Fotografia 9 Pôr do sol no estuário do Rio Potengi........................................ 44 Fotografia 10 ”Buerão” onde são lançados 50 mil metros cúbicos de esgotos pela CAERN no estuário do Rio Potengi .................................. 50 Fotografia 11 Canalização e cobertura do esgoto lançado no estuário do Rio Potengi ..................................................................................... 50 Fotografia 12 Observamos nesta imagem, o lixo, a lama e as pessoas convivendo nesta realidade..................................................... 51 Fotografia 13 Crianças brincando nos trilhos do trem..................................... 57 Fotografia 14 Crianças brincam na lama por entre máquinas e equipamentos da obra........................................................................................ 57 Fotografia 15 Movimentação de terras para a cobertura do canal do baldo...... 66 Fotografia 16 Estragos causados por mais uma inundação, proveniente de forte chuva................................................................................... 66 Fotografia 17 Esta cena é comum no cotidiano da comunidade do Passo da Pátria, depois das chuvas……................................................... 67 Fotografia 18 Mangue visto das palafitas, podemos observar nesta imagem o inicio da instalação da tubulação de prolongamento do esgoto da cidade.................................................................................... 67 Fotografia 19 Lixo, uma convivência diária da população............................... 68 Fotografia 20 Cor da lama que faz da convivência da comunidade do Passo da Pátria...................................................................................... 69 Fotografia 21 Casa invadida pela lama das chuvas…….……......................... 70 Fotografia 22 Utensílios jogados pelo alagamento das chuvas…………........ 70 Fotografia 23 Marcas d’agua proveniente das chuvas ................................... 71 Fotografia 24 Processo de construção das casas ao longo do canal do baldo... 74 Fotografia 25 Desnível verificado entre o piso da casa e o piso da calçada...... 74 Fotografia 26 Caixa coletora rebocada com água circulante............................ 75 Fotografia 27 Pontos de visita, PVs acima d nível dos pisos………....……… 75 Fotografia 28 Observando a posição deste cano, parece não estar muito diferente do que foi exposto pelo consultor Araújo mostrados na figura n. 19 ............................................................................ 76 Fotografia 29 Refluxo da maré/entupimento nas caixas.................................... 76 Fotografia 30 Aterro acima do nível das casas.................................................. 77 Fotografia 31 Desabamento do muro de contenção.......................................... 78 Fotografia 32 Desnível entre beco, PV e canal.................................................. 78 Fotografia 33 Refluxo em PVs com entupimento............................................. 79 Fotografia 34 Invasão da maré no aterro........................................................... 79 Fotografia 35 Acúmulo de lama dentro e fora das residências em construção do projeto de reurbanização do Passo da Pátria………………... 80 Gráfico 1 Distribuição de freqüência em percentual relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o conhecimento da poluição do Rio............................................................................................... 29 Gráfico 2 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos a cerca do uso do tabaco .......................... 35 Gráfico 3 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos a cerca da limpeza do Canal do Baldo......... 46 Gráfico 4 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambi- ental dos indivíduos sobre se gostam do lugar que moram.... 55 Gráfico 5 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambie- ental dos indivíduos se sentem discriminados morando nessa comunidade.................................................................................. 55 Gráfico 6 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambi- ental dos indivíduos que se sentem bem em transitar pela comunidade............................................................................... 56 Gráfico 7 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambi- ental dos indivíduos que afirmam não perceber a falta de segurança.................................................................................. 58 Gráfico 8 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambi- ental dos indivíduos sobre o que é destruição ambiental......... 59 Gráfico 9 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre os riscos sociais e ambientais do lugar 60 Gráfico 10 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambi- ental dos indivíduos sobre os perigos dos esgotos lançados no Rio............................................................................................. 61 Gráfico 11 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambi- ental dos indivíduos sobre os prejuízos pela poluição do Rio 61 Gráfico 12 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre algum problema de saúde na comuni- dade............................................................................................ 62 Gráfico 13 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre as pessoas da comunidade que já for- am hospitalizadas......................................................................... 63 Gráfico 14 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre o suprimento das necessidades básicas 63 Gráfico 15 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre o consumo de Álcool............................ 64 Gráfico 16 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre o aparecimento de ratos nas residencias 65 Gráfico 17 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre a ligação afetiva no lugar em que vive 65 Gráfico 18 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre a possibilidade de morar em outro lu- gar............................................................................................... 72 Gráfico 19 Distribuição de freqüência em percentual da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre a reurbanizaçãoda comunidade............. 72 LISTA DE TABELAS Pág. Tabela 1 Situações de risco......................................................................... 25 Tabela 2 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o conhecimento da poluição do Rio................................................................................................ 29 Tabela 3 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o uso do tabaco.......................... 35 Tabela 4 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a limpeza do Canal do Baldo..... 45 Tabela 5 Mão de Obra Ativa....................................................................... 46 Tabela 6 Destino do lixo residencial........................................................... 49 Tabela 7 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre se gostam do lugar que moram........................................................................................... 54 Tabela 8 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre se eles se sentem discriminados morando nessa comunidade......................................................... 55 Tabela 9 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre como os mesmos se sentem bem em transitar pela comunidade............................................... 56 Tabela 10 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos que afirmam não perceber a falta de segurança...................................................................................... 58 Tabela 11 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o que é destruição ambiental..... 59 Tabela 12 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre os riscos sociais e ambientais do lugar......................................................................................... 60 Tabela 13 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre os perigos dos esgotos lançados no Rio........................................................................................... 60 Tabela 14 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre os prejuízos pela poluição do Rio............................................................................................... 61 Tabela 15 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre algum problema de saúde da comunidade.................................................................................. 62 Tabela 16 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre pessoas da comunidade que já foram hospitalizados.................................................................... 62 Tabela 17 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o suprimento das necessidades básicas.......................................................................................... 63 Tabela 18 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o consumo de álcool................. 64 Tabela 19 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o aparecimento de ratos nas residências.................................................................................... 64 Tabela 20 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a ligação afetiva no lugar em que vive........................................................................................ 65 Tabela 21 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a possibilidade de morar em outro lugar.................................................................................... 71 Tabela 22 Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a reurbanização da comunidade 72 SUMÁRIO Pág. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 16 Capitulo 1 COMO AS PESSOAS PERCEBEM O LUGAR VIVENDO NUM ESPAÇO DEGRADADO................................................................... 18 Capitulo 2 REPERCUSSÃO DA REURBANIZAÇÃO NA PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE................................................................................. 36 Capitulo 3 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE......................... 52 Capítulo 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 84 REFERENCIAS ............................................................................................................ 85 INTRODUÇÃO Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 16 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 INTRODUÇÃO Este estudo foi motivado pela leitura do livro O meio ambiente da grande Natal (Nunes, 2000), obra que nos suscitou curiosidade e interesse pela relação ser humano e meio ambiente. No segundo semestre de 2003, cursamos a disciplina Questões ambientais urbanas, no programa de Pós-Graduação em Geografia, ocasião em que começamos a articular as questões humanas e ambientais. Naquela época a mídia fazia extensiva propaganda governamental do projeto de reurbanização da comunidade do Passo da Pátria, em Natal/RN. Partimos então, da problemática ambiental de Natal, onde destacamos a faixa ribeirinha da margem direita do rio Potengi, considerando o espaço ocupado pela comunidade do Passo da Pátria. É observável a degradação ambiental no referido espaço, embora para a maioria das pessoas que lá habitam, isso não seja plausível e/ou gere indignação, principalmente, em relação a maior parte dos habitantes daquela área, que se submete e convive diariamente com o ambiente afetado pela emissão de efluentes (esgotos com metais pesados e excrementos humanos) que vem agredindo sobremaneira o ecossistema do estuário do rio Potengi e, com efeito, a população moradora. Como objetivo de nossa pesquisa, vamos estudar a percepção dos moradores deste lugar degradado em relação a sua convivência neste lugar, do ponto de vista da sua representação conceitual e das expectativas em relação a sua adaptabilidade e perspectivas de transformação cidadã para condições mais saudáveis e do bem morar a partir da realidade detectada em direção a mudanças positivas futuras. De forma a fundamentarmos teoricamente nosso estudo, no intuito de concretizarmos nossos objetivos, recorremos às contribuições sistemáticas e históricas de: Tuan (1983), Reich (1986), Nunes (2000). Este estudo foi desenvolvido seguindo esta metodologia: Primeiro, fizemos uma pesquisa no local da comunidade do Passo da Pátria, observando todo o ambiente, no qual constatamos a degradação do referido espaço que fica situado na região do rio Potengi. Vimos que o lugar está sendo atingido de forma degradante (esgotos abertos, lixo, dejetos, etc.). A percepção dos moradores foi observada através das entrevistas que realizamos no local. O que foi detectado é que são pessoas angustiadas e medrosas em relação ao tráfico de drogas, algo constante na região, e que as condições deste lugar são precárias: lixo, água podre; uma vida Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 17 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 sem qualidade cidadã. Observa-se que geograficamente o lugar precisa ser reorganizado em todos os sentidos, inclusive no aspecto humano e existencial. Incluímos assim, em nosso trabalho a teoria do médico e cientista natural Wilhem Reich, já que o mesmo compreende a condição de vida sob stress provoca no ser humano um processo de “encouraçamento”, isto é, a pessoa se sente separada do lugar em que vive e sua identidade com o ambiente em que vive fica rompida. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 18 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Capitulo 1 COMO AS PESSOAS PERCEBEM O LUGAR VIVENDO NUM ESPAÇO DEGRADADO Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 19 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 1. COMO AS PESSOAS PERCEBEM O LUGAR VIVENDO NUM ESPAÇO DEGRADADO Nesta pesquisa, vamos discutir o conceito de lugar, não dentro de uma perspectiva materialista história (SANTOS, 2002), que já vem sendo discutida por grandes ícones da Geografia; mas dentro duma perspectiva fenomenológica. Tuan (1983), que a nosso ver é o reverso de uma mesma moeda, aborda a experiência humana afetiva, no espaço e no lugar vivido no cotidiano, na forma concreta do real. O conceito de lugar tem sido alvo das diversas interpretações ao longo do tempo e entre os mais variados campos do conhecimento, tais como informa Santos (2002) e Carlos (2002). Entretanto, procuramos centrar um olhar específico sobre tais conceitos a partir da contribuição de Tuan (1982), que reflete tal conceito, [...] como um mero espaço se torna um lugar intensamente humano é uma tarefa para o geógrafo humanista, para tanto ele apela a interesses distintamente humanísticos, como a natureza da experiência, a qualidade da ligação emocional aos objetos físicos, as funções dos conceitos na criação da identidade do lugar (p. 149). Ao tentar compreender o lugar a partir da percepção da experiência humana e não meramente numa dimensão de causa e efeito (SANTOS, 2002), mas na sua verdadeira dimensão existencial. Buscamos inspiração em algumas leituras sobre fenomenologia, bem como na orientação científica e metodológica que a professora Dra. Lívia de Oliveira vem difundindo desde a década de 1970, e que consiste na tentativa de busca de uma ponte entre a vida, o ambiente e as realizações humanas (OLIVEIRA, 1996). No final do século XIX e início do século XX a Geografia européia já se ocupa da dimensão cultural da sociedade, de acordo com Correa (2001, p. 9), a “geografia cultural desempenhou, na estória do pensamento geográfico, um significativo papel, oferecendo uma contribuição particular para a compreensão da ação humana sobre a superfície terrestre”. Tal princípio está ancorado na visão historicista do pensamento geográfico da época. Em Carlos (2002), vimos que Os anos 70 marcam as grandes transformações nos modos de pensar, fazer e ensinar a geografia. [...] a partir da matriz do historicismo, podemos abordar duas importantes tendências: a marxista, que determinou as bases do movimento chamado Geografia Crítica ou Geografia Radical e a Fenomenologia (p.168). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 20 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Nesta década, surge no bojo do movimento fenomênico a contribuição de Lívia de Oliveira (1980), que, no campo da Geografia Humanista, ou seja, humanística, quando traduz e divulga a obra de Tuan (1980), redimensionando a concepção de lugar, sistematizando a Topofilia. A palavra topofilia é uma palavra útil quando pode ser definida em sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material, o que vem ampliar tais conceitos considerando a experiência vivida pelo sujeito e a percepção dos seus sentidos. Tuan foi fortemente influenciado por Bachelard (2005)p.19 que foi o primeiro teórico a utilizar o termo topofilia, que define por “espaço feliz” que “visam determinar o calor humano dos espaços de posse, dos espaços defendidos contra forças adversas, dos espaços amados.” P.16. Santos (2002), por sua vez, apresenta o conceito de lugar como “esta categoria da existência presta-se a um tratamento geográfico do mundo vivido que leve em conta as variáveis de que nos estamos ocupando neste livro: os objetos, as ações, a técnica, o tempo” (2002, p.315). O lugar acontece as articulações de momentos históricos, ações humanas e a técnicas concebidas numa dinâmica que se contradiz o tempo inteiro. Porém, na concepção da Geografia Humanista, Santos (2002) afirma que “para apreender essa nova realidade do lugar, não basta adotar um tratamento localista, já que o mundo se encontra em toda parte”, afirma ainda que, devemos evitar o “risco de nos perder em uma simplificação cega” (p.314). Portanto, lugar, além de ser um conceito psico-afetivo, é também a experiência humana vivida no cotidiano. Neste aspecto, o cotidiano humano não pode ser considerado de forma simplificada ou reduzida, pois dessa forma, negar-se-ia o reverso da moeda do materialismo histórico. Como afirma Cobra (2001), A redução fenomenológica (ou "epoche" no jargão fenomenológico), é o processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência, em um fenômeno que consiste em se estar consciente de algo. Coisas, imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos eventos, memórias, sentimentos, etc. constituem nossas experiências de consciência. A linha de pensamento da geografia humanista “caracteriza-se principalmente pela valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente” (LEITE, 1998, p. 9). Este fato nos remete a Mello (s/d) quando ele define o que é geografia a partir de Tuan, autor que considera o estudo da terra como o lar das pessoas” Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 21 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 (p.1), esta idéia vem sendo defendida pelos geógrafos chamados de ‘humanistas’ acreditamos que provavelmente diante do processo de globalização, estes conceitos de espaço e lugar como lócus da experiência seja de certa forma uma tentativa de fortalecer a identidade e cultura de cada lugar. Uma outra colocação da Geografia Crítica, sobre a fenomenologia se fundamenta na concepção que essa análise “aparece como contemplação desinteressada dos objetos do mundo considerados como fenômenos e estabelece a suspensão de todas as idéias prévias sobre a natureza dos objetos. Nesse sentido, abstêm-se da especulação e se limitam a descrever as aparências diretas” (CARLOS, 2002, p. 166) e que ao descrever o lugar enfocando o indivíduo, sem o pensamento crítico, o debate ficaria esvaziado. Os debates críticos são muito importantes para promover uma reflexão sobre os aspectos históricos da realidade, mas sem considerar a experiência se torna um debate ‘desencardo’, sem corpo um debate teórico, como se existissem muitas cabeças sem corpos. Neste sentido, vamos refletir o conceito de lugar descrito por Silva (1986, p. 30) como o ‘lócus de existência’, tentando recuperar a noção de totalidade deste conceito, buscando sempre a compreensão das particularidades de cada indivíduo diante do curso existencial em que está circunscrito desde a sua concepção até a sua morte. Ora como um debate sobre o conceito lugar ficaria esvaziado se este se define paralelamente com o desenvolvimento psico-afetivo do ser humano, para uma criança pequena “a mãe é o primeiro lugar” (TUAN, 1983, p. 32), desde já podemos verificar que se trata de um conceito carregado de afeto. Conforme Tuan (1983, p. 3) o “Espaço e Lugar são termos familiares que indicam experiências comuns”; estes conceitos para ele, na perspectiva da experiência o significado de espaço se funde com o significado de lugar, portanto, ambos não podem ser definidos um sem o outro. Portanto o lugar, sob a perspectiva experencial, não está somente “ligado” a vivencias topofílicas, mas também, às topofóbicas Para sentir um lugar e para que este possa ter significado para um adulto é necessário que ele se permita experienciá-lo por algum tempo e assim criar vínculos afetivos, que Tuan (1983, p. 65) chama de sentimentos topofílicos. Afirma ainda que “[...] o espaço é sem dúvida, mais que um ponto de vista ou um sentimento complexo e fugaz. É uma condição para a sobrevivência biológica”. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 22 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 A construção do sentido de lugar não se restringe às emoções e sentimentos relacionados somente a afetividade no sentido do amor, mas também às emoções contrárias devidamente contextualizadas em relação não individuo e ao coletivo. Segundo Merleau-Ponty (1989, p.42), [...] o mundo percebido seria o fundo sempre pressuposto por toda racionalidade, todo valor, toda existência. Uma concepção deste gênero não destrói nem a racionalidade, nem o absoluto. Busca fazê-los descer à terra. Então falaremos de uma Geografia Humanística, que por sua vez podemos associar a valores humanísticos, e podemos evoluir em possibilidades sob o humanismo dialógico, permitindo as novas concepções das visões holística e ecológica. A concepção ecológica está associada a uma escola filosófica especifica conhecida como ecologia profunda, fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início dos anos 70. É uma ecologia cujos princípios preconizam a valorização ética da natureza, Não separa os seres humanos – ou qualquer outra coisa do meio ambiente natural e respeita os limites objetivos de qualquer ser vivo. Para a ecologia profunda, os valores humanos são equivalentes aos dos demais seres da natureza, sendo que não cabe ao ser humano nenhum direito de dominação sobre as outras espécies. Preza ainda pela garantia da riqueza e da diversidade da vida, que devem ser garantidas às gerações futuras (NAESS, 1973). Segundo Capra (1996) a ecologia profunda reconhece a independência fundamental de todos os fenômenos, indivíduos e sociedades, todos encaixados nos processos cíclicos da natureza e dependentes desses processos. Ela reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe o conjunto dos seres humanos como sendo apenas um fio particular ligados à teia da vida, numa rede de interdependência. Na concepção holística com a publicação do livro de Holism and Evolution, em 1921, Jan Smuts, filósofo, general e estadista sul-africano, pode ser considerado o teórico fundador do movimento holístico no século XX. Em razão do aspecto relacional do ser humano e de seu meio, a Ecologia é uma das grandes preocupações atuais do movimento holístico. Weill (2000) foi um dos teóricos que mais sintetizou o pensamento de Smuts ao pensar holisticamente afirma que a transdisciplinariedade é o caminho mais eficaz de integrar a pessoa ao social e ao ambiental, e trabalhar todas as áreas, corpo, mente e espírito. A comunidade do Passo da Pátria localiza-se numa área de 205.506 m2 e limita-se ao Norte com o rio Potengi (margem direita), ao sul com a linha férrea (sem obedecer à faixa de domínio da ferrovia), ao leste com a Pedra do Rosário e a oeste com a Base Naval Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 23 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Almirante Ari Parreiras. É constituída de três sub-assentamentos que são: Passo da Pátria – o mais antigo e que inclui a Pedra do Rosário; Areado e Pantanal (subdividido em Ocidental de Baixo). Essas subdivisões foram construídas ao longo do tempo pela própria comunidade. Areado (vizinha ao Passo da Pátria) se situa na parte mais baixa e esta sujeita a inundações. Foi assim denominada por ter surgido do aterro do canal de drenagem do rio Potengi, chamado Canal do Baldo (ver foto 1) na década de 60, cujo material aterrou uma parte do mangue, propiciando o surgimento dos primeiros moradores. Fotografia 1. O traço vermelho indica as comunidades Passo da Pátria, Areado e Pantanal / Ocidental de baixo Autor - SEMTAS, 2003 As comunidades do Passo da Pátria, Areado e Pantanal, estão situadas em uma área de risco ambiental. Na Foto 2 podemos observar nas manchas brancas despejadas através do canal do Baldo a quantidade de efluentes poluidores e maléficos a saúde do meio humano- ambiental Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 24 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 2 - Nesta foto pode ser visualizado o canal do Baldo. Autor: SEMTAS, 2003 A comunidade do Pantanal ou Ocidental de Baixo caracteriza-se por ser cortada por gamboas que têm seu volume aumentado com o movimento das marés. As regiões mais baixas sofrem alagamentos das marés mais altas nos meses de janeiro a agosto. Tem como único acesso uma rua localizada próximo ao Horto Municipal, sendo isolada dos demais pela existência do canal do Baldo e fazendo divisa com o muro da Base Naval ‘Almirante Ari Parreiras’. Apesar dos moradores da comunidade terem consciência dos problemas provocados pelo destino dos excrementos humanos da cidade aliado ao mau cheiro (quase insuportável), que este exala na comunidade, denuncia o bloqueio olfativo, uma espécie de disfunção perceptiva, que precisaram desenvolver, para suportar a sua sobrevivência neste espaço degradado. Estes mecanismos adaptativos de percepção podemos chamá-los de normóticos, normose segundo Weill (200) se trata de um “conjunto de valores, atitudes e comportamentos habituais, que levam ao sofrimento físico ou moral, à doença ou à morte. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 25 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Apesar dos diversos riscos existentes, a comunidade corre de fato um risco real associado à estrutura das precárias habitações, que estão expostas as enchentes das marés, dos vetores de doenças, a linha de trem e a presença de atividades marginais (detectou-se indícios de tráfico de drogas e gangs organizadas) parecem ter sido praticamente incorporados às suas vidas; é como se tivessem ficado amortecidos pela dura realidade a que são cotidianamente submetidos ou por que tenham receio de falar sobre ela. A tabela 1 demonstra as situações de risco em que vivem os moradores da comunidade. TABELA 1 - Situações de risco Tipo de risco (ótica dos moradores) Passo da Pátria Areado Pantanal Geral Nenhum risco 209 71,9 100 35,5 138 39,8 447 48,5 Alagamento 50 17,2 64 22,7 171 49,3 285 31,0 Desabamento 16 5.5 54 19,1 17 4,9 87 9,5 Deslizamento 01 0,3 05 1,8 01 0,3 07 0,8 outros ou vários riscos 03 1,0 28 9,9 12 3,5 43 4,7 não respondeu / não sabe 12 4,1 31 11,0 08 2,2 51 5,5 Total 291 100 282 100 347 100 920 100 Fonte: SEMTAS 2003 Para Reich (apud DADOUN, 1991) a condição de vida sob estresse, provoca estes bloqueios que ele define como um processo de encouraçamento, isto é, quanto ele começa a auto perceber-se e a ter consciência de si e do contexto em que vive, e este movimento de auto-percepção “provoca no homem uma ruptura da relação unitária [...] que nutre a identidade do homem com a natureza – como qualquer coisa alheia, diferente, ameaçadora; no homem e fora do homem a natureza torna-se algo contra o que é preciso se proteger” (p.141). Com este movimento, surge a angústia interferindo na auto percepção. Quando nos propomos estudar como as pessoas percebem o lugar em que vivem, nos deparamos com uma vasta concepção de conceitos sobre percepção e mais ainda, sobre o lugar. Em virtude dessa diversidade de conceitos sobre percepção dentre as diversas escolas Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 26 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 da psicologia e da diversidade de conceitos de lugar dentre as diversas correntes da geografia, considerando meus interesses a experiência, o foco de nosso trabalho recairá sobre a escola de Wilhelm Reich. Nossa pesquisa foi realizada num lugar ribeirinho, que ao longo dos anos foi sendo negligenciado pelo poder publico, atraindo inúmeras pessoas, pela facilidade de acesso as áreas urbanizadas da cidade de Natal e ao mesmo tempo pela riqueza advinda do mangue e do mar. Então diante as pressões econômicas pela falta de emprego, foram construindo moradias aleatoriamente, sem a mínima proteção social, ocupando um espaço inadequado para a manutenção do equilíbrio ambiental urbano. Diante da necessidade de nos aprofundar na percepção humana e sua relação com o ambiente habitado, nos deparamos com inúmeros vertentes conceituais de meio ambiente que nos possibilita abordar qualquer localização do espaço, sempre que aja um intercambio entre as atividades humanas, os recursos naturais e entre o uso e a ocupação do espaço. Pensar em meio ambiente a partir de Einstein (apud TIMBALYISS, 1996, p. 126) o ambiente é ‘tudo que não seja eu’. Isto nos remete a ampliar a visão, e deixar de lado os conceitos fragmentados, cartesianos, e nos convidando a construir um saber mais amplo. Como afirma Left (2002, p. 167) “a emergência do saber ambiental rompe o círculo do ‘perfeito’ das ciências, a crença numa Idéia absoluta e a vontade de um conhecimento unitário, abrindo-se para a dispersão do saber e para a diferença de sentidos existência”. O que nos leva a corroborar com o proeminente autor no sentido de que a concepção de ambiente encerra um saber complexo e interdisciplinar. Portanto, a interdisciplinaridade é uma prática construída em conjunto e constante, sem que as disciplinas percam suas identidades, mas que possam incorporar novas questões para juntas caminharem em direção à construção de um novo saber. Nas palavras de Raynaut (2004, p.31 e 32): A interdidsplinaridade é sempre um processo de diálogo entre disciplinas firmemente estabelecidas na sua identidade teórica e metodológica, mas conscientes de seus limites e do caráter parcial do recorte da realidade sobre a qual operam. Isso implica, por parte dos pesquisadores, respeitar o saber produzido por outras disciplinas e recusar qualquer hierarquia a priori entre elas, relativa ao poder explicativo dos fatos sobre os quais elas trabalham. Implica também, fundamentalmente, o desejo de aprender dos outros e a ausência de toda postura defensiva de um território de poder simbólico ou institucional. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 27 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 No Brasil a discussão a respeito das questões ambientais é muito recente, surge a partir de 1972, de uma forma equivocada, segundo Menezes (1996): Quando da realização, em Estocolmo (Suécia), da Primeira Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Nela o governo brasileiro foi um dos principais articuladores do bloco dos países em desenvolvimento que tinham uma posição de resistência ao reconhecimento da problemática ambiental (sob o argumento de que a principal poluição era a miséria) e que se negavam a reconhecer o problema da explosão demográfica (p. 37). Hoje o Brasil assumiu o discurso sócio-ambiental sem refletir no conceito, que envolve uma concepção fragmentária de meio ambiente, nas duas visões do materialismo dialético, portanto faz-se “necessária uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos” (GOVERNO FEDERAL, 1999). Historicamente, os problemas ambientais no Brasil se agravam a cada dia e podem ser facilmente observados, principalmente nas Regiões Metropolitanas. Segundo Monteiro (1998, p. 380 - 2), este caos que encontramos nas grandes cidades é fruto de uma desarticulação dos diferentes domínios do saber humano “até o homem da grande era tecnológica encontra, mesmo na ciência, uma limitação a sua capacidade de prever, com exatidão, toda uma série de fenômenos complexos cujo princípio de ordem lhe escapa”. O meio ambiente se torna um saber complexo, que incorpora todos os fenômenos da existência, e “a geografia desempenha papel fundamental nesta construção, na medida em que, historicamente, colocou-se como ciência de interface entre natureza e sociedade” (SUERTEGARAY, 2004. p. 185). Isto confirma a preocupação dos estudiosos nas relações entre o ser social, o ser biológico e a natureza é sempre um desafio no mundo da ciência. Essa relação homem e terra, Dardel (1990, p.7-8) chama de geograficidade que se refere aos diferentes modos através dos quais sentimos e conhecemos os diferentes ambientes, refere-se ao nosso relacionamento com os espaços e paisagens construídas e naturais. “ um relacionamento definido liga o homem à terra – uma geograficidade do homem que é o seu modo de existência e seu destino”. Só através dos sentidos que o ser humano vai apreender o ambiente, ele precisa de um período de tempo experienciando um lugar para que possa percebê-lo e assim criar vínculos. Segundo Claval (1997, p. 93): Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 28 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 O homem apreende o mundo através dos sentidos: ele observa as formas, escuta os barulhos e sente odores daquilo que o envolve. Os movimentos do seu corpo constituem uma experiência direta do espaço. O gosto lhe revela, quando ele come ou bebe outras propriedades do mundo que o envolve. Desta forma, dentro do contexto da experiência e do desenvolvimento psico- afetivo, entre o conceito de espaço e o conceito de lugar, permeia um novo conceito de meio ambiente. Um conceito articulado, dinâmico que denota movimento e transformações. Em Coelho (2001, p. 23), vimos que “O ambiente é ativo e passivo. É ao mesmo tempo suporte geofísico, condicionado e condicionante de movimento, transformador da vida social. Ao ser modificado, torna-se condição para novas mudanças, modificando, assim, a sociedade”. Com esta afirmação acima mencionada por Coelho (2001), podemos averiguá-la 70,61% da população pesquisada se preocupa com a venda de droga na comunidade, verificamos que situação de fragilidade ambiental, tornou a comunidade expostas a todos os riscos sociais, inclusive a do trafico de drogas. Na gestão ambiental, o conceito de fragilidade ambiental diz respeito a suscetibilidade do meio ambiente a qualquer tipo de dano, inclusive à poluição. Esta fragilidade tem sido estudada sob a luz de três diferentes conceitos, porém indissociáveis: preocupações pro ou contra ambientais; iniqüidade ambiental e condutas pro ou contra ambientais. A Lei de política Nacional do Meio Ambiente conceitua poluição de forma abrangente: “a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”. MACHADO (2001, p.492). Segundo Almeida et al (2002, p. 10) “a emoção pode ser uma chave das portas do conhecimento”, haverá um dia conseguirmos integrar “conhecimentos e sentimentos, consciência e saber”. O meio ambiente sempre traz consigo a idéia de valores culturais, afetivos e cognitivos. Como já nos referimos à área pesquisada é um lugar de mangue, podemos observar na imagem na foto 3. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 29 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 3 - comunidade que se desenvolve em área de manguezal). Autor– MACHADO, Mônica. 2005. Como pudemos observar na figura acima, a comunidade tem intrínseca relação com o mangue e o rio. Ao perguntarmos se eles percebiam o prejuízo causado pela poluição do rio, 97,97% dos entrevistados afirmaram que sabiam, como podemos verificar na tabela 2 e gráfico 1. TABELA 2 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o conhecimento da poluição do Rio. Sim Não 290 6 97,97% 2.03% Gráfico 1 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre o conhecimento da poluição do Rio. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 30 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Vannucci (2003), relata a sua percepção a respeito do homem como morador dos manguezais: Quem em sã consciência escolheria os manguezais como um lugar para viver, se tivesse alternativa? Entretanto muito os fizeram através dos milênios da história humana. Por que, quando e como o homem começou a fixar residências nos manguezais? O que ele faz ali, e como resolve seus problemas diários? Em termos ecológicos, podemos imaginar que, em seguida à expansão espetacularmente rápida, distante e extensa do Homo sapiens, a espécie se adaptou a todos os tipos de ambientes, até mesmo os aparentemente mais inóspitos; assim, também os manguezais, como nicho ecológico, foram finalmente ocupados pelo homem. Na verdade, os manguezais propriamente ditos foram ocupados muito mais tarde, embora seus produtos fossem utilizados desde que o homem chegou até eles. [...] Quando o homem foi para ali? Em diferentes épocas geográficas, históricas, evolutivas, dependendo da pressão populacional e de necessidades especiais [...]. As moradias são semelhantes em todos os lugares, devido à necessidade de construí sobre pilares e das latrinas comunitárias posicionadas sobre a correnteza, em cuja proximidade, incidentalmente, a pescaria é bastante compensadora. [...] O homem do manguezal, como todas as variedades da mesma espécie, conseguiu fabricar bebidas alcoólicas a partir de materiais disponíveis no local, pois também nos manguezais elas têm o mesmo papel psicológico e social, tanto em nível individual como no de comunidade, e o mesmo efeito auto destruidor e coletivo. [...] Nos lugares em que o homem não aprendeu ou – em função de um ou mais motivos possíveis – esqueceu de praticar a arte de gerenciamento dos ecossistemas naturais, ou onde destruí intencional e arbitrariamente os sistemas naturais, segui-se como conseqüência inevitável, a degradação ambiental. Porém, os moradores desta comunidade, não têm as características psicológicas de pessoas que se deslocaram para habitar o mangue pela pescaria propriamente dita como afirmou Vannucci, mas pela falta de opção de morar em um outro lugar. A comunidade do Passo da Pátria surgiu a partir do aumento de circulação de mercadorias, em virtude da proximidade com o Porto, fez surgir a “Feira do Passo”, tornando a área um ponto não só de comércio com também de boemia, característica de zonas portuárias. Por ali circulavam frutas, verduras, legumes, carne, aves, criações diversas, além de tijolo, telhas, madeira. Para facilitar o acesso à área e a circulação de mercadorias, em 1865, o governo da Província mandou calçar a ladeira íngreme com uma pedra preta irregular. A feira que acontecia aos sábados à noite reunia pessoas de várias camadas sociais: cavalheiros, soldados, funcionários públicos, comerciantes, moças, pescadores dando uma conotação de integração entre as elas. Diante das impossibilidades de separar o ambiente físico da complexidade humana, deparamo-nos com a percepção que permite o nosso intercâmbio com o mundo físico desde os primórdios da vida. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 31 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 À medida que a criança se desenvolve cognitiva e afetivamente “a idéia de lugar torna-se ainda mais específica e geográfica” (TUAN, 1983. p. 34). Como exemplo e, referindo-se a pergunta: Onde você gosta de brincar? Tuan (1983), indica que a resposta e a construção espacial do lugar vai se desenvolvendo a partir do amadurecimento dos órgãos sensoriais até o individuo poder ser capaz de conceituar e discriminar lugar e lugares; Oliveira (1996, p.211), fundamentada em Piaget (1973), referenda tal concepção afirmando que “a construção do espaço, tanto no plano perceptivo como no representativo, é engendrada pelas atividades perceptiva, representativa e operatória”. Na percepção, acrescentamos aos estímulos elementos de memória, do raciocínio, do juízo e do afeto, portanto acoplamos às qualidades objetivas dos sentidos outros elementos subjetivos e próprios de cada indivíduo. Podemos compreender percepção inserida neste movimento energético e dinâmico de troca da natureza com o humano (MARQUES, 2004). A grande parte de estudos da percepção foram em grande parte inspirados em uma escola de psicologia chamada gestalt “a Gestalt e uma organização espontânea do campo sensorial que faz depender os pretensos ‘elementos’ do ‘todo’ articulados em todo mais extensos.” Merleau-Ponty (1989), afirma ainda, que não existe matéria sem forma “a somente organizações mais ou menos estáveis, mais ou menos articuladas” (IBDEM). Desta forma a Gestalt inaugura os estudos da percepção infantil, por ser nesta fase que a criança constrói efetivamente a noção de espaço e lugar acontece simultaneamente com o desenvolvimento da linguagem, a partir de então “a construção do espaço passa a ser representativa, coincidindo com o aparecimento da imagem e do pensamento simbólico” (OLIVEIRA, 1996. p. 210). A partir dos conceitos inúmeros de percepção elegemos um autor que dá uma dimensão mais ampla a seu respeito, Wilhem Reich (1897-1957) médico e cientista natural que, por quase quarenta anos, desenvolveu uma ampla pesquisa sobre os processos energéticos vitais e primordiais. Travou embates teóricos na época para trazer à luz reflexões à respeito da prevenção do funcionamento da vida natural, em 1952 inventa e utiliza o cloudbuster1 (foto 4) para remoção do DOR2 atmosférico. Em 1954-55 faz descobertas sobre 1 Cloudbuster, foi uma máquina que em 1952, por ocasião de uma seca que castigava a região de Ellsworth, Maine-EUA,provocava uma mudança na direção dos ventos e começavam a formar nuvens, precipitando assim a tão almejada chuva. Reich começava a pensar e tentar atuar sobre todos os fenômenos atmosféricos: chuva, vento, umidade, insolação, vegetação, deserto etc., considerados em suas relações recíprocas enquanto sistemas energéticos. Mais preocupada em partir os núcleos atômicos, a ciência acadêmica e Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 32 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 a relação entre a energia orgone3 de morte e a origem dos desertos (desertos geográficos e deserto emocional humano) (BEDANI, 2005). Fotografia 4. cloudbuster Autor : www.wilhemreichmuseum.org , 2005. O seu principal objeto de estudo foi o funcionamento da ‘bio-energia’, “a função bioenergética da excitabilidade e motilidade da substância viva” (REICH, 2003). O encaminhamento lógico e experimental desse trabalho conduziu-o à descoberta de uma ‘força’ básica que atua não só nos seres vivos, mas também no cosmos. Esse tipo de energia foi experimentalmente comprovado por Reich no período 1939-1940 e, então, nomeado como “energia orgone cósmica”. mecanicista não demostrou muito interesse pela realidade atmosférica a qual o homem está inteiramente envolvido. Ao propor a sua Cosmic Orgone Engineering, abreviada em C.O.R.E., Reich nos faz abraçar um espaço novo e no entanto antigo e estranho, que por isso nos é muito familiar. DADOUN, Roger.- Cem flores para Wilhem Reich – São Paulo : ed. Moraes Ltda, 1991. pp.108-12. 2 DOR significa "Deadly" OR Energy, Energia Orgone Mortal. REICH, W. CHRONOLOGY OF THE SCIENTIFIC DEVELOPMENT OF WILHELM REICH, disponível em: wwwhttp://www.wilhelmreichmuseum.org/biography.html, acesso : janeiro de 2005. 3 A energia orgone é a Energia Cósmica Primordial; universalmente presente e possível de ser demonstrada visualmente, termicamente, eletroscopicamente e através do contador Geiger-Mueller. No organismo vivo: Bio-energia, Energia Vital. Descoberta por Wilhem Reich entre 1936 e 1940. (IBDEM). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 33 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Segundo Reich no meio ambiente todos os fenômenos estão interligados, são sentidos e podem ser observável em determinados momentos, a motilidade energética influencia o organismo humano alterando a sua percepção e auto percepção: No fundo, a natureza — dentro e fora de nós —, só é intelectualmente acessível através de nossas impressões sensoriais. As impressões sensoriais são, basicamente, sensações de órgão, ou, colocando de outra maneira, nós tateamos o mundo que nos rodeia através de movimentos de órgãos (= movimentos plasmáticos) (REICH, 2003. p. 67). A partir deste pensamento, as idéias estão sempre em movimento reformulam a percepção de acordo com a função natural, por função natural entendemos os órgãos do sentido. Segundo Reich (2003, p. 58): Se nossas 'impressões' dos movimentos vitais refletem corretamente sua 'expressão'; se as funções básicas da vida são idênticas em toda a matéria viva; se as sensações nascem das emoções; e se as emoções brotam de movimentos plasmáticos reais, então nossas impressões devem ser objetivamente corretas, contanto que, obviamente, nosso aparelho sensorial não esteja fragmentado, encouraçado ou alterado de algum outro modo. Devemos considerar que as relações que se estabelecem entre os seres humanos com outros da mesma espécie, com os animais, coma natureza e com o planeta como um todo, são construídas em vários níveis. Em cada nível, iremos nos deparar com os valores, com a cultura, com os aspectos psicológicos, sociais, religiosos, energéticos, enfim, com uma gama de fatores que pertencem à esfera do vivo. Isto nos faz pensar que o organismo humano exposto as agressões ambientais está sendo fragmentado e por sua vez encouraçado. Reich entendia o ser humano e a natureza como uma mesma expressão da energia orgone, uma energia que preenche todo o espaço cósmico e se expressa em diferentes concentrações, movimentos e formas. Assim sendo, “o homem, incluindo-se suas emoções, evolui a partir da natureza, como um dos produtos de seu desenvolvimento” (REICH, 2003, p. 192). Os ambientes gelados nos impedem não só de percebermos a realidade em que vivemos, mas também nos impedem de amar, corroborando com o pensamento reichiano, Swaaij (2004, p. 39), afirma que “as pessoas ‘frias’ são geralmente almas sensíveis por sofrerem demais [...] por causa da dor da perda, elas fogem afastando-se do afeto dos outros para não sofrerem de novo”. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 34 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Portanto, ambientes estressantes, que constantemente nos expõem a situações que ameaçam a vida, podem interromper o fluxo de emoções do organismo humano, alterando a sua pulsação bem como a sua relação com o meio ambiente, e conseqüentemente a sua percepção. Seguindo o curso do pensamento reichiano, podemos dizer que o que liga o ser humano à natureza é a energia orgone e as funções que possui em comum, ou seja, a capacidade de pulsar. Essa pulsação permite que o ser humano se expanda quando se sente relaxado, e se contraia quando se sente ameaçado, tal qual acontece com a natureza. A proposta de Reich, não é entrar num complicado debate filosófico, mas entender “o que o saber em si faz ao homem” (2003, p. 302) que, mesmo sendo detentor de tanta sabedoria, não consegue sequer resolver alguns problemas que coloca em risco a sua própria existência. No intuito de melhor compreender essa questão, Reich propõe uma forma de pensar que foge dos tradicionais métodos mecanicistas ou místicos, denominado por ele de funcionalismo orgonômico. Segundo Pucci Júnior (2002, p.35), a teoria reichiana apresenta vários pontos em comum com a ecologia, “ou seja, a forma com que o vivo se relaciona com o meio e com os demais seres vivos”. No pensamento reichiano, não existe nada que seja completamente separado. Estamos em constante ligação com a natureza e com tudo o que dela faz parte, formando um único campo de energia. O funcionamento orgonômico tem o mesmo principio que se dá coma formação das nuvens. Quando o tempo está nublado, as nuvens se carregam energicamente até romperem em forma de chuva. No corpo humano podemos aplicar esse pensamento em várias situações onde a impossibilidade de descarga energética provoca a couraça muscular e por conseqüência, traz o aparecimento da doença física e/ou psíquica. Para Reich (1985) o movimento básico de todo e qualquer ser vivo é a pulsação, que é um movimento de expansão e um movimento de contração. Na presença da vida, nos expandimos; na presença da ameaça da morte, nos contraímos. Quando a ameaça de morte prevalece, a pulsação diminui. Isso faz com que o ser humano reduza a possibilidade de entrar em contato com a saúde, e passe a se relacionar apenas com a patologia. O movimento alterado pode ser prevalentemente expansivo ou pode ser prevalentemente contrativo. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 35 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Segundo Capra (1996, p. 23): “Quando mais estudamos os principais problemas de nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. De acordo com Reich (1986), mente e corpo são indivisíveis e, portanto, devem ser estudados em conjunto. Ambos são capazes de se auto-regular em suas funções fisiológicas, energéticas e emocionais e quando isso não é possível, o organismo fica impossibilitado de expressar sua livre pulsação, e permanece num estado de contração. Diz Reich que “uma experiência psíquica pode provocar uma resposta somática que produz uma mudança permanente em um órgão” (REICH, 1986, p. 63), um estado ao qual chamou de couraça muscular. A couraça é o maior obstáculo ao crescimento do ser humano, que por sua vez torna-se incapaz de expressar suas emoções biológicas mais primitivas, transformando-se, por conseqüência, numa pessoa com a percepção distorcida da realidade. O alto consumo de álcool e fumo numa comunidade, reflete que as pessoas estão recorrendo a recursos externos para suprir a angustias causadas pela fratura na dinâmica entre humano e ambiente, constatamos que 46,28% das pessoas fumam diariamente como podemos verificar na tabela 3 e gráfico 2. TABELA 3 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o uso do tabaco. Sim Não 137 159 46,28 53,72 Gráfico 2 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos a cerca do uso do tabaco. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 36 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Capitulo 2 REPERCUSSÃO DA REURBANIZAÇÃO NA PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 37 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 2. REPERCUSSÃO DA REURBANIZAÇÃO NA PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE O processo de urbanização de Natal, historicamente, sempre foi atrasado em virtude da falta de condições de circulação das mercadorias, através da precariedade das ferrovias e rodovias daquela época. Este processo foi gestado principalmente a partir da cana de açúcar, apesar da cultura do algodão, da agropecuária, da extração do sal e de outros minerais. Só em 1915 a tradicional ‘estrada do Seridó’, que era usada pelos comboios em direção ao porto de Natal, foi alargada. Mas em quase nada a urbanização de Natal e do RN, foi beneficiada, devido à precariedade do porto de Natal que prejudicava as exportações, “este fato aliado à importância do porto de Recife para as relações de comércio com o mercado nacional e internacional” (CLEMENTINO, 1995, p. 109). Este escoamento das monoculturas e dos bens primários para serem exportados em Recife abortou, portanto, segundo Oliveira (1996, p. 38) “uma rede urbana, ou criou um padrão de urbanização muito pobre”. As cidades do Rio Grande do Norte, inclusive Natal, passaram a ser apenas um ‘corredor de circulação’ de mercadorias, para o mercado nacional e internacional. Porém, com o advento da segunda guerra mundial, o processo de produção do espaço urbano em Natal já começa a se delinear da seguinte maneira: 1. “Natal : centro administrativo até a segunda guerra mundial; 2. Natal : centro estratégico militar durante a segunda guerra; 3. Natal : centro administrativo e estratégico militar, pós guerra até os anos 60; 4. Natal : em transição para a sociedade urbana (anos 70 em diante.)” (CLEMENTINO, 1995, p.138). A partir de 1970, como reflexo do desenvolvimento acelerado e desordenado, que permeou todo o período do ‘milagre brasileiro’, o processo de urbanização em Natal começa a surgir, quando a Petrobrás passou a sediar plataformas continentais e poços de terras, ampliando o crescimento da indústria da construção civil e de seus materiais. Cabe ressaltar, que “mesmo assim, o caráter ‘quase enclave’ das atividades da Petrobrás não alterou até agora: as compras da empresa e de suas subsidiárias ainda são feitas praticamente fora do RN” (CLEMENTINO, 1995, p. 273). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 38 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 A consolidação do processo de expansão urbana de Natal acontece a partir do surgimento da atividade turística, que dinamizava a construção civil, a partir das construções de hotéis, da valorização imobiliária e da intensificação do fluxo migratório ampliando a oferta de empregos (COSTA, 2000). Apesar do turismo ter favorecido a expansão de empregos, estes não foram suficientes para suprir a demanda de desempregados que se instalavam na cidade. Estas pessoas excluídas do mercado de trabalho foram ‘empurradas’ para a periferia, habitando locais que geralmente se localizam em zonas de risco ambiental. Desde então, foi desencadeado um processo de degradação humana e ambiental, sem precedentes. Um exemplo de um ‘grande’ e controvertido, projeto turístico para Natal, foi o ‘projeto via costeira’ que segundo Costa (2000, p. 68), “favoreceu o acesso das pessoas, à área de proteção ambiental que depredam e destroem o meio ambiente do local, e dificulta o acesso das pessoas à praia em quase toda sua extensão, tornando-se exclusivos aos hóspedes ali instalados”. Com a comunidade do Passo da Pátria não foi diferente. O abandono do local, a intensificação do processo de urbanização da cidade e o adensamento das áreas mais próximas aos serviços sociais básicos propiciaram posteriormente o surgimento da subnormalidade, principalmente com o surgimento das comunidades do Areado e Pantanal. (Ver foto 1). Segundo o historiador Itamar de Souza, espalhavam-se pelos quadrantes do pátio, botequins, barracas de caldo de cana, bancas de jogos de jaburu, jogos de dados, bacará situados num flanco, pois do outro era destinado aos tabuleiros com gostosas tapiocas de coco, alfenins, com figuras de animais e flores, sequilhos de goma, broas, doces secos, pés - de – moleque; iguarias que atraiam os munícipes. Nas altas horas da noite a boemia se regalava nos bailes ou “sabatinas”. A energia elétrica foi instalada em fevereiro de 1932 pelo prefeito Gentil Ferreira. Com o crescimento da cidade surgiram a feira do Alecrim (Bairro vizinho) e o Mercado da Cidade Alta, em 1937, além da implantação da Linha férrea ou GREAT WESTERN. A “feira do Passo” começou a entrar em declínio, permanecendo como zona de baixo meretrício até o surgimento da Ribeira. Ficou no local apenas quem possuía alguma relação de dependência com o Rio Potengi. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 39 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 5 – Vista aérea do bairro Cidade Alta e no alto a direita do Passo da Pátria no estuário do Rio Potengi. Autor: SEMTAS, 2003. Segundo Santos (2002, p. 110) “o orçamento urbano não cresce com o mesmo ritmo com que surgem as novas necessidades”. Diante desta afirmação podemos constatar que aliado ao descaso das políticas públicas, nos deparamos com a falta de infra-estrutura urbana que encontramos atualmente. A dinâmica do processo de urbanização de Natal retrata um quadro de desigualdades e exclusão, pela falta de uma política urbana, que respeite e atualize seu ‘plano diretor’. Como acontece com a maioria dos municípios, Natal também não estava preparada para enfrentar a intensificação do fluxo migratório que abrangeu todo o estado a partir da década de 70. De acordo com os dados da SEMTAS (2003); o surgimento das primeiras favelas data da década de 60 (Brasília Teimosa, no bairro de Santos Reis e Mãe Luiza, hoje bairro), com um pico de expansão em meados da década de 70, quando se verificou a existência de 30 áreas com a configuração de favela, ampliando-se para 32 em 1981. A maioria desses aglomerados situa-se em áreas públicas (60,61%), de risco ou de preservação ambiental (dunas - 34,85%, mangues – 18,18%, e encostas – 6,06%), distante do centro da cidade e dos serviços públicos essenciais. (Ver foto 6). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 40 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 6. Mapa da cidade de Natal. Autor: SEMTAS, 2003. Comunidade Passo da Pátria Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 41 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Natal, por ser a capital do Estado e privilegiada em termos de acessibilidade viária, tem facilitado sua ligação com diversos centros regionais, através de uma rede de transportes rodoviários coletivos (ônibus e alternativos) e ainda o transporte ferroviário para alguns municípios, que atravessa a comunidade do Passo da Pátria. O que, se por um lado é um aspecto positivo, por outro tem gerado impactos, que os governos locais não estavam em condições de absorver. De qualquer maneira, contribui para que uma parte do contingente de pessoas que chegam em busca de melhores condições de vida, seduzidas pela oferta de melhores serviços nas áreas da saúde, educação e comércio e por todo o glamour que naturalmente uma capital litorânea já ostenta, fiquem à margem dos mesmos serviços pelos quais se sentiram atraídas. A prefeitura Municipal de Natal, através da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (SEMTAS), em convênio com o Programa Habitar Brasil financiado pelo BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento é a responsável pela execução do Projeto integrado Passo da Pátria.(Ver foto 7). Fotografia 7- A Prefeitura Municipal de Natal anuncia as obras de urbanização da comunidade do Passo da Pátria. Autor: MACHADO, Mônica, 2004. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 42 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 O Programa Habitar Brasil propõe, no bojo de sua concepção, o incremento à capacidade municipal de resolver os problemas habitacionais urbanos, a potencialização de recursos para atenuar problemas de assentamentos subnormais e à elevação da qualidade de vida da população urbana de baixa renda. Para tanto, subdivide-se em dois Sub-Programas – Desenvolvimento Institucional e Urbanização de Assentamentos Sub-normais. O primeiro deve possibilitar a capacitação institucional da prefeitura, no seu setor ‘urbano’ e habitacional para a população de baixa renda, tendo como produto final um Plano Estratégico Municipal para Assentamentos Sub-normais – PEMAS. O segundo traz como eixo mestre a implantação e desenvolvimento de projetos integrados de urbanização de áreas degradadas ou de risco, ocupadas por sub-habitações de famílias com renda mensal predominantemente de até 03 (três) salários mínimos, que compreenda “a regularização fundiária e a implantação de infra- estrutura urbana e de recuperação ambiental nessas áreas, assegurando a efetiva mobilização e participação da comunidade, na concepção e implantação dos projetos” (Regulamento Operacional Programa Habitar Brasil - BID). Um plano estratégico nesta localização nos leva a pensar que se trata do mesmo modelo que Arantes (2000) se refere em seu texto “uma estratégia fatal, a cultura das novas gestões urbanas’. O planejamento estratégico, neste contexto, surge como “marketing da cidade”. O marketing e a publicidade passam a encadear, na política urbana, uma série de processos novos. A competição urbana, ao se inserir na escala internacional, instaura uma nova hierarquia de lugares, independente dos vários interesses em jogo. As tendências atuais do planejamento urbano e, particularmente, do inspirado no planejamento estratégico, enfatizam a cultura como emblema, utilizando-a como rótulo para obtenção de respaldos e adesões unânimes, que ocultam interesses e fins, estes efetivamente estratégicos. O planejamento estratégico como mais um eufemismo para gentrification, sem contudo dizer que são a mesma coisa, segundo Arantes (2000, p. 31): [...] a gentrificação é uma resposta específica da máquina urbana de crescimento a uma conjuntura histórica marcada pela desinsdustrialização e conseqüente desinvestimento de áreas urbanas significativas, a terceirização crescentes das cidades, a precarização da força de trabalho remanescente e sobretudo a presença desastabilizadora de uma underclass fora do mercado. As iniciativas de revitalização dos centros urbanos reproduzem um processo de “gentrificação”, isto é, o enobrecimento de locais anteriormente populares. O resultado desse Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 43 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 processo seria a produção de uma cidade desigual, com a expulsão da população de baixa renda das regiões revitalizadas em prol de interesses econômicos das elites, que se beneficiariam. Esse tipo de intervenção com objetivos claros de reciclagem espacial e cultural da imagem urbana, evidenciando clara tendência à “gentrificação”, tem início na década de 60, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. São inúmeros os exemplos desta tendência, como os do Battery Park em Nova York e o da clássica requalifação do SoHo, em Manhattan. Contemporaneamente, as intervenções buscam, cada vez mais, a reciclagem imagética dos lugares. Desta forma, antes da importância conferida à transformação da paisagem física e cultural das cidades, encontra-se a intenção de gerar imagens recicladas e sinteticamente estimuladoras de oportunidades econômicas. Atualmente está sendo proposta uma intervenção na Praça André de Albuquerque, em Natal, através de um projeto intitulado Uma Janela para o Potengi, no qual, além da restauração e integração dos monumentos no contexto da cidade, uma das principais ações é a urbanização do Passo da Pátria. Integrar esses dois projetos só trará benefícios para toda a cidade, tanto no aspecto social, como no urbanístico, histórico e cultural. Através da Lei 3.175/84 do Plano Diretor, foi instituída a Zona Especial de Preservação Histórica (ZEPH), mediante criação de zoneamento especial, compreendendo a Ribeira e parte da Cidade Alta. A união entre a iniciativa privada e demais órgãos públicos, deu início a um processo de revitalização (aproximadamente a partir de 1994), preservação histórica e renovação urbana do Bairro da Ribeira, incentivando as atividades turísticas, culturais e artísticas e abrindo caminho para outras iniciativas. Segundo Antônio Júnior (2002), por volta de 1929 a 1930 Saint-Exupéry, nas suas viagens a Natal, subia na torre da matriz para apreciar o por do sol sob o Potengi, fato que o inspirou na produção do seu best seller O Pequeno Príncipe. Aterrissava para revisar e reabastecer sua aeronave, e algumas vezes chegava a passar dias, buscando um merecido descanso. Encantado com o pôr-do-sol encandeceste visto das margens do Rio Potengi, disse tratar-se do “mais belo do mundo”. “C’est merveilleuse!”, completou. Em O Pequeno Príncipe ele escreve: “Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tivesse outra distração que a doçura do pôr-do-sol”. (Ver fotos 8 e 9). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 44 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 8 - Por do sol no estuário do Rio Potengi Autor: SEMTAS, 2003. Fotografia 9 - Por do sol no estuário do Rio Potengi Autor: SEMTAS, 2003. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 45 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Pode-se afirmar que a reurbanização irá promover mais um produto turístico na cidade de Natal. Acredita-se que, para um investimento desta magnitude, em que estão sendo envolvidos diversos atores de múltiplas competências, os problemas estruturais deveriam ser resolvidos. Entretanto esta comunidade deverá permanecer ocupando o mesmo espaço de fragilidade ambiental. Isto nos leva a pensar que as questões a respeito das desigualdades ambientais, em que os “riscos são desigualmente distribuídos” é um tema que ainda precisa evoluir e ampliar o leque de participação social que suscite uma discussão pública com os diversos atores da sociedade (TORRES, 2000). Ainda questiona-se a continuidade de sobrevivência destas pessoas neste lugar: qual será o seu destino quando a especulação imobiliária surgir? Como poderão se manter neste espaço quando sua renda é menor que três salários mínimos, já que as diversas taxas de iluminação pública, dentre outras taxas, vão incidir sobre elas. Felipe (2002) afirma que os excluídos estão fora desta lógica, principalmente da lógica de uma globalização de um lugar. O autor faz uma citação muito pertinente de Milton Santos, quando este, se refere “que o destino das sociedades e de cada homem é nos dias de hoje, regrado por essas novas regulações do espaço” (SANTOS, apud FELIPE, 2002, p. 229). De um lado, os riscos sociais estão sendo de certa forma atendidos, visto que o “programa tem como principal finalidade melhorar a qualidade de vida da comunidade” (SEMTAS, 2003). Por outro lado, os riscos ambientais continuam presentes pela própria característica da área. Porém, a comunidade pesquisada acredita que a reurbanização da sua comunidade vai acabar com a poluição do rio. Constata-se isto quando 80,07% responderam que acreditam na limpeza do Canal do Baldo. Como podemos observar na tabela 4 e gráfico 3. TABELA 4 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a limpeza do Canal do Baldo. Sim Não 237 59 80,07 19,93 Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 46 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 80,07% 19,93% Sim Não Gráfico 3 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos a cerca da limpeza do canal do Baldo. Segundo dados da SEMTAS, foram pesquisadas as variáveis relativas à qualificação trabalho e renda, as quais apresentam um quadro caótico. Em toda região, uma em cada três pessoas, assinalaram a condição de desempregado e no Areado, os que informaram estarem desempregados superam os 40%, num universo de 1.480 trabalhadores declarados (recorte realizado a partir do levantamento identificado na tabela a seguir) e uma população adulta de 1.644 pessoas. TABELA 5 - Mão de Obra Ativa Situação da Mão de Obra Ativa Passo da Pátria Areado Pantanal Geral Empregado CLT 121 26,5 64 14,4 131 22,6 316 21,4 Empregado sem contrato 30 6,6 55 12,4 55 9,5 140 9,5 Funcionário público 21 4,6 06 1,4 20 3,4 47 3,2 Outros 77 16,8 90 20,3 151 26,0 318 21,5 Desempregados 126 27,6 179 40,4 186 32,1 491 33,2 não declararam 82 17,9 49 11,1 37 6,4 168 11,2 Total 457 100 443 100 580 100 1480 100 Fonte: SEMTAS 2003 Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 47 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Considerando que o universo pesquisado foi de 1480 adultos trabalhadores, e se a categoria “desempregados”, somarmos os integrantes das categorias “outros” e “não declararam”, encontrou-se o número de 977 pessoas – 65,9% desse segmento, numa situação indicativa de total informalidade, cujos rendimentos ou fontes de sobrevivência não se pôde na realidade detectar. Essas pessoas podem inclusive, passar para marginalidade, conforme aventado pelos pesquisadores e tornar-se um problema muito mais complexo do que inicialmente se possa supor. Esses indicadores apontam para uma amostragem da dura realidade desta comunidade, que ocupou desordenadamente as margens do Rio Potengi e, sem perceberem, contribuíram para a devastação do ecossistema estuarino, encontrando- se abandonados à própria sorte e de certa forma com a conivência do Estado. Segundo Clementino (2002, p. 130), “a Prefeitura não pode ser apenas uma zeladoria da cidade e uma prestadora de serviços sociais, mas também deve atuar como indutora do desenvolvimento econômico”; o conjunto de atividades que visam a fortalecer a economia surge como resposta às transformações políticas que aconteceram, a partir dos anos 80 e, particularmente, ante a intensidade das políticas de ajuste econômico que provocam efeitos muito graves, como o desemprego. Com esta afirmação, Clementino nos faz refletir como a questão da governabilidade está ausente nas tomadas de decisões democráticas e como termo ‘gestor’ público, passa a ser mais real com o nosso modelo político, contemporâneo. O conceito de gestão surgiu historicamente, a partir da gestão de empresas de domínio privado, para a promoção do seu funcionamento e lucros, sem se esquecer da sua perpetuação e do seu desenvolvimento. Como um bem, a relação de gestão pressupõe que o bem possuído, “incluindo-se aqui sua destruição, aos projetos, usos e preferências do sujeito, o que manifesta a concepção plenamente desenvolvida do direito de propriedade que é, de última forma, um direito de destruir” (RÉMOND-GOUILLOUD apud. GODARD, 1997, p. 209). A partir da pouca probabilidade deste projeto promover um desenvolvimento econômico eficiente, que favoreça a inclusão sócio-econômica dos habitantes da comunidade que ora pesquisamos, dificilmente eles perceberam que estão expostos a fatores sócio- ambientais desfavoráveis; como habitam o lugar há algum tempo, eles já se sentem parte da comunidade. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 48 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 O Plano Estratégico Municipal de Natal para Assentamentos Subnormais tem como principal finalidade melhorar a qualidade de vida da comunidade, assegurando a participação e inserção efetiva dos beneficiários finais, na concepção, discussão, decisão e implantação dos projetos executivos integrados. Especificamente quanto ao trabalho social, seu objetivo maior será o de contribuir para a inclusão social, o resgate da auto-estima e cidadania dos beneficiários, bem como dos princípios decisórios democráticos e da participação da população beneficiada (SEMTAS, 2003). Este programa vai contemplar 920 (novecentos e vinte) famílias, 3.747 (três mil, setecentos e quarenta e sete) pessoas através de algumas ações dos projetos integrados: remanejamento de 65 famílias, construção de 216 Unidades Habitacionais, melhorias em 382 Unidades Habitacionais, Urbanização da área (arruamento, iluminação pública, drenagem pluvial do canal, muro de arrimo para contenção das enchentes), 920 ligações domiciliares de esgotamento sanitário condominial, quadra de esportes, posto de saúde, dentre outras melhorias. Pode-se observar, diante dessas ações descritas acima, que este programa não se propõe a contemplar a recuperação ambiental da comunidade Passo da Pátria, visto que ainda haverá pessoas vivendo numa área de risco ambiental e de mangue. Quanto à coleta de lixo domiciliar, embora aconteça regularmente para a maioria da população, ainda existem problemas localizados, como o das famílias que não informaram e as do Passo da Pátria, especificamente as que moram na Pedra do Rosário, por não ter nenhuma condição de acesso normal ao local. Em alguns locais existem duas caçambas coletoras fixas, mas atualmente pelo estado em que se encontra, o lixo vem sendo jogado no chão mesmo. No Passo da Pátria, Areado e Pantanal, a coleta é feita no turno diurno, com freqüência diária entre 7:00 e 13:00 h, por dois carroceiros, quatro garis e um encarregado. Ainda estão cadastrados 05 catadores de lixo, que atuam regularmente na área. O quadro torna-se ainda mais alarmante quando se detecta que 722 famílias – 83,9% jogam seu lixo em água corrente. O que, associado às 198 famílias (21,5%), que apesar da existência de coleta diária e da maioria da população (77%) estar ciente disto, também têm a água corrente como destino do seu lixo residencial. Este fato evidencia a complexidade do problema da área e a sua condição de alto risco, sob todos os aspectos (SEMTAS, 2003). A seguir é possível observar a tabela que nos mostra a realidade do destino dos resíduos sólidos da comunidade: Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 49 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Tabela 6 – Destino do lixo residencial Destino Passo da Pátria Areado Pantanal Geral Apenas coleta regular 224 77,1 195 69,1 284 81,9 703 76,5 Queima 01 0,3 00 Zero 01 0,3 02 0,2 Enterra 00 Zero 03 1,1 00 Zero 03 0,3 Deposita em terreno baldio 01 0,3 00 Zero 13 3,7 14 1,5 Joga em água corrente 65 22,3 84 29,8 49 14,1 198 21,5 TOTAL 291 100 282 100 347 100 920 100 Fonte: SEMTAS 2003 O tratamento de águas servidas em Natal não difere muito deste quadro assustador com o qual nos deparamos através das notícias nos jornais da Cidade: A CAERN é uma das responsáveis diretas pela morte gradativa do Potengi. A companhia joga por dia 50 mil metros cúbicos de esgoto sem tratamento no rio. O presidente do órgão, Jaime Calado, afirmou que ainda é possível resolver o problema e salvar o estuário, mas para isso, é necessário o início dos trabalhos do Plano Diretor de Esgotamento Sanitário de Natal. A homologação do PDES já foi feita e a governadora vai adjudicá-lo. O plano diz como será o tratamento do esgoto da capital e prevê a criação ou reaproveitamento de projetos básicos. O estudo vai apontar o local e a forma adequada para fazer este tratamento e tem um ano para ser realizado. Calado explicou que existem duas vertentes de esgotos em Natal. Uma vem dos bairros mais antigos da cidade e a outra do Distrito Industrial. ‘‘O plano de esgotamento terá duas prioridades. Começará pelo tratamento dos efluentes, pois a ausência dele foi um erro histórico. Depois, priorizaremos as áreas nas quais o nitrato ainda não chegou’’, diz o presidente, referindo-se a poluição do lençol freático potiguar devido à falta de saneamento básico (Diário de Natal, matéria intitulada, “Relatório da CPI” 15/03/2003). A interferência do equilíbrio energético atmosférico no organismo foi um dos temas de pesquisa dos autores pós reichianos, que de acordo com Dadoun (1991, p. 57): “[...] é no quadro das perspectivas orgonômicas, que Pierrakos ligou-se sobretudo, à exploração dos campos energéticos: no homem, nas plantas e cristais, na atmosfera, na terra e no oceano [...]”. A forma destrutiva pela qual o homem tem historicamente se apropriado do meio ambiente tem origem nas necessidades e nos desejos mais profundos, refletindo os impulsos agressivos que trazem consigo e a que estão submetidos desde a mais tenra idade. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 50 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 No decorrer do processo das obras a comunidade foi extremamente agredida pelas invasões de água e esgotos em suas residências, trazendo prejuízos de todas as ordens podemos observar nas fotos 10, 11 e 12, algumas imagens que retratam a realidade das condições sub humanas em que estiveram submetidos. Fotografia 10 - “Buerão” onde são lançados 50 mil metros cúbicos de esgotos pela CAERN no estuário do Rio Potengi. Autor: MACHADO, Mônica 2003. Fotografia 11 – Canalização e cobertura do esgoto lançado no estuário do Rio Potengi. Autor: MACHADO, Mônica, 2005. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 51 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 12 – Observamos nesta imagem, o lixo, a lama e as pessoas convivendo nesta realidade. Autor: MACHADO, Mônica, 2003. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 52 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Capítulo 3 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 53 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 3. ANALISE DA PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE Wilhem Reich, um dos precursores dos movimentos de proteção ambiental, indica em seu pensamento que é preciso uma mudança radical nas relações humanas, já que o próprio ser humano se auto destrói. Para o autor, o meio é um dos elementos que influi nesse processo. Segundo Pelizzaro (2002, p.106), a visão reichiana do ser humano é uma visão otimista, no qual Reich acreditava que “todo ser humano poderia ser saudável e, como conseqüência, poderia nos oferecer uma sociedade mais saudável, onde os valores humanos pudessem ser respeitados”. Reich é um dos autores que mais acredita no amor como um poderoso remédio para a garantia da vida no nosso planeta, na dedicatória de seu livro “Children of Future, On the Prevention of Sexual Pathology”, ele diz: “Ao longo de toda minha vida, tenho amado os bebês, as crianças e os adolescentes, e também sempre fui amado e compreendido por eles. Bebês costumam sorrir para mim pois tenho um profundo contato com eles, e crianças de dois ou três anos mui freqüentemente ficam compenetradas e sérias quando olham para mim. Isto foi um dos grandes privilégios de minha vida, e quero expressar de alguma maneira meus agradecimentos por este amor que meus pequenos amigos me concederam. Possa o destino e o grande oceano de energia vital, no qual eles vieram e para o qual retornarão cedo ou tarde, bendizê-los com satisfação, alegria e liberdade durante suas vidas. Espero ter dado o melhor de mim para sua futura felicidade”. Wilhelm Reich (1951-1983/52) Neste novo olhar, este capítulo tem como objetivo principal analisar a percepção dos moradores da comunidade do Passo da Pátria a partir de informações pesquisadas no local e em jornais da cidade que possibilitem um abrangente referencial da experiência de viver numa comunidade degradada, onde a comunidade pesquisada vive sob medo de enchentes, tiroteios pelo tráfico de drogas, fato que faz parte do cotidiano das pessoas que habitam este lugar. De acordo com o Diário de Natal 31/07/2005; na matéria intitulada, “Tiroteio assusta no Passo da Pátria” gangues de jovens rivais vem protagonizando há mais de dois anos cenas de terror na comunidade do Passo da Pátria. As disputas pelos pontos de droga do local já fizeram várias vítimas. A última delas, o ambulante Wagner Barros Alves, 21, morreu com três tiros na cabeça. A família clamou por justiça, mas nem chegou a registrar boletim de ocorrência no Posto Policial do bairro, localizado a 500 metros da casa onde moram, no Largo Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 54 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 São Francisco. Disse Valderley Alves, 22, irmã da vítima: ‘‘Não adianta. Não vai acontecer nada com as pessoas que matou ele. Aqui não vem policiamento à noite. Os bandidos andam com as armas na cintura. Desde aquele dia, não saí de casa. Por mim, ninguém ficava sabendo que estou aqui’’. Indagada sobre o que poderia ter motivado o crime, ela diz desconhecer. Nega o envolvimento do irmão com as drogas e com uma das gangues que amedrontam a comunidade. Segundo Valderley, o defeito de Wagner era confiar demais nas pessoas. ‘‘Ele era inocente. Meu irmão era na dele. Nunca matou nem fez mal a ninguém’’, afirmou. Um dia antes da morte do neto, a avó Rita Barros, 83, chegou de Recife para visitar os netos e a filha. Ficou sem ação. Abatida, repetia apenas que as coisas haviam mudado. E para pior. ‘‘No meu tempo não era assim. A gente dançava, brincava, namorava.” As pessoas da comunidade evitam falar sobre o tráfico de drogas, mas para sua própria segurança. Identificou-se um policial militar que tem familiares no bairro, proferindo que, ‘‘O Passo da Pátria está dividido. Existem duas gangues aqui. Uma comandada pelo Clayton ‘Galego’, de 19 anos, e a outra por Tita ‘Marujo’, de 21 anos. Eles disputam os pontos de venda de crack. A do Galego fica na favela do Passo da Pátria. A outra, no muro da Base Naval’’. Relacionando os aspectos afetivos referentes ao lugar vivido, 87,50% das pessoas afirmaram que gostam do lugar que moram. (Ver tabela 7 e gráfico 4). TABELA 7 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre se gostam do lugar que moram. Sim Não 259 37 87,50% 12,50% Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 55 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Gráfico 4 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre se gostam do lugar que moram. Tal afirmativa acima vem referendar o que detectamos no nosso levantamento de dados: os moradores deste referido lugar ribeirinho, como podemos verificar na tabela 8 e gráfico 5, 64,53% dos moradores não se sentem discriminados morando nessa comunidade. TABELA 8 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos Indivíduos sobre se eles se sentem descriminados morando nessa comunidade. Sim Não 105 191 35,47 % 64,53 % Gráfico 5 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos se eles se sentem descriminados morando nessa comunidade. . Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 56 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 É visível como a condição de perigo do lugar vivido não é percebida pela maioria dos habitantes deste lugar, quando 74,66% das pessoas afirmaram que se sentem bem, transitando na sua comunidade. (Ver tabela 9 e gráfico 6). TABELA 9 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre como os mesmos se sentem bem em transitar pela comunidade. Sim Não 221 75 74,66 25,34 Gráfico 6 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos como os mesmos se sentem bem em transitar pela comunidade. Na observação dos entrevistados está muito mais ligado às variações da natureza (alagamentos, para 31% = 285 famílias) do que a outras condições presentes, como a falta de salubridade. E, curiosamente, para 48,5% dos entrevistados (447 famílias), não existe nenhum risco. Segundo uma moradora, com filhos e sobrinhos pequenos em casa, ao ser interrogada como ela convivia com esse perigo constante, responde já ter se acostumado e que, quando as crianças vão crescendo diz a elas para correrem da linha (onde muitas brincam) quando ouvirem o barulho do trem.(Fotos 13 e 14). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 57 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 13 - Crianças brincando nos trilhos do trem. Autor: MACHADO, Mônica. 2004. Fotografia 14 – As crianças brincam na lama por entre máquinas e equipamentos da obra. Autor: MACHADO, Mônica, 2003 Podemos afirmar que a ‘falta de medo’ referidas anteriormente pela comunidade pesquisada, contidas nas tabelas, seria uma resposta decorrente do resultado do movimento da angústia do ser humano, que sobrevivem em situações de risco. A resposta a seguir corrobora Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 58 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 com a afirmativa Reichiana, quando podemos observar na tabela 10 e gráfico 7, que 51,01% afirmam não perceber a falta de segurança. TABELA 10 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambien- tal dos indivíduos que afirmam não perceber a falta de segurança. Sim Não 145 151 48,99 51,01 Gráfico 7 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos que afirmam não perceber a falta de segurança. Podemos observar uma contradição diante das respostas da tabela 10 e gráfico 7, em que 151 pessoas afirmaram não perceber a falta de segurança, enquanto 145 pessoas conseguem perceber que correm perigo convivendo no cotidiano, neste lugar. Sabemos que todas as respostas são carregadas de emoção. Viver num lugar que a todo o momento nos deparamos com agressões a nossa integridade, nos leva a construir recursos internos, ou seja, para podermos sobreviver temos que aprender uma outra forma de perceber e sentir. Ao verificarmos apenas uma pequena diferença, de apenas seis pessoas dentro do universo dos moradores que responderam nossas perguntas, podemos aferir que, o lugar onde experienciamos o seu cotidiano nos envolve de tal forma que muitas vezes nos leva a distanciarmos do nosso domínio racional, que, segundo Maturana (1998, p.15), “Quando mudamos de emoção, mudamos de domínio de ação. Na verdade todos sabem isso na práxis da vida, mas o negamos porque insistimos que o que define nossas condutas como humanas é elas serem racionais.” Confirmando este pensamento, Mendonça (2004, p. 32) afirma que “o que se compreende hoje como meio ambiente – elementos naturais e sociais conjuntamente – faz Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 59 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 parte da origem geográfica”. Sobre este elo entre o social e o natural, Nunes (2000, p.12) afirma que: Entretanto, trabalhos de campos realizados [...] permitiram observar que não é suficiente simplesmente conhecer os elementos e atributos dos sistemas naturais como vegetação, solos, águas superficiais, aqüíferos subterrâneos, relevos, rochas, e as inter-relações existentes entre eles, mas também, como o homem está interferindo nesses ambientes. Corroborando com o pensamento de Nunes (2000), 63,83% da população pesquisada compreende o que é destruição ambiental, como podemos averiguar na tabela 11 e gráfico 8. TABELA 11 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o que é destruição ambiental. Sim Não 189 107 63,85% 36,15% Gráfico 8 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre o que é destruição ambiental. Por outro lado, os riscos ambientais continuam presentes pela própria característica da área. “Os riscos, tanto sociais quanto ambientais, tendem ser cumulativos” (TORRES, 2000); este fato também confirma a percepção da população pesquisada, como podemos averiguar na tabela 12 e gráfico 9. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 60 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 TABELA 12 – Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre os riscos sociais e ambientais do lugar Sim Não 209 87 70,61% 29,39% Gráfico 9 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre os riscos sociais e ambientais do lugar. Diante da impossibilidade de habitar a área urbanizada da cidade, a comunidade, mesmo percebendo os riscos continuam morando neste lugar. Podemos constatar a partir das suas respostas. Ao perguntarmos se as pessoas sabiam que os esgotos de alguns bairros de Natal são lançados no Rio Potengi, 97, 97% confirmaram que sabiam que conviviam com resíduos fecais na maré onde alguns moradores pescam e onde as crianças se banham, como podemos observar na tabela 13 e gráfico 10. TABELA 13 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambien- tal dos indivíduos sobre os perigos dos esgotos lançados no Rio. Sim Não 290 6 97,97% 2,03% Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 61 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 . 97,97% 2,03% Sim Não Gráfico 10 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre os perigos dos esgotos lançados no Rio. Podemos observar que a experiência de viver neste ambiente interfere sobremaneira na percepção, saúde e comportamento humanos, como podemos constatar ao depararmos com a questão: Se a comunidade já havia tido algum prejuízo pela poluição do rio (financeira ou saúde), 64% afirmaram que sim; podemos observar na tabela 14 e gráfico 11. TABELA 14 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre os prejuízos pela poluição do Rio. Sim Não 191 105 64,53% 35,47% Gráfico 11 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre os prejuízos pela poluição do Rio. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 62 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Podemos observar que uma grande parte da comunidade pesquisada, correspondente a 46,62% se queixa sempre de algum ‘mal’ e atribuem este fato a algum problema de saúde. O meio ambiente degradado altera a percepção, as atitudes e condutas humanas, podemos verificar na tabela 15 e gráfico 12. TABELA 15 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre algum problema de saúde da comunidade. Sim Não 158 138 53,38% 46,62% Gráfico 12 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre algum problema de saúde da comunidade Confirmando que há uma ruptura no fluxo energético que permeia homem e natureza, alterando o funcionamento harmônico dos organismos humanos e ambiental, podemos constatar quando encontramos um alto índice de pessoas que foram hospitalizadas, 120 pessoas que corresponde a 40,54% do universo observado responderam que já haviam sido hospitalizados. (Ver tabela 16 e gráfico 13). TABELA 16 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre pessoas da comunidade que já foram hospitalizadas. Sim Não 120 176 40,54% 59,46% Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 63 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Gráfico 13 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre pessoas da comunidade que já foram hospitalizadas. Aprofundar este conceito é entender que num organismo vivo que pulsa, as palavras deveriam estar conectadas as sensações corporais, a percepção de si mesmo e do meio ambiente. As sensações corporais ficam comprometidas diante da sobrecarga de interferências, que alteram a pulsação livre dos organismos saudáveis. Diante da percepção que os níveis de expectativa de vida, constatamos que 50,68% das pessoas não estão se sentindo supridas diante das necessidades básicas da vida; podemos verificar na tabela 17 e gráfico 14. TABELA 17 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o suprimento das necessidades básicas. Sim Não 146 150 49,32% 50,68% Gráfico 14 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre o suprimento das necessidades básicas. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 64 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 E também constatamos que uma grande parte da comunidade pesquisada, ou seja, 46,28% destas pessoas consomem álcool diariamente. Ver a tabela 18 e gráfico 15. TABELA 18 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o consumo de álcool. Sim Não 137 159 46,28% 53,72% Gráfico 15 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre o consumo de álcool. Diante desta situação perguntamos se o aparecimento de ratos era freqüente em suas residências. Das pessoas pesquisadas, 72,53% delas relataram que sim, e uma delas informou que numa determinada noite acordou com o choro de seu bebê de 9 meses, ao verificar, percebeu que havia um rato roendo seu pezinho. (Ver tabela 19 e gráfico 16). TABELA 19 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre o aparecimento de ratos nas residências. Sim Não 198 98 72,53% 27,47% Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 65 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Gráfico 16 – Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre o aparecimento de ratos nas residências Mesmo diante de tantas pressões no cotidiano desta comunidade, a maioria das pessoas carrega em si sentimentos topofilicos, quando 87,84% das pessoas pesquisadas se julgam felizes vivendo neste ambiente degradado, isto demonstra que há uma ligação afetiva entre o humano e o lugar. (Ver tabela 20 e gráfico 17). TABELA 20 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a ligação afetiva no lugar em que vive. Sim Não 260 36 87,84% 12,16% Gráfico 17 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre a ligação afetiva no lugar em que vive. De acordo com o Jornal Tribuna do Norte de 22/04/2003, matéria intitulada “moradores iniciam faxina nas casas após enchentes” várias famílias da comunidade do Areado, no Passo da Pátria, querem indenização pelos danos causados pelas enchentes devido às chuvas. Eles alegam que as águas do canal só invadiram as residências por causa da Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 66 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 movimentação das terras provocadas pelas obras da Secretária Municipal de Obras e Viação - SEMOV. (Ver fotos 15, 16, 17, 18 e19). Fotografia 15 - Movimentação de terras para cobertura do Canal do Baldo Autor: MACHADO, Mônica, 2003 Fotografia 16 – Estragos causados por mais uma inundação, proveniente de forte chuva. Autor: MACHADO, Mônica, 2003 Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 67 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 18 - Mangue visto das palafitas, podemos observar nesta imagem o início da Fotografia 17 – Esta cena é comum no cotidiano da comunidade do Passo da Pátria, depois das chuvas. Autor: MACHADO, Mônica, 2003. instalação da tubulação de prolongamento do esgoto da cidade. Autor: MACHADO, Mônica. 2002 Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 68 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fot ogr afia 19 - Lix o, um a con viv ênci a diár ia da pop ulaç ão. Aut or: MACHADO, Mônica. 2002 Durante as chuvas vários moradores ficaram com água na cintura. Muitos deles perderam geladeiras e televisões. Outros perderam roupas, colchões e utensílios pessoais. Durante a enchente, as casas também ficaram cheias de insetos e ratos. "Não podemos ficar com um prejuízo destes. A lama invadiu todos os cômodos das residências", exclama o autônomo João Bernardino. Ele mora ao lado do canal. Seu vizinho, o gari Wellington da Silva, perdeu o refrigerador. Os moradores das ruas ribeirinhas dizem sempre sofreram com as chuvas, mas nunca as águas servidas do canal entraram nas casas. Eles alegam que a Construtora Celi está jogando areia dentro do canal que contém águas pluviais e poluídas das ligações clandestinas da cidade. Mesmo sem provas técnicas definitivas, os moradores acreditam que o canal aterrado seria o motivo da enchente desastrosa. Os engenheiros da Construtora Celi se negaram a falar com a reportagem do Jornal Tribuna do Norte, 22/04/2004, matéria intitulada “a maquiagem do Passo da Pátria” e segundo este jornal, o Sr. Damião Pita, secretário da SEMOV, preferiu não comentar sobre os critérios técnicos da obra, mas afirmou que a situação da população ribeirinha do Passo da Pátria sempre foi muito crítica. "Foi por isso que a obra da Prefeitura inclui a construção de 216 casas até o final do ano, objetivando transferir estes moradores das áreas de risco". (Ver foto 20). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 69 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 20 - Cor da lama que faz parte da convivência da comunidade do Passo da Pátria. Autor: MACHADO, Mônica. 2002. Representantes da comunidade do Areado já encaminharam ao Ministério Público documento com fotos e registros técnicos efetuados pelo Partido Verde. Eles solicitam ao Ministério Público a imediata indenização dos eletrodomésticos perdidos. Nas fotos 21, 22 e 23 podemos verificar os estragos ocasionados pela invasão da água. Aconteceram fatos aterrorizantes, como relatou a moradora desta residência, enfocando que neste dia, de intensa chuva, encontrou seu filho de seis meses de idade boiando na água. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 70 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 21 – Casa invadida pela lama das chuvas. Autor: MACHADO, Mônica 2004. Fotografia 22 - Utensílios jogados pelo alagamento das chuvas. Autor: MACHADO, Mônica, 2003 Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 71 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia ente da chuva os sentimentos e sensações humanas de desajuste, desconforto, insegurança ou até mesmo do amor ao lugar e dos estreitos vín Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental 23: Marcas d’agua proveni Autor: MACHADO, Mônica A de aversão a determinado lugar, Tuan (1980) chama de topofobia que podemos chamar como um processo inverso da topofilia que foi definida por ele como um sentimento de bem estar e bem querer ao lugar, ambos os sentimentos topofólicos ou topofóbicos surgem sempre a partir da experiência vivida entre homem e o lugar. Diante de tantas agressões podemos constatar que apesar culos afetivos, 70,95% das pessoas se pudessem, morariam em outro lugar. (Ver tabela 21 e gráfico 18). TABELA 21 - dos indivíduos sobre a possibilidade de morar em outro lugar Sim Não 210 86 7 2 0,95% 9,05% . Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 72 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Gráfico 18 - Distribuição da freqüência em percentual da percepção ambiental dos indivíduos sobre a possibilidade de morar em outro lugar. De acordo com a pesquisa 83,11% das pessoas acreditam que a reurbanização da comunidade vai lhes oferecer um espaço de convivência mais saudável. (Ver tabela 22 e gráfico 19). TABELA 22 - Distribuição da freqüência absoluta e relativa da percepção ambiental dos indivíduos sobre a reurbanização da comunidade. Sim Não 246 50 83,11% 16,89% Gráfico 19 - Distribuição da freqüência em percentual sobre a reurbanização da comunidade. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 73 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Numa reportagem do Jornal Diário de Natal 28/07/2007, matéria intitula “tiroteio assusta no Passo da Pátria” no caderno Cidades a Polícia Federal diz que no mês de julho de 2007 no Passo da Pátria, foram apreendidos 40 quilos de maconha. A Policia Federal não encontrou o restante da droga, que foi encontrada pelos acusados. A droga seria comercializada no Centro da cidade no momento em que os policiais estavam de campana e realizaram a prisão do casal Maria Alzenir dos Santos, 29 anos, e Jackson Tavares de Moura, 19 anos; que utilizavam a comunidade reurbanizada como referência para o trafico de drogas. Contraditoriamente, o poder público do município de Natal, dá inicio a projetos deste porte, demonstrando, a falta de articulação entre os atores da própria comunidade que está sendo beneficiada, e que as ações estão voltadas essencialmente para a questão sócio econômica, podemos constatar nas observações de Araújo (2004), enquanto consultor ambiental e responsável técnico, para acompanhar este projeto de reurbanização do Passo da Pátria. Segundo, Araújo (2004), consultor ambiental, contratado para a execução do projeto no eixo ambiental durante a execução da obra, ele infere que a situação de desconforto ambiental decorrente da execução das obras do canal principal (do Baldo), da drenagem das águas pluviais, da improvisação do esgotamento sanitário em função da não conclusão das obras e implantação definitiva do esgotamento condominial e estações elevatórias, da varrição e coleta do lixo, atingiu diretamente a comunidade ali residente. Devido a equívocos na elaboração do projeto e na execução das obras, Araújo (2004), afirmou haver problemas na definição de cotas e no levantamento topográfico que ocasionaram o refluxo da maré avançando em direção ao continente e sobrecarregaram os troncos coletores, gerando na comunidade reclamações sobre o subdimensionamento dos tubos ali existentes, contribuindo para o entupimento dos tubos e transbordamento das caixas coletoras. Algumas destas caixas foram concluídas e não cobertas, além de terem sido rebocadas com água em circulação, o que contribuiu para o seu posterior entupimento. ..(Ver fotos 24, 25 e 26). Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 74 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 24– Processo de construção das casas ao longo do canal do baldo. Autor: MACHADO, MÔNICA, 2003 Fotografia 25 – Desnível verificado entre o piso da casa e o piso da calçada Autor: MACHADO, Mônica, 2003 Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 75 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografia 26 - Caixa coletora rebocada com água circulante Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio. 2004. Alguns pontos de visita e coleta (PVs) foram concluídos com o nível acima do nível dos pisos das residências, o que invariavelmente provocará inundações e refluxo de esgotos, devido as elevações da s marés, caso medidas ou de rebaixamento desses pontos ou de elevação do nível dos pisos, não sejam tomadas.(Ver fotos 27, 28 e 29). Fotografia 27 – Pontos de visita, PVs acima do nível dos pisos. Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 76 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotografa 28 - Observando a posição deste cano, parece não estar muito diferente do que foi exposto pelo consultor Araújo mostrados na figura n. 20. Autor: MACHADO, Mônica, 2002. Fotografa 29 - Refluxo da maré/entupimento nas caixas Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 77 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Fotogra 30 – Aterro acima do nível das casas. e acordo com Araújo 2004, foi informado aos responsáveis pela execução da obra que, e O aterro em execução está, por exemplo, numa cota superior às residências circunvizinhas, o que também ocasionará os transtornos de alagamentos provocados pelas chuvas ou marés alta. O muro de contenção do aterro, e não de arrimo ou contenção da maré, na linguagem explicativa do fiscal da SEMOV, quando da contestação da existência de 49 rachaduras, do desabamento de aproximadamente seis metros nas proximidades do canal principal (do Baldo), e do avanço da maré sobre três pontos, evidenciando não apenas problemas provisórios na execução da obra, mas a necessidade de redefinição da cota do referido muro sob risco de alagamento em picos de maré e o conseqüente refluxo na drenagem de águas pluviais. (Ver foto 30). fia Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. D m decorrência das chuvas de inverno previstas para os meses subseqüentes, e em função da conclusão das obras do canal principal (do Baldo) para onde anteriormente as águas e os esgotos fluíam, os problemas de drenagem e esgotamento sanitário tendem a se agravar. Não podemos entender os critérios de priorização nas melhorias habitacionais e na construção de novas unidades, que com razão provocam descontentamento e não são priorizados pelo Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 78 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 guem. Fotografia 32 - Desnível entre beco, PV e canal Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. órgão competente, gerando sensações de desconforto ambiental em toda a comunidade que convive neste lugar. (Ver fotografia 31, 32 , 33, 34 e 35). Fato que podemos verificar nas fotos que se se Fotografia 31 - Desabamento do muro de contenção Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 79 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 pimento. Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. Fotografia 34 - Invasão da maré no aterro. Autor: ARAÚJO, Paulo Sérgio, 2004. Fotografia 33- Refluxo em PVs com entu Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 80 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 ra das residências em construção do projeto de Autor: MACHADO, Mônica, 2003 Diante das fotos mostradas, verificamos que esta obra está sendo executada sob uma visão de homens encouraçados, eles encontram-se impedidos ou limitados para fazer contato direto com a natureza, com as pessoas e com os processos da vida. Portanto, desenvolveram um contato substituto que se caracteriza basicamente pela falta de autencidade, querendo sempre levar vantagem em tudo o que faz, estabelecendo uma cultura formada por hábitos e valores neuróticos. O pensamento reichiano é muito parecido com o que sugere Morin (2002ª), quando diz que o ecossistema se reproduz, se auto-regenera e se auto-regula de modo extremamente complexo sem ter, portanto, uma memória própria, um programa ecológico, um dispositivo genético, um centro organizador. Mas a cada dia que passa, a natureza, da mesma forma que as crianças, perde sua capacidade de auto-regulação, vítima das atrocidades cometidas pelo próprio homem, que destrói a sua raça e o ambiente em que vive sem se preocupar com o que irá acontecer no futuro. rma, umano, provavelmente este tipo de idéias conferiu ao consciente coletivo da sociedade moderna o imaginário da dominação mundial. Fotografia 35 - Acúmulo de lama dentro e fo reurbanização do Passo da Pátria A crença na superioridade da humanidade frente à natureza é de certa fo indicações de arrogância do ser h in Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 81 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 e aparece velada, por trás de boas intenções, no de cultura, está em está exposto às tentações do diabo. tes e adultos pode livrar o mundo das neuroses de ráter e da Na medida em que a importância de Deus foi diminuindo com o aumento da crença no poder do homem, e conseqüentemente a relação com as religiões judaica e cristã, foi possível chegarmos a um humanismo plenamente desenvolvido. Deus podia então se “aposentado co meia pensão”, ainda exibido nas cerimônias apropriadas ostentando as velhas medalhas, até ser, aos poucos desmistificado, castrado e abandonado (Ehrenfeld, 1978:5). A peste emocional geralment intuito de ajudar o outro e a sociedade. No entanto, com o passar do tempo, a pessoa, ambiente de lugar, a cometido por essa “doença”, vai invadindo todos os espaços, como uma erva daninha que invade uma plantação ou um câncer invade um organismo vivo, ela vai dominando e destruindo tudo o que está a seu redor. A peste emocional se trata de um estado humano quando “existem almas vazias que tem sede de sensações fortes para encher seu deserto interior. Elas se inclinam, por isso, para o mal”. (Reich, 1951-1991, p.121). De acordo com o que Castoriadis (1981) coloca em sua obra “Da ecologia à autonomia”, uma nova sociedade só é possível quando há autonomia na forma de pensar e de ser dos indivíduos. São necessárias mudanças de pensamento, de consciência, mudanças sociais para que possamos recriar nossos costumes e hábitos em prol da existência da vida humana, fora deste sistema que faz escravizar as pessoas que nele se incluem e marginalizar os que não se enquadram em seus padrões. Se quisermos descobrir o homem é preciso tomar consciência de tendências de todo homem encouraçado: o ódio ao vivo. “Em toda criança recém-nascida Deus presente, a viva vida está pulsando, mas este Deus é reprimido, contido e odiado. Este é um dos aspectos do assassinato permanente de cristo”. O pecado é uma criação do homem, e isto sempre ficou escondido. O reino de Deus está dento do homem, mas o homem está em falta com Deus, é algo que as religiões dizem. O homem o traiu e desde então ele é pecador enquanto não retornar para Deus. Neste tempo o hom Reich (1951-1991). É bem como diz Reich (1933-1995, p.491): “só o restabelecimento de vida amorosa natural das crianças, adolescen ca peste emocional em diversas formas”. Verificando o cidadão comum de hoje, por exemplo, um político, cidadão acima de qualquer suspeita que chega no poder e esquece suas origens, perdendo seus princípios, Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 82 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 sive o pensamento racional) ser tão mido, co um apreciável valor monetário, direta ou indiretamente (Ehrenfeld, em consciência eco- tropossoc suscita um ‘movimento’ d Emil formas individuais (éticas e dietéticas) e coletivas, istenciais natureza e a humanidade necessitará, sem dúvida, como acabamos de dizer, de uma superação saindo da condição de explorado para explorador, e na prática acaba sendo ainda mais cruel que o explorador que não saiu de uma classe social menos favorecida. “O porquê de o funcionamento vital (inclu te nstitui um dos grandes mistérios da estrutura irracional humana”. Reich (1951, 1976/52). Diante destas figuras que observamos anteriormente, podemos verificar, que o valor da reurbanização não está na preservação do ambiente, nem tão pouco na comunidade em si, o valor atribuído a essa reurbanização tem importância na medida em que ela proporcionará benefícios a um determinado segmento da nossa sociedade. A descoberta deste valor transforma estas espécies e ambientes em recursos que são definidos como reservas de mercadorias que têm 1978:138). E aí sim, racionalmente eles merecerão ser conservados. Se faz urgente criar uma consciência ecológica que interfira no comportamento humano, para Morin (1997), a consciência ecológica surge na esteira da ciência ecológica, ao reconhecer a (...) idéia de duas faces de que e sociedade é vitalmente dependente da eco- organização natural e de que esta está profundamente comprometida, trabalhada e degradada pelos processos sociais. A partir daí, a consciência ecológica aprofunda-se an ial; desenvolve-se em consciência política na tomada de consciência de que a desorganização da natureza suscita o problema da organização da sociedade. Esta consciência ecopolítica ex e militantes. (idem, ibdem). Boff entende o ser humano como capaz de co-pilotar o processo evolucionário, mas para isto, os seres humanos devem se educar para estabelecer uma relação amistosa em relação ao planeta, deve cuidar da herança que recebeu, mas fugindo dos objetivos que buscam hoje em dia, o progresso ilimitado. Este saber poderá ser capaz de transformar o ser humano como um ser ético que assume a responsabilidade pelo destino bom de todo o planeta (Boff, 1994:149). É aqui, entendemos que surge a questão de um saber transdisciplinar, enquanto uma ação estratégia em busca de informação para indivíduos que se tornem capazes são mais de dominar, mas de seguir/guiar a natureza. Para Morin, “Este novo casamento entre a Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 83 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 rgia capacidade de perpetuar essa energia de vida, ulo aos Romanos (13,8): “a ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não r o amor de técnica atual que por sua vez necessita de uma superação do modo de pensar atual, inclusive cientifico”. Só através do amor, poderá ser possível uma mudança efetiva do pensamento e comportamento humano, segundo Epsitein “O amor é a força que nutre a realidade invisível que torna a verdade e a moralidade possíveis, e, no alto desta realidade, está Deus. Amor, caindo de cima para baixo como num chuveiro, permite que mundo criado da terra continue funcionando. Cada um de nós traz ene ajudando como seu agente aqui na terra [...] É somente por amor que somos morais uns com os outros [...] o amor é o ingrediente especial na medicina espiritual. É a força nutritiva do Universos e a emanação do coração de Deus”. Se o amor está bloqueado, contido ou restrito, nós permanecemos no mesmo nível do problema, não há possibilidade alguma de mudança, de acordo coma bíblia Sagrada, na Epístola de São Pa se recíproco: porque aquele que ama ao seu próximo cumpriu toda a lei pois os preceitos não furtarás, não cobiçaras e ainda outros mandamentos que existam eles, se resumem nessa palavra amará ao teu próximo como a ti mesmo.” Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 84 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Capítulo 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 85 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos através deste trabalho de pesquisa, que os problemas ambientais no Brasil que podem ser observados, principalm te, nas regiões metropolitanas se agravam e ue a discussão a respeito das questões ambien is se constitui em algo muito recente. Na primeira parte do trabalho foi enfocada a concepção de lugar e sua relação om os seres humanos. Podemos averiguar que a percepção do Passo da Pátria é a de um gar degradado e atingido por diversos problemas na sua verdadeira dimensão existencial. A tuação de miséria e abandono é detectada em seu aspecto concreto e real. Esse efeito egradante atinge o homem em sua plenitude humana, interferindo em seu processo de rescimento, enquanto ser. Na segunda parte tratamos sobre a percepção ambiental. Mostrou-se o processo de rbanização de Natal. Verificou-se que historicamente esse processo se deu de forma muito nta, configurando-se em um quadro de desigualdades e exclusão; e isto pela falta de uma olítica urbana. Foi observado também que Natal não estava preparada para enfrentar do uxo migratório, algo que se intensificou a partir de 1970. Percebeu-se ainda que a omunidade pesquisada ocupou desordenadamente as margens do estuário do Rio Potengi e m perceberem contribuíram com a devastação do ecossistema estuário. Não observaram que tais desfavoráveis e desumanos. Na terceira parte do trabalho foi feita a análise da percepção da comunidade. Para isso integra s e de contraband engodo político e econômico que enfrentamos no cotidiano de nossa comu en q ta c lu si d c u le p fl c se estão expostos a fatores sócio-ambien mos o pensamento do pesquisador Wilhem Reich, estudioso que tem a concepção de que todo ser humano nasceu para ser saudável. Observamos que a comunidade pesquisada vive sob o medo de catástrofes como enchente, tiroteio por parte de gangue istas de drogas. As análises confirmam que as condições de vida são extremamente perigosas, no entanto, a maioria dos habitantes deste lugar não percebe esses perigos, afirmando que se sentem bem em sua comunidade. Sendo assim, verificamos que este programa de reurbanização financiado pelo BID, que se propõe a atender de forma essencial a recuperação ambiental da Comunidade do Passo da Pátria, é mais um nidade, visto que ainda haverá pessoas vivendo numa área insalubre e de risco ambiental, já que na realidade este programa não contempla o tratamento dos esgotos e a despoluição do rio que ainda continuará a receber os efluentes. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 86 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 priorizado em nenhum momento p peste emocional, abandonado e traído por muitos de s parmos ativamente de nosso destino com autonomia e ações éticas no plano privado e público, individual e coletivo. Esperamos Pudemos observar também que os laços topofílicos que a comunidade tem com o lugar, não interfere na sua percepção quanto a degradação ambiental em que estão inseridos, e o desconforto ambiental passa a ser um fato corriqueiro em virtude das obras de reurbanização, e que o descontentamento da comunidade não foi elo Poder Público, mesmo diante das denúncias feitas pelos principais periódicos desta cidade. Para nos fazer entender que crimes assim, só são possíveis numa sociedade doentia e dilacerada pela peste emocional como a nossa. São retratos vivos e coloridos dos caminhos, que as Políticas Públicas dotadas de homens com valores neuróticos, optaram trilhar. Reich (1991) foi perseguido, vítima da eus seguidores, porém nunca desistiu, porque amava intensamente seu trabalho e a humanidade. Deixou registrada sua passagem por esta vida, e vai nos impressionar sempre, a cada constatação de que seus estudos a cada ano que passa se torna mais atual e necessário para a humanidade. Sem perder a esperança, porque acreditamos sobretudo no amor de DEUS, estaremos todos mais conscientes da necessidade de partici que este trabalho possa contribuir de forma científica para alertar que a reurbanização da comunidade do Passo da Pátria não contemplará as profundas e estruturais necessidades sociais e econômicas de sobrevivência daquela população. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 87 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 REFERÊNCIAS Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 88 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 EFERÊNCIAS LMEIDA, Josimar Ribeiro; SANTOS, Déia Maria dos; MIRANDA, Victória Muller. ormação ambiental: consciência, saber e educação. In: ALMEIDA, Josimar Ribeiro, iências Ambientais, Rio de Janeiro: THEX, 2002, p. 07- 45. RANTES, Olilia. Uma estratégia Fatal. A cultura das novas gestões urbanas. In: Arantes ., VAINER, C. Maricato, E. A cidade do pensamento único desmanchando confessos. etrópolis, RJ: Vozes, 2000. RAÚJO, Paulo Sérgio. Projeto do Passo da Pátria, Relatório simplificado do eixo ambiental; atal, 2004. ACHELARD, Gaston, A Póética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 2005. EDANI, Ailton. Pesquisado em WWW.org2.com.br OFF, Leonardo. Nova era: a civilização planetária. São Paulo: Ática, 1994. íblia Sagrada (centro Bíblico Católico, Trad.) São Paulo: Editora Ave Maria Ltda. (Edição laretina) 1979. ARLOS, Ana Fani Alessandri. A Geografia Brasileira, hoje: algumas reflexões. Terra ivre. Ano 18, vol. I, n. 18. São Paulo: JAN.-JUN./ 2002, p. 161-178. APRA, F. A Teia da vida: uma nova compreensão cientifica dos sistemas vivos. 2ª ltrix, 1996. ASTORIADIS, CORNELIUS. Da ecologia à autonomia. São Paulo: Ed: Brasiliense, 1981 ações Geográficas. Rio de neiro: Bertrand Brasil, 1997, p. 89 -117. – CCHLA – Natal, 1995 ília, 2001, rev. 2005. acesso em 7 de setembro de 2005. Conceitos e étodos de Pesquisa. In: GUERRA, Antonio J. e CUNHA, Sandra B.- Impactos Ambientais 01, p. 19 - 45. reciação. In: OSENDAHL, Zeny e CORREA, Roberto Lobato (orgs.) Matrizes da Geografia Cultural. Rio de Janeiro: UERJ, 2001, p. 9 -33. R A F C A O P A N B B B B C C L C edição. São Paulo: Cu C CLAVAL, Paul. As abordagens da Geografia Cultural. In: CASTRO, Iná Elias de, GOMES, Paulo César da Costa e CORRÊA, Roberto Lobato, Explor Ja CLEMENNTINO, Maria do Livramento Miranda. Economia e Urbanização – O Rio Grande do Norte nos anos 70 – UFRN COBRA, Rubem Queiroz. Fenomenologia: Filotemas, Site www.cobra.pages.nom.br, Internet, Bras COELHO, Maria Célia Nunes, Impactos Ambientais em Áreas Urbanas: Teorias, M Urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 20 CORREA, Roberto Lobato. Carl Sauer e a Escola de Berkeley: uma ap R Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 89 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 Araújo da. A verticalização e as transformações do espaço urbano de atal – RN. In: Revista de Geografia. Tese (Doutorado em Organização do Espaço) ADOUN, Roger. Cem flores para Wilhem Reich. São Paulo : Moraes Ltda, 1991. PSTEIN, GERARD. Curar para a imortalidade. Campinas, SP: Editora Libro Pleno. e Weber, J. São Paulo: Cortez, 1997, . 200-267. 27 de abril de 1999. isponível em: HTTP://www6.senado.gov.br/legislação/ListaPublicações. action? “ Tiroteio assusta no asso da Pátria”. NIOR, Antônio. Saint-Exupéry - Memória e Enigmas de um Piloto-Escritor no Rio em to=29328, 2002. nrique. Epistimologia ambiental. São Paulo. Ed. Cortez, 2002. ACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 9ª Ed., ver., atual e ampl., Eunofre - Sensopercepção – Internet, disponível Acesso em 25 de tembro de 2004. COSTA, Ademir N UFRJ/IGEO – Rio de Janeiro Brasil, 2000. D EHRENFELD, D. A Arrogância do Humanismo. New York: Osford University Press. 1978. E (2001) FELIPE, José Alves Lacerda. O Local e o Global no Rio Grande do Norte. In: VALENÇA, M. M. e GOMES, R. G. C. (orgs.). Globalização & Desigualdade. Natal: AS. Editores, 2002 pág. 226 - 240. GODARD, Olivier. Gestão de Recursos Naturais e do Meio Ambiente: conceitos, instituições e desafios de legitimação In: VIEIRA, P.F. p GOVERNO FEDERAL. Legislação brasileira. Lei nº 9.795, de D id=226350. Acesso em: 27/05/2005. JORNAL DIÁRIO DE NATAL de 28/07/2007, matéria intitulada P JORNAL TRIBUNA DO NORTE de 22/04/2003, matéria intitulada “moradores iniciam faxina nas casas após enchentes” JORNAL TRIBUNA DO NORTE de 22/04/2004, matéria intitulada “a maquiagem do Passo da Pátria” JÚ Grande Do Norte. Disponível http://www.notivaga.com.br/mpa_mostra.asp?uid=3535&sid=20021711183725915&autor=antonio+junior&idte x LEFT, E LEITE, Adriana Filgueira. O Lugar: duas acepções geográficas - Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, Volume 21 / 1998. M São Paulo: Malheiros Editores, 2001, p.492. MARQUES se Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 90 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 ELLO, João Baptista Ferreira de. Espaços da Escuridão e Lugares da Luminosidade na ENDONÇA, Francisco de Assis. Geografia e meio ambiente. 7 ed. São Paulo: Contexto, ENEZES, C. L. Desenvolvimento urbano e meio ambiente: a experiência de Curitiba. ERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Rio de Janeiro: Freitas reza no futuro da idade. In: BECKER, Bertha. Geografia e meio ambiente no Brasil. São Paulo: Hucitec, ORIN, E.O Método, vol. I, a natureza da natureza. Portugal: Publicações Europa- _______.O Método, vol. II. A vida da vida.. 2ª Ed. Porto Alegre: Sulina, 2002ª. alolow and the Deep, Long-Range Ecology Movement: A Summary. 973, Inquiry 16, p. 95-100. UNES, Elias. O Meio Ambiente da Grande Natal. Natal: Imagem Gráfica, 2000. spaço Geográfico. In: DEL RIO, icente e OLIVEIRA, Lívia de. (orgs.). Percepção Ambiental: a experiência brasileira. São ELIZZARO, I. A visão reichiana de homem: algumas considerações. Revista Psicologia IAGET, J. Psicologia e epistemologia: Por uma teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: UCCI JÚNIOR, A. Mudando nossa relação com o meio ambiente: uma visão reichiana. In: MATURANA, R. Humberto. Da Biologia à Psicologia. Porto Alegre: Artes Medicas, 1998. M perspectiva Humanística em Geografia. UERJ S/d, p. 7 M 2004. M Campinas – SP: Papirus, 1996, p. 23-55. M Bastos, 1971. _______. O primado da percepção e suas conseqüências filosóficas, Campinas - SP: Papirus, 1989. MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo. A interação homem-natu c 1998, p. 371-395. M América Ltda., 1997. _ NAESS, A. The Sh 1 N OLIVEIRA, Lívia de. Percepção e representação do E V Paulo: Stúdio Nobel; São Carlos - SP: Universidade Federal de São Carlos, 1996, p. 187-212. P Corporal. Curitiba: Centro Reichiano , 2002, v. 2. P Forense, 1973. P VOLPI, J.H.; VOLPI, S.M. (Org.) Psicologia corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2002, vol. 1, p.35-37. Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 91 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 AYNAUT, C. Meio ambiente e desenvolvimento: construindo um novo campo do saber a inaridade, meio ambiente e desenvolvimento. Desafios e avanços do nsino e da pesquisa. Curitiba:UFPR, 2004, vol. 10, p. 21-32. EICH, Wilhem. (1951/52), em “People in Trouble – The Emocional Plague of Makind”. ______. Escuta, Zé Ninguém. São Paulo: Martins Fontes, 1982. ______. (1951/52) “Children of Future – On the Prevention of Sexual Pathology”, Ed. ______. (1933) Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. e Ricardo Amaral Rego. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4 ed. EDUSP - o Interdisciplinar. São Paulo: obel, 1986. nes. Ambiência e pensamento complexo: resigific(ação) a Geografia. In: SILVA, Aldo Aloísio Dantas e GALENO, Alex (orgs.). Geografia: ciência , p. 209 -236. mpos Jr. e Isa Mara Lando, São Paulo: Publifolha, 2004. IMBALYISS, Smith e Owens, Susan. O desafio ambiental. In: GREGORY, Derek; ade espaço e ciência cial. Tradução de Mylan Issack; revisão técnica de Pedro Geiger. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996, p.125-158. SEMTAS – PREFEITURA MUNICIPAL DE NATAL –Projetos integrado Passo da Pátria – Trabalho de participação comunitária, 2003. R partir da perspectiva interdisciplinar. In: LIMA; MENDONÇA. Desenvolvimento e meio ambiente. Interdiscipl e R Ed. Farrar, Straus and Girou, 1976. _ _ Farrar, Straus and Giroux, 1983. _______. La biopatia Del câncer. Buenos Aires: Nueva Vision, 1985. _______. A Função de Orgasmo: problemas econômicos sexuais da energia biológica. 14 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. _______. O Assassinato de Cristo, São Paulo: Martins Fontes, 1991. _ _______. O Éter, Deus e o Diabo: a superposição cósmica. Tradução de Maya Hantower; revisão técnica d Relatório da CPI da poluição do Rio Potengi sumiu. DIARIO DE NATAL- 15/03/2003. S Editora da Universidade de São Paulo, 2002. SILVA, Armando Corrêa da. As categorias como fundamentos do conhecimento Geográfico. In: SANTOS, Milton e SOUZA, Maria Adélia A. de. O Espaç N SUERTEGARY, Dirce Maria Antu d do complexus: ensaios transdiciplinares. Porto Alegre: Sulina, 2004 SWJAAIJ, Louise Van e KLARE, Jane. Atlas da experiência humana: geografia do mundo interior. Tradução de Celso de Ca T MARTIN, Ron e GRAHAM, Smith (orgs.). Geografia humana, socied so Machado, Mônica Pedrosa Percepção ambiental dos moradores da comunidade do Passo da Pátria em Natal-RN. 92 PPGEO – Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia - 2008 demografia do Risco Ambiental. In:.População e meio mbiente. São Paulo: SENAC, 2000. UAN, YI-FU. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. o aulo: DIFEL, 1983. uma síntese de percepções. São Paulo. Ed. SP, 2003. . TORRES, Haroldo da Gama. A a T Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 1980. _______. Geografia humanística. In: CHRISTOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1982, p. 143-164. _______. Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. Sã P VANNUCCI, Marta. Os manguezais e nós: U WEIL, Pierre. A mudança de sentido e o sentido da mudança. Rio de Janeiro. Rosa dos Tempos, 2000