UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ANDRÉA DOS SANTOS RODRIGUES A INFORMÁTICA COMO UMA FERRAMENTA DE APOIO A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL Centro de Apoio Pedagógico Virtual para o Apoio a Inclusão do Deficiente Visual no Ensino Superior. NATAL, 2007. 2 ANDRÉA DOS SANTOS RODRIGUES A INFORMÁTICA COMO UMA FERRAMENTA DE APOIO A INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL Tese apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade. NATAL, 2007 3 4 Agradecimentos Primeiramente ao meu orientador, que após duas mudanças involuntárias e uma gravidez, foi o único a acreditar que eu realmete seria capaz de concluir o trabalho. Muito Obrigada !!!! Ao Professor Pedro Maia que iniciou este projeto comigo na iniciação científica e sempre apoiou e incentivou a continuidade da pesquisa e ao professor Guido Lemos que mesmo mudando de universidade, continuou me auxiliando na elaboração do trabalho. À Sandra Mara e Tadeu, que com a distância me auxiliaram, por muitas vezes, em momentos em que não poderia estar presente na UFRN. E a todos os alunos que participaram do projeto, contribuindo com suas idéias e paciência para avaliar as várias fases do protótipo. “...gosto de ser gente porque inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele”. (Paulo Freire) Resumo Um ambiente inclusivo tem em seus alicerces a crença de que todas as pessoas têm direito a participação, de viver uma vida tão normal quanto possível, sem discriminação, especialmente no sistema educativo. Trata-se de assegurar igualdade de oportunidades. Para indivíduos com necessidades especiais, o uso do computador e de materiais digitais não constitui uma alternativa, mas uma das únicas formas de acesso à informação. Em relação aos deficientes visuais, as dificuldades começam desde o início ao ingressar na universidade, através dos processos seletivos, nem sempre acessíveis. Para os que conseguem, outras dificuldades vão surgindo, minando o entusiasmo inicial e gerando um grande índice de desistências. Na maioria dos casos, esses alunos passam a depender da boa vontade de colegas ou voluntários para a leitura de textos constantes da bibliografia básica das disciplinas cursadas. O alto custo das tecnologias assistivas aliado à falta de recursos e conhecimentos sobre adaptações curriculares, impede que muitos docentes auxiliem de modo adequado estes alunos. Esta tese busca contribuir para a inclusão do aluno deficiente visual apontando alternativas que possam auxiliar no atendimento educacional. A pesquisa foi realizada especificamente para o doutorado no período de 2001 à 2006, nas cidades de Natal, Salvador e Curitiba, tendo-se baseado principalmente na metodologia de pesquisa-ação. O objetivo do trabalho, foi a construção de Centro de Apoio Pedagógico Virtual (CAP), estruturado em um portal Web, que possa servir como recurso auxiliar para apoio aos professores, funcionários e demais usuários comprometidos com o processo de inclusão de pessoas portadores de necessidades educacionais especiais, com o objetivo de equiparação das oportunidades educacionais, com o apoio de recursos e métodos adequados. A Inclusão é para todos porque todos somos diferentes. Palavras-Chave: Educação Inclusiva, Acessibilidade, Usabilidade, Deficientes Visuais. 6 Abstract An inclusive environment has its foundations in the belief that all people are entitled to participate, to live as normal a life as possible, without discrimination, especially in education. This is to ensure equal opportunities. For individuals with special needs, the use of computers and digital materials is not an alternative, but one of the only forms of access to information. For the visually impaired, they start from the beginning to enter the university, through the selection processes, not always accessible. For those who can, other difficulties arise, undermining the initial enthusiasm and generating a large rate of dropouts. In most cases, these students will depend on the goodwill of colleagues and volunteers for the reading of texts in the basic literature of the disciplines studied. The high cost of technology assisted allied to a lack of resources and knowledge of curricular adaptations, prevents many teachers help these students in an appropriate manner. This thesis seeks to contribute to the inclusion of the visually impaired student pointing alternatives that can help in caring education. The research was conducted specifically for the doctorate during the period 2001 to 2006, the cities of Natal, Salvador and Curitiba, and is based mainly on the methodology of action research. The objective was the construction of Virtual Teaching Support Center , structured in a Web portal that can serve as a resource to help support teachers, staff and other users concerned with the process of inclusion of people with needs special education, with the goal of assimilation of educational opportunities, with the support of resources and methods. The inclusion is for everyone because we are all different. Keywords: Inclusive Education, Accessibility, Usability, Blind. 7 Resumen Un ambiente tiene sus bases en la creencia de que todas las personas tienen derecho a participar, a vivir una vida normal como sea posible, sin discriminación, especialmente en materia de educación. Esto es para garantizar la igualdad de oportunidades. Para las personas con necesidades especiales, el uso de las computadoras y los materiales digitales no es una alternativa, pero sólo una de las formas de acceso a la información. Para los discapacitados visuales, que comenzará desde el principio para entrar en la universidad, a través de los procesos de selección, no siempre accesibles. Para aquellos que pueden surgir otras dificultades, socavando el entusiasmo inicial y la generación de una gran tasa de abandonos. En la mayoría de los casos, estos estudiantes dependen de la buena voluntad de colegas y voluntarios para la lectura de textos de la literatura básica de las disciplinas estudiadas. El alto costo de la tecnología de asistencia relacionada con una falta de recursos y el conocimiento de adaptaciones curriculares, impide que muchos docentes ayudar a estos estudiantes de manera apropiada. Esta tesis pretende contribuir a la inclusión de las personas con discapacidad visual estudiante señalando alternativas que pueden ayudar en el cuidado educación. La investigación se realizó específicamente para el doctorado en el período de 2001 a 2006, las ciudades de Natal, Salvador y Curitiba, y se basa principalmente en la metodología de investigación-acción. El objetivo era la construcción del Centro de Apoyo a la docencia virtual (CAP), estructurado en un portal en Internet que pueden servir como un recurso para ayudar a los profesores de apoyo, el personal y otros usuarios interesados en el proceso de inclusión de personas con necesidades educación especial, con el objetivo de la asimilación de las oportunidades educativas, con el apoyo de los recursos y métodos. La inclusión es para todos, porque todos somos diferentes. Palabras clave: Educación Inclusiva, Accesibilidad, Usabilidad, Ciegos. 8 SUMÁRIO Agradecimentos __________________________________________________________ 4 Resumo _________________________________________________________________ 5 Abstract ________________________________________________________________ 6 Resumen ________________________________________________________________ 7 Lista Figuras ___________________________________________________________ 10 Lista de Siglas __________________________________________________________ 12 CAPÍTULO I ___________________________________________________________ 19 Introdução _____________________________________________________________ 19 1.1. Justificativa ____________________________________________________ 26 1.2.3. Objetivos Específicos ____________________________________________ 29 1.3. Metodologia ______________________________________________________ 30 Delimitações do Trabalho _________________________________________________ 39 CAPITULO II __________________________________________________________ 40 2. Inclusão Digital – Do Extermínio à Inclusão _______________________________ 40 2.1. Introdução _______________________________________________________ 40 2.2. Evolução da Educação Especial ______________________________________ 42 2.2.1. Fase de Extermínio ______________________________________________ 42 2.2.1. Fase do Assistencialismo _________________________________________ 45 2.3. Fase da Educação Especial ou Educação Segregada _____________________ 46 2.4. Integração ______________________________________________________ 48 2.5. . Os Novos Paradigmas: Da Integração a Inclusão ______________________ 53 2.5.2. Inclusão Uma Sociedade para Todos ________________________________ 68 CAPÍTULO III _________________________________________________________ 74 3- Caracterizando a Deficiência ____________________________________________ 74 3.1 . Introdução _______________________________________________________ 74 3.1. Caracterizando a Deficiência Visual __________________________________ 77 3.2 A História da Educação dos Deficientes Visuais _________________________ 80 3.3. Os Precursores da Educação de Deficientes Visuais _____________________ 81 O Sistema Braile. ____________________________________________________ 93 CAPÍTULO IV __________________________________________________________ 96 4 - Inclusão Digital ______________________________________________________ 96 9 4.1 Tecnologias Assistivas e a Promoção da Inclusão do Deficiente Visual ________ 100 4.2 Categorias da Tecnologia Assistiva ___________________________________ 104 4.2.1. A Informática como um Aliado para a Inclusão de Deficientes Visuais ___ 106 4.2.2 A Tecnologia Assistiva no Apoio ao Deficiente Visual _________________ 110 Dispositivos de Ampliação ____________________________________________ 111 Dispositivos de Áudio _______________________________________________ 112 Dispositivis Táteis ____________________________________________________ 113 Dispositivos Transcritores ____________________________________________ 118 CAPÍTULO V _________________________________________________________ 120 5- Desenvolvimento do Virtual CAP Centro de Apoio Pedagógico Virtual _________ 120 5.1. Descrição do CAP ________________________________________________ 121 5.2 Acessibilidade ____________________________________________________ 124 5.3. Design Universal _________________________________________________ 132 5.4. ENGENHARIA DE USABILIDADE: ________________________________ 135 5.4.1.Usabilidade. ___________________________________________________ 137 CAPÍTULO VI _________________________________________________________ 142 6. Ciclo de Vida do Sistema: ___________________________________________ 142 6.1.Análise de Viabilidade ____________________________________________ 142 6.1.1.Viabilidade Organizacional _______________________________________ 142 6.1.2.Viabilidade Econômica __________________________________________ 143 6.1.3.Viabilidade Técnica _____________________________________________ 144 6.2. Conhecer seus usuários e tarefas ____________________________________ 145 6.2.1.Perfil dos usuários ______________________________________________ 149 6.4. Estrutura do Conteúdo ____________________________________________ 156 6.5. Avaliação de Usabilidade e Acessibilidade do Virtual CAP ______________ 161 6.6. Considerações Finais ______________________________________________ 165 7. Bibliografia _______________________________________________________ 169 10 Lista Figuras Figura 1: Evolução de Matrículas Inclusivas nos níveis de ensino. ....................... 22 Figura 2: Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências - CRPD, .............. 34 Figura 3: Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências - CRPD ............... 34 Figura 4: Evolução de Matrículas Inclusivas. ........................................................ 41 Figura 5: Problemáticas associadas às necessidades educativas especiais ........ 56 Figura 7: Sistema Inclusivo Centrado no Aluno. Fonte ......................................... 59 Figura 9: Estátua em Homenagem a Valentin Haüy ............................................ 81 Figura 10 : Fachada atual do Institut National des Jeunes Aveugles .................... 83 Figura 11. Imagem atual do Le Département Informatique et Recherche ............. 83 Figura 12 Cada de Luiz Braille .............................................................................. 84 Figura 13 Rosto de Louis Braille ........................................................................... 87 Figura 14 Alfabeto Braille ...................................................................................... 89 Figura 15 Fachada do Instituto Benjamin Constant ............................................... 90 Figura 16 Praça em Homenagem a Braille............................................................ 91 Figura 17 Praça em Homenagem a Braille............................................................ 92 Figura 18 Célula Braille ......................................................................................... 93 Figura 19 Reglete e punção .................................................................................. 94 Figura 20 Máquina de Datilografia em Braille........................................................ 94 Figura 21 Impressora Braille ................................................................................. 95 Figura 22: Circuito fechado de televisão ............................................................. 111 Figura 23: Lentes para Leitura ............................................................................ 111 Figura 24: Braille Falado ..................................................................................... 112 Figura 25: Impressora Braille ............................................................................. 113 Figura 26: Máquina Braille................................................................................... 114 Figura 27: Reglete e punção ............................................................................... 115 Figura 28: Materiais de apoio ao ensino de matemática ..................................... 115 Figura 29: Terminal Braille ................................................................................. 116 Figura 30: Copiadora em alto-relevo ................................................................... 116 Figura 31: Caneta de alto relevo ......................................................................... 117 Figura 32: Desenhador Braille ............................................................................. 117 Figura 33: Tela Inicial do Sistema Dosvox .......................................................... 119 Figura 34 Integração Desenvolvedores e Usuários ............................................ 124 Figura 35 Aluno em curso na Prodam ................................................................. 127 Figura 36: Ciclo de Vida do Projeto com Usabilidade ......................................... 140 Figura 37: Grau de Escolaridade ......................................................................... 147 Figura 38 Gráfico Sexo dos Entrevistados .......................................................... 149 Figura 39 Gráfico Faixa Etária ............................................................................. 150 Figura 38 Gráfico com a renda familiar ............................................................... 150 Figura 39 Gráfico com o Nível de conhecimento em Informática ........................ 151 Figura 40 Gráfico dos alunos que possuem computador em casa ...................... 152 Figura 41 Gráfico representando os alunos que acessam o computador com frequência .................................................................................................... 152 Figura 42 Tela Principal do Virtual CAP .............................................................. 156 Figura 43 Página sobre Educação Inclusiva ....................................................... 158 11 Figura 44 Símbolo do Da Silva ........................................................................... 162 Figura 45 Tela Inicial de Avaliação do Da Silva .................................................. 162 Figura 46 : Avaliação do Site do Mec no Da Silva ............................................... 163 Figura 47: Símbolo de Acessibilidade na Web do CERTIC ................................. 163 Figura 48: O selo de acessibilidade Virtual Vision ............................................... 163 Figura 49: Selo de Acessibilidade do Avaliador Brasileiro da Silva ..................... 164 12 Lista de Siglas ABNT Associção Basileira de Normas Técnicas CAP Centro de Apoio Peagógico CCTV Circuito Interno de TV FIESP Federação das Industrias do Estado de São Paulo FRB Faculdade Ruy Barbosa IBC Instituto Benjamin Constant ICB Instituto de Cegos da Bahia IERC-RN Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte IES Instituição de Ensino Superior INFOESP Informática na Educação Especial IPC Instituto Paranaense de Cegos LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação MEC Ministério da Educação e Cultura NAPPB Núcleo de Apoio a Produção Braille NCE Núcleo de Computação Científica OBR Reconhecimento Ótico de Braille OCR Reconhecimento Ótico de Caracteres OIT Organização Internacional do Trabalho OMS Organização Mundial de Saúde PNE Pessoas com Necessidades Especiais PNEES Pessoas com Necessidades Educativas Especiais PNLD Programa Nacional do Livro Didático PROINESP Programa de Informática na Educação Especial PROINFO Programa de Informática na Educação SEESP Secretaria de Educação especial TIC Tecnologia de Informação e Comunicação TTS Text to Speech UBC União Brasileira de Cegos UFRJ Universidade Federal do Rio de janeiro UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNIFAE Centro Franciscano de Ensino Superior 13 APRESENTAÇÃO Este trabalho iniciou-se a alguns anos de forma inusitada, quando era estudante de graduação do terceiro período do curso de Ciências da Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em uma noite de domingo assisti uma reportagem que me chamou a atenção: um sistema operacional adaptado que permitia um deficiente visual usar o computador. Na mesma reportagem, além da demonstração do sistema, o que mais me chamou a atenção foram as dificuldades que um aluno cego da Universidade Federal do Rio de Janeiro enfrentou ao ingressar no curso também de Ciências da Computação e o esforço e apoio de seus colegas e professores para fornecer condições possíveis para a realização do curso. A idéia da construção de um sistema de apoio surgiu de um professor de Computação Gráfica, o professor Antônio Borges da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, que não conseguia imaginar como adaptar sua disciplina as necessidades do aluno. Surgiu então a proposta em conjunto com o aluno construir softwares que pudessem auxiliá-lo tanto na disciplina dele, quanto nas demais. Foi então desenvolvido o primeiro conjunto de softwares em português adaptado ao deficiente visual, utilizando síntese de voz, para a comunicação humano computador : o Dosvox. Ao terminar de assistir a reportagem fiquei muito curiosa, pois mesmo com visão normal enfrentava diversas dificuldades em acompanhar as disciplinas, com acesso ao computador, livros, notas de aulas e todos os recursos tradicionais que os professores deixavam a nossa disposição, e fiquei imaginando como aquele aluno conseguia cursar disciplinas semelhantes. No dia seguinte comentei com meus colegas e com um de nossos professores que era chefe do Departamento de Informática o professor Pedro Maia, ele também ficou muito curioso e disse que tentaria entrar em contato com o responsável pelo projeto, o Professor Antônio Borges, para obter maiores informações. Como estava próximo ao período de férias, comentei que iria para o Rio de Janeiro passar alguns dias com 14 meus familiares e, se possível, gostaria de conhecer o projeto. Ele fez os contatos e agendou uma visita minha a UFRJ. Quando cheguei à universidade fui muito bem recebida, o Professor Antônio Borges e seu aluno o Marcelo Pimentel apresentaram-me ao sistema , tiraram minhas dúvidas e ―mataram minha curiosidade‖. Era a primeira vez que tinha contato com uma pessoa cega, eu e o Marcelo éramos da mesma idade, fazíamos o mesmo curso e tínhamos muito em comum, o medo inicial, se transformou em amizade. Fiquei surpresa quando me convidaram para trabalhar como monitora no curso piloto para um pequeno grupo de alunos, que era um teste para um curso que envolveria diversos representantes de vários estados do país, que aconteceria na semana seguinte. Mesmo sem saber literalmente NADA, nem do sistema nem de como lidar com pessoas cegas, aceitei,. Foi uma experiência inesquecível, pois foi uma troca de conhecimentos. Sabia lidar apenas com computadores, mas comecei a aprender a lidar com o sistema e a convivência com os alunos do curso me ensinou que a cegueira é apenas uma pequena limitação, que a amizade pode superar com facilidade. Nos intervalos do curso, os alunos me guiavam pelo enorme campus, e no fim de semana, me levaram os lugares, onde faziam muitos anos que não visitava, fomos de ônibus ao Jardim Botânico, eu nem sabia como chegar, minha tarefa era simplesmente avisar quando o ônibus chegasse, em relação ao caminho, o ponto para saltar, e as principais atrações eu que fui guiada! No final, eles é me fizeram companhia para voltar para casa, como era a caçula do grupo, ficaram esperando meu ônibus para não ficar sozinha no ponto à noite. Na semana seguinte vieram representantes de diversas instituições de cegos do país com a missão de conhecer os sistemas e levar informações sobre seu uso, metodologia de ensino e adaptação do computador para deficient5es visuais, para seus estados, seríamos multiplicadores. No final do curso, era a única representante do Rio Grande do Norte e também tinha o compromisso de dar continuidade ao trabalho. 15 Ao chegar na UFRN, o Professor Pedro Maia escreveu uma proposta de trabalho de iniciação científica para o CNPQ, que foi aprovada, e começamos a trabalhar em duas propostas: divulgar os sistemas através de cursos e ampliar o sistema através do desenvolvimento de novos aplicativos. Inicialmente, enfrentamos dificuldade, só tínhamos um micro para dar o curso e tínhamos que fazer com um aluno por vez, depois aproveitamos o período de férias, ocasião em que os laboratórios ficam ociosos , possibilitando realizar os treinamentos com um número maior de alunos. Nesses cursos, o aluno aprendia a manipular as operações básicas do computador, a editar textos e a lidar com os principais aplicativos, possibilitando inicialmente que o aluno pudesse ler textos através do micro e a digitar seus próprios trabalhos . Muitos não acreditavam que um cego pudesse utilizar computador1 , e chegamos a escutar que não era para ficar ―colocando idéias que cegos poderia usar computador‖, pois a instituição jamais teria condições de ter um, que só iríamos causar tumulto e mais decepção. Lembre-se que um micro, em 1994 custava cerca de três vezes o custo de hoje, eram caros e acesso ainda mais difícil. Hoje encontramos à venda até nos supermercados. Um outro problema: quando acabava o curso, o aluno não tinha onde praticar, a maior parte não tinha condições financeiras e Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte IERC-RN, situado na cidade de Natal, a principal entidade de ensino e apoio ao deficiente visual, não possuía micro para tais fins. Isso foi resolvido através de um grupo de mães que fizeram bingos e outras atividades para comprar o primeiro micro, e depois, outros foram adquiridos através de doações e aquisição com recursos próprios. Posteriormente, os primeiros alunos que fizeram curso na UFRN, tornaram-se os professores e monitores do Instituto, dando continuidade até hoje ao projeto, e treinando inúmeros outros colegas. Mas o desafio estava só começando. Estávamos na era da Internet e o sistema não tinha softwares semelhantes aos navegadores que usamos como o 1 Esses comentários, escuto até hoje! 16 Internet Explorer e o Netscape. Este fato gerou a dissertação de mestrado na qual foi construído o Webvox, um protótipo de navegador. Na fase de testes descobrimos que somente ter a feramenta não era suficiente, era necessário que houvesse uma conscientização dos desenvolvedores em criar páginas acessíveis, então, em paralelo ao desenvolvimento, foram pesquisados os recursos de usabilidade e acessibilidade no desenvolvimento de sites para a Internet. Na defesa tive a oportunidade de conhecer o Dr Arnon Andrade que, junto com os professores Antônio Borges, Pedro Maia e Dr Guido Lemos, meu orientador do mestrado, me incentivaram a continuar o trabalho, agora com outro desafio: não só o de conhecer, aplicar e desenvolver ferramentas, mais de pesquisar mais sobre a Educação Especial, e sobre como o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação poderiam contribuir para melhorar o processo de Inclusão dos Deficientes Visuais na educação. Atualmente, além de aluna de doutorado, também sou professora de graduação e tive a oportunidade de ter diversos alunos com necessidades especiais em sala, inclusive alunos deficientes visuais. Sempre é um desafio, no entanto, o resultado traz benefícios para todos: do lado do docente, através de uma reflexão maior sobre o conteúdo e da metodologia, todos ganham uma aula mais interessante e participativa; do lado do discente, a grande maioria compreende que a limitação, é muito menor do que as potencialidades dos colegas. Assim, cada um reflete sobre suas próprias práticas e atitudes, o estereótipo sobre o indivíduo com necessidade especial ser incapaz, é substituído pela compreensão de que, com esforço e apoio, os obstáculos podem e devem ser superados. No momento em que nos deparamos com um aluno especial, notadamente com um aluno deficiente visual, sempre vêm à tona as mesmas perguntas: que material vamos usar? Não temos livros em Braille? Como esse aluno vai realizar as provas e os trabalhos? Que softwares vamos usar? Onde buscar apoio? Aos mais resistentes que dizem que vão continuar a dar a aula da mesma forma e o aluno que se ―vire‖, onde encontrar a legislação que garante o apoio a estes 17 alunos? Qual o custo dos equipamentos Adaptativos? Existem Softwares Livres? E quanto aos direitos autorais? Podemos digitalizar um livro? E outras dezenas de perguntas e dúvidas que surgem. Neste trabalho, pretendemos contribuir com o esclarecimento a algumas dessas perguntas, através do desenvolvimento de um Centro de Apoio Pedagógico Virtual para o Apoio à Inclusão de Alunos com Deficiência Visual. Neste ambiente, inicialmente, serão colocadas informações que hoje se encontram dispersas, que poderão ser úteis, tanto aos alunos como às demais pessoas envolvidas no processo educacional a encontrar informações centralizadas em um espaço único. Como essas informações são dinâmicas, pretende-se que o Virtual CAP possa se tornar uma comunidade virtual, onde os próprios usuários interessados possam contribuir com a atualização das informações do ambiente e adicionar materiais e experiências relevantes para tornar a inclusão um fato. Na tese os capítulos foram divididos da seguinte maneira. No capítulo apresentamos os objetivos da tese e suas delimitações, bem como a metodologia empregada. No segundo capítulo é feito um levantamento bibliográfico sobre o histórico dos deficientes, apresentando como a sociedade os tratava, do extermínio a inclusão, vários séculos se passaram, mais ainda podemos notar que os extremos ainda existem, principalmente em países subdesenvolvidos, no entanto de forma geral, a inclusão é uma realidade em nossa sociedade, mesmo que por força de lei, no entanto ainda falta muito para ela ser real, eficaz, e fazer parte de nosso cotidiano de forma natural. Caracterizar a deficiência é algo complexo, no capítulo três buscamos através da opinião de vários autores, definir um termo tão polêmico, para compreender quais são as principais deficiências, como podemos auxiliar para minimizar os impactos das limitações. Porém como foi delimitado no escopo da tese, vamos focar na deficiência visual No Capítulo quatro apresentamos as tecnologias assistivas e uma série de exemplos que podem auxiliar a inclusão de alunos com deficiência visual. 18 Após a fundamentação teórica no Capítulo 5, apresentamos a proposta do trabalho, a criação de um Centro de Apoio Pedagógico Virtual, elaborado com recursos de acessibilidade, com o objetivo de fornecer subsídios para quem precisa conhecer sobre inclusão. O Centro de Apoio Pedagógico Virtual, foi elaborado de acordo com as normas de acessibilidade e modelado de aordo com as orientações da Engenharia de Usabilidade. Por fim nas considerações finais, apresentamos alguns resultados, baseados nas pesquisas no decorrer desta tese. Esperamos que este trabalho possa ser continuado e constantemente aperfeiçoado e que possa auxiliar o maior número possível de pessoas. Acreditamos que fim deste trabalho será apenas o começo de outro ainda maior. Semanalmente o portal sofre alterações de conteúdo, sempre que possível, novos conteúdo são inserido. Nosso objetivo é ter a oportunidade de montar um laboratório de acessibilidade, para apoiar o processo de inclusão, acolhimento e acompanhamento do estudante com deficiência no Ensino Superior, através de um laboratório com softwares e hardwares sofisticados e uma base de pesquisa para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas tecnologias. 19 CAPÍTULO I "Tenha um objetivo para tudo, concentre-se nele e vá até o fim em tudo o que começar.” (Dirk Erik Wolter) Introdução Vygotsky (1997) já apontava, nos anos 30, que as principais conseqüências da cegueira são os conflitos sociais gerados como efeitos secundários, ou seja, não propriamente decorrentes ao fato de não enxergar, mas às relações ligadas a este fato. A necessidade e o direito a participação efetiva na sociedade, especialmente no âmbito da educação, é o princípio norteador deste trabalho onde através das tecnologias de informação e comunicação (TICs), ocorre uma reflexão sobre como se dá o acesso do deficiente visual perante os recursos tecnológicos, o impacto provocado pela falta de recursos de ensino e as dificuldades de acesso a materiais são os principais elementos motivadores deste trabalho. Pois junto com o Braille, o uso do computador e demais tecnologias propiciam independência e autonomia ao deficiente visual. Segundo o Ministério da Educação e Cultura (Brasil,1994a ), a execução adequada de uma política educacional dirigida aos portadores de necessidades especiais possibilita que venham a alcançar níveis cada vez mais elevados do seu desenvolvimento acadêmico. É importante, que as instituições de ensino se esforcem, no sentido de se adequar, de criar condições próprias, para forma a possibilitar o acesso desses alunos ao ensino superior e profissionalizante. As decisões tomadas pela Secretaria de Educação Especial, SEESP/MEC, vêm revelando um interessante movimento em respeito aos direitos dos cidadãos com necessidades especiais, dentro do sistema educacional, certificados pelos dados do Censo Escolar. Dados do Censo Escolar de 2006 (MEC/INEP) registram que a participação do atendimento inclusivo cresceu, no Brasil, passando dos 24,7% em 2002 para 46,4% em 2006. (Brasil, 2006) 20 Este crescimento se deve ao fato do MEC, através da secretaria de educação especial, ampliar e fornece vários programas de apoio à educação de alunos com necessidades especiais, tendo como objetivo garantir o acesso e a permanência desses alunos na escola regular. Em relação aos Deficientes Visuais, os principais programas são e ações são: Os Centros de Apoio para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual - CAPs e Núcleos de Apoio e Produção Braille- NAPPB. Os Centros de Apoio para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual - CAP‘s instalados em parceria com os Estados e o Distrito Federal, são equipados com computadores, impressora Braille e laser, foto copiadora, gravador e fones de ouvido, circuito interno de TV, CCTV e máquina de datilografia Braille Perkins, e tem como proposta principal a geração de materiais didáticos pedagógico como livros e textos em Braille, ampliados e sonoros para distribuição aos alunos matriculados no ensino regular bem como a organização de espaços educacionais que sirvam de apoio aos alunos com visão subnormal. O Programa Nacional do Livro Didático/BRAILLE, PNLD é uma ação do que distribui livros didáticos aos alunos da Educação Básica. Os alunos cegos são contemplados com os livros didáticos em Braille. O aperfeiçoamento do Programa com a produção de livro didático em Braille estendendo a distribuição de 5ª a 8ª série que antes atendia somente até a 4ª série e com a introdução dos primeiros 70 títulos paradidáticos. Infelizmente apesar da iniciativa, segundo relatos de alunos e professores, a entrega desses materiais ocorre com muito atraso, muitas vezes, o livro em Braille chega com dois a três meses de atraso, em relação ao livro convencional e ainda alguns títulos não estão disponíveis. Isso se deve ao fato de não termos ainda uma infra-estrutura para atender à uma demanda tão alta. Outras ações relativas ao deficiente visual são : a, Comissão Brasileira de Braille instituída pela Portaria Ministerial nº. 319/99, é presidida e mantida pela SEESP, e tem como competências específicas normatizar o uso e o ensino do Sistema Braille no país. A Comissão Brasileira de Estudos e Pesquisas do Soroban instituída pela Portaria Ministerial nº. 657/02, tem como competência elaborar e propor diretrizes e normas para uso e ensino do soroban em todo o 21 país. O soroban é um instrumento que auxilia o deficiente visual na realização de cálculos, em algumas cidades é mais conhecido como Ábaco. Em relação a formação de professores, a SEESP apóia a realização de cursos de capacitação de professores acerca das disciplinas específicas da educação de alunos com deficiência visual, utilização de equipamentos de informática, visando a operacionalização dos CAPs. Dentre as capacitações realizadas destaca-se: o curso sobre a utilização do sistema Braille e código matemático unificado - capacitação de professores para atendimento a alunos com deficiência visual; curso sobre orientação e mobilidade - capacitação de professores para atuarem na educação e reabilitação de alunos com cegueira e baixa visão; curso de adaptação e transcrição Braille - capacitação de adaptadores e transcritores de Braille com vistas à produção de livros didáticos em Braille. O Objetivo do CAP - Virtual, proposto por este trabalho é complementar as ações do MEC, possibilitando um aperfeiçoamento contínuo e acesso a informações, para aqueles profissionais, familiares e alunos, que não tiveram oportunidade de participar de cursos presenciais. Os levantamentos estatísticos no Brasil não têm contemplado o atendimento educacional aos portadores de deficiência em relação ao ensino superior, dificultando, assim, a comparação de dados sobre o número de alunos que concluem o Ensino Médio e o número daqueles que ingressaram no ensino superior. É, no entanto, elevado o número de solicitações, tanto dos pais, dos alunos portadores de deficiência, quanto das próprias instituições de ensino superior, no sentido de que seja viabilizado o acesso desses candidatos ao ensino superior, razão pela qual o tema acesso e permanência do educando com necessidades especiais nas instituições de ensino superior (IES) está sendo objeto de estudos neste trabalho e pela por outras IES. Apesar de não termos estatísticas referentes ao acesso do deficiente no ensino superior como dito anteriormente, as estatísticas (Brasil, 2005),revelam um elevado índice de deficientes, cuja faixa etária constitui público universitário em 22 potencial. A figura 1, apresenta um crescimento considerável na evolução de matriculas inclusivas na educação especial. No entanto como apresentado na figura 3, essas matrículas ainda concentram-se na educação fundamental. Constata-se, portanto, que há demanda reprimida e que provavelmente, se houvesse condições favoráveis à inclusão, não haveria um número tão grande de desistências, o que gera um número muito inferior no ensino médio e profissionalizante e consequentemente um número ainda menor de alunos concluintes aptos a prestarem exames para o ingresso no ensino superior. Até o momento não temos dados oficiais da evolução das matrículas de alunos especiais no ensino superior. Figura 1: Evolução de Matrículas Inclusivas nos níveis de ensino. Fonte (MEC/INEP) (http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dadosed.pdf) As dificuldades começam desde o início. Do corpo docente que não se sente preparado em realizar adaptações curriculares, à falta de infra-estrutura 23 física e materiais didáticos adaptados, vão minando o entusiasmo inicial e gerando um grande índice de desistências. No entanto, espera-se que esta evolução nas matrículas seja acompanhada da melhoria nas condições de atendimento, gerando assim aumento no número de matriculados no ensino médio e, conseqüentemente, gerando um elevado índice de alunos potenciais para o ingresso no ensino superior. O MEC (Brasil, 1996), através de circular , sugere algumas diretrizes para a adequação estrutural e criação de condições que visem facilitar o acesso aos alunos com necessidades especiais, como por exemplo: na elaboração do edital, para que possa expressar, com clareza, os recursos que poderão ser utilizados pelo vestibulando no momento da prova, bem como dos critérios de correção a serem adotados pela comissão do vestibular; no momento dos exames vestibulares, quando serão providenciadas salas especiais para cada tipo de deficiência, maior flexibilidade no momento da correção das provas, quando será necessário considerar as diferenças específicas inerentes a cada portador de deficiência, para que o domínio do conhecimento seja aferido por meio de critérios compatíveis com as características especiais desses alunos. Para isso, é sugerida a instalação de Bancas Especiais contendo, pelo menos, um especialista na área de deficiência do candidato; a utilização das TIC para a ampliação de textos, lupas ou outros recursos ópticos especiais para as pessoas com visão subnormal/reduzida; recursos e equipamentos específicos para cegos como: Sorobã, máquina de datilografia comum ou Perkins/Braille, sistemas com síntese de voz, como o DOSVOX, adaptado ao computador. Após o obstáculo do vestibular, que, por muitas vezes, quando não é adaptado, torna-se uma barreira intransponível, essa é apenas uma das muitas dificuldades enfrentadas pelos alunos com necessidades especiais. Considerando particularmente o deficiente visual, após ingresso na universidade, geralmente não conseguem acompanhar o desempenho de seus colegas de curso, pois não há condições igualitárias. No Brasil não há política editorial universitária que atenda a essa parcela da comunidade. No caso da educação fundamental e ensino médio, 24 alguns livros já são traduzidos para o Braille. Na maioria dos casos, passam a depender da boa vontade de colegas ou voluntários para a leitura de textos, das apostilas, livros e de artigos constantes da bibliografia básica das disciplinas cursadas. A falta de conhecimento sobre tecnologias assistivas, aliado à falta de recursos e conhecimentos sobre adaptações curriculares que segundo Carvalho( (2000), impede que muitos docentes auxiliem de modo adequado estes alunos. Segundo relatos de alunos, há uma omissão por parte dos órgãos responsáveis em propiciar meios para que o cego possa estudar, sendo que a maior dificuldade é a falta de material específico, principalmente livros. Diante deste fato, é importante verificar em cada instituição, quantos livros em Braille existem? Qual o número de Áudio Livros? Quantas obras estão digitalizadas e disponíveis através de uma biblioteca virtual acessível aos alunos cegos? Os docentes adotam recursos didáticos adequados e metodologia acessível? Os docentes estão preparados para lidar com os vários tipos de necessidades especiais, particularmente o da deficiência visual? Como exigir desempenho a um aluno, se não se proporcionam as condições adequadas? Esperamos que este estudo viabilize um novo repensar sobre a inclusão de deficientes visuais no ensino superior, frente aos recursos tecnológicos, à análise e à identificação de recursos necessários para que o deficiente visual possa utilizar as TICs, como um recurso de apoio a inclusão. A Lei de Diretrizes e Bases na Educação (LDB) defende o uso de recursos educacionais e de estratégias de apoio, que estejam à disposição de alunos e docentes, como forma de oferecer diferentes alternativas de atendimento, preferencialmente no ensino regular, possibilitando assim a inclusão. Segundo Sassaki (2003a), um ambiente inclusivo tem, em seus alicerces, a crença de que todas as pessoas têm direito à participação, de viver uma vida tão normal quanto possível, sem segregação, especialmente no sistema educativo. Trata-se de assegurar igualdade de oportunidades. Em se tratando de educação, o objetivo essencial da inclusão é a equiparação de oportunidades educacionais, 25 com o apoio de recursos e métodos adequados. A Inclusão é para todos porque todos somos diferentes. O conceito de diferença, historicamente entendido como conceito de diversidade, é usado, no contexto escolar, para caracterizar grupos ou indivíduos que não correspondem e nem se encaixam nas descrições de normalidade para os currículos, disciplinas e práticas pedagógicas. É necessário que tanto a instituição quanto os docentes entendam que as diferenças individuais no processo de aprendizagem são inerentes à condição humana. As barreiras de aprendizagem que se impõem ao aluno, criando dificuldades de aprender, não são exclusividades de alunos com necessidades especiais, fazem parte do cotidiano acadêmico. 26 1.1. Justificativa Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de discutir e implementar a democratização e equiparação de oportunidades educacionais para igualar o direito a todos à educação, com ênfase nos alunos com deficiência visual. Devemos nos lembrar, que devemos na educação com o intuito de promover e ajudar na emancipação do ser humano. Segundo Freire (1979), conhecer não é o ato através do qual um sujeito, transformado em objeto, recebe dócil e passivamente os conteúdos que outro lhe dá ou impõe. O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito face ao mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e reinvenção. Reclama a reflexão crítica de cada um sobre o ato de conhecer. No processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, sendo capaz de aplicar à situações concretas. O papel do educador, não é o de ―encher‖ o educando de conhecimento. O melhor aluno não é aquele que memoriza as fórmulas, mas, sim, o que percebeu a razão dessas. ―Quando mais simples e dócil o receptor dos conteúdos com os quais, em nome do saber, é enchido por seus professores, tanto menos pode pensar e apenas repete.‖ Com base nestes argumentos de Freire, buscou-se criar alternativas aos ambientes virtuais de aprendizagem tradicionais que se baseiam na transmissão de conteúdos para um ambiente onde a comunidade possa ser a produtora, participando ativamente do processo de ensino-aprendizagem. Além de Paulo Freire, outro referencial teórico escolhido foi a Pedagogia de Freinet, pois toda a sua proposta pedagógica deriva diretamente do trabalho desenvolvido pelos alunos em um processo que os levasse a gostar da escola, sendo o aluno um ser social responsável, co-detentor e co-edificador cultural. 27 Freinet (2001) é um pioneiro na proposição de uma prática pedagógica centrada na cooperação, essa proposta fundamenta-se na junção da cooperação com a valorização da produção individual, respeitando assim o ritmo, limitações e potencialidades de cada um, gerando um ambiente inclusivo em que o conjunto da produção tem valor para todo o grupo. Ele propõe uma readaptação da escola a uma educação que corresponda às necessidades individuais, sociais, intelectuais, técnicas e morais do indivíduo (Freinet, 2001). É, também, um pioneiro nos conceitos inclusivistas. O ambiente proposto se propõe a ser um centro de apoio, onde serão armazenados materiais referentes ao processo de inclusão do deficiente visual, baseado no envolvimento e apoio cooperativo de todos os envolvidos no processo de aprendizagem. Usando como metodologia de desenvolvimento o design universal baseado nos requisitos de acessibilidade e usabilidade, utiliza ferramentas livres com o objetivo de produzir um ambiente acessível, tanto técnica como financeiramente. Existem diversos ambientes e bibliotecas virtuais, porém, a maioria não foi projetada sob a ótica do design universal, sendo inacessível para alunos com necessidades especiais, notadamente os deficientes visuais, devido a interface predominantemente gráfica destes ambientes, que não são ―traduzidas‖ eficientemente pelos softwares leitores de tela atuais, como por exemplo, ambientes famosos como o ORKUT, Winkipédia, entre outros. 28 1.2. Objetivos O Centro de Apoio Pedagógico Virtual visa o principalmente o atendimento às Pessoas com Deficiência Visual além dos demais interessados. O Virtual CAP pretende ser uma unidade virtual de serviço implantada para o auxílio ao educando com deficiência visual, garantindo às pessoas cegas e de baixa visão o acesso a materiais instrucionais e de cultura geral, com o objetivo de auxiliar o acesso e a permanência na educação. O objetivo inicial é, a partir do Virtual CAP, auxiliar na inclusão dos alunos que ingressaram no ensino regular e que necessitam de apoio, principalmente no que diz respeito ao acesso a conteúdos que possam ajudá-los no acompanhamento e bom desempenho em seus estudos. Após a implantação, pretende-se que haja estímulos necessários para que a troca e compartilhamento das informação possa auxiliar no crescimento em conjunto com as comunidades virtuais participantes para melhorar, acrescentar e atualizar os materiais dispostos inicialmente neste trabalho, garantindo assim um crescimento autônomo e participativo. Como o público alvo é, principalmente, formado por estudantes e demais pessoas envolvidas no processo educacional de deficientes visuais , o Virtual CAP produziu e divulga materiais adaptados, orientações de acessibilidade para o aluno com cegueira e/ou baixa visão, assegurando a promoção do pleno desenvolvimento acadêmico, bem como a integração em seu grupo social (família, escola, comunidade), proporcionando autonomia sociocultural e profissional. Estudantes e professores encontrarão, gratuitamente e em versão integral, uma série de obras literárias de alguns dos mais importantes autores da literatura mundial. Para tanto, basta entrar na página, selecionar o texto e pode ler diretamente na tela através de um sintetizador de voz, escutar diretamente por capítulo arquivos que estão disponibilizados em áudio ou fazer download para imprimir, ler, sem estar conectado. Esse número só não é maior pela dificuldade 29 em se conseguir traduções de alguns títulos que estejam em domínio público. As obras aqui disponibilizadas têm livre circulação por já estarem em domínio público ou por serem liberadas pelos autores e podem ser utilizadas, por exemplo, por escolas para complementar o aprendizado. 1.2.3. Objetivos Específicos Oferecer aos alunos com Deficiência Visual, matriculados na rede de ensino regular, recursos apropriados para desenvolverem atividades relativas à leitura e ao aperfeiçoamento curricular. Promover a melhoria da qualidade de ensino, através da troca de experiências constante de professores especializados na área da deficiência visual ou que lidam com o desafio da inclusão de alunos cegos. Produzir e/ou divulgar materiais didáticos pedagógicos adaptados. Divulgar materiais em áudio que possam ser acessados de qualquer computador conectado a internet. Divulgar materiais em texto em formato que possam ser lidos por sintetizadores de voz. Garantir aos educandos cegos e aos de visão subnormal, acesso aos recursos específicos necessários ao seu atendimento educacional, priorizando inicialmente o ensino de computação; Iniciar uma Comunidade Virtual , que seria um ponto de encontro e um facilitador para a elaboração cooperativa e a ampla divulgação de conteúdos primordialmente acadêmicos. O serviço principal do Virtual CAP é a hospedagem de conteúdos acadêmicos acessíveis aos deficientes visuais. Isto será feita através da disponibilização de uma infra-estrutura que seja útil para a criação cooperativa de conteúdos de vários tipos, mantendo sempre a preocupação com a acessibilidade. 30 1.3. Metodologia A metodologia utilizada baseia-se na pesquisa ação, linha de pesquisa social que é orientada em função da resolução de um problema. Esta metodologia é bastante difundida, principalmente em pesquisas aplicadas à educação e difusão de tecnologia. A pesquisa social é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (Thirollent, 1986) A pesquisa ação, além da participação do objeto de estudo, supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, técnico ou outro. Neste tipo de pesquisa as pessoas implicadas têm algo a ―dizer‖ e a ―fazer‖ e o pesquisador pretende desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos observados. Através da pesquisa-ação é possível estudar dinamicamente os problemas, decisões, ações, negociações, conflitos e tomadas de decisões durante o processo da pesquisa. Esta metodologia foi escolhida pelo fato de permitir uma participação mais ativa das pessoas a serem investigadas na mesma linha do trabalho cooperativo defendido por Freinet ( 2001 ). Inicialmente a pesquisa consistiu-se em determinar o campo de pesquisa, os interessados e suas expectativas, estabelecendo um primeiro diagnóstico, levantamento dos problemas prioritários e eventuais ações. Esta fase teve inicio desde 1994, quando foi iniciado o projeto de iniciação científica em parceria com o Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos de Natal (IERC-RN) sobre o uso do sistema Dosvox no apoio ao deficiente visual, tendo continuidade no Mestrado em 1997 (Rodrigues, 2000), sobre acessibilidade na Internet para deficientes visuais e ferramentas para sua utilização. No início da pesquisa, a grande dificuldade apontada pelos membros do IERC-RN, foi a dificuldade de acesso a material em formato acessível. Mesmo com ferramentas adequadas, chegar a informação através de páginas que não 31 seguem as regras de acessibilidade dificulta ou até mesmo impossibilita, a leitura desses materiais. O uso do Sistema Dosvox, facilitou a criação de textos e materiais didáticos para auxiliar no processo educacional do cego. Nesta época foi desenvolvido o sistema Biblivox (Rodrigues, 1995), que consiste em um sistema gerenciador de acervo bibliográfico de pequeno porte, utilizando síntese de voz. No entanto apesar da ferramenta, o acervo do instituto era muito pequeno e por falta de pessoal e recursos, ele não foi automatizado. Durante o nosso curso de mestrado (1997-2000), os membros do instituto começaram a ter contato com a Internet através da ferramenta Webvox ( Rodrigues, 2000), que mesmo limitada possibilitou o acesso a textos e a outros materiais em formato acessível na Internet, ampliando suas possibilidades. Também através de parceria a UFRN, tornou-se o provedor do IERC-RN. Em 2002, quando iniciávamos, o início do Doutorado, a UFRN recebeu 3 deficientes visuais em seu quadro discente, o que gerou uma grande expectativa perante os docentes: O que fazer? Como recebê-los? Como terão acesso a material didático e a biblioteca? Com o intuito de minimizar as angústias, principalmente dos professores do primeiro semestre desses alunos a Reitoria organizou o I Seminário de Inclusão da UFRN, do qual tivemos a oportunidade de participar da comissão organizadora. Os principais palestrantes são deficientes visuais, que passaram pelo ensino superior e que hoje, são professores de instituições de ensino superior, dando depoimentos sobre suas dificuldades e como elas foram superadas . Em outro momento o Grupo do Centro de Apoio Pedagógico (CAP-RN), do Projeto Dosvox e da Fundação Bradesco deram depoimentos sobre o uso das tecnologias assistivas como forma de minimizar as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais. Durante este seminário, mais uma vez, foi ressaltada a carência de material sobre o assunto, e, sobretudo livros, de disciplinas do ensino superior acessíveis aos deficientes visuais e a dificuldade de adaptar o material disponível. 32 Diversas instituições passaram e passarão por esta situação em diferentes momentos e cada uma irá criar condições para que estes alunos permaneçam em seus quadros da maneira mais adequada possível. No entanto, essas experiências e os materiais criados ficam restritos a um público muito pequeno e seria uma contribuição significativa se pudessem ser compartilhados de algum modo. Existem diversas bibliotecas de livros em Braille e em Fitas, mais seu acesso apesar de público muitas vezes é restrito a comunidade da cidade onde se localizam, normalmente os grandes centros, e aos que habitam em outras localidades ficam restritos a um número ainda menor de bibliotecas que possibilitam um empréstimo especial via correio, o que leva a uma significativa demora na recepção deste material. Tanto que, em relação aos professores e alunos do IERC-RN, quando no seminário de Inclusão da UFRN cogitou-se a mesma solução: a Existência de um Centro Virtual, onde pudessem estar disponibilizados materiais acessíveis ao deficiente Visual com a possibilidade de crescimento do acervo compartilhado entre as diferentes instituições de ensino para que a médio prazo existisse um acervo mínimo sobre as várias áreas de conhecimento. O desafio, portanto, do trabalho constitui-se em como disponibilizar materiais para deficientes visuais, usando como meio principal a Internet, através de um site criado, baseado nos recursos de acessibilidade, e usabilidade utilizando softwares livres como base para seu desenvolvimento. Atualmente, existem diversas bibliotecas virtuais temáticas, porém, ou não foram construídas com base nas normas de acessibilidade ou são sites com repositórios de informações que não fornecem recursos de busca e inclusão de novos materiais. O Centro Virtual para Apoio à Inclusão do Deficiente Visual possui espaços para a disponibilização de softwares (livres), artigos, estudos de caso, áudio livros, espaço para relatos e inserção de novos materiais, materiais didáticos de disciplinas de cursos superiores. Através dele pretende-se contribuir para a minimização deste problema. 33 No entanto, outro desafio é como disponibilizar materiais sem interferir nos direitos autorais. No trabalho, a princípio poucas obras foram disponibilizadas devido a este fato. As obras atuais necessitam da autorização dos autores e editoras para tal fim. Para isso foi verificada a legislação existente sobre direitos autorais versus a obrigatoriedade de disponibilizar materiais acessíveis, esse assunto gera polêmica e infelizmente no âmbito deste trabalho não será possível discutir com profundidade. Inicialmente, a pesquisa foi realizada com o IERC-RN, centro de referência no Rio Grande do Norte em Educação de Deficientes Visuais e na UFRN, nos departamentos que tinham alunos com deficiência visual nas disciplinas de seus cursos e professores que possuíam esses alunos em suas classes. Com a mudança para Salvador tivemos oportunidade também de pesquisar no Instituto de Cegos da Bahia, Universidade Federal da Bahia, UFBA. No Instituto de Cegos da Bahia, com o objetivo de adequar-se às exigências tecnológicas atuais, foi criado o Centro de Informática, no qual o instrutor João Bosco Santa Rosa, deficiente visual e ex-estudante da casa, fornecem aos alunos os conceitos básicos de informática. Outro projeto visitado foi o programa "Informática na Educação Especial" do Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências (CRPD), unidade das Obras Sociais Irmã Dulce, inaugurado em outubro 1993, em Salvador – Bahia, atendendo, de início, somente a alunos residentes no CRPD. Primeiro do gênero, no Estado da Bahia, o Programa ampliou o número e melhorou a qualidade dos atendimentos a partir de março de 1995, com a implantação do novo Laboratório de Informática (10 computadores 486, alguns com multimídia: equipamento de última geração na época), construído por meio de convênio com a CORDE/Ministério da Justiça. O Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências - CRPD, uma unidade das Obras Sociais Irmã Dulce, presta serviços a pessoas com deficiência. As ações do Centro se desenvolvem em três frentes: acolhimento a 130 34 moradores com deficiências múltiplas em um Núcleo Residencial, atendimentos em um Núcleo Ambulatorial (a família também recebe orientações referentes à prevenção e tratamento da deficiência desde a primeira infância) e o Programa InfoEsp - Informática, Educação e Necessidades Especiais, que atende a alunos com necessidades educacionais especiais, moradores do Centro e da comunidade. Figura 2: Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências - CRPD, Fonte: http://www.infoesp.net/ Figura 3: Centro de Reabilitação e Prevenção de Deficiências - CRPD, Fonte: http://www.infoesp.net/ 35 Os resultados finais foram analisados em parceria com o instituto paranaense de cegos IPC e UNIFAE Centro Franciscano de Ensino Superior, instituição na qual trabalho atualmente. 1.3.1. Coleta de Dados 1.3.1.1. Natal _RN Para a coleta inicial de dados foram escolhidas as técnicas de entrevista estruturada coletiva e individual onde através de Reunião com Professores e alunos deficientes visuais das seguintes instituições: Em Natal IERC-RN e UFRN, Em Salvador, ICB, FRB por meio do projeto Internet Comunitária e em Curitiba IPC e UNIFAE. Com relação aos alunos foram entrevistados 72 e cerca de 10 professores de graduação, ensino especial, ensino fundamental e médio que tinham alunos com deficiência visual em suas classes. Inicialmente em Natal foram disponibilizados formulários no formato texto no Dosvox e em papel, no entanto o número de respostas foi muito baixo. Foi marcado então um encontro com os alunos e professores. Com os professores do Instituto de Cegos de Natal, foi realizada uma entrevista coletiva estruturada conforme Anexo A, foram levantados os principais problemas relativos. A entrevista teve o propósito de obter informações relevantes ao processo de inclusão. Especificamente no caso daqueles profissionais, todos tiveram formação para atuar na educação especial, notadamente de alunos com deficiência visual. Suas principais metas são a autonomia do aluno e preparação para inserção no mercado profissional. No entanto a dificuldade de acesso a cursos técnicos e o ingresso no vestibular, dificultam essa meta. Isso ocorre principalmente devido a carência de materiais didáticos específicos para esses alunos, limitando assim seu potencial. Para eles é muito claro que comparando com um aluno vidente de uma escola particular, o aluno cego ainda tem uma formação abaixo do necessário para competir igualitariamente no mercado profissional. O IERCN dá a formação 36 básica, porém a continuidade dela ainda não está no nível desejado, com as dificuldades do processo de inclusão, muitos alunos quando deixam o IERC/RN não concluem seus estudos. Em relação aos alunos foi apresentado o questionário conforme o Anexo B, onde eram perguntadas oralmente as questões, anotadas as respostas e aproveitávamos para fazer comentários. Apesar de o formulário apresentar respostas limitadas, essas eram complementadas, com observações feitas pelos alunos. Além dos formulários e entrevistas, alunos e professores participaram ativamente do processo de seleção dos conteúdos e verificação da acessibilidade nos primeiros protótipos. Uma das vantagens da participação ativa desses alunos foi uma maior familiaridade com a informática, que junto com os cursos de computação oferecidos em parceria com a UFRN, deu novas perspectivas a esses alunos. Dois desses alunos, hoje, são instrutores do IERC/RN, outro aluno administra a associação de cegos e muitos utilizam os conhecimentos adquiridos através do laboratório de informática do instituto. Em relação à UFRN a entrevista foi realizada com alguns professores que estavam ministrando disciplinas, onde em suas classes, existiam alunos com deficiência visual. Ficou evidente, nos resultados a insegurança ao lidar a primeira vez com esses alunos. A maior parte dos professores se mostrou abertos a realizarem adaptações, porém necessitavam de ajuda, somente um foi bem duro em suas colocações: ―Se o aluno passou no vestibular, ele tem condições de acompanhar minha disciplina como os outros. Não vou fazer nenhuma adaptação, nem ficar com pena de ninguém, ele que se vire‖....‖ 37 1.3.1.2.. Em Salvador BA Em Salvador, repetiu-se a aplicação do questionário, no entanto no momento não existiam nenhum aluno com deficiência visual grave na Universidade, o questionário foi aplicado no ICB e nos alunos que participavam do projeto Internet Comunitária da Faculdade Ruy Barbosa. 1.3.1.3. Em Curitiba PR O questionário do Anexo B foi aplicado no IPC e nos três alunos deficientes visuais da UNIFAE e o do Anexo A, aos professores da universidade que ministravam disciplinas a esses alunos. Em Curitiba um fato interessante, todos os alunos que tivemos a oportunidade de conversar no laboratório de informática, eram alunos vindos de Angola, para estudar e se aperfeiçoar no Brasil e voltar como professores de Cegos em seu país de origem. Todos tinham conhecimentos de informática devido a uma parceria com o governo estadual, que alocou um de seus funcionários (cego), para ministrar os cursos e acompanhamento desses alunos o do laboratório. No entanto para os alunos, de origem muito humilde, estar longe de seu país, seus familiares em uma cidade fria, com costumes muito distintos, é uma tarefa muito difícil. Muitos durante a reunião quando lembravam casa, choraram e contaram suas dificuldades para sobreviver à fome e as doenças, a alfabetização se deu somente no Brasil para alguns. Na UNIFAE, ao contrário, os alunos eram de classe média alta, estudaram nos melhores colégios, tinham apoio de professores particulares e apesar das dificuldades sempre tiveram o apoio da família. Na instituição temos um funcionário responsável pela adaptação os materiais e aplicação de provas. Os três que fazem a gradação no momento, não são cegos, possuem visão subnormal. 38 Uma grande vantagem verificada no uso pesquisa-ação foi à capacidade de aprendizagem é associada ao processo de investigação. Neste processo houve um compartilhamento de informações entre especialistas na educação de deficientes visuais e docentes do ensino superior especialistas em um determinado campo de atuação. As experiências mesmo não científicas têm seu valor, muitas delas realizadas nos institutos de cegos ou por professores da educação fundamental e ensino médio com larga experiência no processo de inclusão de deficientes visuais, são de estimado valor e precisam ser compartilhadas com os demais profissionais envolvidos no processo de ensino aprendizagem. Como parte dos objetivos da construção do Virtual CAP, pretende-se divulgar essas informações aos setores pesquisados. O retorno é importante para estender o conhecimento e fortalecer a convicção que no processo de coleta de dados e observação, os elementos envolvidos e não serem vistos apenas como um experimento, mais como uma parte fundamental para o início do trabalho e ainda mais importante para a continuidade. Como hipótese, supõe-se que o centro virtual de apoio ao deficiente visual pode contribuir para que de forma cooperativa em médio prazo possam ser disponibilizados materiais acessíveis ao deficiente visual. A meta pode ser ousada, mais pretende-se formar uma rede de informações rede sobre inclusão do deficiente visual. 39 Delimitações do Trabalho O presente trabalho baseou-se em alunos com deficiência visual, como o número desses alunos no ensino superior ainda é muito pequeno, buscou-se complementar a pesquisa com alunos do ensino fundamental e médio que freqüentam o Instituto de Cegos de Natal, Instituto de Cegos da Bahia, Instituto Paranaense de Cegos, além dos alunos da UFRN e UNIFAE. O desenvolvimento do CAP é um protótipo, baseado na engenharia de usabilidade e testado de acordo com as recomendações de acessibilidade em vigor. O conteúdo está em constante atualização e pretende-se que seu crescimento seja espontâneo, contando com a colaboração de voluntários e a troca de experiência. 40 CAPITULO II "Não há nada impossível, porque os sonhos de ontem são as esperanças de hoje e podem converter-se em realidade amanhã." (dito popular) 2. Inclusão Digital – Do Extermínio à Inclusão 2.1. Introdução Em muitos aspectos, o conceito que se tem sobre deficiência reflete a maturidade cultural de uma sociedade. O julgamento que diferencia deficientes de não deficientes procura, de alguma forma, afastar ou excluir os indesejáveis, cuja presença ofende, ameaça, incomoda. Ainda hoje ser criança, velho e mulher em muitas sociedades, constitui-se em uma condição de subalternidade. O mesmo se passa em relação à cor da pele, etnia, grupos religiosos ou políticos, em que o racismo e o preconceito que tem servido de justificativa para a dominação de um povo sobre outro. Lamentavelmente, esses fatos são retratados em toda a história da humanidade e vivenciados em nosso presente, embora se possa registrar algum avanço nas leis e nos sistemas de serviços a população no tocante à organização da sociedade. Atualmente, a inclusão tornou-se um lema em educação especial, porém, apesar dos avanços das pesquisas, dos tratamentos e da criação de tecnologias assistivas para o apoio aos alunos com necessidades especiais. A grande maioria ainda continua a receber uma educação segregada em escolas especiais, no entanto, conforme o gráfico da figura 4 podemos ver uma evolução: um decréscimo no atendimento em escolas especiais e um considerável aumento nas escolas regulares, não temos, no entanto, dados se esta mudança da escola especial para a regular foi também acompanhada de aumento da qualidade e satisfação dos alunos, ou o processo de inclusão ainda é algo ―forçado por lei‖ para ambos os lados. 41 Figura 4: Evolução de Matrículas Inclusivas. Fonte (MEC/INEP) (http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dadosed.pdf) 42 2.2. Evolução da Educação Especial A história da humanidade, no tocante à forma como se consideram e integram os deficientes, passou por diferentes estágios que vão desde as sociedades primitivas, onde predominava a exclusão e o extermínio, passando pela sociedade judaica cristã, onde prevaleciam atitudes assistencialistas até o ideal da inclusão e de uma sociedade para todos. Estas fases não se sucedem de forma cronológica, pois elas ainda coexistem em maior ou menor grau nas diversas sociedades. Amaral(1994) resume as atitudes em relação aos deficientes, caracterizando-as como: Ataque, isto é, extermínio, eliminação de indivíduos deficientes. Ou através da fuga, caracterizada pelas atitudes assistencialistas, porém preconceituosas de rejeição que podem ser visualizadas na forma de abandono direto ou indireto, quando não se investe amor, energia, dedicação nem tempo para a superação ou abrandamento das limitações ou de negação onde se retira do deficiente a possibilidade de superação, mascarando a realidade e superprotegendo o indivíduo. E finalmente a fase de aceitação que todos possuímos talentos e limitações, a compreensão e aceitação das diferenças. 2.2.1. Fase de Extermínio Esta fase, apesar de cruel e desumana, ainda coexiste em diversas sociedades. Desde a antigüidade a loucura, a velhice, bem como qualquer tipo de deficiência oscilou entre dois pólos bem contraditórios: ou era sinal da presença dos deuses ou dos demônios. No passado, a sociedade desenvolveu quase sempre obstáculos à integração das pessoas deficientes. Nas sociedades primitivas, uma das principais características dos povos estava no nomadismo, sendo que o atendimento de suas necessidades estava totalmente na dependência do que a natureza lhes proporcionava, como por exemplo, a caça, a 43 pesca e a coleta. Em virtude da característica cíclica da natureza, totalmente fora de controle dos homens, eles eram obrigados a constantes deslocamentos, razão pela qual era necessário que cada um se bastasse por si e ainda colaborasse com os outros. Evidentemente, alguém que não se enquadrava no padrão social de normalidade, acabava sendo um empecilho, um peso morto, abandonado, sem que isso causasse culpa. Seria uma espécie de "Seleção Natural" (Fonseca, 1989). Somente com a evolução das sociedades e das condições de vida, pode- se pensar em solidariedade e amor ao próximo, que foram responsáveis, em parte, pela nossa ―humanização‖. Na Antigüidade, a sociedade grega, com sua estrutura social onde os escravos garantiam a infra-estrutura necessária para que os homens livres praticassem o ócio, definido por Platão como: " estar livre da necessidade de estar ocupado". Isto possibilitou ao homem pensar de forma sistematizada, e influenciou a sociedade ocidental. Na medida em que os gregos se dedicavam predominantemente às guerras, valorizando a ginástica, a dança, a estética, a perfeição do corpo, a beleza e a força acabaram por transformar-se num grande ideal. Se, ao nascer, uma criança apresentasse qualquer manifestação que pudesse atentar contra este ideal, sofriam atitudes que iam do abandono nas florestas, para morrerem devoradas por animais ou por inanição, no caso de Atenas ou ao aniquilamento nos desfiladeiros, como era o caso de Esparta (Bianchetti, 1998). Coerentemente com esse sistema, Platão chegou a afirmar: "As mulheres dos nossos militares são pertença da comunidade, assim como os seus filhos, e nenhum pai conhecerá o seu filho e nenhuma criança os seus pais. Funcionários preparados tomarão conta dos filhos dos bons pais, colocando-os em certas enfermarias de educação, mais os filhos dos inferiores, quando surjam deficientes ou deformados, serão postos fora, num lugar misterioso e desconhecido, onde deverão permanecer". (Fonseca, 1989). 44 Em relação aos deficientes visuais, a presença da luz sempre esteve associada a situações favoráveis, a acontecimentos felizes e à inteligência, ao passo que a ausência dela às trevas, ao sinistro, ao mal. Nas sociedades primitivas supunha-se que a luz brotasse de dentro para fora e que as pessoas cegas não fossem capazes de produzi-la, firmando um vínculo entre a cegueira e poderes malignos. (Dall' Aqua, 2002) 45 2.2.1. Fase do Assistencialismo Com a difusão do Cristianismo, aparentemente encerrava-se a fase em que os indivíduos eram eliminados e tem início um período onde eles eram vistos como filhos de Deus e, como um dos princípios do Cristianismo é o amor incondicional ao próximo, esses indivíduos passaram a ser protegidos, acolhidos normalmente junto a paróquias, mediante pequenos serviços. (Dall' Aqua, 2002). Surgiu então uma mentalidade que suportou a deficiência, desde que uma aura mística circundasse aqueles que dedicavam sua vida a assistência a esse seguimento da população e desde que as pessoas deficientes ficassem convenientemente confinadas em guetos ou instituições. A fase assistencialista foi baseada nas premissas de proteção e repulsa, solidamente plantada no terreno da caridade religiosa (Amaral,1994). No entanto, o apedrejamento ou morte nas fogueiras da Inquisição das pessoas deficientes que eram consideradas como possuídas pelo demônio, eram fatos comuns e aceitos pelos demais. A própria religião, com toda a sua força cultural, ao colocar o homem como " imagem e semelhança de Deus", ser perfeito, colocavam os deficientes a margem da condição humana. Por outro lado o consenso pessimista de que a condição do deficiente é imutável, levou a omissão completa da sociedade em relação a serviços educacionais para atender às necessidades desta parcela da população (Mazzota, 2001) O próprio Cristianismo, representado pela Igreja Católica, religião dominante na Europa da Idade Média tinha dois posicionamentos bem distintos sobre as pessoas com deficiência: Num primeiro posicionamento, explicavam que a existência de cegos, mudos, loucos, paralíticos e leprosos decorria da visão, que eles eram instrumentos de Deus para alertar os homens sobre comportamentos pecaminosos ou para dar-lhes a oportunidade de fazer caridade. Assim "a desgraça de uns, proporcionava meios para a salvação de outros". Essa postura pode ser vista em diversos trechos da Bíblia, como por exemplo, quando um dos discípulos pergunta a Jesus quem havia atentado contra os mandamentos para que o cego nascesse com aquele pecado. Eis sua resposta: ―Nem ele pecou, nem 46 seus pais, mas foi assim para que se manifestassem nele as obras de Deus" (João 9:3). Segundo os ensinamentos contidos na Bíblia, dos 22 milagres com curas e exorcismo creditados a Jesus, oito referiam-se à cura, surdos, mudos e gagos, sendo que os outros se referiam a paralisias e possessões. (Bianchetti, 1998) Em outra perspectiva, o corpo era o "templo da alma" e, se esse estava corrompido era tachado de oficina do diabo, sendo sinônimas de pecado, cujas curas sugeridas iam desde jejuns, abstinência, autoflagelação e, principalmente a fogueira. No século XVIII, as noções a respeito da deficiência estavam ligadas, ou seja, atreladas ao misticismo, ao ocultismo, não havendo nenhuma base científica para o desenvolvimento do conhecimento sobre a deficiência. O fatalismo teológico, aliado à superstição e ao medo eram os grandes dilemas da Idade Média perante as pessoas consideradas anormais, caracterizando a oscilação dos comportamentos. Já no século XIX e princípio do século XX, foi utilizada a esterilização como método para evitar a reprodução desses "seres imperfeitos" e aconteceu, em plena época do nazismo hitleriano, a aniquilação pura e simples das pessoas com deficiência, que não correspondiam à " pureza" da raça ariana. Paralelamente a estas atitudes extremas de aniquilamento, o isolamento desses indivíduos em grandes asilos eram as atitudes preponderantes. As investigações sobre este período da história mostram que, até o final do século XIX, diversas expressões eram utilizadas para referir-se ao indivíduo com alguma necessidade especial como "incapacitado", "aleijado", "doido", "inválido", "imperfeito", "demoníaco", etc. Vale ressaltar que a ignorância da população, associada ao medo e ao preconceito, bem como à falta de conhecimento e investigação científica contribuiu para esses indivíduos permanecessem marginalizados, discriminados e, até mesmo fossem exterminados (Gilvan Milhomem, 2002) 2.3. Fase da Educação Especial ou Educação Segregada 47 A transição do Feudalismo para o Capitalismo vai trazer mudanças profundas que vão repercutir em todas as direções. O ponto de partida para a educação de deficientes foi através da obra de Jean-Paul Bonet, que foi editada na França em 1620, com o título " Redação das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a Falar‖. Constata-se, também, a primeira instituição especializada para a educação de surdos-mudos em Paris, fundada pelo abade Charles M. Eppée, em 1770, em Paris. O abade inventou um método de sinais destinado a completar o alfabeto manual. Sua obra escrita mais importante foi publicada em 1776, com o título "A Verdadeira Maneira de Instruir Surdos-Mudos‖. O Alemão Samuel Heinecke inventou o método oral para ensinar os surdos-mudos a ler, mediante o movimento normal dos lábios, hoje denominado leitura labial ( Mazzota 2001, Bianchetti, 1998). Outro trabalho importante vai ser a descoberta e a tentativa de integração a sociedade francesa do início do século XIX, de Vítor, mais conhecido como o ―selvagem de Aveyron‖, um menino de 12 anos, selvagem, capturado na floresta de Aveyron, no sul da França por volta de 1800. O médico Jean Marc Itard, publicou um livro em 1801 onde registrou suas tentativas de educação e integração deste indivíduo, que foi considerado como um deficiente mental, que é tido como o primeiro manual de educação de deficientes mentais e intitulado de ―L' Education d'um Homme Sauvage‖. O trabalho de Itard mostra a eficácia da instrução individual associada à integração com a sociedade. Itard vai assumir muito tempo de sua vida a esta tarefa, assumida por ele como uma missão, sendo que seu relato de avanços e fracassos constitui-se numa das mais belas páginas da história da educação especial, estabelecendo-se as suas bases. A metodologia de ensino de Itard ainda hoje é considerada moderna e ele é conhecido, por alguns estudiosos como o " Pai da Educação Especial "(( Mazzota 2001, Bianchetti, 1998). As duas grandes guerras mundiais originaram um número assustador de mutilados e perturbados mentais. As sociedades atingidas obrigam-se a um novo olhar sobre si mesmo, confronta-se com a necessidade de assumir responsabilidades e se empenham na procura de respostas possíveis. Assiste-se 48 a uma fase de renascimento humanista, que atinge seu apogeu no século XX ( Correia, 1999 ). Com a valorização dos direitos humanos, surgem os conceitos de igualdade de oportunidades, direito a diferença, justiça social e solidariedade. Organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU), UNESCO, Organização Mundial da Saúde(OMS), Organização Internacional para o Trabalho (OIT) e a Reabilitação Internacional, passam a defender as pessoas com algum tipo de deficiência, como tendo os mesmos direitos e deveres de todos os outros cidadãos, e entre eles, o direito à educação, à participação na vida social e à sua conseqüente integração escolar e profissional. A educação especial passa, assim, neste século, por grandes reformulações, como resultado de uma revisão gradual da teoria educativa e de uma série de decisões legais históricas que asseguram que a escola está à disposição de TODOS os indivíduos, em igualdade de condições. Constituindo-se, obrigação da sociedade proporcionar condições de um ensino público e gratuito de qualidade adequado às suas necessidades. É exemplo, nos Estados Unidos, a decisão do " Caso Brown", que em 1954 desafiou a prática vigente da escola segregada, de acordo com a raça. Em 1972 pais de 13 crianças com deficiência mental, através da ―Pennsylvania Association Retarded Children‖, contestando uma lei estadual que negava a educação em escolas públicas de crianças ― incapazes de freqüentá-las", argumentaram que seus filhos, embora possuíssem déficits intelectuais, não eram ineducáveis, nem podiam ser objetos de exclusão dos programas da escola pública. O tribunal decidiu a seu favor abrindo novas perspectivas para alunos com outros tipos de limitações. (Correia, 1999). Após diversos encontros e acordos internacionais, como a Declaração de Salamanca, hoje a maioria dos países adotam pelo menos teoricamente a responsabilidade de fazer com que toda criança com necessidade especial, não importando o grau de sua problemática, receba educação apropriada, pública e gratuita, de acordo com suas características e necessidades especiais. 2.4. Integração 49 Ao longo dos séculos, as sociedades foram sofrendo uma série de transformações, quanto às atitudes dispensadas às pessoas com deficiências como visto no capítulo 1. As primeiras escolas de Educação Especial foram voltadas em primeiro plano para os deficientes sensoriais, porque, à época, eram comuns os cegos e surdos ilustres, assim como era relativamente fácil encontrar cegos com memória excepcional, que cantavam que conheciam música, que faziam uma série de maravilhas. Em meados do século XX, observa-se um movimento que tende a aceitar as pessoas deficientes e a integrá-las tanto quanto possível à sociedade. Este movimento tem início, nos países escandinavos, mais precisamente na Dinamarca, em 1959, quando foram questionadas as práticas sociais e escolares de segregação, assim como as atividades sociais em relação às pessoas com deficiência intelectual. Para Sassaki (1997). ― A idéia de integração surgiu para derrubar a prática de exclusão social a que foram submetidas às pessoas deficientes por vários séculos. A exclusão ocorria em seu sentido total, ou seja, as pessoas portadoras de deficiências eram excluídas da sociedade para qualquer atividade porque antigamente elas eram consideradas inválidas, sem utilidade para a sociedade e incapazes para trabalhar, características estas atribuídas indistintamente a todos que tivessem alguma deficiência. ‖. Existem três elementos básicos que contribuem para sistematizar e orientar atitudes educacionais no sentido de integração do aluno com necessidades especial no ambiente escolar. 1. Integração Temporal — é a convivência na classe regular, de preferência realizada de forma gradativa e devidamente preparada. Esta situação pressupõe a preparação da criança e do ambiente, isto é, da classe, da escola, da administração para receber o aluno. 50 2. Integração Instrucional — condições favoráveis na sala regular que facilitem o processo ensino aprendizagem. Esta situação vai depender de três situações básicas: As características do aluno devem ser compatíveis com as oportunidades oferecidas às crianças que freqüentam as classes comuns; a compatibilidade das características do aluno com necessidades especiais com as oportunidades de ensino-aprendizagem vai depender muito da habilidade e da boa vontade da professora da classe regular para modificar ou adotar novos métodos e processos de trabalho mais adequados as necessidades do aluno; os serviços e recursos especiais oferecidos devem ser compatíveis com as necessidades do processo ensino-aprendizagem dos alunos. 3. Integração Social — refere-se ao relacionamento entre o aluno com necessidades especiais e seus companheiros. Os elementos da integração, acima citados, já deixam claro que neste processo, a criança PNE é que deve se adaptar ao ambiente escolar e não este se adequar para atender às necessidades daquela. O modelo de cascata apresentado na figura 5 se traduz por uma estrutura que deve favorecer o ambiente o menos restritivo possível, dando oportunidade ao aluno, em todas as etapas da integração, para transitar no sistema. O modelo de cascata trata-se de uma concepção de integração parcial porque prevê serviços segregados que não ensejam o alcance dos objetivos da normalização. De fato os alunos que se encontram em serviços segregados dificilmente se deslocam para os menos segregados e, raramente às classes regulares. 51 Nível 1: Aluno permanece na classe regular. Professor do ensino regular recebe orientações do professor de educação especial (consultor e de quaisque outrs especialistas tidos como necessários. Professor do Ensino Regular dirige programa de intervenção. Nível 2: Aluno permanece na sala regular, recebendo apoio direto do professor de educação especial (itinerante). Programa dirigido do professor do ensino regular com colaboração do professor de educação especial. Nivel 3: Aluno frequenta classe regular e sala de apoio. Programa de intervenção dirigido pelo professor do ensino regular e pelo professor de educação especial. Nível 4: Aluno frequenta sala de apoio. Programa de intervenção dirigido pelo professor de educação especial. Nível 5: Aluno frequenta escola especial. Programa elaborado por especialistas entre os quais a figura do professor de educação especial. Nível 6: Aluno recebe serviços de educação especial no seu domicílio. Programa elaborado por especialistas. Nível 7: Aluno recebe serviços de educação especial em instituições especializadas: hospitais, internatos, lares. Etc. Programa elaborado por especialistas Figura 8: Modelo em Cascata Maior gravidade do problema Meio Menos Restritivo Número de alunos 52 Portanto, segundo este modelo, a pessoa deficiente é que precisa ser curada, tratada, reabilitada, habilitada etc. a fim de ser adequada à sociedade como ela é sem maiores modificações. (Sassaki, 1997) Para esse mesmo autor, o modelo médico da deficiência tem sido responsável, em parte, pela resistência da sociedade em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para incluir em seu seio as pessoas portadoras de deficiência e / ou de outras condições atípicas para que estas possam, aí sim, buscar o seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e profissional. Sassaki ainda acrescenta que a prática da integração social ocorria e ainda ocorre de três formas: Pela inserção pura e simples daquelas pessoas com necessidades especiais que conseguiram ou conseguem, por méritos pessoais e profissionais próprios, utilizar os espaços físicos e sociais, bem como seus programas e serviços, sem nenhuma modificação por parte da sociedade, ou seja, de escola comum, da empresa comum, do clube comum. Pela inserção daqueles que necessitavam ou necessitam alguma adaptação especifica no espaço físico comum ou no procedimento da atividade comum a fim de poderem, só então, estudar, trabalhar. Pela inserção em ambientes separados dentro dos sistemas gerais. Por exemplo: classe especial numa escola comum, setor separado dentro de uma empresa comum. Sassaki vai ainda mais longe ao dizer que nenhuma dessas formas de integração social satisfaz plenamente os direitos de todas as pessoas, pois a integração pouco ou nada exige da sociedade em termos de modificação de atitudes, de espaços físicos, de objetos e de práticas sociais. No modelo integrativo, a sociedade, praticamente de braços cruzados, aceita receber o aluno com necessidades especiais desde que estes sejam capazes de moldar-se aos requisitos e serviços especiais separados (classe especial, escola especial etc.). Enfim, a integração significa a inserção da pessoa com necessidades especiais preparada para conviver na sociedade, esta deve se adaptar ao meio. Neste tipo 53 de inserção a escola oculta o seu fracasso, isolando os alunos e integrando somente os que não constituem um desafio à sua competência. 2.5. . Os Novos Paradigmas: Da Integração a Inclusão A questão terminológica entre integração e inclusão, por muitas pessoas considerada desnecessária, é importante para a compreensão das mudanças que vêm sendo propostas no que se refere ao tratamento dado às pessoas com deficiência. Como foi visto nos itens anteriores, desde as fases do extermínio, como no caso dos espartanos, que eliminavam as crianças mal formadas ou deficientes, passando pelo conformismo piedoso do Cristianismo, até a segregação e marginalização dos esconjurados da Idade Média, a perspectiva da deficiência andou sempre ligada às crenças sobrenaturais, demoníacas e supersticiosas, que culminavam em dois tipos de atitudes: da eliminação, menosprezo e destruição, à proteção e assistencialismo No século XIX, uma nova perspectiva educacional para o deficiente foi marcada com a experiência realizada pelo médico francês Itard. Encarregado pela academia de observar uma criança que havia sido encontrada perdida num bosque, apresentando hábitos de animal selvagem e características de subnormalidade, nesta experiência mostrou que pessoas deficientes eram capazes de aprender. Itard, pela primeira vez, registrou um trabalho de intervenção dentro de uma perspectiva educacional, desenvolvendo meios para atendimento de deficientes, nascendo à pedagogia especial, que foi à base dos trabalhos das primeiras instituições de ensino especial. . A partir dos avanços das Ciências Médicas, da Psicologia e de outras ciências afins, as pessoas com deficiência deixaram de ser tratadas como seres possuídos, como videntes, ou como desvalidos, castigados por Deus. A deficiência passou a ser considerada como assunto médico, e como tal, diagnosticada e estudada como doença. Essa é a raiz do paradigma de reabilitação, que traz como princípio a idéia da recuperação ou aquisição de funções, tendo como parâmetro o que é considerado normal. Este modelo médico designa ao deficiente o papel de desamparado e passivo, de paciente, no qual é 54 considerado dependente do cuidado de outras pessoas, incapaz de trabalhar, isento dos deveres normais, levando vida inútil, como está evidenciado no termo, ainda comum, de "inválido". (SASSAKI 1997) Os tratamentos destinados a essas pessoas, então, colocam como meta os padrões de normalidade, que devem ser buscados o máximo possível para que o indivíduo reabilitado possa integrar-se à sociedade. Daí vem à origem do conceito de integração, integrar-se é uma via de mão única onde cabe à pessoa deficiente modificar-se para poder dar conta das exigências da sociedade. (SASSAKI 1997). A integração transfere ao portador de deficiência a maior responsabilidade sobre sua adaptação, modificando pouca a estrutura da sociedade, pois ele é que precisa ser curado, tratado, reabilitado, habilitado, a fim de se adequar à sociedade como ela é sem maiores modificações. Esse modelo tem sido em parte responsável pela resistência da sociedade, em aceitar a necessidade de mudar suas estruturas e atitudes para incluir em seu seio as pessoas deficientes, pois a normalização, segundo Mantoan (1998), visa tornar acessíveis às pessoas socialmente desvalorizadas condições e modelos de vida análogos aos que são disponíveis de um modo geral ao conjunto de pessoas de um dado meio ou sociedade‖. A década de 60 testemunhou um aumento significativo de instituições especializadas, tais como, escolas especiais, centros de reabilitação e habilitação, oficinas protegidas de trabalho e associações desportivas especiais, ainda sob a perspectiva do isolamento, da separação de indivíduos deficientes do normais. Porém com a existência dessas associações, começa a surgir à união desses grupos e a defesa de seus direitos como cidadãos e, no final da década de 60, o movimento pela integração social começou a procurar inserir as pessoas com deficiência nos sistemas sociais gerais como educação, trabalho e lazer, procurando à integração desses indivíduos a sociedade e não seu isolamento. Essa nova abordagem foi à precursora da inclusão. Na década de 70, a normalização passou a significar o processo de normalizar serviços e ambiente e "condições de vida" aos deficientes, o mais semelhante possível às formas e condições de vida do resto da sociedade. Isso 55 significou criar, para as pessoas atendidas em instituições ou segregadas de algum modo, ambientes o mais parecido com aqueles vivenciados com a população em geral, criando um mundo separado, embora muito parecido com aquele em que vive qualquer outra pessoa "normal". Na década de 80 outro conceito surgiu avançando um pouco mais na tentativa da integração, na área de educação especial. Surge o conceito de “mainstreaming”, que significava aproximar o aluno o máximo possível dos serviços educacionais disponíveis na comunidade. O mainsteaming poderia ocorrer em classes regulares, durante o almoço, em atividades extracurriculares e matérias específicas como música, artes, educação física etc. Com freqüência, o estudante era colocado em várias classes, por exemplo, 3ª série de matemática, 5ª série de português e na aula de educação física da 4ª série, assim ele nunca pertencia realmente a nenhuma turma, era uma simples colocação física dele em várias salas comuns, sem que a escola tivesse uma atitude inclusiva. No entanto, essa prática estava associada ao movimento de desistitucionalização, abrindo espaço e adquirindo conhecimentos importantes para experiências de integração e o surgimento do paradigma da inclusão. Esse movimento teve grande impulso com o surgimento da luta pelos direitos das pessoas deficientes. (Amaral, 1994) Na integração, os termos deficientes ou portadores de deficiência são substituídos por alunos com necessidades especiais ou portadores de necessidades especiais. Este termo, segundo Correia (1999), responde ao princípio da progressiva democratização das sociedades, proporcionado uma igualdade de direitos, nomeadamente no que diz respeito a não discriminação por razões de raça, religião, opinião, características intelectuais e físicas a todo indivíduo em idade escolar. Há uma necessidade educativa especial quando um problema (físico, sensorial, intelectual, emocional, social ou qualquer combinação dessas problemáticas) afeta a aprendizagem, sendo necessários acessos especiais ao currículo, currículo especial ou modificado, ou a condições de aprendizagem 56 especialmente adaptadas para que o aluno possa receber uma educação apropriada, tal necessidade educativa pode ser leve ou severa, permanente. Figura 5: Problemáticas associadas às necessidades educativas especiais Pode ainda manifestar-se durante uma fase do desenvolvimento do aluno. Por tanto esse conceito abrange TODOS os alunos que se encontram em situações atípicas, isto é, que não acompanham o currículo normal, sendo necessário proceder a adaptações curriculares, de acordo com a problemática do aluno, isso significa que TODOS os alunos têm direitos a um programa de educação público e gratuito, num meio de aprendizagem mais adequado às suas necessidades, ritmos e estilo e a escola deve estar preparada para dar uma resposta eficaz ao aluno. Necessidades Educativas Especiais (NEE) Físicas Sensoriais Intelectuais Emocionais Dificuldades de Aprendizagem 57 Necessidades Educativas Especiais Permanentes Exigem adaptações generalizadas do currículo, adaptando-o às características do aluno. As adaptações mantêm-se durante grande parte ou durante todo o percurso escolar do aluno Temporárias Exigem modificação parcial do currículo escolar, adaptando-o às características do aluno num determinado momento de seu desenvolvimento Figura 6:Tipos de necessidades educativas especiais 58 De acordo com Sassaki (1997), a "idéia de integração surgiu para derrubar a prática da exclusão social a que foram submetidas às pessoas deficientes por vários séculos. A exclusão ocorria em seu sentido total, ou seja, as pessoas deficientes eram excluídas da sociedade para qualquer atividade porque antigamente elas eram consideradas inválidas, sem utilidade para trabalhar". Além do significado místico e religioso que sempre os acompanhou. O processo de integração tem como objetivo incorporar física e socialmente as pessoas deficientes, a fim de usufruírem os bens socialmente produzidos, habilitando-as, oferecendo-lhes os instrumentos contemporâneos para o exercício da cidadania. Correia (1999) define a integração como a prática de inserir física, socialmente e pedagogicamente o aluno com necessidades especiais na escola regular, promovendo um ambiente educativo que possa oferecer-lhe as melhores oportunidades de progredir, favorecendo as relações sociais, consistindo no reconhecimento do direito do aluno a freqüentar a escola regular. A integração efetiva deve possuir três elementos básicos no sentido de sistematizar e orientar atitudes educacionais frente ao aluno com necessidades educacionais no ambiente escolar: Integração Temporal: é a convivência dos alunos especiais na classe regular, de preferência realizada de forma gradativa e devidamente preparada. Esta situação pressupõe a preparação da criança e do ambiente, isto é, da escola, da administração para receber o aluno. Integração Instrucional: oferta de condições favoráveis na sala regular, que facilite o processo de ensino aprendizagem. Integração Social: refere-se ao relacionamento entre o aluno e seus companheiros de sala e do ambiente educacional como um todo. O processo de inclusão passou a ser disseminado e incentivado, a partir da Conferência Mundial sobre Educação para Todos em 1990. Nesta conferência, as Nações Unidas garantiam a democratização da educação, independente das diferenças particulares dos alunos. Foi a partir desta Conferência que o 59 movimento de educação inclusiva começou a tomar força. Em 1994, na Conferência sobre as Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca, na Espanha, representantes de 92 governos e 25 organizações internacionais reuniram-se com o objetivo de promover a Educação para Todos. A inclusão constitui um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade, buscam em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para TODOS. A prática da inclusão repousa em princípios além então considerados incomuns, tais como a aceitação das diferenças individuais, a valorização do indivíduo, a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação. Neste processo, todos têm um papel relevante: comunidade, estado, família, escola e alunos, no que tange ao desenvolvimento. Figura 7: Sistema Inclusivo Centrado no Aluno. Fonte Aluno Desenvolvimento, Acadêmico Socioemocional e Pessoal Estado Escola Comunidade Família 60 Surge, assim, uma nova realidade, em que o aluno com necessidades especiais tem o direito sempre que possível, de ser educado na classe regular. É responsabilidade da escola e do sistema educacional modificar o processo de ensino aprendizagem de modo a encontrar respostas que possam atender a TODAS as necessidades educativas. No entanto, é freqüente, encontrarmos alunos em salas regulares sem qualquer tipo de apoio. A simples colocação de uma pessoa com necessidades educativas especiais na classe regular não é, de forma alguma, garantia de sucesso escolar. Pelo contrário, caso a escola não consiga proporcionar-lhe uma educação apropriada, o simples ato de inseri-la em uma classe regular será um ato irresponsável. O princípio da inclusão não deve ser tido como um conceito inflexível, mas deve permitir que um conjunto de opções seja considerado sempre que a situação exija. Acreditamos que a inclusão do aluno especial sempre que isso seja possível, de acordo com cada caso a permanência em tempo integral na classe regular talvez, não seja a modalidade de ensino mais eficaz em determinado momento. O aluno deve ter o direito de receber TODOS os serviços educativos possíveis, adequados às suas características e necessidades. Esses serviços devem ser complementados com tarefas que envolvam uma participação comunitária, que possibilitem ao aluno o desenvolvimento de aptidões inerentes ao cotidiano de cada um, como lazer, emprego, ajustamento social, independência pessoal, etc. Nossa opinião é que, a inclusão baseia-se, nas necessidades específicas do indivíduo, vista como um todo, e não apenas no seu desempenho acadêmico comparado muitas vezes com o desempenho do aluno médio. É importante que os educadores aceitem a responsabilidade de educar TODOS os alunos, não obstante sua problemática. No entanto, muitos ainda não aceitam alunos especiais no ensino regular, pois não se sentem preparados para responderem às necessidades especiais de tais alunos A falta de serviços que eventualmente sejam necessários para atender às necessidades especiais dos alunos poderá por em risco uma educação apropriada que o leve a maximizar seu potencial. 61 De acordo com a Declaração de Salamanca( Brasil, 1994b), as escolas regulares que seguem a orientação inclusiva constituem-se nos meios mais capazes para combater as atitudes discriminantes, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporciona uma educação mais adequada à maioria das crianças. A colocação de crianças em escolas especiais, ou em aulas ou classes especiais, deve ser considerada como medida excepcional, indicada unicamente para aqueles casos em que fique claramente demonstrado que a educação nas aulas regulares é incapaz de satisfazer as necessidades pedagógicas e sociais do aluno, ou para aqueles casos em que essa opção seja indispensável ao bem estar da criança deficiente. A inclusão propõe uma nova escola, consciente da diversidade dos seres humanos. De forma resumida Sassaki, (1997b) define a integração como a inserção da pessoa deficiente preparada para conviver em sociedade e a inclusão como a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer a cidadania. Na declaração de Salamanca o princípio fundamental da escola inclusiva consiste em que todas as pessoas devem aprender juntas, onde querem que isso seja possível, não importando quais dificuldades ou diferenças elas possam ter. Escolas inclusivas precisam reconhecer e responder às necessidades diversificadas de seus alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando educação de qualidade para TODOS, mediante currículos apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parcerias com as comunidades. Nas escolas inclusivas, os alunos devem receber todo o apoio extra que eles possam requerer para garantir sua educação. As escolas especiais podem servir como pontos de referência e centros de treinamento para os profissionais de escolas regulares. A preparação de profissionais constitui um fator primordial para o sucesso das políticas educacionais inclusivas. A socialização deste conhecimento através de um canal de comunicação, como a Internet, pode possibilitar uma maior divulgação de experiências. 62 A educação inclusiva significa, portanto, a provisão de oportunidades eqüitativas a todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiências severas, para que recebam serviços educacionais eficazes, com os recursos suplementares necessários de auxílio e apoio, em classes adequadas à idade em escolas da vizinhança, a fim de prepará-los para uma vida produtiva, como membros plenos de uma sociedade. É necessária uma compreensão do fato de que não é necessário que todos os estudantes tenham a mesma meta institucional para aprenderem juntos em classes comuns. Educação Inclusiva é uma atitude de aceitação das diferenças, não uma simples colocação em sala de aula. De acordo com Sassaki um dos principais benefícios da educação inclusiva é proporcionar aos alunos de forma geral a compreensão da diversidade individual. 2.6. Educação Inclusiva - Uma Escola para TODOS. A chamada educação inclusiva teve início nos Estados Unidos através da Lei Pública 94.142, de 1975. Por educação inclusiva entende-se o processo de inclusão de alunos com necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus. O processo de inclusão se refere a um processo educacional que visa estender ao máximo a capacidade da criança portadora de deficiência na escola e na classe regular. Envolve fornecer o suporte de serviços da área de Educação Especial através dos seus profissionais. A inclusão é um processo constante que precisa ser continuamente revisto (Leny, 2006) A educação inclusiva é um processo em que se amplia a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam à diversidade de alunos. É uma abordagem humanística, democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos. A Educação Inclusiva atenta a diversidade inerente à espécie humana, busca perceber e atender as necessidades educativas especiais de todos os 63 sujeitos-alunos, em salas de aulas comuns, em um sistema regular de ensino, de forma a promover a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de todos. Para uma prática pedagógica coletiva, dinâmica e flexível requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação humana dos professores e nas relações família-escola. O ensino inclusivo não deve ser confundido com educação especial, a qual se apresenta numa grande variedade de formas incluindo escolas especiais, unidades pequenas e a integração das crianças com apoio especializado. O ensino especial é desde sua origem um sistema separado de educação das crianças com deficiência, fora do ensino regular, baseado na crença de que as necessidades das crianças com deficiência não podem ser supridas nas escolas regulares. Existe ensino especial em todo o mundo sejam em escolas de freqüência diária, internatos ou pequenas unidades ligadas à escola de ensino regular. De acordo com o Seminário Internacional do Consórcio da Deficiência e do Desenvolvimento (International Disability and Development Consortium - IDDC) sobre a educação inclusiva, realizado em março de 1998 em Agra, na Índia, um sistema educacional só pode ser considerado inclusivo quando abrange a definição ampla deste conceito, nos seguintes termos: (Leny, 2006) Reconhece que todas as crianças podem aprender; Reconhece e respeita diferenças nas crianças: idade, sexo, etnia, língua, deficiência/inabilidade, classe social, estado de saúde. Permite que as estruturas, sistemas e metodologias de ensino atendam as necessidades de todas as crianças. Faz parte de uma estratégia mais abrangente de promover uma sociedade inclusive. É um processo dinâmico que está em evolução constante; Não deve ser restrito ou limitado por salas de aula numerosas nem por falta de recursos materiais. 64 Segunda, Leny(2006 ), a inclusão é: Atender aos estudantes portadores de necessidades especiais na vizinhança da sua residência. Propiciar a ampliação do acesso destes alunos às classes comuns. Propiciar aos professores da classe comum um suporte técnico. Perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objetivos e processos diferentes. Levar os professores a estabelecer formas criativas de atuação com as crianças portadoras de deficiência. Propiciar um atendimento integrado ao professor de classe comum Ainda Segundo Leny(2006), o conceito de inclusão não é: Levar crianças às classes comuns sem o acompanhamento do professor especializado. Ignorar as necessidades específicas da criança. Fazer as crianças seguirem um processo único de desenvolvimento, ao mesmo tempo e para todas as idades. Extinguir o atendimento de educação especial antes do tempo. Esperar que os professores de classe regular ensinem as crianças portadoras de necessidades especiais sem um suporte técnico. Segundo uma pesquisa feita pelo IBGE, em 2001, existe cerca de 14,6% da população formada por pessoas com necessidades educacionais especiais a população e que, segundo levantamento estatístico do MEC, em 2006, somente 2,8% recebem algum tipo de atendimento. (Brasil, 2006) Pensar em uma sociedade para todos, na qual se respeite a diferença da raça humana, onde as minorias não devem, nem podem continuar a margem da 65 sociedade, é possibilitar aos deficientes as mesmas oportunidades e direitos a uma vida dinâmica, participativa e produtiva, fazendo valer sua cidadania. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, nº 9.394/96, apresenta-se como um marco significativo na educação brasileira, uma vez que ela prevê a inclusão e a ampliação do atendimento educacional, em rede pública, aos educandos com necessidades especiais nos níveis de Educação Infantil e Superior. Ela garante e reforça a matrícula, sem discriminação, a todas as pessoas com necessidades especiais nas escolas regulares, acreditando que a escola, como instituição, é um ambiente propício para possibilitar a integração da criança com o meio social. A inclusão deve ser o início de um processo, para que a sociedade compreenda e aceite as diferenças, oferecendo às pessoas com necessidades especiais, oportunidades de interagirem e vivenciarem situações como qualquer outro ser. A educação inclusiva deve ser uma educação democrática, comunitária, pois supõe que o professor saia da postura de transmissor de conhecimento e único responsável pela educação e passe a ser responsabilidade de todos, pois todo aluno é especial e toda a educação é especial. Entre as principais dificuldades da inclusão podemos citar: a falta de formação e preparo do professor; baixos salários; falta de motivação; ambientes de trabalho deteriorados e carentes de recursos mínimos; número excessivo de alunos em sala de aula; necessidade de mudança na prática pedagógica que normalmente visa atender à dificuldade do aluno e não explorar sua potencialidade; falta de preparo dos próprios alunos em receber um aluno especial; falta de adaptação da estrutura física e carência de materiais apropriados para a realização de adaptações necessárias. Destas, uma das maiores dificuldades está relacionada à abordagem metodológica praticada na maioria das escolas, onde todos devem saber o mesmo, no mesmo tempo e pelos mesmos caminhos, buscando-se promover uma homogeneização de seres heterogêneos. Portanto, falar de inclusão de alunos com necessidades especiais em um ambiente que visa ser homogêneo deve ser uma atitude a ser revista, pois, em uma escola para TODOS deve-se proporcionar 66 uma aprendizagem respeitando as diferenças, oportunizando aos alunos descobrirem suas habilidades, capacidades potencialidades, oferecendo assim condições especiais para TODOS os alunos participarem do ambiente escolar. Na LDB, o artigo 59 (Brasil, 1996b ) ressalva que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais, currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização. Como cenário desta perspectiva, busca-se investigar os princípios básicos que orientem o professor para buscar uma metodologia que use o computador para criar um ambiente contextualizado e significativo não só para os alunos com necessidades especiais, para TODOS os alunos, usando como estratégia o desenvolvimento de projetos, onde os alunos possam aprender de forma lúdica, conhecerem-se melhor, promovendo o contato e a vivência. Assim através do trabalho cooperativo as habilidades e potencialidades de cada um fossem valorizadas e o uso do computador na educação ganhasse um novo sentido na Educação Inclusiva. Segundo Valente (2001), o computador no desenvolvimento de projetos pode potencializar a comunicação, a criação e a produção dos alunos. Além disso, por meio da formalização, representação, execução e depuração de suas idéias, os próprios alunos descobrem e corrigem seus erros com maior facilidade, refletindo sobre todo o processo de construção de conhecimento. O computador é um grande aliado na superação ou minimização de barreiras impostas pela deficiência, e pode propiciar a construção do conhecimento e a busca das informações. O aluno pode construir algo palpável e significativo, dentro de um projeto, criando dimensões afetivas e valorativas, onde o papel do professor passa de mero transmissor para articulador. Neste tipo de ambiente é favorecido ainda mais o trabalho em grupo, contribuindo para que os alunos contribuam com idéias e auxilie a superação de dificuldades em conjunto. Não ocorrendo mais uma relação de dependência com o professor, mais uma grande parceria com os demais alunos, o professor e a comunidade, possibilitando cada aluno poder contribuir com suas idéias, 67 interesses e expectativas, deixando de ser mero espectador para tornar-se um agente ativo do processo de ensino aprendizagem. 68 2.5.2. Inclusão Uma Sociedade para Todos Em 1990, aconteceu a Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Nesta conferência, as Nações Unidas garantiam a democratização da educação, independentemente das diferenças particulares dos alunos. Foi a partir desta conferência que o movimento da educação inclusiva começou a tomar força. Em junho de 1994, em Salamanca, na Espanha, ocorreu a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade. Nesta conferência reuniram-se mais de 300 representantes de 92 governos e 25 organizações internacionais com objetivo de promover a Educação para Todos, analisando as mudanças fundamentais de políticas necessárias para favorecer o enfoque da educação integradora, capacitando realmente as escolas para atender todas as crianças, sobretudo as que têm necessidades especiais. (Brasil, 1994). A conferência aprovou a Declaração de Salamanca, que expõem princípios, políticas e prática das necessidades educativas especiais e uma linha de ação. Por este documento firma-se a urgência de ações que transformem em realidade uma educação capaz de reconhecer as diferenças, promover a aprendizagem e atender as necessidades de cada criança individualmente. Conceitua-se inclusão como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente estas se preparam para assumir papéis na sociedade. A inclusão social constitui então em um processo bilateral no qual as pessoas ainda excluídas, e da sociedade buscam em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. (Sassaki, Inclusão). O Paradigma da inclusão é um tema relativamente novo no Brasil. O impacto que a inclusão tem causado no meio escolar, nas instituições especializadas e entre pais e alunos com e sem deficiência provocou o aparecimento de muitas dúvidas e equívocos de compreensão, que estão retardando a implementação de ações em favor da abertura das escolas para 69 todos os alunos. Preconceitos antigos valores, velhas verdades, atitudes e paradigmas conservadores da educação ainda ocultam o verdadeiro sentido dessa inovação. (Mantoan, in Stainback, 1999). Uma sociedade inclusiva tem, em seus alicerces, a crença de que todas as pessoas têm direito à participação ativa nas relações sociais, contribuindo de alguma forma para seu desenvolvimento. No processo de inclusão, busca-se dissipar as barreiras e estigmas consolidados em relação a grupos socialmente marginalizados, do qual fazem parte os portadores de deficiência. Em se tratando exclusivamente de educação, o objetivo essencial da inclusão é a equiparação de oportunidades educacionais escolares para igualar os direitos de todos à educação, com ênfase nos alunos que apresentam necessidades especiais, com o apoio necessário e recursos adequados. A mudança de paradigma em direção à consolidação de uma sociedade inclusive, na qual se respeitem as diferenças. Pensar uma sociedade para todos, na qual se respeita a diversidade da raça humana, é alicerçar a crença de que todas as pessoas têm direito à participação ativa nas relações. A inclusão é para todos porque somos todos diferentes, por isso atender às necessidades das maiorias e das minorias, é concretizar a realização da sociedade inclusiva, que busca dissipar barreiras e estigmas, consolidados em relação a grupos marginalizados socialmente, do qual fazem parte os portadores de deficiência. Na escola, as diferenças individuais estão sempre presentes e a atenção à diversidade deve ser o eixo norteador do paradigma da educação inclusive, isto é, uma educação para todos, eliminando rótulos, preconceitos, mecanismos de expulsão de alunos que, por diversas razões, contrariam as expectativas do sistema educacional escolar e acabam discriminados e em situação de desvantagem. A educação é uma questão de direitos humanos e todos os indivíduos devem ser garantidos o acesso, ingresso e a permanência, com sucesso, em todo o fluxo de escolarização. É necessário que a escola não tenha medo de arriscar e efetive na prática o que preconiza a lei n.o 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nos 70 artigos 58 e 59, que respectivamente, dizem: ― Haverá quando necessário serviços de apoio especializados, na escola regular, para atender as peculiaridades da parcela de educando com necessidades especiais‖. ―Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organizações específicas, para atender às suas necessidades. A exclusão no sistema educacional lança sementes do descontentamento e da discriminação social. A educação é uma questão de direitos humanos e os indivíduos com deficiência devem fazer parte das escolas, as quais devem modificar seu funcionamento para incluir todos os alunos. Educando todos os alunos juntos, as pessoas com deficiência têm oportunidades de preparar-se para a vida em comunidade, os professores melhoram suas habilidades profissionais. Para conseguir realizar o ensino inclusivo, os professores em geral e especializados devem aliar-se em um esforço unificado e consistente. Existem três componentes básicos interdependentes no ensino inclusivo: Rede de Apoio: componente organizacional, que envolve a coordenação de equipes e de indivíduos que apoiam uns aos outros através de conexões formais e informais Trabalho em Equipe: componente que envolve indivíduos de várias especialidades trabalhando juntos para planejar e implementar programas para diferentes alunos em ambientes inclusivos. Aprendizagem: Cooperativa: componente do ensino, que está relacionado à criação e uma atmosfera de aprendizagem em sala de aula em que alunos com vários interesses e habilidades podem atingir seu potencial. Este tipo de aprendizagem era defendida por Freinet. Para ele a prática pedagógica deve ser centrada na cooperação, esta proposta se funda na junção da cooperação no trabalho com a valorização da produção individual. Assim, ao mesmo tempo em que valoriza o trabalho cooperativo, respeitando que cada estudante produza no seu próprio ritmo, faz com que perceba que o indivíduo pertence a um grupo e que sua produção tem valor para todos, 71 podendo ser melhorada e ampliada pela interferência dos colegas. Esse companheirismo tem como propósito romper o círculo de individualismo estéril. (Freinet, 2001) Nas salas de aula inclusivas, todas as crianças enriquecem-se por terem a oportunidade de aprender umas com as outras, desenvolvendo atitudes e habilidades e valores para apoiar a todos os cidadãos. Em vários relatos tem sido observado que alunos com níveis diferentes de deficiência aprendem mais em ambientes inclusivos, onde lhes são proporcionados experiências e apoio educacional adequados, do que em ambientes segregados. A integração e a comunicação facilitadas ajudam no desenvolvimento de amizades e o trabalho com colegas. Os alunos em geral aprendem a ser sensíveis, a compreender, a respeitar e a crescer com as diferenças e as semelhanças entre seus pares. Embora uma criança com deficiência possa não ser capaz de absorver todo o currículo da educação regular, ela pode se beneficiar das experiências não acadêmicas no ambiente regular. Um dos fatores importantes no processo de inclusão é o progresso individual de cada aluno segundo as metas de cada um. As pessoas com deficiência ficam mais preparadas para a vida na comunidade e no trabalho quando são incluídas nas escolas e nas salas de aula. Quando os efeitos positivos são contrastados com os efeitos negativos da exclusão, os benefícios das escolas inclusivas tornam-se ainda mais pronunciados. Do ponto de vista acadêmico, social e ocupacional, as colocações segregadas são prejudiciais aos alunos. Em geral, os locais segregados são prejudiciais porque alienam os alunos. Os alunos com deficiência recebem, afinal, pouca educação útil para a vida real, e os alunos sem deficiência experimentam fundamentalmente uma educação que valoriza pouco a diversidade, a cooperação e o respeito por aqueles que são diferentes. Em contraste, o ensino inclusivo proporciona às pessoas com deficiência a oportunidade de adquirir habilidades para o trabalho e para a vida em comunidade. Os alunos com deficiência aprendem como atuar e interagir com seus pares no mundo ―real‖. Igualmente importante, seus pares e também os professores aprendem a agir e interagir entre eles. 72 As salas de aula inclusiva partem de uma filosofia segundo a qual todas as crianças podem e devem aprender e fazer parte da vida escolar e comunitária. A diversidade é valorizada, acredita-se que tal diversidade fortalece a turma e oferece a todos os seus membros maiores oportunidades para a aprendizagem. A diversidade deve ser valorizada. Mas quais são as estratégias básicas e práticas para se fazer uso das diferenças para melhorar a aprendizagem de todos os estudantes? Como manter uma filosofia e atitudes positivas com relação à inclusão é a chave para alcançar o sucesso. Os professores e outros profissionais da educação também precisam estar o par das estratégias práticas que podem utilizar diariamente na sala de aula, na escola e na comunidade para melhorar a inclusão bem-sucedida. Uma escola inclusiva é aquela que educa todos os alunos nas salas de aula regulares. Educar todos os alunos em salas de aula regulares significa que todos recebem oportunidades educacionais adequadas, que são desafiadoras, porém ajustadas às suas habilidades e necessidades; que recebem todo o apoio e ajuda de que eles ou seus professores possam da mesma forma, necessitar para alcançar sucesso nas principais atividades. Quando as escolas são excludentes, o preconceito fica inserido na consciência de muitos alunos quando eles se tornam adultos, o que resulta em maior conflito social e em uma competição desumana. No passado foi decidido que algumas crianças ou alguns adultos deveriam ser excluídos de nossa vida, das salas de aula e das comunidades regulares porque eram considerados uma ameaça ou um peso à sociedade. A perspectiva das limitações foi predominante no passado e tem muitos seguidores até hoje. Segundo esse ponto de vista, a tarefa dos educadores é determinar, melhorar e preparar os alunos que não foram bem sucedidos, sem esforços planejados para adaptar as escolas às necessidades, aos interesses ou às capacidades particulares desses alunos. Os que não se adaptam aos programas existentes são relegados a ambientes segregados. Atualmente as sociedades estão sofrendo mudanças fundamentais. Estão sendo transformadas de sociedades industriais, e de nacionais em internacionais. 73 As expressões via eletrônica, via de informação e escritório doméstico não são apenas expressões de moda, mas indicações de um novo mundo de trabalho emergente. Um número cada vez maior de pessoas está se sustentando, processando informações e prestando serviços, quer pessoal ou virtualmente, e não mais trabalhando em fábricas, como acontecia na sociedade industrial. Ao mesmo tempo as sociedades estão se tornando multiculturais, e a inclusão é um dos princípios fundamentais em que a transformação da sociedade deve se basear. ( Brasil, 2000) O valor social da igualdade é consistente com o da educação inclusiva. Temos que garantir que os alunos com deficiências sejam apoiados para tornarem-se participantes e colaboradores na sociedade, evitando os erros do passado, quando esses indivíduos eram marginalizados. A inclusão não é, nem deve se tornar, uma maneira conveniente de justificar cortes orçamentários que podem por em risco serviços essenciais. A inclusão genuína não significa a inserção de alunos em classes regulares sem apoio para professores e alunos. A inclusão é mais do que um modelo para a prestação de serviços de educação especial, é um novo paradigma de pensamento e ação, no sentido de incluir todos os indivíduos em uma sociedade na qual a diversidade é mais norma do que exceção. Por isso, o desafio é estender a inclusão ao maior número de instituições educacionais, sejam elas do ensino básico ao superior. Como abordado no capítulo introdutório, esta pesquisa tem como objetivo discutir a democratização e equiparação de oportunidades educacionais para igualar os direitos de todos à educação, com ênfase no uso das tecnologias de informação e comunicação como uma ferramenta que pode auxiliar no processo de inclusão, notadamente do deficiente visual. 74 CAPÍTULO III ”Não é porque as coisas são difíceis que nós não ousamos; é porque nós não ousamos que elas são difíceis.” (Sêneca) 3- Caracterizando a Deficiência 3.1. Introdução Definir pessoas deficientes é sempre muito mais difícil e complexo do que pode parecer. Um dos problemas mais sérios reside no fato de que qualquer noção ou definição de deficiência implica em uma imagem que nós fazemos (RIBAS 98). Muitos consideram que a palavra ―deficiente‖ tem um significado muito forte, carregado de valores morais, contrapondo-se ao conceito de ―eficiência‖. A ênfase recai no que falta, na limitação, no ―defeito‖, gerando sentimentos como desprezo, indiferença, piedade ou pena. Esses sentimentos, por sua vez, provocam atitudes carregadas de paternalismo e de assistencialismo, voltados para uma pessoa considerada incapaz de estudar, de se relacionar com os demais, de trabalhar e de constituir família. No entanto, à medida que vamos conhecendo uma pessoa com deficiência, e convivendo com ela constatamos que ela não é incapaz. Pode ter dificuldades em realizar determinadas atividades, mas, por outro lado, em geral possui extrema habilidade em outros. (GIL 2005). O deficiente, em sua maioria, está posicionado numa classe social que o impede pela pobreza material de comprar aparelhos, de participar de atividades de reabilitação ou ter acesso a uma educação de qualidade. Estará sentenciado, em decorrência disto, à falta de perspectivas, ao estigma e ao preconceito. No Brasil, a deficiência entra em choque com a questão social: grande parte da população é subnutrida, no nordeste o índice de cegueira causada pela falta de vitamina A é alarmante (RIBAS 1998). A definição de deficiência encontrada na literatura é muito variada e imprecisa, mas indica também uma evolução no pensamento e no comportamento 75 da sociedade perante o termo. O termo deficiente é muito incisivo e leva diretamente ao objeto de estudo, a deficiência do indivíduo. A expressão pessoas portadoras de deficiência, tem o objetivo de diminuir o estigma da deficiência, ressaltando o conceito de pessoa, é mais leve, elegante e diminui a situação de desvantagem que caracteriza esse grupo. (ARAÚJO 96). O que define a pessoa portadora de deficiência não é a falta de um membro nem a visão ou audição reduzida e sim a dificuldade de se relacionar, de se integrar na sociedade. Na Declaração dos Direitos Humanos (ONU, 1975), já proclama em seu artigo I: ―O termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não em suas capacidades físicas ou mentais‖. As definições de ―deficiência‖ estão sempre sendo revistas. A Organização Mundial da Saúde apresenta três conceitos para esclarecer melhor o assunto: impedimento, caracterizado por alguma perda ou anormalidade das funções ou da estrutura anatômica, fisiológica ou psicológica do corpo humano; deficiência, que envolve alguma restrição ou perda, resultante do impedimento, para desenvolver habilidades consideradas normais para o ser humano e incapacidade, definida por uma desvantagem individual, resultante do impedimento ou da deficiência, que limita ou impede o cumprimento ou desempenho de um papel social, dependendo da idade, sexo e fatores sociais e culturais. ( FONTE OMS Conferência Sanitária Panamericana da OMS) Quando se trata de pessoas com necessidades especiais, o conceito torna- se mais abrangente, pois, além dos portadores de deficiência, inclui os portadores de superdotação, as pessoas em condições sociais, físicas, emocionais, sensoriais e intelectuais diferenciadas, aqueles com dificuldades de aprendizagem, os portadores de condutas típicas (ex.: hiperativos) e abrange também os desfavorecidos e marginalizados (Declaração de Salamanca – 1994). 76 Essas necessidades especiais podem ser permanentes, quando não é possível recuperação ou ter probabilidade mínima que se altere, apesar de novos tratamentos e incapacidade, que consiste em uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. Segundo a OMS(1997), considera-se deficiente o indivíduo que se enquadra nas seguintes categorias: • Deficiência física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. • Deficiência auditiva – perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando em grau e nível. • Deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações. • Deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal, raciocínio lógico. Coordenação motora etc. 77 3.1. Caracterizando a Deficiência Visual O termo deficiência visual refere-se a uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas, hereditárias ou adquiridas, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. A diminuição da resposta visual pode ser leve, moderada, severa, profunda (que compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e ausência total da resposta visual (cegueira). Segundo a OMS (Bangkok, 1992), o indivíduo com baixa visão ou visão subnormal é aquele que apresenta diminuição das suas respostas visuais, mesmo após tratamento e/ou correção óptica convencional, e uma acuidade visual menor que 6/18 à percepção de luz, ou um campo visual menor que 10 graus do seu ponto de fixação, mas que usa ou é potencialmente capaz de usar a visão para o planejamento e/ou execução de uma tarefa. Há vários tipos de classificação. De acordo com a intensidade da deficiência, temos a deficiência visual leve, moderada, profunda, severa e perda total da visão. De acordo com comprometimento de campo visual, temos o comprometimento central, periférico e sem alteração. De acordo com a idade de início, a deficiência pode ser congênita ou adquirida. Se estiver associada a outro tipo, como surdez, por exemplo, a deficiência pode ser múltipla ou não. A delimitação do grupamento de deficientes visuais, cegos e portadores de visão subnormal, se dão por duas escalas oftalmológicas: acuidade visual, aquilo que se enxerga a determinada distância e campo visual, a amplitude da área alcançada pela visão. Em 1966 a Organização Mundial de Saúde (OMS) registrou 66 diferentes definições de cegueira, utilizadas para fins estatísticos em diversos países. Para simplificar o assunto, um grupo de estudos sobre a Prevenção da Cegueira da OMS, em 1972, propôs normas para a definição de cegueira e para uniformizar as anotações dos valores de acuidade visual com finalidades estatísticas. A cegueira total ou simplesmente AMAUROSE, pressupõe completa perda de visão. A visão é nula, isto é, nem a percepção luminosa está presente. No jargão oftalmológico, usa-se a expressão 'visão zero'. 78 Uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos critérios seguintes: a visão corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros), ou se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser superior a 20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado "visão em túnel" ou "em ponta de alfinete", e a essas definições chamam alguns pesquisadores denominando "cegueira legal" ou "cegueira econômica". Nesse contexto, caracteriza-se como portador de visão subnormal aquele que possui acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ou um campo visual entre 20 e 50º. Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que, mesmo possuindo visão subnormal, necessita de instrução em Braille (sistema de escrita por pontos em relevo) e como portador de visão subnormal aquele que lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos ópticos. O deficiente visual pode ser educacionalmente cego ou portador de baixa visão. É considerado cego aquele que apresenta desde ausência total de visão até a perda da percepção luminosa. Sua aprendizagem se dará através da integração dos sentidos remanescentes preservados. Terá como principal meio de leitura e escrita o sistema Braille. Deverá, no entanto, ser incentivado a usar seu resíduo visual nas atividades de vida diária, sempre que possível. É considerado portador de baixa visão aquele que apresenta desde a capacidade de perceber luminosidade até o grau em que a deficiência visual interfira ou limite seu desempenho. Sua aprendizagem se dará através dos meios visuais, mesmo que sejam necessários recursos especiais. Segundo a Organização Mundial de Saúde OMS (1996), cerca de 1% da população mundial apresenta algum grau de deficiência visual. Mais de 90% dos casos encontram-se nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a população com deficiência visual é composta por cerca de 5% de crianças, enquanto os idosos são 75% desse contingente. .De maneira genérica, podemos 79 considerar que nos países em desenvolvimento, as principais causas são infecciosas, nutricionais, traumáticas e causadas por doenças como as cataratas. Nos países desenvolvidos são mais importantes as causas genéticas e degenerativas. Alguns sinais característicos da presença da deficiência visual na criança são: desvio de um dos olhos, não seguimento visual de objetos, não reconhecimento visual de familiares, baixo aproveitamento escolar, atraso de desenvolvimento. No adulto, pode ser o borramento súbito ou paulatino da visão. Em ambos os casos, podem ocorrer vermelhidão, mancha branca nos olhos, dor, lacrimejamento, flashes, retração do campo de visão que podem provocar esbarrões e tropeços em móveis. Em todos os casos, deve ser realizada avaliação oftalmológica para diagnóstico do processo e possíveis tratamentos, em caráter de urgência. O diagnóstico precoce é obtido através do exame realizado pelo oftalmologista que pode lançar mão de exames subsidiários. Nos casos em que a deficiência visual está caracterizada, deve ser realizada avaliação por oftalmologista especializado em baixa visão, que fará a indicação de auxílios ópticos especiais e orientará a sua adaptação. 80 3.2 A História da Educação dos Deficientes Visuais Um dos primeiros vestígios sobre o apoio ao deficiente visual encontra-se em Dall’Acqua (2002). Provavelmente, a primeira comunidade de cegos foi fundada no século V, na Síria, por São Lino, relatos identificam também um lar para cegos em Jerusalém, no século VII; na Mesquita de El Aghar, fundada no Cairo, Egito no século X, que dispunha de uma seção especial para cegos. No século XI, Guilherme o Conquistador, criou quatro hospitais para cegos, a fim de espiar seus pecados de ter se casado com um parente. Luís IX, rei de França entre 1226 e 1270, participante ativo da 7ª e 8ª Cruzadas, regressou derrotado da 7ª Cruzada convencido de que Deus lhe queria dar uma lição de humildade. Virando-se para a caridade, fundou o hospital Quinze-Vingts (Quinze Vintes), ou seja, 15 x 20 = 300, o número de cavaleiros que tinham ficado cegos durante a Cruzada. O estado de desatenção e menosprezo a que cegos e todos os outros deficientes foram submetidos só começa a mudar com a entrada do capitalismo no lugar do sistema feudal, com os avanços da ciência, especialmente na área médica e com os ideais da Revolução Francesa, dentre os quais proclamava o direito a todos a educação, no combate às injustiças e aos abusos da Igreja. Em relação aos deficientes visuais, denominados na época apenas por cegos, dois nomes foram um marco histórico: Valentin Hauy e Luis Braille. Hauy foi responsável pela criação da primeira escola para pessoas cegas, cujo objetivo era ensiná-las a ler e depois dar-lhes emprego. E Braille que se destacou pela invenção de um sistema de leitura e escrita para cegos, que permanece nos dias atuais. Até então só os ricos senhores, quando perdiam a visão, tinham os olhos dos escravos ou servos para satisfazer o hábito da leitura. 81 3.3. Os Precursores da Educação de Deficientes Visuais Em 1771, Valentin Haüy visitou a feira parisiense de Santo Ovídio, uma espécie de Feira Popular da época, e assistiu a um espetáculo de cegos que achou degradante e isto o convenceu de que a única forma de tirá-los da situação social em que se encontravam era através da educação. Haüy começou por estudar as formas como os cegos se desvencilhavam na vida e, em 1784, deu esmola a um cego de 12 anos que reconheceu logo o valor facial da moeda. Foi à revelação: o segredo estava no desenvolvimento do tato. François Lesueur tornou- se o primeiro aluno de Haüy, que fundou na Rua St. Victor, o Real Instituto para as Crianças Cegas, que se tornou a primeira escola destinada à educação dos cegos e à sua preparação profissional. Influenciado pelas filosofias sensistas, segundo as quais tudo vinha dos sentidos, Valentin Haüy entendeu que na educação dos cegos o problema essencial consistia em fazer que o visível se tornasse tangível. Valentin Haüy foi o primeiro a defender o princípio de que, tanto quanto fosse possível, a educação dos cegos não deveria diferenciar-se daquela destinada aos videntes. Figura 9: Estátua em Homenagem a Valentin Haüy 82 Na sua escola, para a leitura, adotou o alfabeto vulgar, que se traçava em relevo na expectativa de que as letras fossem percebidas pelos dedos dos cegos. Para a escrita (redações e provas ortográficas), serviu-se de caracteres móveis. Os alunos aprendiam a conhecer as letras e os algarismos, a combinar os caracteres para formar palavras e números e a construir frases. Tudo isso não passava de meros exercícios tipográficos, sempre condenados à destruição. O problema da educação dos cegos só ficou satisfatoriamente resolvido com a invenção e adoção do Braille - processo de leitura e escrita por meio de pontos em relevo hoje empregado no mundo inteiro. O Braille é um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se tem adaptado a todas as línguas e toda espécie de grafias. Com a sua invenção, Luís Braille abriu aos cegos, de par em par, as portas da cultura, arrancando-os à cegueira intelectual e cultural em que viviam e oferecendo-lhes horizontes novos na ordem social, moral e espiritual. Louis Braille nasceu na pequena aldeia francesa de Coupvray, a cerca de 45 km. de Paris, no dia 4 de Janeiro de 1809. Aos três anos, quando brincava na oficina de trabalho do pai, ao tentar perfurar um pedaço de couro com uma sovela, aproximou-a do rosto, acabando por ferir o olho esquerdo. A infecção produzida pelo acidente expandiu-se e atingiu o outro olho. Os pais souberam assegurar, da melhor maneira possível, a primeira educação deste seu filho cego. Sabe-se que Louis Braille freqüentou a escola da sua aldeia, beneficiando-se assim do contato com alunos videntes. O pai de Luís Braille teve conhecimento da existência do Instituto Nacional dos Jovens Cegos Real dos Jovens Cegos, em Paris, e escreveu repetidas vezes ao diretor para se inteirar dos trabalhos que ali se realizavam e certificar-se de que eram verdadeiramente úteis para a educação do seu filho. Depois de algumas hesitações, decidiu-se pelo internamento. 83 Figura 10: Fachada atual do Institut National des Jeunes Aveugles Fonte http://www.inja.fr/ Figura 11. Imagem atual do Le Département Informatique et Recherche Fonte http://www.inja.fr/ 84 Aos 10 anos, Louis Braille consegue uma bolsa de estudos na Instituição Real para Jovens Cegos, a primeira escola para cegos de Paris. Na Instituição, o ensino consistia em fazer os alunos repetirem as explicações e os textos ouvidos. Alguns livros escritos no sistema de Valentin Haüy, método oficial de leitura para cegos da época, permitiam leitura suplementar. Esses poucos livros eram os únicos existentes. Louis dedicou-se profundamente aos estudos, mas a recreação também era parte importante na vida da escola, e ele participava com entusiasmo das atividades. Gostava de música clássica e, como os professores do Conservatório vinham dar aulas gratuitas na Instituição, dedicou-se a um estudo que consistia em ouvir e repetir o que era ouvido. As condições não eram ideais, mas Braille tornou-se um excelente pianista e, mais tarde, o talentoso organista de Notre Dame des Champs. Figura 12 Cada de Luiz Braille http://www.cisad.it/invitoalbraille/img/MaisonLouisBrailleex.jpg 85 No próprio ano em que Luís Braille foi admitido como aluno da Real Instituição, o capitão de artilharia Carlos Barbier de la Serre começou a interessar- se pela escrita dos cegos. Carlos Barbier idealizou um processo, que foi evoluindo ao longo de sucessivos aperfeiçoamentos, destinado a velar o segredo das mensagens militares e diplomáticas. No decorrer de um encontro sobre Métodos de Comunicação no Museu da Ciência e da Indústria, os cegos do Instituto ouvem falar de Charles Barbier da la Serre especialista em criptografia, veterano da Revolução Francesa e Americana, e das Guerras Napoleônicas. No decorrer destas últimas, tinha visto um grupo de artilheiros ser despedaçado por um obus durante a noite, por ter acendido uma luz para ler uma mensagem. Barbier desenvolveu então um sistema táctil para recepção e envio de mensagens entre os artilheiros - a Sonografia ou Escrita Noturna -, inventando um aparelho que lhes permitia escrevê-las no escuro. Braille fica fascinado com o invento de Barbier, a célula de 12 pontos, apesar de lhe encontrar dois defeitos: ser demasiado extensa para a polpa de um dedo e representar sons em vez de letras. Em Outubro de 1824, com 15 anos, apresentam o seu próprio aperfeiçoamento. Tinha reduzido o "dominó" de 12 pontos de Barbier para um "meio-dominó" de seis pontos, com 63 possibilidades combinatórias. O sistema de Barbier nunca foi usado na Instituição, mas constituiu a base dos trabalhos que Louis Braille realizou por volta de 1825. Luís Braille reconheceu que os sinais com mais de três pontos em cada fila ultrapassavam as possibilidades de uma única percepção táctil. Tratou, pois, de lhes reduzir as proporções, de modo a obter sinais que pudessem formar uma verdadeira imagem debaixo dos dedos. Além disso, criou uma convenção gráfica, atribuindo a cada símbolo valor ortográfica e não fonético, em perfeita equivalência com os caracteres vulgares. 86 O entusiasmo dos cegos, diante do invento veio criar uma desavença entre os professores do Instituto, que não eram cegos e sentiram que o sistema poderia representar uma ameaça a suas atividades e carreiras. Queixaram-se de que o barulho que os alunos faziam quando escreviam usando o novo sistema gerava indisciplina. Uma desilusão aguardava Louis Braille: dificilmente o seu sistema seria aceito. O capital empregado pelas escolas nos enormes livros para cegos não permitia que fossem deixados de lado de uma hora para a outra. Braille, então com vinte anos, começou a ser procurado pelos alunos do Instituto que lhe pediam lições com base no novo sistema. Estas aulas tinham que ser realizadas às escondidas, mas serviriam - pensava ele - para difundir o método e provar a sua funcionalidade. Braille tentava, ao mesmo tempo, exibir o sistema nos lugares que freqüentava. O máximo que conseguiu foi um ofício, no qual o governo francês agradecia a sua contribuição à Ciência. Aos 17 anos, contudo, Braille tornou-se o primeiro professor cego da escola: Álgebra, Gramática, Música e Geografia. Em 1828, adaptou o seu sistema à notação musical. Em 1829, Braille tinha 20 anos e apresenta-se à inspeção militar. Ficou "livre", segundo os inspetores militares, por "não poder ler nem escrever". (http://pt.wikipedia.org/wiki/Louis_Braille). Aponta-se geralmente o ano de 1825 como a data do aparecimento do Braille, mas só em 1829 Luís Braille publicou a primeira edição do seu «Processo para Escrever as Palavras, a Música e o Cantochão por meio de Pontos, para Uso dos Cegos e dispostos para Eles», a que deu forma definitiva na segunda edição publicada em 1837. Só o formidável impulso dos cegos que se serviam do alfabeto Braille pôde obrigar os responsáveis pela sua educação a reconhecer os frutos que a aplicação deste alfabeto produzia nas escolas. 87 Figura 13 Rosto de Louis Braille Fonte http://www.spleb.org.br/pt/lv/louis_braille.php Este processo de leitura e escrita através de pontos em relevo é usado, atualmente, em todo o mundo. Trata-se de um modelo de lógica, de simplicidade e de polivalência, que se adapta a todas as necessidades dos utilizadores, quer nas línguas e em toda a espécie de grafias, quer na música, matemática, física, etc. De entre os alunos a quem ensinava música havia uma pequena cega, Teresa von Kleinert. O seu talento ao piano era extraordinário, o que animou Braille a ensinar-lhe o seu sistema de pontinhos. Em pouco tempo, Teresa tornou- se concertista de sucesso. Recebida com agrado nos salões da Europa, Teresa difundia, a cada apresentação, o sistema Braille e pela primeira vez os jornais falavam no seu nome, até então desconhecido. A seis de Janeiro de 1852, Braille morreu, sem chegar a ver reconhecido o seu trabalho. Só dois anos após a sua morte o sistema foi reconhecido oficialmente na França, depois que Teresa se exibiu na Exposição Internacional de Paris. Ao piano, pôde mostrar ao mundo como é que um cego podia aprender a ler e a escrever. Isso tudo, graças a um sistema criado por outro cego. 88 Coisa diferente aconteceu nos países ou regiões em que não era conhecido nenhum outro método de leitura e escrita para cegos. Foi o caso da América Latina, onde a história da educação das pessoas cegas começa com o Braille. A chegada do Braille, o início da alfabetização e educação e também a criação de imprensas e bibliotecas para cegos foram fenômenos simultâneos. No França na Instituição Real dos Jovens Cegos, onde o sistema Braille foi concebido e aperfeiçoado, este 25 anos para ser aceito de maneira definitiva. Na Instituição era conhecido outro método de leitura para cegos. O diretor foi jubilado prematuramente e o novo diretor pretendeu voltar ao relevo linear, impondo-o no campo literário entre 1840 e 1850. Durante esses anos de eclipse o Braille afirma- se na música. Aponta-se a data de 1854 como os da implantação do Braille em França. Por terem uma escrita ilegível para as pessoas videntes, pareciam surgir como uma ameaça, e os seus textos como uma sinistra e subversiva criptografia. Num século como o XIX, em que os revolucionários aterrorizavam as casas reais e os Governos, a idéia de que os cegos pudessem querer dominar o Mundo, comunicando-se entre si por meio de uma escrita incompreensível pode não ser tão ridícula como parece. 89 Figura 14 Alfabeto Braille Fonte www.sk-szeged.hu/.../braille/braille.htm No centenário da sua morte, em Junho de 1952, representantes de quarenta países foram em romagem a Coupvray, ao túmulo de Luís Braille, e acompanharam a transladação do seu corpo para o Panteão dos Homens Ilustres. Era o reconhecimento da França, para quem o nome de Braille é um raio do esplendor da intelectualidade e do humanismo francês. Era a gratidão dos cegos de todo o mundo, para quem Braille, mais do que um nome, é um símbolo. Símbolo da emancipação conquistada, por um cego, para todos os cegos. No Brasil, em 1854 podemos considerar-se como um ponto de partida da difusão do Braille fora da França. Nesse ano foi levada a cabo, na Instituição Real 90 dos Jovens Cegos, a impressão de um método de leitura em língua portuguesa, registrado no Museu Valentin Haüy com o nº 1439. José Álvares de Azevedo, regressou ao Brasil depois de ter estudado durante seis anos em Paris. O Dr. Xavier Sigaud, médico francês que esteve ao serviço da corte imperial brasileira e pai de uma filha cega, Adélia Sigaud, conheceu-o e apresentou-o ao Imperador D. Pedro II, conseguindo despertar o seu interesse para a possibilidade de educar os cegos. O Dr. Xavier Sigaud foi o primeiro diretor do Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant, inaugurado no Rio de Janeiro em 17 de Setembro de 1854. Figura 15 Fachada do Instituto Benjamin Constant Fonte intervox.nce.ufrj.br/~exaluibc/ibc.jpg Nos dias de hoje as novas tecnologias representam uma grande contribuição para valorizar e disseminar o Braille, depois da sua invenção. A drástica redução de espaço proporcionada pelo Braille eletrônico é exemplo disso. Um livro em Braille com 2000 páginas de formato A4 pode ficar contido numa só disquete. Uma vez introduzido o texto desse livro no computador, o utilizador cego tem ao seu alcance toda a informação não gráfica, que pode ler através de um equipamento dotado de uma saída em Braille. 91 Outro exemplo é a facilidade de imprimir textos em Braille. Introduzidos no computador, os textos podem ser submetidos a um programa de tratamento específico e sair numa impressora Braille. Os textos assim tratados podem utilizar- se, quer na produção direta em papel, quer na produção de placas de impressão, conforme o número de exemplares a obter. A impressão de livros, permitindo a sua multiplicação, tem um efeito cultural considerável. Várias homenagens são realizadas até hoje em memória e agradecimento as realizações de Braille. Como as praças ilustradas nas imagens abaixo. Figura 16 Praça em Homenagem a Braille http://www.universoespirita.org.br/braille%20e%20esperanto/historia_do_braille.htm 92 Figura 17 Praça em Homenagem a Braille http://www.universoespirita.org.br/braille%20e%20esperanto/historia_do_br aille.htm 93 O Sistema Braile. O sistema braile é o código tátil de leitura e escrita universalmente adotado pelos cegos. Ele é constituído por 63 caracteres, resultantes da combinação entre 6 pontos em relevo, dispostos em duas colunas verticais, e numerados de cima para baixo e da esquerda para a direita. O conjunto matricial formado pelo total de pontos dá origem ao sinal fundamental, a partir do qual derivam os demais caracteres. Figura 18 Célula Braille http://www.todosnos.unicamp.br/Diferencas/Conceitos/braile_html O espaço ocupado por cada caracter é chamado cela braile. Cada cela possui uma medida fixa, correspondente ao tamanho padrão de um dedo indicador, de forma a se garantir a fluência da leitura. Existem alguns instrumentos através dos quais se pode escrever em Braille. Dentre eles, o mais simples (e também mais econômico) chama-se reglete, e consiste em uma régua em que se prende uma folha de papel. Com o auxílio de outro instrumento denominado punção, os pontos são produzidos. 94 Figura 19 Reglete e punção http://www.todosnos.unicamp.br/Diferencas/Conceitos/braile_html Uma vez que os furos são feitos no verso da folha, deve-se notar que o usuário de uma reglete escreve em sentido oposto ao da leitura, ou seja, da direita para a esquerda. Outro instrumento com que se pode escrever em braile é a máquina Perkins. Trata-se de uma máquina de datilografia em que há seis teclas, que por sua vez representam os seis pontos da escrita braile. Figura 20 Máquina de Datilografia em Braille http://www.todosnos.unicamp.br/Diferencas/Conceitos/braile_html Atualmente, também existem impressoras braile, através da qual se pode imprimir qualquer texto digitalizado. A criação dessas impressoras representou uma conquista muito significativa no que se refere à agilidade e ao aumento da produção de textos em braile. 95 Figura 21 Impressora Braille http://www.todosnos.unicamp.br/Diferencas/Conceitos/braile_html 96 CAPÍTULO IV “Algo só é impossível até que alguém duvide e acaba provando o contrário." (Albert Einstein) "Bem feito é melhor do que bem dito." (Benjamim Franklin) 4 - Inclusão Digital A democratização da sociedade da informação passa pela possibilidade dos vários setores da população terem acesso as tecnologias da informação, e pela respectiva capacidade de utilizarem tais tecnologias. A sociedade da informação deve construir para melhorar a qualidade de vida e bem estar de todos os cidadãos. (Brasil, 2000 ). A consideração, em particular, pelos cidadãos com necessidades especiais não representa apenas uma questão de solidariedade, é um aspecto da evolução de uma sociedade, onde todos deverão participar de acordo com suas características. A inclusão social é conceituada como um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam em parceria equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. Sendo assim, deve haver um esforço recíproco entre a sociedade e as minorias excluídas. (SASSAKI, 1997). Todos somos diferente, essa heterogeneidade é uma das características da humanidade, a partir do reconhecimento e da aceitação de nossas diferenças, podemos identificar os pontos em comum e não acentuar as diferenças. O termo Inclusão Digital vem sendo empregado dentro da perspectiva da inclusão social. A inclusão digital visa promover o uso de computadores por pessoas de baixa renda e tem como meta a preocupação de como o computador poderá ser utilizado por cidadãos com necessidades especiais, que representam 97 quase 15% da população brasileira, ou cerca de 25 milhões de pessoas (IBGE, 2001). Designam-se Cidadãos com Necessidades Especiais, aqueles que, por diversas razões se confrontam com limitações. A utilização do computador e o acesso à Internet possibilitam a esses indivíduos terem acesso a um conjunto imenso de informações, estabelecerem contatos e trocarem informações, exercerem alguma atividade profissional e encontrarem formas alternativas de lazer e educação. Os cidadãos devem, sem nenhuma discriminação, ter oportunidades de participar dos benefícios dos recursos tecnológicos, caso contrário as tecnologias de informação e comunicação (TICs) podem se tornar mais um fator de exclusão social. As TICs assumem um relevante papel mediador entre o indivíduo e a sociedade, sendo particularmente significativas as suas potencialidades como fator de inclusão social de populações com necessidades especiais. Neste contexto, constitui-se um fator de suma importância o desenvolvimento de produtos, sistemas e serviços acessíveis para o apoio aos cidadãos com necessidades especiais. Uma das formas em longo prazo de reduzir os custos associados ao desenvolvimento de produtos especializados para cidadãos com necessidades especiais poderá consistir no conceito de Design Universal ou Desenho para Todos, que presume a concepção e desenvolvimento de serviços, produtos e ambientes capazes de serem utilizados por Todos ou pelo menos pelo maior número possível de indivíduos sem a necessidade de adaptações a situações específicas. Em curto prazo o software livre pode ser uma alternativa, pois devido ao altíssimo custo de softwares e hardwares de tecnologia assistiva adaptados às necessidades específicas muitas vezes de um único tipo de limitação, inviabiliza o uso dessas tecnologias pelos cidadãos com necessidades especiais, visto que se encontram segundo dados estatísticos, em sua maioria na camada mais carente 98 da sociedade e normalmente freqüentam instituições de caráter assistencialista, que se mantém de doações e não têm condições de adquirir tais equipamentos ou programas. Além do que esses softwares possuem arquitetura proprietária, com código fechado, impedindo qualquer modificação ou adaptação sem que isso implique em uma dependência do produtor e novos gastos em relação à customização do produto. Com a consolidação da Internet e da Informática como uma das principais vias de comunicação mundial, conhecer estas tecnologias deixou de ser opção e tornou-se uma forte necessidade nos dias atuais. Cada vez mais empresas e escolas pedem conhecimentos na área, colocando à margem do mercado de trabalho aqueles que não possuem tais conhecimentos. Portanto, o não acesso a estas tecnologias acaba por excluir socialmente o cidadão. No entanto, incluir uma pessoa digitalmente não significa apenas permitir que esta tenha acesso a um computador e a rede mundial, mas também capacitá-la, por meio de cursos e trabalhos que permitam a ela desenvolver seu potencial e usar os recursos oferecidos pela Informática e Internet. O Mapa da exclusão digital, pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, surgiu para motivar o debate em relação ao chamado “apartheid digital”, oferecendo um diagnóstico das causas e conseqüências da exclusão digital. De acordo com a pesquisa, apenas 12,46% da população tem acesso ao computador e 8,31% à Internet. (FGV, 2003) No Censo Escolar, realizado pelo INEP/MEC( Brasil, 2006), mostra que do total de alunos matriculados no ensino fundamental regular, 25,4% estão matriculados em escolas com acesso à Informática e no ensino médio este percentual é de 45%. Não são apresentados dados sobre inclusão de alunos com necessidades especiais e possíveis adaptações para possibilitar seu acesso aos mesmos aos laboratórios. O relatório observa que o desempenho dos alunos que não tem acesso ao computador é menor do que os alunos que têm. Ainda há o destaque, que uma das melhores formas de combater o apartheid digital em longo 99 prazo é investir diretamente nas instituições de ensino, de modo que os alunos possam ter acesso desde cedo às novas tecnologias. O termo "inclusão digital" vem sendo empregado para promover o uso de computadores por pessoas de baixa renda, mas que é muito mais abrangente. Destaca-se ainda, que a inclusão digital, na verdade, deve ser entendida como parte da inclusão social, pois a partir do momento em que se cria um programa de computador, deve-se ter a preocupação de que seu uso se dará também por pessoas com deficiência, as quais representam segundo o IBGE (2000 ) quase 15% da população brasileira, ou 25 milhões de pessoas", destaca. A inclusão digital, em função das possibilidades que oferece às pessoas portadoras de deficiência, tem uma importância maior para essas pessoas do que para as demais. Ela é caracterizada, não é apenas o ensino de informática na escola, muito menos se restringe ao simples acesso a computadores. Envolve a tarefa de repensar a inserção das TIC no processo de construção de conhecimento através de acesso, colaboração, comunicação, representação e autoria. O desafio é oferecer informações e ferramentas que transformem dados em conhecimento. A democratização do acesso às tecnologias de comunicação e informação passa pela resolução de problemas de infraestrutura, capacitação, capilarização de serviços, participação na tomada de decisões e acesso amplo e igualitário aos conteúdos disponíveis ou que possam vir a ser oferecidos via Web. (Sirlei Pastore, Computação Brasil, SBC Dezembro de 2003, Ano IV Edição 12) Neste capítulo pretende-se abordar o referencial teórico sobre a Inclusão digital e suas possíveis contribuições na Inclusão Digital de Cidadãos com Necessidades especiais, notadamente os deficientes visuais, e sua contribuição no acesso e permanência desses alunos. 100 4.1 Tecnologias Assistivas e a Promoção da Inclusão do Deficiente Visual Diariamente, observamos pessoas ao nosso redor vivenciando a exclusão social. Os pobres, os negros, as mulheres, os idosos, os portadores de deficiência, dentre tantos outros excluídos, sofrem na luta diária por seus direitos constitucionais de ir e vir, de ter acesso à saúde, ao trabalho, à educação, à cultura, à moradia e ao lazer, que são na realidade, direitos inarredáveis e indivisíveis, característicos dos regimes políticos democráticos. Leis são criadas, atos de caráter administrativos são editados, mas apesar de tudo, constatamos que a sociedade exclui aqueles que ela não considera como iguais. Todavia, a diferença das pessoas, seja pela idade, deficiências, raça, gênero ou condição econômica, não diminui seus direitos; elas gozam de todos os direitos assegurados na legislação brasileira. Hoje em dia, pensar na construção de uma sociedade para todos, significa lidar com a diversidade humana e acreditar em princípios norteadores de eqüidade e solidariedade, para se criar no seio do povo, atitudes que ajudem a edificar uma sociedade mais justa e equânime. A ciência e a tecnologia nos tempos atuais inserem-se na vida de todos nós. A solução de problemas sociais que afetam o nosso país tem nelas um aliado imprescindível. Além da geração de novos conhecimentos, a ciência e a tecnologia devem estar a serviço de inovações tecnológicas que gerem riquezas, que tornem o país cada vez mais competitivo, mas fundamentalmente, que contribuam para elevar o bem-estar de toda sociedade. Pensar ciência e tecnologia para inclusão social passa pelo seguinte questionamento: qual o uso, a aplicação e a relevância das pesquisas científicas financiadas pelos órgãos governamentais? Podemos considerar que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) vêm se tornando, de forma crescente, importantes instrumentos de nossa 101 cultura e sua utilização um meio concreto de inclusão e interação no mundo (LEVY, 1999). Esta constatação é ainda mais evidente e verdadeira quando nos referimos a pessoas com necessidades especiais. Nestes casos, as TIC podem ser utilizadas como Tecnologia Assistiva, que consiste em toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia à pessoa portadora de deficiência. O objetivo da Tecnologia Assistiva é: "proporcionar à pessoa portadora de deficiência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação da comunicação, mobilidade, controle do seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, competição, trabalho e integração com a família, amigos e sociedade."... "Podem variar de um par de óculos ou uma simples bengala a um complexo sistema computadorizado" ( http://www.clik.com.br/ta_01.html ). A Tecnologia Assistiva é considerada um ramo da ciência voltado para a pesquisa, desenvolvimento e aplicação de instrumentos que aumentam ou restauram a função humana e que necessita, urgentemente, ser fortalecido no Brasil é a Tecnologia Assistiva. Também denominada de Adaptativa ou Ajuda Técnica, é toda aquela desenvolvida para permitir o aumento da autonomia e independência de idosos e de pessoas portadoras de deficiência em suas atividades domésticas ou ocupacionais de vida diária. A aplicação de Tecnologia Assistiva abarca uma série de possibilidades do desempenho humano, desde tarefas básicas de autocuidado (mobilidade, comunicação, manutenção do lar, preparo de alimentos, tarefas ocupacionais), até atividades de lazer, trabalho e educação. A obtenção de autonomia, ou a máxima 102 autonomia possível, é com certeza, um dos caminhos para a inclusão social dos idosos e das pessoas portadoras de deficiência e deve, portanto, constituir-se em premissa para qualquer intervenção em matéria de reabilitação e inclusão social. Estamos falando de um enorme contingente de brasileiros que podem e devem se beneficiar de tal tecnologia. Segundo o documento Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE (2003), havia no país em 2002, mais de 16 milhões pessoas com 60 anos ou mais, representando 9,3% do total de habitantes. Quanto às pessoas portadoras de deficiência, esse grupo social representava 14,5% da população brasileira em 2000, segundo o Censo Demográfico 2000 pelo IBGE. (IBGE, 2001) Infelizmente, o uso de Tecnologias Assistivas no Brasil ainda é restrito, tanto para instrumentos de alta tecnologia, como para os menos sofisticados, os que auxiliam a realização das atividades do dia-a-dia (higiene pessoal, alimentação, vestuário, manusear livros, manusear telefones, escrita, etc.). Os motivos são os mais variados: falta de conhecimento do público usuário a respeito das tecnologias disponíveis; falta de orientação aos usuários pelos profissionais da área de reabilitação; alto custo; carência de produtos no mercado; falta de financiamento para pesquisa; dentre outros. Entretanto, a nosso ver, a ausência de uma política pública de incentivo ao desenvolvimento e à produção de Tecnologia Assistiva no Brasil, contribui fortemente para que a sociedade em geral desconheça o potencial dessa tecnologia para a autonomia de idosos e de pessoas portadoras de deficiência e sua real contribuição para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. O que temos atualmente é o Projeto PROINESP – Programa de Informática na Educação Especial- lançado pelo Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação Especial em 2000 que visa a incentivar o uso pedagógico das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na educação dos alunos portadores de necessidades especiais matriculados em escolas especializadas, mantidas por organizações não-governamentais sem fins 103 lucrativos, por meio da disponibilização de recursos tecnológicos e, concomitantemente, da qualificação de professores destas escolas. Atualmente também podem ser contempladas com laboratórios de informática e capacitação de professores à distância as escolas públicas especializadas, escolas públicas com atendimento inclusivo e instituições especializadas sem fins lucrativos que registraram alunos no censo escolar. Necessitamos não só de incentivo ao uso, mais também a produção destas tecnologias. Neste trabalho tem-se o objetivo de apresentar algumas das principais Tecnologias Assistivas disponíveis ao deficiente visual, com o propósito de disseminar e fortalecer iniciativas voltadas para a promoção da inclusão. Temos convicção de que trabalhar para a inclusão significa trabalhar para a conquista e a prática da cidadania e, nesse sentido, Tecnologia Assistiva é um importante instrumento que não pode ser desconsiderado. "A importância que assumem essas tecnologias no âmbito da Educação Especial já vem sendo destacada como a parte da educação que mais está e estará sendo afetada pelos avanços e aplicações que vêm ocorrendo nessa área para atender necessidades específicas, face às limitações de pessoas no âmbito mental, físico-sensorial e motora com repercussão nas dimensões sócio-afetivas." (SANTAROSA, 1997 ) 104 4.2 Categorias da Tecnologia Assistiva Os produtos relacionados à Tecnologia Assistivas podem variar de uma simples bengala a um complexo sistema computadorizado. Estão incluídos brinquedos e roupas adaptadas, computadores, softwares, dispositivos para sentar e posicionar, carros e adaptações para mobilidade manual e elétrica, equipamentos de comunicação aumentativa, chaves e acionadores especiais, aparelhos de escuta assistida, auxílios visuais, materiais protéticos e milhares de outros itens adaptados ou disponíveis comercialmente. A tecnologia assistiva pode ser categorizada do acordo com as áreas de aplicabilidade: Auxílios para a vida diária: materiais e produtos para auxílio em tarefas rotineiras tais como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais, manutenção da casa etc. CSA - Comunicação suplementar e alternativa: recursos, eletrônicos ou não, que permitem a comunicação expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com limitações da mesma. Acessórios para computador: equipamentos de entrada e saída (síntese de voz, Braille), auxílios alternativos de acesso (ponteiras de cabeça, de luz), teclados modificados ou alternativos, chaves, acionadores, softwares especiais etc., que permitem às pessoas com deficiência usarem o computador. Esta categoria inclui os softwares de reconhecimento de voz. Sistemas de controle de ambiente: sistemas eletrônicos que permitem às pessoas com limitações moto-locomotoras, controlar remotamente aparelhos eletro-eletrônicos, sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. Modificações em casa e no ambiente de trabalho: adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho (rampas, elevadores, adaptações em banheiros), que retiram ou reduzem as 105 barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência. Órteses e próteses: troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos ortopédicos (talas, apoios etc.). Inclui-se os protéticos para auxiliar nos déficits ou limitações cognitivas, como os gravadores de fita magnética ou digital, que funcionam como lembretes instantâneos. Sentar e posicionar (seating): adaptações para cadeira de rodas ou outro sistema de sentar que visa à redução da pressão na superfície da pele (almofadas especiais, assentos e encostos anatômicos), bem como posicionadores que propiciam maior estabilidade e postura adequada do corpo através do suporte e posicionamento de tronco/cabeça/membros. Auxílios para deficientes visuais ou de visão subnormal: auxílios para grupos específicos que inclui lupas e lentes, Braille para equipamentos com síntese de voz, grandes telas de impressão, sistema de TV com aumento para leitura de documentos, publicações etc. Auxílios para deficientes auditivos: auxílios que inclui vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado - teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros. Auxílios de mobilidade: cadeiras de rodas manuais e elétricas, bases móveis, andadores, e qualquer outro veículo utilizado na melhoria da mobilidade pessoal. Adaptações em veículos: acessórios e adaptações que possibilitam a condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros veículos automotores usados no transporte pessoal. 106 4.2.1. A Informática como um Aliado para a Inclusão de Deficientes Visuais A Constituição Federal Brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelecem que a educação seja um direito de todos, garantindo atendimento educacional gratuito especializado aos portadores de necessidades educativas especiais. Nessa perspectiva inclusiva da educação e sabendo-se que 14,5% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência, torna-se imprescindível que as instituições educacionais prevejam as necessidades, as limitações, as potencialidades e os interesses de cada aluno, ou seja, que busquem a melhor alternativa de aprendizagem de acordo com as necessidades específicas dos alunos. É necessário criar um espaço inclusivo, removendo as barreiras para a aprendizagem, promovendo uma equiparação de oportunidades, processo do qual a escola torna-se acessível a todos. Democratizar a educação significa propiciar a todos o acesso e a permanência, com qualidade, na escola. A não garantia de acesso e permanência de todos na escola é a forma mais perversa de exclusão social, pois nega o direito a educação. Para garantir a inclusão é necessário acionar todos os meios que efetivamente favoreçam e possibilitem o acesso e permanência com qualidade desses alunos, nas escolas regulares. O uso das TIC podem trazer para a educação destinada a essas pessoas, mudanças significativas, pois o computador juntamente com a Internet, permite a criação de um ambiente de aprendizagem adequado ao desenvolvimento de suas potencialidades, reduzindo as desigualdades e minimizando as dificuldades A educação especial é defendida como uma modalidade de ensino que se caracteriza por um conjunto de recursos e serviços educacionais especialmente organizados para apoiar, suplementar e em alguns casos substituir os serviços educacionais convencionais, de modo a garantir a educação de alunos com necessidades educativas muito distintas. ( Brasil 2001) Resolução CNE/CEB nº2 de 2001.) 107 A Educação especial, segundo Valente (1991), tem como objetivos ou deveria ter, os mesmos estabelecidos para a Educação geral, ou seja, proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para a cidadania. Segundo o mesmo autor, a educação que deveria ser diferenciada apenas para atender as necessidades de cada indivíduo, de acordo com sua necessidade muitas vezes é caracterizada como uma mera versão inferior da educação geral. A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 1996, define a educação especial por ― uma modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades educacionais especiais. Caracterizando-se por constituir processo flexível, dinâmico e individualizado ―, ela perpassa transversalmente todos os níveis de ensino, desde a educação infantil ao ensino superior. Esta modalidade é considerada como um conjunto de recursos educacionais e estratégias de apoio que estejam à disposição de todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de atendimento. Acentua-se, assim, a importância de criar condições que facilitem a aprendizagem de todos os alunos. Isso exige considerar as diferenças entre eles como um recurso para o enriquecimento das atividades de aprendizagem. O uso de tecnologias, de modo geral, tem permitido a muitos alunos participarem de forma efetiva em atividades acadêmicas, profissionais, culturais, de lazer, obtendo uma boa performance na interação e aprendizagem dos mesmos. Os alunos com necessidades especiais podem, com o auxílio das Tecnologias Assistivas, escrever, ler, resolver problemas de diferentes tipos, enfim, realizar uma série de atividades que antes não poderiam ser realizadas de forma independente. Através desta constatação, o governo federal complementou o PROINFO, programa educacional que visa à introdução das novas tecnologias de informação e comunicação na escola pública como ferramenta de apoio ao processo de 108 ensino-aprendizagem, criou também o PROINESP, programa de informática na educação especial, que a princípio atendeu às escolas ligadas a instituições não governamentais que atendem a indivíduos com necessidades educativas especiais. O programa consiste no financiamento de equipamentos e softwares, bem como a capacitação de professores para atender de forma eficiente esta clientela. Através deste projeto tem-se constatado que apesar dos problemas e limitações, tem-se observado que a utilização das Tecnologias Assistivas na educação especial vem produzindo maiores e melhores resultados quando comparada a educação geral. Também nota-se que grande parte das atividades que são planejadas e executadas para os alunos com necessidades educativas especiais, principalmente na área de software, resulta em benefícios a outros usuários, estendendo-se seu uso a outros alunos e facilitando o processo de inclusão. No entanto, são poucas as escolas públicas, por exemplo, com rampas ou elevadores apropriados para o acesso de pessoas que necessitam se locomover com uma cadeira de rodas. Nas bibliotecas, é difícil encontrar livros em Braille. Da mesma forma é importante que os recursos de informática utilizados pelos alunos, possuam adaptações, de hardware ou software, para garantir a acessibilidade aos PNEEs usufruam de todos os recursos necessários. A informática na educação especial é a junção das metodologias de ensino usadas na educação especial com as diversas modalidades de uso do computador na educação, mostrando assim as diversas maneiras de como o computador pode ser usado na educação especial. Praticamente todo o material educacional pode ser adaptado para o meio digital. Com a vantagem da flexibilidade de ser convertido em diferentes mídias e da possibilidade de ser adaptáveis às mais diversas necessidades educativas. A utilização da informática na educação especial representa um importante papel no sentido de facilitar e socializar a produção de conhecimento que se encontrava inacessível, ao mesmo tempo o computador pode servir como um 109 recurso facilitador na execução de uma série de atividades como, leitura, escrita, acesso e disponibilização de informações. Assim como na educação regular, na educação especial também se notou resultados muito positivos no uso do computador como ferramenta auxiliar. Portanto, computadores podem desempenhar o papel de excelentes auxiliares na educação, inclusão e reabilitação de PNEEs, permitindo que tais pessoas possam construir seus próprios conhecimentos. Os programas de software e os computadores acessíveis podem fazer com que todos, incluindo as pessoas com vários graus de incapacidades, utilizem estas tecnologias com êxito no trabalho, na educação e como entretenimento. À medida que os computadores se tornam cada vez mais parte integrante das atividades cotidianas, a preocupação em torná-los verdadeiramente acessíveis é cada vez mais urgente. Para aqueles cuja autonomia é condicionada por inúmeras barreiras, dificuldades em utilizar meios de transporte público ou privado, desvantagens no acesso à informação que os impedem de conhecer e viver a "normalidade", a utilização de um computador e o acesso à Internet podem significar uma liberdade até aí apenas sonhada. 110 4.2.2 A Tecnologia Assistiva no Apoio ao Deficiente Visual Um dos problemas básicos do deficiente visual, em especial do cego, é a carência de material didático adequado para a condução de sua aprendizagem. Os recursos didáticos, neste contexto, podem ser definidos como todos os recursos físicos, utilizados com maior ou menor freqüência, que visam auxiliar o educando a realizar sua aprendizagem mais eficiente, constituindo-se num meio para facilitar, incentivar ou possibilitar o processo de ensino-aprendizagem. Esta seção destina-se a apresentar algumas das principais tecnologias disponíveis ao deficiente visual, com o objetivo de ser um ―passo inicial‖, na busca de alternativas no apoio as mais diversas necessidades educacionais que o cego possa ter. Esses produtos foram pesquisados entre os principais fornecedores nacionais de equipamentos destinados a cegos. A lista não visa ser exaustiva, e sim, apresentar os produtos mais utilizados Os dispositivos voltados para o usuário cego ma maioria das vezes também pode ser utilizado por um usuário com visão subnormal, Carvalho(1999) recomenda, no entanto, que se utilize o máximo possível o resíduo visual. As tecnologias de acesso ao deficiente visual apresentadas neste capítulo foram compiladas de Carvalho(1999) além de materiais técnicos e comerciais de produtos do mercado. Apesar de se tratar de um trabalho acadêmico, serão apresentados alguns exemplos de produtos com caráter meramente ilustrativo. Dentre as tecnologias voltadas ao deficiente visual podemos destacar: 111 Dispositivos de Ampliação Ampliadores de Tela de Computador: São aplicativos que ampliam parte da interface gráfica apresentada na tela do computador e, assim, podem facilitar seu uso por pessoas com baixa visão, capazes de enxergar elementos de interface e conteúdo apresentados no tamanho exibido por esses aplicativos. Na medida em que ampliam parte da interface, também reduzem a área que pode ser visualizada, removendo informações de contexto. São exemplos deste tipo de tecnologia assistiva a Lente de Aumento do Sistema Operacional Microsoft® Windows e a Lente pro. CCTV: Os sistemas de circuito fechado de televisão(CCTV) oferecem a possibilidade de ampliar em até 60 vezes o texto. Figura 22: Circuito fechado de televisão http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Lentes: Utilizadas para ampliar textos, imagens ou objetos. Figura 23: Lentes para Leitura http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php 112 Dispositivos de Áudio Braille Falado: Aparelho eletrônico portátil que funciona como agenda eletrônica, editor de textos e outras aplicações. Os dados são armazenados em formato digital, introduzidos via teclado Braille. Os dados podem posteriormente serem transmitidos ao computador acoplado a uma impressora Braille. A comunicação é feita via sintetizador de voz. Figura 24: Braille Falado Fonte http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Gravadores de Fita Cassete: Recurso para armazenamento de informação e posterior recuperação auditiva de baixo custo. Tem sido amplamante utilizado para gravar aulas. No Brasil existem algumas audiotecas que disponibilizam acervos de áudio livro. Sistetizadores de Voz.: São aplicativos que viabilizam a leitura de informações textuais via sintetizador de voz e, assim, podem ser utilizados por pessoas com deficiência visual (ex. pessoas com baixa visão, pessoas cegas), por pessoas que estejam com a visão direcionada a outra atividade, ou até mesmo por aquelas que tenham dificuldade para ler. São exemplos de leitores de telas: Jaws for Windows da Freedom Scientific, Virtual Vision da Micro Power e Monitivox. A figura, a seguir, ilustra o painel de controle do leitor de telas Jaws for Windows. 113 Reconhecimento de Voz: Viabilizam a interação com o computador via voz e, assim, podem ser utilizados por pessoas que estejam com a mobilidade dos membros superiores comprometida. Em geral, aplicações que podem ser utilizadas amplamente via teclado também podem ser acionadas via síntese de voz. Exemplos de sistemas para entrada de voz são o IBM Via Voice e o Motrix. A figura, a seguir, ilustra um cenário de uso deste tipo de tecnologia, no qual é necessária, além do software de reconhecimento de voz, a configuração adequada do sistema multimídia que dá suporte à interação humano-computador. Dispositivis Táteis Impressoras Braille: Imprimem, em papel, informações codificadas em texto para o sistema braile (ex. textos, partituras, equações matemáticas, gráficos, etc). Existem impressoras braile, que utilizam um sistema denominado interpontos, viabilizando a impressão nos dois lados do papel. Figura 25: Impressora Braille http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Máquinas de Datilografia Braille: Equipamento mecânico semelhante a máquina de escrever comum, porém com o objetivo de escrever caracteres Braille em uma folha de papel. Apesar de ser um equipamento simples tinha um alto custo por ser importado. Um acordo 114 entre a Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, conhecida como Fundação Laramara, o Serviço Nacional da Indústria (SENAI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) pretende iniciar no Brasil a fabricação de máquinas de escrever em braile e tornar o país auto-suficiente. O aparelho é de origem norte- americana e é usado para produzir impressões tácteis para deficientes visuais. Para o presidente da Laramara, o maior desafio é baixar o custo do equipamento, cujo valor de venda no Brasil é de R$ 3.500. Mesmo com alto custo, existe uma fila de espera para a aquisição, que se tornou mais uma segunda barreira a enfrentar. Para iniciar a produção nacional, a associação já obteve os direitos de fabricação no Brasil, sem custos, e construiu uma fábrica, para a linha de montagem. Figura 26: Máquina Braille http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Regletes: Dispositivo portátil amplamente utilizado para a escrita em Braille, devido ao seu baixo custo. É composto por uma prancha de madeira, uma régua de metal, a reglete propriamente dita e um punção, formado por uma pequena haste de metal que perfura o papel. 115 Figura 27: Reglete e punção http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Instrumentos Matemáticos: Composto por: uma régua Braille de 30 cm, um transferidor Braille de 180 graus, um esquadro Braille de 14 cm e um gabarito de formas geométricas medindo 23,5cm de comprimento, todos estes fabricados em PS Cristal de Alto Impacto. Também inclui um compasso de plástico, uma carretilha de metal com cabo de madeira e uma prancheta revestida em tecido sintético com memória (não fica marcado). Além do Sorobã para cálculos matemáticos. Figura 28: Materiais de apoio ao ensino de matemática http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php 116 Terminais de Acesso Braille ou Linha Braille: Dispositivos de hardware, compostos por fileiras(s) de células Braile eletrônicas, que reproduzem informações codificadas em texto para o sistema Braile e, assim, podem ser utilizadas por usuários que saibam interpretar informações codificadas nesse sistema (ex. pessoas cegas, pessoas com baixa visão). Figura 29: Terminal Braille http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Copiadoras de Alto Relevo: É ideal para duplicação de original Braille, criando cópias para uso permanente. Indicado, também, para criar auxílios táteis em alto relevo para apoio educacional. Figura 30: Copiadora em alto-relevo http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Canetas de Alto Relevo: Caneta com sistema de aquecimento que permite criar desenhos em relevo diretamente no flexi paper, papel micro- capsulado, papel especial para produção de imagens em relevo. É 117 composta por milhares de micro-capsulas que se expandem quando expostas ao calor Figura 31: Caneta de alto relevo http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php Desenhador Braille: Instrumento para criar figuras e desenhos em Braille marcando no papel um ponto Braille de cada vez. Figura 32: Desenhador Braille http://www.bengalabranca.com.br/produtos.php 118 Dispositivos Transcritores Sistemas OCR. O reconhecimento ótico de caracteres (OCR) possibilita a captura de dados na forma escrita para a forma digital, possibilitando assim que os sistemas de síntese de voz possam ler para o deficiente visual um texto que, originalmente, se encontrava inacessível. Sistemas OBR. O reconhecimento Ótico de Braille permite a recuperação de textos originalmente escritos em Braille, permitindo sua duplicação. Transcritor Braille. Softwares que executam a tradução de textos escritos no sistema óptico ( sistema de escrita convencional ), para o sistema Braille Das tecnologias assistivas apresentadas acima, gostaria de ressaltar o sistema operacional DOSVOX, desenvolvido pelo grupo de pesquisa do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Esse sistema, desenvolvido para microcomputadores da linha PC, com mais de 80 programas - editores de texto, telnet, FTP, navegadores, jogos, etc., é gratuito e tem sido amplamente utilizado no Brasil por pessoas com deficiência visual. Comunica-se com o usuário por meio de síntese de voz, enquanto que a comunicação do usuário com o computador é realizada via teclado. Além de ser gratuito seu código é aberto permitindo que se realizem modificações, com intuito de colaborar para o aperfeiçoamento do sistema. 119 Figura 33: Tela Inicial do Sistema Dosvox Existem muitos outros exemplos de Tecnologia Assistivas voltada para o deficiente visual, neste capítulo o objetivo foi apresentar suas principais categorias. No Virtual CAP, poderá ser visto, com maior profundidade exemplos de hardwares e softwares, com suas respectivas descrições e fornecedores. 120 CAPÍTULO V "Ninguém sabe completamente o que um homem pode conseguir até que, motivado pela vontade, ele reúna suas forças e decida que nada irá derrotá-lo.” (Germaine Saint Cloud). 5- Desenvolvimentos do Virtual CAP Centro de Apoio Pedagógico Virtual Este projeto visa produzir um guia eletrônico em português com o objetivo de divulgar informações relativas à promoção da inclusão do deficiente visual na educação, com informações sistematizadas para que pessoas com deficiência, desenvolvedores, pesquisadores e interessados no assunto possam usá-los e modificá-los livremente. Para ta,l o sistema proposto foi desenvolvido com base na Acessibilidade, que significa permitir (ou possibilitar) que pessoas com deficiências participem de atividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação usando as Tecnologias Assistivas descritas no capítulo 4, que estão disponíveis para minimizar as dificuldades de acesso de pessoas com deficiências, com o uso dos recursos da tecnologia. E, como metodologia de desenvolvimento, foi utilizada a Engenharia de Usabilidade para o desenvolvimento,do Portal. 121 5.1. Descrição do CAP Iniciativas de apoio ao deficiente visual no país são escassas. O acesso à Internet se dá de maneira precária, pois além da dificuldade no acesso as Tecnologias Assistivas, a forma como as páginas são confeccionadas constitui-se em uma grande barreira, que muitas vezes impossibilita a interação do deficiente visual com as informações e serviços disponíveis na Internet. A educação do aluno deficiente visual pode se processar por meio de programas diferentes desenvolvidos em classes especiais, mantidas por escolas especiais, historicamente denominadas de segregadas, ou no ensino integrado, nas classes especiais, nas salas de recursos, no ensino itinerante ou na classe comum, recebendo apoio do professor especializado. Em qualquer destes programas os objetivos, conteúdos e procedimentos não são essencialmente diferentes da educação comum; tais alunos necessitam de uma boa educação geral, somada a um tipo de educação compatível com seus requisitos especiais, fazendo ou não, uso de materiais ou equipamentos de apoio. A educação do deficiente visual, como toda educação especial, necessita de professores preparados nesta área, métodos e técnicas específicas de trabalho, instalações e equipamentos especiais, bem como algumas adaptações ou adições curriculares. O principal fator a considerar no encaminhamento de um aluno aos programas de educação especial para deficientes visuais é a existência de um impedimento visual de tal ordem que, mesmo após correção óptica ou tratamento, ela não apresente condições para acompanhar o ensino regular sem as devidas adaptações ou recursos específicos, requerendo a participação de especialistas para orientação e desenvolvimento de habilidades que permitam, progressivamente, sua inclusão no ensino comum. A tendência atual da educação especial, em todo o mundo, é manter na escola comum o maior número possível de alunos com necessidades educativas 122 especiais. Aquelas que podem ser educadas num programa regular de ensino, com ou sem serviços suplementares, não devem ser institucionalizadas. Esta posição há muito tempo vem sendo considerada mais desejável, tanto do ponto de vista ético, quanto social e econômico. O interesse da criança, da família e da comunidade em geral, é melhor atendido quando os programas de educação especial são instalados em escolas locais, proporcionando ao educando o máximo de convivência com outras crianças e pessoas de seu próprio círculo de relações sociais. O aluno cego ou de visão subnormal precisa aprender a viver num mundo de pessoas que não apresentam deficiência, mesmo que este processo lhe seja, muitas vezes, difícil e penoso. Cabe à sociedade a responsabilidade de prover os auxílios necessários para que o aluno se capacite e possa integrar-se no grupo social a que pertence. Assim sendo, a forma ideal de educação é aquela que proporciona ao aluno maiores oportunidades de assimilação pelo sistema comum de ensino. Segundo esses pressupostos, a rede regular de ensino deve manter em suas escolas serviços de apoio pedagógico para esta clientela. A proposta do Virtual CAP é oferecer serviços especializados complementares a alunos matriculados, inicialmente no ensino superior, orientando os pais, professores, pessoal da escola e a comunidade. O CAP funciona como uma sala de recursos. Neste tipo de atendimento, o aluno cego ou portador de visão subnormal, após avaliação educacional e desenvolvimento de atividades introdutórias, pode recorrer ao CAP quando encontrar dificuldades de aprendizagem decorrentes de problemas impostos por sua limitação visual. Embora o processo educativo do aluno se desenvolva na classe em que está matriculado, este poderá recorrer ao CAP sempre que necessitar de materiais, da suplementação de aulas através de material didático que facilite a concretização do aprendizado. Este material está sendo produzido e em alguns já se encontram disponíveis. 123 O Virtual CAP baseia-se no modelo criado em 1994 pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, cujo projeto serviu de modelo para os demais. O Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual, institucionalizado pelo Ministério da Educação através da Secretaria de Educação Especial, é resultado de um trabalho conjunto entre esta Secretaria e as entidades filiadas à União Brasileira de Cegos UBC (Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais, Instituto Benjamin Constant e Fundação Dorina Nowill para Cegos). O objetivo do Projeto CAP é garantir às pessoas cegas e às de baixa visão o acesso ao conteúdo programático desenvolvido na escola de ensino regular, assim como acesso a literatura, à pesquisa e à cultura por meio da utilização de equipamentos da moderna tecnologia e da impressão do livro em Braille. Uma das alternativas para dinamizar e favorecer a integração dos deficientes visuais consiste, principalmente, na produção de material impresso em Braille, na ampliação de textos, na adaptação de materiais, na qualificação de recursos humanos e outros recursos necessários ao processo de ensino e aprendizagem do aluno. Além do atendimento específico ao deficiente visual, o CAP orienta pais e professores das escolas onde os alunos estão matriculados, além de organizar programas e cursos para formação continuada e de capacitação dos professores especializados da rede, colocando à disposição dos mesmos, bibliografia atualizada, materiais de apoio e equipamentos de última geração para uso deles e de seus alunos. Desta forma, os CAPs poderão se estruturar oferecendo serviços entre eles o Núcleo de Apoio Didático Pedagógico, que compreende um espaço contendo acervo de materiais e equipamentos específicos ao processo de ensino e aprendizagem, tendo a função de apoiar alunos, professores e comunidade. Visa ainda promover curso de atualização, aperfeiçoamento ou capacitação em 124 serviços para professores, além de cursos específicos da área de educação para pais e comunidade. Pretende-se ampliar e completar com o Núcleo de Tecnologias, que se constitui em um conjunto de equipamentos e materiais especializados ou adaptados, com o objetivo de promover a independência do educando com deficiência visual, por meio do acesso e utilização da tecnologia moderna para a produção de textos, estudos, pesquisas e outros, e um Núcleo de Convivência – um espaço interativo planejado para favorecer a convivência, troca de experiências, pesquisa e desenvolvimento de atividades lúdicas e culturais, integrando usuários com ou sem deficiência. 5.2 Acessibilidade Acessibilidade significa facilidade de interação, aproximação. A acessibilidade no âmbito das tecnologias de informação está associada a ações que tem como objetivo tornar os computadores mais acessíveis a todos os usuários. Figura 34 Integração Desenvolvedores e Usuários http://www.maujor.com/w3c/wcacomponents/bridge.png 125 Segundo Godinho (GUIA, 2001) a Acessibilidade envolve três noções: "Usuários", "Situação" e "Ambiente": O termo "Usuários" significa que nenhum obstáculo deverá ser imposto ao indivíduo face às suas capacidades sensoriais e funcionais. O termo "Situação" significa que o sistema é acessível e utilizável em diversas situações, independentemente do software, comunicações ou equipamentos e o termo "Ambiente" significa que o acesso não é condicionado pelo ambiente físico envolvente, exterior ou interior. A acessibilidade na Internet caracteriza-se pela flexibilidade da informação e interação. Esta flexibilidade torna possível sua utilização por pessoas com necessidades especiais, bem como a utilização em diferentes ambientes e situações através de vários equipamentos ou navegadores. Os principais problemas sentidos por usuários deficientes visuais são dificuldades em obter informações apresentadas visualmente; interagir usando um dispositivo diferente do teclado; distinguir rapidamente os links num documento; navegar através de conceitos espaciais; distinguir entre outros sons uma voz produzida por síntese. A adoção de técnicas de acessibilidade na concepção das páginas e aplicações para a Internet não são limitações, antes pelo contrário, estas as tornam mais robustas, flexíveis, rápidas e fáceis de usar para usuários em geral. Permitem, também, a utilização de equipamentos menos convencionais para o acesso à Internet como a televisão, o telefone e equipamentos eletrônicos de bolso, bem como a utilização de equipamentos mais antigos. As normas de acessibilidade devem ser usadas pelos responsáveis pelo desenvolvimento dos conteúdos, sendo estes responsáveis pela qualidade e quantidade de informações que serão transmitidas aos indivíduos portadores de deficiência. Embora as normas técnicas sejam de uso voluntário, passam a ter força de lei quando mencionadas explicitamente no corpo legislativo. É o que acontece com as normas de acessibilidade que passaram a integrar a legislação federal e estadual. As regulamentações dessas leis, estabelecendo penalidades e a prática 126 da fiscalização de seu cumprimento por parte de órgãos executivos e judiciários, vão favorecer a implantação da acessibilidade em todos os municípios brasileiros. Uma resolução da International Organization for Standardization - ISO, de abril de 2000, reconhece um aspecto fundamental da acessibilidade, o desenho universal, como um conceito a ser estendido a todas as normas. (ISO 1993) No Brasil, o organismo legalmente constituído para cuidar das normas técnicas é a Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, afiliada à ISO e atuante desde 1940. A ABNT está dividida em comitês nacionais, entre eles o Comitê Brasileiro de Acessibilidade - CB 40 que começou a atuar no ano de 2000. Na Legislação Brasileira sobre acessibilidade podemos citar: Decreto 5.296 de 2 de dezembro de 2004. que regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e O decreto 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. A Lei de Acessibilidade Lei 10.098, 19/12/2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências, e o Decreto 3.298, 20/12/1999 que regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências 127 Enquanto a acessibilidade, visa criar adptações para necessidades específicas, o design universal engloba o projeto de produtos para todas as pessoas, adotando o princípio de design, o termo design acessível é um subconjunto do design universal, com o intuito de estender o processo de design de produtos de massa também às pessoas com alguma limitação de uso ou incapacidade (DIAS, 2003). A palavra Acessibilidade, deve ser compreendida não apenas como o acesso à rede de informações, mas também como a eliminação de barreiras arquitetônicas, de comunicação e de acesso físico, equipamentos e programas adequados, bem como conteúdo e apresentação de informações em formatos alternativos . Figura 35 Aluno em curso na Prodam No Brasil, o decreto lei nº 3.298, de 1999, define acessibilidade como: “a possibilidade e condição de alcance para a utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das instalações e equipamentos esportivos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida” 128 No contexto da informática, o termo acessibilidade é freqüentemente associado à capacidade de um software ou hardware ser acessado e utilizado por indivíduos com necessidades especiais, mesmo que a forma de uso não seja idêntica para todos. Em outras palavras, acessibilidade é a habilidade de um indivíduo acessar e usar um produto de modo eficaz e eficiente, atingindo resultados equivalentes por meios diversos. Na Web significa que qualquer pessoa, usando qualquer tipo de tecnologia deve ser capaz de visitar e interagir com qualquer site, compreendendo inteiramente as informações nele apresentadas. Permitir a acessibilidade aos cidadãos com necessidades especiais faz parte do processo de inclusão digital, pois o computador e o software padrão não estão completamente preparados para todos os usuários. As pessoas com limitações necessitam freqüentemente recorrer a adaptações ou interfaces específicas de forma a compensar limitações sensoriais e motoras. A necessidade de adquirir soluções adicionais constitui uma desvantagem econômica e técnica. O termo "acessibilidade" começou a ser utilizado recentemente. Historicamente, a origem do uso desse termo para designar a condição de acesso das pessoas com deficiência está no surgimento dos serviços de reabilitação física e profissional, no final da década de 40. Na década de 50, com a prática da reintegração de adultos reabilitados, ocorrida na própria família, no mercado de trabalho e na comunidade em geral, profissionais de reabilitação constatavam que essa prática era dificultada e até impedida pela existência de barreiras arquitetônicas nos espaços urbanos, nos edifícios e residências e nos meios de transporte coletivo. Surgia, assim, a fase da integração, que duraria cerca de 40 anos até ser substituída gradativamente pela fase da inclusão. Na década de 60, algumas universidades americanas iniciaram as primeiras experiências de eliminação de barreiras arquitetônicas existentes em seus 129 recintos: áreas externas, estacionamentos, salas de aula, laboratórios, bibliotecas, lanchonetes etc. Na década de 70, graças ao surgimento do primeiro centro de vida independente do mundo (que aconteceu na cidade de Berkeley, Califórnia, EUA), aumentaram a preocupação e os debates sobre a eliminação de barreiras arquitetônicas, bem como a operacionalização das soluções idealizadas. Na década de 80, impulsionado pela pressão do Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981), o segmento de pessoas com deficiência desenvolveu verdadeiras campanhas em âmbito mundial para alertar a sociedade a respeito das barreiras arquitetônicas e exigir não apenas a eliminação delas (desenho adaptável) como também a não-inserção de barreiras já nos projetos arquitetônicos (desenho acessível). Pelo desenho adaptável, a preocupação é no sentido de adaptar os ambientes obstrutivos. Já pelo desenho acessível, a preocupação está em exigir que os arquitetos, engenheiros, urbanistas e desenhistas industriais não incorporem elementos obstrutivos nos projetos de construção de ambientes e utensílios. Tanto no desenho adaptável como no acessível, o beneficiado específico é a pessoa com deficiência. Na segunda metade da década de 80, surgiu o conceito de inclusão contrapondo-se ao de integração. Na década de 90, começou a ficar cada vez mais claro que a acessibilidade deverá seguir o paradigma do desenho universal, segundo o qual os ambientes, os meios de transporte e os utensílios sejam projetados para todos e, portanto, não apenas para pessoas com deficiência. E, com o advento da fase da inclusão, hoje entendemos que a acessibilidade não é apenas arquitetônica, pois existem barreiras de vários tipos também em outros contextos que não o do ambiente arquitetônico. São basicamente seis os contextos, de acessibilidade: 130 Acessibilidade arquitetônica: sem barreiras ambientais físicas, nas residências, nos edifícios, nos espaços urbanos, nos equipamentos urbanos, nos meios de transporte individual ou coletivo. Acessibilidade comunicacional: sem barreiras na comunicação interpessoal (face-a-face, língua de sinais), escrita (jornal, revista, livro, carta, apostila etc., incluindo textos em braile, uso do computador portátil), virtual (acessibilidade digital). Acessibilidade metodológica: sem barreiras nos métodos e técnicas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de ação comunitária (social, cultural, artística etc.), de educação dos filhos (familiar). Acessibilidade instrumental: sem barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de lazer e recreação (comunitária, turística, esportiva etc.). Acessibilidade programática: sem barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas (leis, decretos, portarias etc.), normas e regulamentos (institucionais empresariais etc.). Acessibilidade atitudinal: sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, nas pessoas em geral. A propósito, a acessibilidade tecnológica não constitui outro tipo de acessibilidade e sim o aspecto tecnológico que permeia as acessibilidades acima. Podemos, por exemplo, dizer que uma escola (sociedade, empresa etc.) inclusiva é aquela que está implementando gradativamente as medidas efetivas de acessibilidade naqueles seis contextos. (Sassaki, 2003) De acordo com censo brasileiro de 2000, 16,5 milhões de pessoas sofrem de deficiência visual e 159 mil são incapazes de enxergar. Cabe a cada um de nós, como desenvolvedores e usuários da Internet, compreender um pouco sobre acessibilidade virtual e exigirmos, mais e mais, esta condição para que não surja uma nova categoria de "marginalizados" ou excluídos digitais. Acessibilidade é a 131 tradução operacional do direito básico de ir e vir, de forma independente, em todos os ambientes seja físico ou virtual. 132 5.3. Design Universal Em 1963 foi criada em Washington-EUA uma comissão para um ―Desenho Livre de Barreiras‖, que se constituía em uma corrente ideológica para o desenho de equipamentos, edifícios e áreas urbanas. A prática dessa ideologia não significava remover barreiras, mas cuidar para que elas não viessem a existir. Em alguns países é uma etapa já superada considerar a supressão ou eliminação de barreiras como uma área específica do projeto arquitetônico. O conceito de um desenho livre de barreiras acabou evoluindo para um desenho universal. Universal por se destinar a qualquer pessoa e por ser fundamental para a realização dos objetivos básicos da vida cotidiana que se constituem, na verdade, na consolidação dos direitos humanos. O design universal tem por objetivo desenvolver teoria, princípios e soluções, com vista a possibilitar que todos utilizem, até onde lhes seja possível, as mesmas soluções físicas, quer se trate de edifícios, áreas exteriores, meios de comunicação ou ainda de móveis e utensílios domésticos. Ele opõe-se, ideológica e politicamente, a todas as soluções especializadas, desnecessárias e estigmatizantes, quer se destinem a pessoas com incapacidades ou a outros grupos da população. Status iguais, tratamento e mérito iguais são conceitos chave. O raciocínio referente à acessibilidade para as pessoas com incapacidade não tem sido suficientemente claro para contrapor a soluções especializadas ou para incentivar um estatuto de igualdade. Segundo a ABNT, Desenho Universal é ―aquele que visa a atender à maior gama de variações possíveis das características antropométricas e sensoriais da população‖. É o desenho de produtos e ambientes para serem utilizados por todas as pessoas o maior tempo possível, sem a necessidade de adaptação ou desenho especial. O objetivo do design universal é simplificar a vida para todos fazendo produtos, meios de comunicação e construindo ambientes mais utilizáveis pelo 133 máximo de pessoas possível, pelo mínimo ou nenhum custo adicional. O design universal beneficia pessoas de todas as idades e capacidades. (Dias, 2003) Apesar de ser uma utopia o desenvolvimento de softwares universalmente usáveis, pelo fato que a variedade de situações, limitações e habilidades são enormes. Pode ser impossível a princípio desenvolver um produto inteiramente acessível para todos, no entanto o design universal deve ser tomado como uma meta a ser alcançada e através do desenvolvimento de produtos compatíveis com tecnologias assistivas que podem ser complementares para aqueles indivíduos que possuam uma limitação mais severa. O conceito de desenho universal tem como pressupostos: 1- Equiparação nas possibilidades de uso: O design é útil e comercializáveis às pessoas com habilidades diferenciadas. 2- Flexibilidade no uso O design atende a uma ampla gama de indivíduos, preferências e habilidades. 3- Uso Simples e intuitivo O uso do design é facilmente compreendido, independentemente da experiência do usuário, do nível de formação, conhecimento do idioma ou de sua capacidade de concentração. 4- Captação da informação O design comunica eficazmente ao usuário as informações necessárias, independentes das condições ambientais ou da capacidade sensorial do usuário. 5- Tolerância para o erro O design minimiza o risco e as conseqüências adversas de ações involuntárias ou imprevistas. 6- Mínimo esforço Físico O design pode ser utilizado de forma eficiente e confortável, com um mínimo de esforço 7- Dimensão e espaço para uso e interação O design oferece espaços e dimensões apropriados para interação, alcance, manipulação e uso, independente do tamanho, postura ou mobilidade do usuário. 8- No conceito de acessibilidade para todos, se incluem como 134 beneficiários as pessoas com equipamentos lentos e antiquados ou muito modernos. As pessoas que podem se beneficiar de projetos que contemplem os princípios do Desenho Universal incluem tanto aquelas com deficiências e necessidades especiais, como aquelas que não as possuem de maneira permanente. Em alguns casos, por exemplo, as pessoas também podem ter dificuldade em utilizar produtos, devido às características específicas do ambiente onde se encontram. Assim, os beneficiados pelo desenho universal incluem todas as pessoas. .Portadoras de deficiências sensório-motoras (visão, audição, locomoção) ou cognitivas. O desenho universal não abrange apenas as pessoas com deficiência; leva em consideração as múltiplas diferenças existentes entre as pessoas. A idéia é evitar a necessidade de ambientes e produtos especiais para pessoas portadoras de deficiência, buscando garantir a acessibilidade a todos os componentes do ambiente e a todos os produtos concebidos no decorrer do processo projetual. Entre as principais razões que justificam a necessidade de implantação de um Desenho Universal podemos citar a modificação do perfil demográfico com o aumento da expectativa de vida. (Dias, 2003) 135 5.4. ENGENHARIA DE USABILIDADE: Nas últimas décadas, tem sido dada cada vez maior importância à interface de aplicações computacionais. A interface de uma aplicação computacional envolve todos os aspectos de um sistema com o qual mantemos contato. É através da interface que os usuários têm acesso às funções da aplicação. Fatores de satisfação, eficiência, segurança, custo de treinamento, e retorno de investimento, todos, dependem de um bom design de interface. Essa necessidade de interação com computadores está cada vez mais presente. A internet tornou-se um meio de comunicação disponível a um grande número de usuários, contudo, observa-se que tal popularidade não implica necessariamente em satisfação usuários, que se confrontam muitas vezes com inúmeros problemas de acessibilidade e usabilidade. A usabilidade, conceito utilizado para descrever a qualidade da interação de uma interface com os usuários, busca ressaltar a importância em se pensar no usuário. Quando a usabilidade é levada em conta durante o processo de desenvolvimento de interfaces, vários problemas podem ser eliminados como, por exemplo, pode-se reduzir o tempo de acesso à informação, tornar informações disponíveis aos usuários e evitar a frustração de não encontrar informações no site. Esta qualidade de interação com o usuário está associada aos seguintes princípios: facilidade de aprendizagem, facilidade de lembrar como realizar uma tarefa após algum tempo, baixa taxa de erros, satisfação do Usuário. A tendência atual é tentar identificar os potenciais problemas durante o processo de desenvolvimento, quanto à usabilidade, pois quando ela é levada em consideração durante o processo de desenvolvimento, vários problemas podem ser eliminados ou minimizados. É necessário reconhecer que a usabilidade está relacionada ao tipo de aplicação, perfil dos usuários, contextos de utilização etc. A engenharia de usabilidade tem por objetivo oferecer técnicas e métodos que possam ser utilizados sistematicamente, até assegurar um alto grau de 136 usabilidade de interfaces de programas de computador. A fronteira entre a engenharia de software e a engenharia de usabilidade não é muito nítida, de forma geral uma cuida dos aspectos construcionais de um sistema, enquanto a outra trata dos aspectos comportamentais relacionados à interação humana computador (IHC), visando uma complementar a outra. O desenvolvimento de sistemas com boa usabilidade irá impactar a tarefa no sentido da eficiência, eficácia, produtividade, da interação. O usuário irá atingir plenamente seus objetivos com menos esforço e mais satisfação 137 5.4.1. Usabilidade. Usabilidade é definida como a capacidade que um sistema interativo oferece a seu usuário, em um determinado contexto de operação, para a realização de tarefas, de maneira eficaz, eficiente e agradável (ISO). Para a construção de interfaces amigáveis ou ergonômicas, o engenheiro de usabilidade deve, entre outras coisas, conhecer muito bem o usuário e o seu trabalho. É importante que se conheça como os processos cognitivos humanos se desenvolvem para a concepção de próteses cognitivas compatíveis com eles. A usabilidade é uma qualidade de uso, isto quer dizer que ela é definida ou medida para um contexto em que um sistema é operado. Assim, um sistema pode proporcionar boa usabilidade para um usuário experiente, mas péssima para novatos, ou vice e versa. Pode ser fácil de operar se o sistema for usado esporadicamente, mas difícil, se for utilizado freqüentemente, no dia a dia. Uma interface bonita pode dar prazer se o site for acessado por conexões rápidas, mas causar ansiedade insuportável se ele for acessado de casa, via modem. Usabilidade é um termo usado para definir a facilidade com que as pessoas podem empregar uma ferramenta ou objeto a fim de realizar uma tarefa específica e importante. A usabilidade pode também se referir aos métodos de mensuração da usabilidade e ao estudo dos princípios por trás da eficiência percebida de um objeto. Na Interação Humano Computador e na Ciência da Computação, usabilidade normalmente se refere à simplicidade e facilidade com que uma interface, um programa de computador ou uma web site pode ser utilizado. O Termo também é utilizado em contexto de produtos como aparelhos eletrônicos, em áreas da comunicação e produtos de transferência de conhecimento, como manuais, documentos e ajudas online. A usabilidade está relacionada aos estudos de Ergonomia e de Interação Humano-computador. Ela está diretamente ligada ao diálogo na interface e a 138 capacidade do software em permitir que o usuário alcance suas metas de interação com o sistema. Ser de fácil aprendizagem, permitir uma utilização eficiente e apresentar poucos erros, são os aspectos fundamentais para a percepção da boa usabilidade por parte do usuário. Mas a usabilidade pode ainda estar relacionada com a facilidade de ser memorizada e ao nível de satisfação do usuário. Pela definição da International Organization for Standardization (ISO), usabilidade é a extensão na qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos específicos com efetividade, eficiência e satisfação em um contexto de uso específico (ISO 9241-11). A efetividade permite que o usuário alcance os objetivos iniciais de interação, e tanto é avaliada em termos de finalização de uma tarefa quanto também em termos de qualidade do resultado obtido. Eficiência se refere à quantidade de esforço e recursos necessários para se chegar a um determinado objetivo. Os desvios que o usuário faz durante a interação e a quantidade de erros cometidos pode servir para avaliar o nível de eficiência do site. A terceira medida de usabilidade, a satisfação, é a mais difícil de medir e quantificar, pois, está relacionada com fatores subjetivos. De maneira geral, satisfação se refere ao nível de conforto que o usuário sente ao utilizar a interface e qual a aceitação como maneira de alcançar seus objetivos ao navegar no site. Sua origem tem raízes na Ciência Cognitiva, e começou a ser utilizado na década de 80, principalmente nas áreas de Psicologia e Ergonomia, como substutito do termo "user-friendly". A primeira norma sobre usabilidade foi a ISO/IEC 9126 ( citado em DIAS, 2003), em 1991 sobre qualidade de software. Sua abordagem é claramente orientada ao produto e ao usuário, pois considera a usabilidade como " um conjunto de atributos de software relacionado ao esforço 139 necessário para seu uso e para o julgamento individual de tal uso por um determinado conjunto de usuários. A partir desta norma, o termo usabilidade ultrapassou o ambiente acadêmico, passando a fazer parte do vocabulário de diversas áreas de conhecimento, inclusive a Interação Humano Computador (IHC). Segundo Dias (DIAS, 2003), as principais características de usabilidade são: Funcionalidade: capacidade do software de prover funções que atendem a necessidades expressa e implícitas, quando usado nas condições especificadas. Confiabilidade: capacidade do software de manter seu nível de desempenho Usabilidade: capacidade de ser compreendido, apreendido, usado e apreciado pelo usuário. Eficiência: capacidade de operar no nível de desempenho requerido. Possibilidade de Manutenção: capacidade de ser modificado, aperfeiçoado, adaptado ou corrigido. Portabilidade: capacidade de ser transferido de um ambiente para outro De acordo com a figura 17, apresenta de forma esquemática o sistema interativo baseado na usabilidade que visa atingir objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação em um contexto específico de uso. O que ainda se, verifica em muitos projetos de desenvolvimento, não é a prioridade com o usuário. Os sistemas, em sua maioria, são simplesmente dotados de todas as funções e informações possíveis e imagináveis e o usuário que se adapte a ele para alcançar seus objetivos e satisfazer suas necessidades e expectativas. Em muitos casos, ele está longe de encontrar algo rápido de aprender, fácil, eficiente de usar, ou mesmo, útil em relação a seus objetivos. 140 Qualquer abordagem para a engenharia de usabilidade deve privilegiar o desempenho do usuário em sua tarefa, concebendo sistemas adaptados às suas características e a seus objetivos. Para assegurar tais características é necessário que o ciclo de desenvolvimento seja centrado no usuário. Isto é, o envolvimento do usuário deve ser buscado na análise, na concepção, no projeto, desenvolvimento, implantação e revisões do sistema. A maioria dos autores concordam que o desenvolvimento de interfaces com características de usabilidade deve ser um ciclo contínuo de design e avaliação, como representado na figura 36. Este ciclo inicia-se com a identificação de usuários, tarefas e requisitos para a aplicação. Tais requisitos são utilizados como entrada para a construção de um protótipo que, em seguida, é avaliado com relação a sua usabilidade. Os problemas identificados na avaliação são solucionados na versão seguinte. O ciclo termina quando nenhum problema de usabilidade for identificado ou, pelo menos, os problemas mais graves e passíveis de correção foram solucionados. Figura 36: Ciclo de Vida do Projeto com Usabilidade O ciclo de vida acima é uma representação simplificada do processo de engenharia de usabilidade. Onde se analisa o problema, definem-se as metas, desenham-se soluções e avaliam-se soluções buscando a verificação das metas Início Análise Viabilidade Conhecer usuário e suas tarefas Prototipação Avaliação de Usabilidade Produto Final 141 definidas. As soluções são inicialmente realizadas na forma de protótipos, no qual chega-se ao desenho da interface do usuário em um processo interativo. A usabilidade requer experimentação e avaliações constantes, necessitando para tanto o envolvimento do usuário. As avaliações de usabilidade visam à verificação da qualidade da interface, comparando-se resultados obtidos com as metas definidas com o objetivo de atingir as metas anteriormente definidas, com um produto com um nível aceitável de qualidade. Através do ciclo de vida apresentado anteriormente para a engenharia da usabilidade de Interfaces Humano-Computador, levando em consideração principalmente os conhecimentos disponíveis sobre habilidades e capacidades cognitivas humanas e dos aspectos ligados ao trabalho como ele é, efetivamente realizado, possibilita a criação de softwares interativos centrados nos usuários e sua tarefas. 142 CAPÍTULO VI "Não se pode ensinar alguma coisa a alguém, pode-se apenas auxiliar a descobrir por si mesmo" - Galileu “Só a educação liberta.” (Epicteto) 6. Ciclo de Vida do Sistema: 6.1. Análise de Viabilidade A análise de viabilidade é um estudo preliminar que investiga as necessidades de informação dos potenciais usuários e determina os requisitos de recursos, custos, benefícios e viabilidade de um projeto proposto. A meta da análise de viabilidade é avaliar sistemas alternativos e propor os sistemas viáveis e desejáveis para o desenvolvimento. A viabilidade do sistema pode ser avaliada em termos de quatro categorias principais: Viabilidade Organizacional, Econômica, Técnica e Operacional. 6.1.1. Viabilidade Organizacional O foco da viabilidade organizacional reside no grau de eficiência com que o sistema proposto apóia os objetivos da organização. O sistema proposto irá auxiliar instituições educacionais de forma geral e especificamente a instituição a qual trabalho atualmente, fornecendo subsídios para o auxilio a inclusão de alunos com deficiência visual. Atualmente necessitamos buscar informações que estão isoladas. Com a utilização do sistema um significativo volume de informações estará disponível inicialmente e contará com uma constante atualização. Além disso, 143 facilitará a disponibilização de adaptações curriculares para as disciplinas que irão aumentar também gradualmente. Atualmente encontra-se disponível somente da disciplina de Informática e Multimídia. Com o decorrer da implantação do sistema outras disciplinas serão acrescentadas e será possível o aperfeiçoamento e compartilhamento dessas informações por todo o corpo docente, administrativo e discente, além da comunidade de forma geral. Além disso, estamos planejando um FAQ( Frequent Asked and Questions), para responder as dúvidas mais freqüentes. Portanto, o sistema é desejável pela organização e atualmente se encontra em fase de implantação e será um facilitador no processo de inclusão, contando com seu total apoio, inclusive com o financiamento de um projeto de iniciação científica no qual podemos contar com dois bolsistas, além do apoio dos funcionários da instituição 6.1.2. Viabilidade Econômica Diz respeito aos custos envolvidos no projeto. Inicialmente a intenção era montar um centro de apoio pedagógico presencial, no entanto os custos envolvidos com a aquisição de equipamentos de tecnologia assistiva, softwares especializados e uma equipe ideal para manter, foi descartada devido ao alto orçamento, só para citar um exemplo: uma impressora Braille de qualidade, que imprime frente e verso e com capacidade de impressão de gráficos (essencial em muitas disciplinas), custava em 2002 cerca de US$ 3000. Apesar dos benefícios proporcionados pela implantação de um centro de apoio pedagógico presencial, tornou-se inviável. Foi solicitado financiamento junto à fundação, mais devido à condição da pesquisadora de ser ―somente mestre‖, conseguiu-se somente um apoio financeiro equivalente há algumas horas semanais para incentivo ― a um projeto com importância social‖. Por determinação, repensou-se o projeto para a criação de um centro virtual utilizando-se não os recursos ideais e sim os possíveis. 144 Através do centro virtual pode-se contar somente com a mão de obra da pesquisadora e ajuda sempre bem vinda de alguns voluntários na digitalização de materiais ( em áudio ou texto), usando os recursos já existentes na instituição e a disponibilização em qualquer provedor gratuito. O sistema não era viável economicamente, segundo os padrões de qualquer livro de engenharia de software, porém foi devidamente viável segundo o fator ―motivacional‖. 6.1.3. Viabilidade Técnica Como existem recursos técnicos alternativos, optou-se por utilizar os recursos disponíveis. Scanner, gravação em áudio através do próprio micro, uso de softwares gratuitos para o desenvolvimento e avaliação do produto final. 6.1.4. Viabilidade Operacional Caracteriza-se pela disposição de funcionários, alunos e docentes em operar, utilizar e apoiar o sistema proposto. Neste ponto tem-se diferentes opiniões: para os funcionários a CAP, irá facilitar seu trabalho, atualmente a secretária da coordenação recolhe o material original do professor, envia para ser ampliado no caso do aluno cego ele deverá encontrar alguém para ler o material, em dias de prova é a mesma funcionária que aplica ou em tamanho ampliado ou faz oral com os alunos. Apesar de estar sempre disposta a ajudar todo o trabalho é manual e repetitivo, adapta-se duas ou mais vezes o material para diferentes alunos em momentos diferentes. Para os alunos, irá representar autonomia e uma melhoria mesmo que pequena na qualidade do material que lhe é disponibilizado além de proporcionar alternativas quando possível. 145 Para os professores em sua maioria a posição é a seguinte: ―eu entrego o material e ajudo com meu conhecimento na adaptação, desde que outra pessoa faça, no máximo escrevo com letra maior ou amplio a fonte dos slides‖. Isto é ainda não há um comprometimento de cada professor adaptar sua disciplina para atender as necessidades de seus alunos, muita nem sabiam que em sua sala existiam alunos com deficiência visual. Este fato é compreensível, pelo fato que os docentes de instituições privada, recebem seus honorários exclusivamente baseado nas horas aulas ministradas e necessitam trabalhar em diversas instituições para literalmente sobreviver, são raras as exceções que recebem incentivo para pesquisa Mais uma justificativa de que exista um ambiente para reunir informações sobre inclusão e adaptações de determinadas disciplinas e futuramente a melhoria e disponibilização de um maior acervo. 6.2. Conhecer seus usuários e tarefas Segundo O´Brian, antes de projetar um novo sistema, é importante estudar o que será substituído ( se houver um). No caso em todas as instituições a qual trabalhei em Natal, Salvador e Curitiba, nenhuma delas possuía um ambiente acessível para deficientes visuais. Mesmo na UFRJ, pioneira no processo de desenvolvimento de softwares, existe a página do projeto DOSVOX, softwares e alguns artigos, porém não existem relatos de experiências ou exemplos de adaptações que foram realizadas para seus alunos, elas existiram provavelmente ainda existem e foram aperfeiçoadas com o tempo, porém onde estão? As iniciativas começam quando algum aluno começa a freqüentar a instituição e há uma mobilização para sua permanência. O que se nota, porém, é que muitas iniciativas ficam isoladas e não são compartilhadas com os demais departamentos ou instituições. As iniciativas de acessibilidade e usabilidade estão muitas vezes restritas a artigos e alguns sites, apesar de não citar neste trabalho, pois não é o objeto de 146 estudo, é muito curioso ver grupos de pesquisa de acessibilidade e usabilidade com sites que não são adequados a deficientes visuais, isso comprovado através de uma simples passagem em algum avaliador automático. Nesta fase o objetivo principal foi conhecer o público potencial do projeto, bem como suas principais necessidades. Para tanto se usou a metodologia da pesquisa ação agregada à metodologia usada para a criação de um software baseado na engenharia de usabilidade. Segundo Cybis(2003), o envolvimento do usuário pode se adequadamente conduzido, trazer importantes benefícios ao projeto, ligados principalmente a sua qualidade e aceitação. Esta é a forma mais segura de garantir que o sistema ou produto a ser desenvolvido atenda as necessidades reais do usuário. Neste trabalho foram utilizadas diversas formas de participação dos usuários: entrevistas em reuniões informais onde foram realizadas uma espécie de ata, para documentar e registrar as informações debatidas, questionários para um levantamento mais quantitativo do perfil desses usuários e a participação efetiva na avaliação dos materiais adaptados e testes de usabilidade do site. Como o número de alunos com deficiência visual no ensino superior é muito pequeno, optou-se realizar a pesquisa também com os demais alunos para poder retratar melhor as necessidades de um aluno e como as TICs poderiam auxiliá-los. Para isso utilizou-se o formulário apresentado no Anexo B, que foi baseado em Dias e David, ele foi aplicado com alunos com deficiência visual, em Natal no IERC-RN, associação de cegos e UFRN, em Salvador no ICB e Comunidade do Vale das Pedrinhas, bairro vizinha a FRB que participava do projeto de inclusão digital e UNIFAE. Do perfil analisado constatou-se que a maioria se constitui de pessoas em idade escolar, com faixa etária entre 17 e 20 anos, baixa escolaridade, todos possuíam o primeiro grau ou o equivalente ao atual ensino fundamental, devido ao fato que neste período a maioria principalmente dos cegos freqüentou escolas especializadas, com maior atenção e material didático adequado. Ao concluir o ensino fundamental e ingressar no médio as dificuldades aumentam e o grau de 147 desistência é enorme. Podemos comparar com o gráfico do MEC, apresentado na figura 1 no início deste trabalho. Dos que concluem o ensino médio o acesso ao ensino superior é praticamente impossível, nas universidades federais e gratuitas a concorrência, a baixa qualidade do ensino médio e as adaptações nem sempre satisfatórias são fortes barreiras a estes alunos. Dos alunos que conseguem ingressar no ensino superior a mio ria constituí-se de alunos com visão subnormal, que estudaram em escolas particulares e com uma renda familiar mais alta o que proporcionou um acesso a educação de melhor qualidade. Grau de Escolaridade 68% 24% 8% 1º Grau 2º Grau Cursando 3º Figura 37: Grau de Escolaridade Um fato curioso é que com a implantação e disseminação do sistema DOSVOX, a maioria tinha noções básicas de informática, em Natal, praticamente todos participaram de cursos básicos de informática oferecidos pela UFRN, no projeto de iniciação científica e os primeiros alunos se tornaram multiplicadores. Na Bahia, os freqüentadores do Instituto de cegos também tinham aceso regularmente ao micro e a cursos. Na comunidade do Vale das pedrinhas o primeiro acesso foi através do projeto de inclusão digital, porém apesar do esforço, muitos alunos não participaram pelo medo da família de perderam a pensão do governo. 148 Alguns recebem pensão devido à cegueira ou a deficiência visual e muitas vezes é a única fonte regular de renda da família, em uma família carente essa renda é significativa, o que geram uma enorme pressão em jovens que ao invés de se qualificar para terem melhores oportunidades de trabalho e uma qualidade de vida melhor, são obrigados a viver em um ciclo de pobreza. Tentei visitar a família junto com uma agente da comunidade, mais fomos tratadas com agressividade, e preferimos não insistir. Ao contrário, em Curitiba, a faculdade na qual os alunos estudam é considerada uma das melhores e também mais caras da cidade, esses alunos pertencem à classe média alta, possuem um forte incentivo da família a se formarem e terem autonomia financeira, alguns vão auxiliar na administração dos negócios da família. No entanto esses alunos em especial as alunas procuraram esconder ao máximo o fato de terem uma limitação visual severa, por vergonha e por medo de se sentirem excluídas. Através deste perfil de usuários procuramos identificar suas tarefas e o ambiente em que se enquadram educacionalmente para avaliar as principais necessidades que poderiam ser supridas com os recursos disponíveis para o projeto. Nesta seção vamos sintetizar os dados analisados durante o processo foi dividido nas seguintes categorias. Esta síntese será apresentada de forma descritiva. 149 6.2.1. Perfil dos usuários a) Dados Pessoais: Maioria de jovens na faixa etária, não havendo grande diferença no número de homens e mulheres. O grande contraste se dá a nível educacional, os jovens oriundos de classe média e média alta, possuem maior escolaridade estando à maioria em um curso superior. Figura 38 Gráfico Sexo dos Entrevistados Quanto maior a renda e o grau de instrução dos pais maior o incentivo a qualificação dos filhos. Sexo homens mulheres 150 Figura 39 Gráfico Faixa Etária Alunos cuja família possuem baixa renda, dependem dos recursos oferecidos pelo governo e projetos de inclusão, para se aperfeiçoar tanto educacionalmente quanto profissionalmente. O sonho da maioria é ter uma qualidade de vida melhor, acesso aos melhores tratamentos e autonomia financeira. Renda Familiar 12 28 22 10 0 5 10 15 20 25 30 até 1 2 até 4 5 até 6 maior que 6 Quantidade de Salários Mínimos Q u a n ti d a d e d e I n d iv íd u o s Figura 38 Gráfico com a renda familiar Faixa Etária 21% 49% 24% 6% <18 19-25 26-30 >30 151 Para esses alunos o esforço e a força de vontade são as únicas ferramentas disponíveis. Alguns alunos com os quais conversamos, dizem literalmente que não tem mais esta ilusão e se conformam com a pensão oferecida pelo governo. NÃO PODEMOS, deixar esse entusiasmo acabar se não dermos oportunidades esses alunos vão provavelmente desistir e se conformar em mais uma geração de aposentados por invalidez, com grande capacidade intelectual e trabalho. b) Habilidades Técnicas Todos os alunos entrevistados possuem conhecimento de informática através dos projetos de inclusão digital, porém tem conhecimento e acesso somente aos softwares gratuitos, que muitas vezes são limitados, não possuindo todos os recursos de softwares mais sofisticados e também caros. Lembrem-se que isso não é a realidade do país, a pesquisa foi realizada em três capitais, onde em todas elas o instituto de cegos possuía recursos de informática com acesso gratuito aos seus alunos. Apesar de todos considerarem possuir no mínimo conhecimentos básicos, somente 13% possui computador em casa, a grade maioria acesa o computador da escola ou instituição que freqüenta. Figura 39 Gráfico com o Nível de conhecimento em Informática Nível de Conhecimento em Informática 0% 24% 62% 14% Não Tem Básico Intermediário Avançado 152 Figura 40 Gráfico dos alunos que possuem computador em casa Figura 41 Gráfico representando os alunos que acessam o computador com freqüência Possui Computador em Casa? 13% 87% SIM NÂO Acessa o Comutador com Frequência 100% 0% SIM Não 153 c) Tarefas. As principais tarefas realizadas no âmbito educacional relaciona-se a atividades de leitura, manipulação de dados numéricos, interpretação de mapas, gráficos e imagens Para as atividades de leitura são necessários para os cegos, livros ou materiais em Braille, que possuem uma vida útil baixa e um volume e custos enormes. Em áudio existem as opções de áudio livros, também em números escassos e não são existem bibliotecas em todas as cidades, esses livros necessitam de voluntários para serem os ―ledores‖, apesar da qualidade se boa, e muitos ―ledores‖ fazem uma leitura dramatizada, exigisse um tempo muito elevado para a criação desses livros. Com o uso de voz sintetizada, basta que o livro seja scaneado ou já esteja em formato texto ou outro compatível o software para ser lido, no entanto não é uma voz humana natural e torna-se cansativo e muitas vezes incompreensível a audição. ‗ Para os alunos com visão subnormal uma das melhores alternativas são os circuitos fechados de TV que permitem ampliar qualquer material de acordo com o ajuste necessário ou a ampliação e impressão, quando se trata de pequenos textos. No entanto para disciplinas que exigem cálculos e interpretações de gráficos e figuras geométricas são as que mais geram dificuldades e necessidade de adaptação. Por questões de delimitação do tema, trabalhamos inicialmente somente com as informações necessárias que se encontram em modo texto. Mesmo assim no site, poderão ser encontrados relatos de experiências para o ensino de química e a criação de um instrumento denominado Geoplano para o auxílio ao ensino de geometria para deficientes visuais d) Ambiente: Organizacional, físico e equipamentos. 154 Ponto fraco do trabalho, como dito anterioremente, não foi possível usar o ideal. Alternativas como as descritas, não faltam, a qualidade e a quantidade do material em áudio ou digitalizado dependeu somente da mão de obra da pesquisadora e de alguns voluntários e) Informações para Sistema Futuro As principais solicitações são a de ter no início do ano letivo, igual aos demais, material acessível. No caso do ensino fundamental, alunos de escolas públicas recebem o material em Braille de alguns livros, mais com um atraso significativo. No ensino médio e superior ainda não existem essas alternativas. Cabem ao aluno, instituição e professores a devida adaptação. Como sugestão para o ambiente, o que foi mais solicitado foram justamente materiais didáticos para um melhor acompanhamento das aulas e sugestões de postura aos professores, que muitas vezes ―esquecem que eles existem‖ em sala. Para criar um ambiente que possa ser utilizado tanto por deficientes visuais quanto ao público geral, buscou-se através dos conceitos de design universal e acessibilidade, implementar um ambiente que fosse adequado a ambas as necessidades. Foram usados os recursos como textos alternativos para imagens, ampliação de textos, teclas de atalho entre outros recursos para facilitar a navegação. Caracterizado os diversos perfis de usuários com relação a aspectos que interessam para o desenvolvimento do produto. Esta caracterização foi feita em termos de um conjunto abstrato de necessidades, expectativas, comportamentos e responsabilidades dos diversos atores envolvidos na interação com o produto a ser desenvolvido. Segundo Cybis (2003) a equipe de projeto que adota um enfoque centrado no usuário deve ter em mente os três tipos básicos de envolvimento possíveis: o informativo, o consultivo e o participativo. Assim se pode buscar do usuário as informações necessárias para o projeto, através de técnicas de entrevistas, questionários ou de sua observação em seu trabalho. De acordo com a pesquisa ação, metodologia utilizada neste trabalho, houve uma participação ativa dos potenciais usuários na definição e teste de 155 interação. Neste tipo de envolvimento o usuário é visto como fonte de informação. Levou-se ao usuário as decisões de projeto para que ele as verifica-se e emitisse uma opinião sobre elas. Neste caso se se caracterizou como um envolvimento consultivo; o usuário é consultado sobre decisões de projeto. É importante salientar que o usuário deve ser consultado com base no conhecimento que só ele possui sobre sua tarefa. A prototipação é uma metodologia mais flexível e informal, que torna interativo e define um papel importantíssimo do usuário no desenvolvimento do sistema (Batista). Dessa maneira, o sistema pode ser modelado de acordo com as demandas do usuário, facilitando a modelagem do sistema final. Essa metodologia permite ainda que os usuários revejam suas necessidades e descubram requisitos antes não percebidos. A prototipagem tem aberto aos usuários finais o processo de desenvolvimento da aplicação. Consiste em um processo repetitivo e interativo que combina etapas do ciclo tradicional d desenvolvimento de sistemas. Após a etapa inicial de análise de viabilidade e identificação dos usuários, passamos para o ciclo de prototipagem do sistema. Apresenta-se neste capítulo a estrutura do protótipo de conteúdos e serviços para o CAP, tendo por base a pesquisa realizada junto ao público alvo, e recomendações para seu desenvolvimento futuro Conforme descrito nos capítulos anteriores, os resultados confirmam uma carência de informações tanto do corpo discente quanto do docente, além dos pais, gestores e público em geral sobre o assunto da deficiência visual e as tecnologias de informação e comunicação que possam dar apoio. Para tanto foi criado o CAP, que visa ser um portal de informações sobre a inclusão educacional do deficiente visual, bem como servir de subsídios para a elaboração de um plano de inclusão dentro das instituições. 156 6.4. Estrutura do Conteúdo Para a criação do site optou-se por um design simples, sem muitos detalhes, semelhante à página inicial do Google. Como para o deficiente visual tudo o que estivar na página é lido pelo sintetizador de voz, optamos por ―enxugar‖ o layout e colocar somente as informações principais em cada página. A seguir serão apresentados os principais tópicos abordados no site. Figura 42 Tela Principal do Virtual CAP 157 1. Educação Inclusiva: Nesta seção é disponibilizada uma coletânea de artigos e recomendações internacionais sobre inclusão de forma geral e alguns documentos especificamente sobre a deficiência visual. É importante ressaltar que, apesar de termos uma série de leis que protegem e apóiam o cidadão com necessidades especiais, elas são pouco conhecidas e divulgadas, privando muitos indivíduos de seus direitos. Nestes links o objetivo principal é transmitir informações sobre inclusão, fornecendo subsídios para justificar projetos e atividades de inclusão envolvendo: b) Definição c) Legislação Nacional d) Documentos Técnicos e) Acordos Internacionais 158 Figura 43 Página sobre Educação Inclusiva 2. Necessidades Educacionais Especiais: O objetivo deste link é fornecer informações básicas sobre, prevenção e diagnóstico precoce dos os tipos mais comuns de deficiência visual, possibilitando que a família encaminhe o mais rápido possível para um especialista com vistas a uma avaliação. Além disso, são apresentados vários exemplos de materiais didáticos de apoio ao deficiente visual, e sugestões de atividades de baixo custo que podem ser realizadas pela família e na escola. Tecnologias Assistivas, bem como seus principais distribuidores, podem ser vistas neste link, bem como é possível conhecer os principais equipamentos de apoio ao deficiente visual, assim como uma breve descrição sobre o equipamento ou software e seus principais fabricantes ou distribuidores. Futuramente neste item pretende-se ampliar para outras necessidades educativas especiais, como auditiva, mental, física etc. 159 Visual a) O que é b) Como detectar c) Adaptações Necessárias d) Tecnologias Assistivas e) Artigos f) Relatos de Experiências g) Exemplos de Materiais Adaptados 3. Bibliografia adaptada para deficientes visuais: Ponto importante e polêmico do site, aqui está disponibilizado uma série de artigos sobre apoio ao deficiente coletado na Internet, além de links para livros e bibliotecas que dispõem de um acervo de áudio livros. Ao se navegar, pode-se notar que muitos desses materiais não é possível realizar um download, podendo ter acesso ao seu conteúdo somente on-line. Inicialmente, tínhamos o intuito de disponibilizar em áudio e em formato texto, para que fosse possível ler através de um sintetizador de voz, obras literárias e textos de uso acadêmico que fossem digitalizados por voluntários, porém devido a questões de direitos autorais isso não foi possível. Os conteúdos abordados nesse tópico são: Artigos Livros Materiais didáticos Cursos 160 4. Links: Visa apresentar os links das principais instituições do país relacionadas ou que possuem projetos de inclusão de deficientes visuais. Além de bibliotecas especializadas. a. Instituições b. Associações c. Escolas Especiais d. Projetos Universitários e. Bibliotecas f. Eventos 5. Serviços: O site com o tempo irá disponibilizar muitas informações e com isso será necessário um mapa do site, mecanismos de busca para facilitar a navegação bem como uma central de voluntários que possam gravar e digitalizar materiais acadêmicos. Bem com o uma lista de discussão para debater sobre o tema. Inicialmente o contato e troca de informações será feita por e-mail. 161 6.5. Avaliação de Usabilidade e Acessibilidade do Virtual CAP Como foi visto anteriormente a usabilidade é o termo técnico usado para descrever a qualidade de uso de uma interface, enquanto a acessibilidade é o termo usado para descrever problemas de usabilidade encontrados por usuários com necessidades especiais. Acessibilidade implica em tornar utilizável a interface por qualquer pessoa, independente de alguma deficiência, física, sensorial, cognitiva, condição de trabalho ou barreiras tecnológicas. Acessibilidade e usabilidade são conceitos fortemente relacionados, pois ambos buscam a melhorar a satisfação e eficiência do uso da interface. Contudo a acessibilidade diz respeito a uma população mais específica. Para avaliar um site ou uma página específica existem vários métodos. Neste trabalho foram utilizados ensaios de interação, onde o usuário participa da navegação do site enquanto são observados. Nesta fase apresentamos algumas páginas que estavam prontas do protótipo e testamos com o Webvox para cegos e Internet Explorer utilizando o tamanho de fonte máximo para usuários com visão subnormal ou a Lente de aumento do Windows. Infelizmente não foi possível testar com ferramentas mais sofisticadas como o Jaws ou o Virtual Vision, pois não tínhamos tais softwares disponíveis. Nesta avaliação, o objetivo principal foi ter a opinião dos potenciais usuários reais do trabalho em relação à navegação e acesso ao material das aulas. As dificuldades em utilizar ferramentas simples foram superadas devido à simplicidade necessária do site. Lembrem-se que para um usuário com visão normal, mesmo um site como muitas informações ele ―passa os olhos‖ e identifica rapidamente o que precisa, para um deficiente visual, principalmente para o cego que necessita esperar o sintetizador de voz, quanto menos informações e mais claras e diretas elas forem melhor. As ferramentas de verificação automática, que consistem em softwares de varredura, são capazes de identificar problemas técnicos de implementação, relacionados à acessibilidade. Tais ferramentas geram relatórios auxiliando o 162 projetista a realizar as correções necessárias. Essas ferramentas apesar de oferecerem recursos limitados são muito úteis na avaliação de problemas de acessibilidade, pois é complexo analisar diretamente o código. A ferramenta utilizada foi o "Da Silva", que consiste em um software que detecta um código HTML e faz uma análise do seu conteúdo, verificando se está ou não dentro de um conjunto de regras. No nosso caso, a análise é feita usando as regras de acessibilidade do WCAG e E-GOV. O Da Silva é a ferramenta ideal para web-designers, web-masters e todas as pessoas que desenvolvem sites para a Internet e tenham a necessidade de torná-los acessíveis. Figura 44 Símbolo do Da Silva http://www.dasilva.org.br/ Figura 45 Tela Inicial de Avaliação do Da Silva http://www.dasilva.org.br/ Local para digitar o site a ser avaliado 163 Figura 46: Avaliação do Site do MEC no Da Silva Abaixo temos exemplos de alguns símbolos de acessibilidade na internet de ferramentas nacionais e internacionais. A figura 47 simboliza que o site possui ou está sendo reestruturado para se adequar as normas de acessibilidade. Seria um equivalente a um selo de qualidade. A figura 48 é só uma ilustração para indicar que o site foi, construído para ser utilizado prioritariamente por deficientes visuais e a figura 49 é o selo emitido após a avaliação do Da Silva. Figura 47: Símbolo de Acessibilidade na Web do CERTIC Figura 48: O selo de acessibilidade Virtual Vision 164 Figura 49: Selo de Acessibilidade do Avaliador Brasileiro da Silva A seguir são apresentadas algumas telas do site com suas respectivas avaliações, tanto do usuário quanto automáticas em uma primeira implementação e após as correções. 165 6.6. Considerações Finais O objetivo central deste trabalho constituiu-se em criar situações e disseminar informações sobre o processo de inclusão, principalmente de inclusão de alunos com deficiência visual. Embora o Brasil, incentive o sistema educacional inclusivo, faltam recursos básicos, como por exemplo, livros que são necessários para a efetivação desta meta, além de outro ponto fundamental, que não foi abordado nesta tese que consiste na qualificação dos professores, esta qualificação deve vir de todas as instâncias, não só nos cursos de Pedagogia e demais licenciaturas, através de disciplinas obrigatórias e eletivas, mas em todos os cursos de pós graduação. Nestes, pelos menos dentro da disciplina de Metodologia do Ensino Superior, deveriam ser incluídos tópicos relativos à inclusão de alunos com necessidades especiais, bem como em outras disciplinas onde podemos abordar o assunto. Por exemplo, além da disciplina de Interface Humanos Computadores, IHC, que é obrigatória na grade do curso de computação na UNIFAE, também estamos orientando os alunos, nas disciplinas de desenvolvimento, a criarem interfaces acessíveis, usarem teclas de atalho e outras técnicas que podem facilitar a interação com o usuário. A maioria dos professores não foi preparada para receber alunos com necessidades especiais e não se sente capaz de recebê-los adequadamente. Particularmente, também não fui preparada, somente no doutorado que tive disciplinas específicas que me orientaram, sobre como lidar com alunos com deficiência visual. Desde 1994, dou aulas para alunos com deficiência visual e iniciei o doutorado em 2001! Outros alunos, com diferentes limitações surgem todos os anos e lamento dizer é frustrante, não saber a melhor maneira de lidar, orientar, auxiliar aquele aluno. As aulas, a metodologia utilizada, termina sempre sendo muito experimental. Sei que não existem fórmulas prontas, mais no ensino superior, o aluno ainda não têm o auxílio que merece e precisa. 166 A pesquisa realizada juntos com os alunos que chegaram ao ensino superior, seus relatos das dificuldades encontradas e a superação destes obstáculos, é justificativa mais que plausíveis para o que foi descrito anteriormente. Somente no ensino fundamental a maioria teve apoio do professor especializado ou atividade similar. Após o ingresso no equivalente a antiga 5ª série, o que para a maioria dos alunos já é uma grande mudança de paradigma, para esses alunos, a sensação de estar só ou do ―paternalismo‖, ( de fazer provas mais simples ou a leitura delas e debate com o professor), mostra um dos fatores desses alunos terem dificuldade ao ingresso no nível superior. O volume de leitura sugeridas no início dos semestres, acrescidos das disciplinas de cálculo, geram um enorme temor nesses alunos. E agora? O que eu faço? A receptividade pela idéia de ter inicialmente alguns desses conteúdos digitalizados, foi de grande alívio para esses alunos. Os testes mostraram que mesmo com a baixa qualidade das gravações, segundo o relato dos alunos a autonomia gerada por essa adaptação supera a qualidade. Poder estudar quando e onde quiser, sem depender da vontade ou disponibilidade de outros. Mesmo sabendo que legalmente não era possível disponibilizar obras no site, ― esse material‖, foi disponibilizado aos alunos para leitura.. Por exemplo, para um aluno com visão subnormal, ter a possibilidade de ler o livro da moda em seu computador, ( Harry Porter e o Código Da Vinci) ter a liberdade de exibir na fonte ou zoom que for mais adequado às suas necessidades, é uma liberdade antes inimaginável. Outro fator relevante foi à centralização de vários documentos sobre inclusão e apoio a pessoas com necessidades especiais. Para quem é da área, documentos como a Declaração de Salamanca, são clássicos, porém para a maioria não sabe da existência. O mesmo em relação as nossas leis e portarias, até mesmo a assistência jurídica tem dificuldades, pois não é comum lidarem com esse assunto. Um exemplo, foi à consulta que fiz quanto à digitalização de documentos, a princípio disseram não, como não conheço bem a legislação e não 167 sei como interpretá-la corretamente enviei especificamente o artigo ao qual me referia que era uma exceção dentro das leis que protegem direitos autorais. Muitas leis, regulamentações e portarias existem quantas conhecemos? Como localizar em tão vasto acervo, uma informação tão específica? A quantidade de textos e livros digitalizados na internet é enorme, porém grande parte desses conteúdos é ilegal, tanto materiais acadêmico como os livros mais vendidos atualmente. Por exemplo, foi localizado um livro de Programação C, muito utilizado nos cursos de graduação em Computação e Engenharia com cerca de 1000 páginas e até mesmo o Livro do Harry Porter em Inglês e Português. No entanto não foram colocados no CAP. Ilegalmente poderíamos ter um acervo enorme, porém por questões éticas procurou-se disponibilizar somente os materiais abertos, ou seja, que os autores permitem. Gostaria de ter contado, no decorrer do trabalho com mais recursos, porém ele está simplesmente refletindo a realidade do país. Creio que se tivesse conseguido recursos ideais, muitos que fossem ler o trabalho poderiam pensar isso é ótimo maravilhoso, mas não é a minha realidade, não foi possível termos, no momento, tais equipamentos. Os artigos internacionais de instituições da Inglaterra, Canadá e o Laboratório da Universidade de Trás dos Montes em Portugal, são mais do que referências, são sonhos de consumo, que um dia iremos alcançar. Estamos, no momento, buscando apoio para a aquisição desses equipamentos. Como dissemos em computação, a maior parte deste trabalho foi feita ―na unha‖, isto é manual, por falta de equipamentos e softwares adequados, mais está sendo útil, para os alunos que estamos trabalhando no momento. É lamentável pesquisar e conhecer teoricamente recursos sofisticados e não ter condições de utilizá-los devido aos altos custos envolvidos e falta de financiamento para adquiri- los. O trabalho foi realizado de forma artesanal, pois as ferramentas disponíveis eram softwares gratuitos, sem manual, sem apoio técnico. O sistema leitor de tela e o sistema para analisar a acessibilidade das páginas, são sistemas também gratuitos, porém não são os melhores, nem os mais eficazes. 168 Para ler o conteúdo textual utilizamos o Dosvox, pois o Jaws e o Virtual Vision, que tinha disponível, era uma versão demonstrativa que funcionava somente durante 30 minutos, o que era insuficiente, diante da bateria de testes necessária. Quanto à avaliação de usabilidade e acessibilidade, usamos o Da Silva, o primeiro avaliador gratuito em português totalmente adaptado segundo a nossa legislação de acessibilidade definida pelo governo federal (Brasil, 2005). Um dos alunos adquiriu o software Jaws e instalou em sua máquina pessoal e o notebook que sua família comprou para que ele acompanhasse as aulas, é um sistema que usa síntese de voz, com uma qualidade superior aos produtos nacionais. Com relação aos outros alunos que não tinham condições financeiras de adquirir equipamento e software próprio, foram adaptadas algumas máquinas nos laboratórios em que assistiam aulas e um na biblioteca, segundo a opinião desses alunos, não era a situação ideal, mais a possível e melhorou o acesso à algumas informações, como textos, porém a dificuldade em acompanhar matérias de cálculo continuam. Espera-se que no decorrer do trabalho possamos aumentar consideravelmente em curto prazo as informações disponibilizadas tanto quantitativamente quanto qualitativamente, inserindo mecanismos de busca acessíveis para facilitar a navegação e localização de informações específica. Conto com a participação de todos que lerem este trabalho ou acessarem o site a colaborarem com novas informações e trocarmos experiências. O Centro de Apoio Pedagógico pretende tornar-se uma grande e movimentada Comunidade Virtual. 169 7. Bibliografia ABNT(2001) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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Os alunos comentam sobre as dificuldades que enfrentam no dia a dia? Quais as principais dificuldades? 2. Qual a sua opinião a respeito das possibilidades de atuação profissional desses seus alunos? 3. Como tem sido a trajetória de seus ex-alunos, em termos de estudos e trabalhos? Que atividades os seus ex-alunos estão desempenhando hoje? 4. Como tem sido o desempenho deles na continuação de estudos superiores? 5. Em sua opinião, quais são os motivos da falta de continuidade dos estudos de alguns de seus ex-alunos? Quais os maiores problemas que considera que eles enfrentaram? 6. Como avalia a qualidade da formação que eles receberam até esse nível de ensino? 175 7. Fora da escola , você tem contato próximo com pessoas com deficiências semelhantes as desses seus alunos? 8. Pelo que tem observado, pela sua experiência, qual é a influência da família e amigos no incentivo aos estudos desses alunos? 9. Como tem sido o desenvolvimento, por parte dos alunos, na sua disciplina? USO DO COMPUTADOR E AJUDAS TÉCNICAS 1. Faz algum uso do computador? Qual e em que condições? 2. Que recursos de computador considera que poderiam ser úteis para esses alunos? 3. Seus alunos tem acesso ao computador aqui? Algum deles utiliza algum recurso especial, qual? 4. É de seu conhecimento se os seus alunos tem acesso ao computador fora dessa escola? 5. Sabe quais são os recursos disponibilizados a esses estudantes por ocasião da admissão ao ensino superior? GERAL 1. Qual foi a situação mais difícil que vivenciou com seus alunos? A formação que recebeu lhe tinha preparado para enfrentar esse tipo de problema? 2. O que poderia ter auxiliado 3. Tem alguma idéia que implementadas melhoraria o atendimento a seus alunos? 6. Qual o suporte que recebe para as suas atividades ( equipe de apoio)? 8. Quanto ao material didático utilizado na sua disciplina? Existia adaptações? Foram realizadas algumas adaptações? 176 Anexo B: Questionário de avaliação do modelo de ambiente web para deficientes visuais. 1ª. Parte – Caracterização da Amostra 1 – Qual o seu tipo de deficiência visual: ( ) Cego total ( ) Visão subnormal 2 – Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 3 – Faixa etária: ( ) Até 18 anos ( ) 19-25 anos ( ) 26-30 anos ( ) Acima de 30 anos 4 – Nível de escolaridade: ( ) 1º Grau ( ) 2º Grau ( ) 3º Grau ( ) Pós-graduação 5 – Faixa salarial (1 salário mínimo= R$ 200,00): ( ) De 1 a 2 s. m. ( ) De 3 a 4 s. m. ( ) De 5 a 6 s. m. ( ) Acima de 6 s. m. 6. Possui Computador em Casa ( ) Sim; ( ) Não. 7.Tem acesso ao computador com adaptações na escola, instituto ou outro local ( ) Sim; ( ) Não. 8. Utiliza a Internet com freqüência ( ) Sim; ( ) Não. 9.Como considera seu conhecimento em relação ao computador ( ) não sei usar ( ) iniciante ( ) Intermediário ( ) Avançado 10. Em que o uso do computador, modificou suas atividades.