UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM MESTRADO EM LINGUÍSTICA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: LINGUÍSTICA LINHA DE PESQUISA: VARIAÇÃO E MUDANÇA RENATO KLEDSON FERREIRA CONSTRUÇÕES DE TÓPICO MARCADO EM CARTAS PESSOAIS BRASILEIRAS DOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX NATAL/RN 2014 RENATO KLEDSON FERREIRA CONSTRUÇÕES DE TÓPICO MARCADO EM CARTAS PESSOAIS BRASILEIRAS DOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Linguística. Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Martins NATAL/RN 2014 Catalogação da publicação na fonte. Bibliotecária: Aline Nascimento Silva CRB 15/711 Ferreira, Renato Kledson. Construções de tópico marcado em cartas pessoais brasileiras dos séculos XVIII, XIX E XX / Renato Kledson Ferreira. – Natal, RN, 2014. 134 f. : il. Orientador: Dr. Marco Antonio Martins. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Ciência em Estudos da Linguagem. 1. Construções de Tópico Marcado – Dissertação. 2. Cartas Pessoais – Dissertação. 3. Português Brasileiro – Dissertação. I. Martins, Marco Antonio. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. CDU 811.134.3(81) RENATO KLEDSON FERREIRA CONSTRUÇÕES DE TÓPICO MARCADO EM CARTAS PESSOAIS BRASILEIRAS DOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós- Graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Linguística. NATAL/RN 2014 AGRADECIMENTOS Ao Deus de infinita bondade que me proporcionou alçar mais uma etapa da minha vida. Aos meus pais, Pedro Ferreira Filho e Zuleide Gomes Ferreira, pelos esforços que fizeram para que eu pudesse estudar e alcançar os meus objetivos e sonhos. Aos meus familiares que acompanharam cada etapa da minha formação acadêmica e sempre estiveram ao meu lado nos momentos mais difíceis. Aos meus amigos Raimunda Gomes, Conceição Gomes, Aldenira Alves, Aldenizia Alves, Carmelita Melo, Amália Oliveira, Joyce Medeiros e Janildo Alves pela lealdade e compreensão. Aos amigos, professores de língua portuguesa, Danusa Braga, Geová Bezerra e Sueli Xavier pela disponibilidade. Aos amigos de trabalho Elissandro Dantas, Hugo Félix e Joab Anacleto pelas palavras de estímulos. Ao senhor Murilo Lopes Paiva pela doação das cartas particulares dos irmãos Paiva, as quais foram primordiais para o ingresso no mestrado na UFRN. Ao professor orientador Marco Antônio Martins por disponibilizar seu conhecimento sobre linguística diacrônica e estudos de sintaxe gerativa. Agradeço também por toda a atenção, dedicação, compreensão e paciência desde o período da especialização. As amigas mais que especiais, Marly Rocha de Medeiros Vargas e Nara Juscely Minervino de Carvalho Marcelino, pelas horas de alegria, de companheirismo, de estudos, de angústia, de plantão de dúvidas via telefone, enfim de todas as horas disponíveis que cada um tinha para com o outro, mesmo nos momentos mais difíceis. Não tenho palavras para definir a nossa eterna amizade, pois vocês são leais, firmes e verdadeiras. Minhas duas meninas adoráveis que juntas geram explosões de ideias, as quais foram importantes para o meu crescimento intelectual. Aos docentes Charllote Galves, Mary Kato, Ataliba de Castilho, Rodolfo Ilari, David Lightfoot, Anthony Kroch, Dante Lucchesi, Edivalda Araújo, João Costa, Silvia Regina, Cilene Rodrigues, Shigeru Miyagawa, Carlos Mioto, Sandra Quarezemin pelas discussões e consequentes contribuições sobre o meu objeto de pesquisa, as construções de tópico marcado. Aos professores José Romerito da Silva e Adeilson Pinheiro Sedrins pela participação de minha banca de qualificação e por aceitar o convite para a defesa. À Coordenadoria do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPgEL/UFRN) e a todos os professores do departamento que contribuíram com o meu desenvolvimento durante o curso. Aos funcionários do PPgEL, Elizabete Dantas e Gabriel Uchoa, pelo atendimento e atenção. A Rossane Vanine (in memorian) pela delicadeza e serviço prestado durante a sua passagem na UFRN. Aos colegas de mestrado, os quais foram de tamanha importância para o meu crescimento moral e acadêmico. À instituição CAPES pelo apoio financeiro durante o desenvolvimento desse trabalho. Enfim, agradeço a todos que passaram esses dois anos comigo e que tenham contribuído direta ou indiretamente para a efetuação desse trabalho. RESUMO Esta dissertação consiste em um estudo sobre as construções de tópico marcado (CT) em cartas pessoais brasileiras dos séculos XVIII, XIX e XX. O objetivo de nossa pesquisa é verificar que CT estão presentes na escrita de brasileiros nascidos nos séculos em questão. O nosso foco de investigação se fundamenta nos pressupostos da teoria gerativa (CHOMSKY 1981; 1986), a qual afirma que a gramática se encontra internalizada na mente/cérebro dos missivistas, tendo como ênfase os estudos acerca da mudança gramatical, conforme apontam os textos de Paixão de Sousa (2004); Carneiro (2005); Galves, Namiuti e Paixão de Sousa (2006); e Martins (2009). O nosso córpus foi extraído do Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB) e de Cartas Brasileiras – coletânea de fontes para o estudo do português. Selecionamos quarenta e seis missivistas que deveriam estar inseridos nos dois critérios estipulados nesta pesquisa: ser brasileiro e ter nascido nos séculos mencionados, a fim de que pudéssemos encontrar as CT legítimas do PB. Este trabalho está ancorado nas pesquisas de Pontes (1987), Mateus et al. (2003), Araújo (2006; 2009), Berlinck, Duarte e Oliveira (2009), as quais nos respaldarão no estudo desse fenômeno linguístico na língua portuguesa. Os resultados mostram que as construções de tópico marcado em nosso córpus aparecem na escrita de brasileiros desde a segunda metade do século XVIII, enquanto que a construções típicas do Português Brasileiro – tópico locativo, tópico sujeito e tópico cópia já se encontram refletida na língua-I dos missivistas nascidos na segunda metade do século XIX e na primeira do século XX. Palavras-chave: Construções de Tópico Marcado. Cartas Pessoais. Português Brasileiro. ABSTRACT This dissertation is a research on the marked topic construction (CT) in Brazilian personal letters from eighteenth, nineteenth and twentieth centuries. The goal of our research is to verify if CT are present in the writing of Brazilians born in the centuries in question. Our research focus is based on the assumptions of generative theory (CHOMSKY 1981; 1986), which states that grammar is internalized in the mind / brain of the writers, with the emphasis on studies of grammatical change, as pointed texts by Paixão de Sousa (2004), Carneiro (2005); Galves, Namiuti and Paixão de Sousa (2006) and Martins (2009). Our corpus was extracted from Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB) and Cartas Brasileiras – coletânea de fontes para o estudo do português. We selected forty-six correspondents who should be inserted into the two criteria set out in this research: to be Brazilian and be born in the centuries mentioned above, so that we could find legitimate topic constructions of PB. This work is based on researches by Pontes (1987), Mateus et al. (2003), Araujo (2006, 2009), Berlinck, Duarte and Oliveira (2009), which actively support us in the study of this linguistic phenomenon in Portuguese. The results show that the marked topic construction in our corpus appear on the writing of Brazilians since the second half of the eighteenth century, while the typical constructions in Brazilian Portuguese – locative topic, subject topic and copy topic - are already reflected in the I-language of the writers born in the second half of the nineteenth century and the first of the twentieth century. Keywods: Marked Topic Constructions. Personal Letters. Brazilian Portuguese. LISTA DE ABREVIATURAS Categoria Vazia/Empty Category - ec Construções de Tópico - CT Gramática Universal - GU Projeto Para a História do Português Brasileiro - PHPB Português Arcaico - PA Português Brasileiro - PB Português Europeu - PE Português Médio - PM Sentença - S Sintagma Complementizador/Complementizer Phrase - CP Sintagma de Determinante/ Determiner Phrase - DP Sintagma de Flexão/Inflection Phrase - IP Sintagma de Tópico/Topicalization Phrase - TopP Sintagma Nominal/ Noun Phrase - NP Sintagma Preposicional/ Preposition Phrase - PP Sintagma Verbal/ Verb Phrase - VP SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................9 1 AS CONSTRUÇÕES DE TÓPICO EM PORTUGUÊS: PROPRIEDADES, DEFINIÇÃO E TIPOLOGIAS................................................................................. 12 1.1 ABRINDO O CAPÍTULO..................................................................................... 12 1.2 PROPRIEDADES GERAIS DAS CT.................................................................... 13 1.3 PARA UMA DEFINIÇÃO DAS CT EM PORTUGUÊS...................................... 18 1.4 AS CT EM PORTUGUÊS...................................................................................... 23 1.4.1 As CT na Gramática de Mateus et. al. (2003).................................................. 27 1.4.2 As CT na Gramática do Português Culto Falado no Brasil (2009)............... 33 1.4.3 As CT na Perspectiva de Araújo (2009)........................................................... 34 1.5 FECHANDO O CAPÍTULO.................................................................................. 41 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, QUESTÕES, HIPÓTESES E OBJETIVOS DA PESQUISA.................................................................................... 43 2.1 ABRINDO O CAPÍTULO..................................................................................... 43 2.2 O PHPB.................................................................................................................. 44 2.3 O CÓRPUS DESTA PESQUISA........................................................................... 45 2.3.1 Cartas dos Irmãos Paiva................................................................................... 49 2.3.2 Cartas do casal de Patu/RN.............................................................................. 51 2.3.3 Cartas Brasileiras.............................................................................................. 52 2.3.4 Cartas do Rio de Janeiro................................................................................... 53 2.4 QUESTÕES E HIPÓTESES.................................................................................. 54 2.5 OBJETIVOS........................................................................................................... 56 2.6 FECHANDO O CAPÍTULO.................................................................................. 56 3 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS............................................................ 58 3.1 ABRINDO O CAPÍTULO..................................................................................... 58 3.2 DESCRIÇÃO DAS CT NAS CARTAS POR SÉCULO....................................... 60 3.2.1 As CT nas cartas particulares do século XVIII.............................................. 60 3.2.2 As CT nas cartas particulares do século XIX................................................. 63 3.2.3 As CT nas cartas particulares do século XX................................................... 71 3.3 FECHANDO O CAPÍTULO.................................................................................. 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 81 BIBLIOGRAFIAS...................................................................................................... 83 APÊNDICE. ............................................................................................................... 89 ANEXOS...................................................................................................................... 94 9 INTRODUÇÃO Neste trabalho, investigamos as construções de tópico marcado (CT) no Português Brasileiro (PB), tomando como recorte a escrita de missivistas brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX. As CT definem-se por apresentar, na periferia esquerda da sentença, um sintagma sobre o qual se faz uma proposição seguida de um comentário. O objetivo principal é identificar que estruturas de tópico marcado já estavam presentes nas cartas particulares de brasileiros natos nos séculos em questão, sobretudo as construções típicas do PB, dentre estas, mais especificamente, aquelas associadas ao tópico sujeito. Galves, Namiuti e Paixão de Sousa (2006) constatam em seus estudos que o Português Europeu (PE), assim como o PB, se originaram do Português Médio (PM), e isso faz com que as construções de tópico marcado tenham origem em comum. No entanto, cabe-nos a seguinte questão: em qual período do PB as estruturas de tópico apresentam diferenças entre as duas gramáticas originadas do PM? Segundo Galves (2001, p. 43) podemos encontrar outras construções típicas, não só do português brasileiro falado como também do escrito, são o reflexo de uma organização sintática que se distancia nitidamente da das outras línguas românicas e, em particular, do português europeu. Além de Galves (2001), diversos autores afirmam que o PB é uma língua de proeminência de tópico, devido ao fato de esta se diferenciar das línguas românicas, porque o PB tem como características principais a perda dos clíticos acusativos, o enfraquecimento da flexão verbal, a perda da construção VS e o preenchimento do sujeito; enquanto que Pontes (1987) classifica o PB com proeminência de sujeito e proeminência de tópico. Adimitimos neste trabalho que o termo topicalizado tem de ser compartilhado entre os missivistas, podendo sofrer ou não um deslocamento e/ou deixar um correferente ou uma categoria vazia no interior da sentença, salvo em alguns casos, em que o tópico pode ser uma informação nova, pois não é recuperado devido às informações já estarem no consciente dos missivistas. 10 Ancoramo-nos em estudos desenvolvidos por Pontes (1987), Mateus et al. (2003), Araújo (2006, 2009) e Berlinck, Duarte e Oliveira (2009), com o objetivo de fundamentar nossa pesquisa em relação às construções de tópico marcado, além de o nosso estudo se embasar nos pressupostos do gerativismo (CHOMSKY, 1981/1986; PAIXÃO DE SOUSA, 2004; CARNEIRO, 2005; GALVES, NAMIUTI e PAIXÃO DE SOUSA, 2006; e MARTINS, 2009) que foram imprescindíveis para analisarmos se as construções de tópico marcado típicas do PB já estavam instanciadas na língua-I dos missivistas dos séculos em questão, tendo como base a data de nascimento dos autores das cartas pessoais. Para a composição do córpus, estabelecemos dois critérios, os quais serão de grande valia para o nosso estudo, visto que a data de nascimento e a nacionalidade vão nos ajudar a identificar o período em que as CT surgiram na escrita dos brasileiros em cartas particulares. Tendo em vista esses critérios, é importante mostrar que, no século XVIII, o “português do Brasil começa a existir como língua literária, com produção específica dos escritores brasileiros” e que é a partir da segunda metade do século XIX um período favorável para investigar as características sintáticas do PB em relação às construções de tópico marcado (ARAÚJO, 2006, p. 38). Escolhemos o gênero carta pessoal por estarmos desenvolvendo uma pesquisa sobre as construções de tópico marcado na especialização do PPgEL – UFRN, sendo que a perspectiva teórica a ser desenvolvida nesta dissertação será a formalista, mais especificamente gerativista e diacrônica. Discutiremos questões relativas às CT, além de identificar em qual período as construções de tópico marcado típicas do PB aparecem nas cartas de brasileiros. De acordo com Araújo (2006, p. 41) temos em mente que, [...] embora saibamos das dificuldades em se trabalhar com textos do tipo cartas, por não refletirem uma situação normal de diálogo, mas um diálogo à distância no espaço e no tempo, elas foram selecionadas porque evidenciam um tipo de produção de texto em que o escritor tem em mente um leitor determinado e que tem um conhecimento em comum com ele. Em cartas pessoais, mais precisamente, percebemos que os constituintes topicalizados já fazem parte da pressuposição tanto do escritor/falante quanto do leitor/ouvinte, por isso, acreditamos que o escrevente se sinta mais à vontade em sua 11 produção linguística devido ao fato de estar escrevendo para conhecidos, isto é, para pessoas com quem tinham um vínculo de intimidade bastante estreito. Defenderemos em nossa pesquisa que as mudanças na estrutura sintática estão submetidas aos princípios da gramática universal (GU), os quais são comuns a todos os indivíduos de uma determinada língua, e que as mudanças surgem no processo de aquisição da linguagem ou no processo de construção de uma gramática particular “ao longo da maturidade linguística do indivíduo” (SILVA, 2008, p.49). Portanto, acreditamos que a nossa pesquisa contribuirá com os estudos da língua portuguesa, sobretudo do PB, nos séculos mencionados, tendo como amostra cartas particulares não só do Rio Grande do Norte, mas também de outros estados brasileiros (cf. distribuição de cartas por autores no Apêndice). Utilizaremos o método qualitativo para compor o córpus mínimo de cartas pessoais do PHPB e identificaremos se as CT específicas do PB, mais propriamente tópico sujeito, estão na estrutura dessa língua na modalidade escrita, enquanto reflexo da competência linguística dos missivistas. A dissertação está estruturada em três capítulos. No capítulo 1, expomos os pressupostos teóricos sob os quais a análise será desenvolvida, bem como as propriedades, definições e tipologias a que estamos nos referindo como construções de tópico marcado em português e, em especial, do PB; no capítulo 2, apresentamos o PHPB e, logo em seguida, exibimos um quadro metodológico descritivo do córpus, delineando as questões de pesquisa, as hipóteses e os objetivos, com o intuito de mostrarmos os resultados; no capítulo 3, a fim de oferecer um quadro explicativo para as construções de tópico marcado encontradas nas cartas particulares de brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX, analisaremos o córpus com base na proposta do gerativismo diacrônico, isto é, como essas construções de tópico marcado estão refletidas na língua-I dos missivistas desses períodos. Nesse capítulo apresentaremos os resultados obtidos, bem como as respostas às questões desta pesquisa. Nas considerações finais desta dissertação faremos uma síntese de nosso estudo. 12 1. AS CONSTRUÇÕES DE TÓPICO EM PORTUGUÊS: PROPRIEDADES, DEFINIÇÕES E TIPOLOGIAS 1.1. ABRINDO O CAPÍTULO O estudo do fenômeno linguístico intitulado construções de tópico marcado tem sido objeto de investigações diacrônicas e sincrônicas de diferentes pesquisadores. Diversas pesquisas sobre as CT foram realizadas em diferentes línguas naturais, as quais resultaram em elaborações conceituais, tendo como base o fato de que o usuário da língua dispõe de diversas estruturas sintáticas, o qual não combina os constituintes em uma sentença do modo como quer, visto que a colocação de um elemento na sentença está/é associada ao conhecimento geral que possui de sua própria língua materna (CASTILHO, 2010, p. 280). Nesse aspecto, Pontes (1987, p. 11) apresenta os apontamentos de Li e Thompson (1976) 1 , os quais, ao pesquisarem diferentes línguas, elaboraram uma classificação, tendo como base o pressuposto de que algumas línguas tinham relações de estruturas de sujeito-predicado e outras de tópico-comentário. Desta forma, explanaremos o status do PB como língua de proeminência de tópico e sujeito, tendo em vista o conjunto de mudanças sintáticas por que passa o sistema, tais como o preenchimento do sujeito e o apagamento do objeto. No Brasil, diversos autores se propuseram a estudar esse fenômeno linguístico. Eunice Pontes foi a precursora dos estudos sobre o tópico e seus trabalhos foram reunidos no livro O Tópico no Português do Brasil, publicado em 1987. Nessa obra, a autora constata que o PB está inserido tanto nas línguas de tópico como nas de sujeito proeminente. Essa afirmação nos remete às duas tipologias linguísticas distintas apresentadas acima. Nas línguas de tópico-comentário, as funções sentenciais não dispõem de marcação de Caso, visto que o elemento deslocado para a parte frontal da sentença – no CP – está isento do processo de gramaticalização. Já nas línguas que têm estrutura de 1 Doravante L&T. 13 sujeito-predicado ocorre essa marcação devido ao fato de os sujeitos sentenciais terem sido construções de tópico marcado antes de serem gramaticalizados. Com isso, assume-se a ideia de que “o PB ocupa uma posição intermediária entre esses dois extremos” (CASTILHO, 2010, p. 281); isto é, qualquer NP pode ser um tópico no PB, desde que esteja na parte frontal da sentença, mais precisamente, à esquerda da oração, ou, em algumas situações, à direita 2 . Conforme Pontes (1987), essas CT são em sua maioria argumentos e adjuntos que estão posicionados na cabeça da sentença. Nesse sentido, apresentaremos as propriedades gerais dessas construções, a definição de tópico adotada em nossa pesquisa, os tipos de CT na literatura e as classificações das CT assumidas em nosso estudo. 1.2. PROPRIEDADES GERAIS DAS CT Para pesquisarmos as construções de tópico marcado, devemos ter como base as características adotadas por Li e Thompson (1976), os quais diferenciaram as línguas de tópico (doravante, Tp) em contraste com as línguas de sujeito (doravante, Sp), estabelecendo assim as características das CT nas línguas de tópico e as características das Tp. Essas propriedades serão úteis para apresentarmos as particularidades gerais das construções de tópico em Tp e das propriedades das Tp. Em relação às características das construções de tópico marcado nas Tp, os autores apresentam algumas propriedades que são distintas das de sujeito. A primeira diz respeito à definitude do tópico, em que o constituinte topicalizado será sempre definido como também poderá ser um demonstrativo; quanto à segunda característica, o tópico não precisa ter relações selecionais (concordância) com o verbo, já no sujeito, a concordância com o predicador é obrigatória. Na terceira propriedade, o verbo determina o sujeito, mas não o tópico, uma vez que o tópico não mantém relação com o verbo, isto é, a relação do tópico com o verbo é independente. Essas duas últimas propriedades nos mostram que o elemento topicalizado, apesar de ser definido como a entidade sobre o qual se diz alguma coisa, não necessariamente é o sujeito sentencial. Estruturas desse tipo estão exemplificadas em (1): 2 Nesse último caso, o constituinte é denominado de antitópico. 14 (1) A Maria, o carro dela quebrou (KATO, 1989, p. 109). Analisando (1), vemos que o tópico “A Maria” não é o sujeito sentencial, uma vez que a posição de sujeito da estrutura é ocupada pelo constituinte “o carro dela”, porém é sobre ela que se faz o comentário. Na quarta característica, em relação ao papel funcional, o tópico desempenha o centro da atenção na sentença, isto é, ele está mais ligado ao discurso, como ilustramos em (2): (2) Quanto a João, vou estar com ele várias vezes (KATO, 1998, p. 68). Em (2), o termo em negrito está relacionado ao assunto da sentença- comentário, porque já está pressuposto no contexto. A quinta característica, uma particularidade marcante, refere-se à posição do termo topicalizado na sentença, em que o tópico anuncia o que vai ser comentado e sempre está no início da sentença em contexto de frase-raiz 3 , diferentemente do sujeito em algumas línguas, que pode vir no início de frase, no final ou ser nulo 4 . Por fim, na última propriedade das construções de tópico marcado das Tp, quanto aos processos gramaticais na sentença, é que ocorre antes do constituinte topicalizado se deslocar para a cabeça da sentença, cabendo ao sujeito processos como reflexivização, passivização e imperativização, mas não cabe ao tópico que, por estar na parte exterior da sentença, é independente desses processos sintáticos. Entretanto, para distinguimos as línguas de proeminência de sujeito das línguas de tópico, precisamos nos deter nas características típicas das Tp, as quais L&T apresentam: (i) Em relação à construção passiva, os autores “explicam a marginalidade da passiva nas línguas Tp como devida (sic) ao fato de a construção de tópico ser a que desempenha o papel mais importante na construção da S, podendo qualquer SN ser tópico” (PONTES, 1987, p. 21). 3 Contexto de frase-raiz são denominações de sentenças simples. 4 Araújo (2009, p. 64), em seus estudos, encontra em atas o tópico nulo e afirma que línguas como o japonês, o chinês e o PB têm essas CT. Nesse caso, para ocorrer esse tipo de construção, é preciso que ocorra uma topicalização de objeto direito, para que o elemento topicalizado seja apagado nas sentenças seguintes, deixando uma categoria vazia (ec), podendo ser recuperado pelo contexto. 15 Esse fato nos mostra que um DP lexical ou pronominal inicial, como também um PP podem ser constituintes topicalizados à esquerda da sentença, em torno do qual surgirá um predicado ou comentário. (ii) Em relação aos sujeitos vazios 5 , o português, assim como as línguas de tópico, não tem o termo “expletivo” para ocupar a posição de sujeito de frases existenciais impessoais ou referentes a fenômenos atmosféricos, mas línguas como o inglês e o francês possuem esse tipo de sujeito (cf. os exemplos 3 e 4). (3) It rains. (4) Il pleut (BERLINCK; DUARTE; OLIVEIRA, 2009, p. 110). L&T, em relação a essa propriedade, não são tão consistentes, porque ao analisar as línguas de proeminência de sujeito, verificaram que elas têm pronomes expletivos. Os autores constatam que a posição de sujeito, que é não temática, possa ser preenchida por elementos que não tenham papel temático selecionado pelo verbo. Esse fato faz com que essa posição possa ser ocupada por categorias vazias ou por pronomes expletivos. Por isso é que, no PB, pode até não haver um pronome expletivo foneticamente realizado, mas isso não impede que essa língua tenha um elemento nulo referencial ou não referencial (expletivo) para preencher essa posição de sujeito. Mas não adentraremos nessa discussão, pois o nosso objetivo nesta seção é mostrar as propriedades que diferenciam o sujeito sintático do termo topicalizado. (iii) Em relação às construções de duplo sujeito típicas das Tp, o constituinte topicalizado e o sujeito presente na estrutura da sentença são distinguidos, devido ao fato de o primeiro não ser selecionado pelo verbo (cf. exemplo 5). (5) O Lucas, ele brinca com os amigos. Observamos que nessa construção o constituinte em negrito está acima de IP e o termo retomado é o pronome que estabelece concordância com o predicador por estar interno ao comentário. 5 Sujeito vazio, ou sujeito nulo, nomenclatura adotada por Pontes (1987, p. 21). 16 (iv) Em relação ao controle de correferência, é o tópico que assume o controle no interior da sentença e não o sujeito (cf. exemplos 6 e 7). (6) O Gabriel, nós encontramos ele na praia. (7) O Caio, eu vi [-] na escola. Nesses exemplos, constatamos que, em (6), o termo em negrito assume o controle de correferência, apresentando traços gramaticais de pessoa, gênero e número com o pronome no interior do comentário. Já em (7), vemos que o termo topicalizado estabelece essa correferência com uma categoria vazia. Essa propriedade contribuirá com a nossa pesquisa, tendo em vista que alguns autores fazem distinção entre Deslocamento à Esquerda (DE) e Topicalização (TOP). Por fim, (v) no tocante às restrições, vemos que estas só existem em sentenças de Sp, não estando presentes em Tp. Como exemplo, temos a língua portuguesa, em que qualquer elemento na sentença pode ser um tópico, tais como os argumentos, os adjuntos adverbiais e os adjuntos adnominais. Kato (1989) apresenta propriedades para distinguir o sujeito gramatical do tópico, analisando o português e o japonês e constata que ambas as línguas permitem a extração de um NP para a posição de tópico. Nessa análise comparativa, Kato (1989) percebe que o português pode licenciar tanto alçamentos não oriundos de argumentos do verbo como os de adjuntos, o que nos mostra que esta língua também é orientada para o tópico. Ao estudamos essas CT, é preciso ter em mente que elas estão entrelaçadas nas estruturas gramaticais e informacionais, isto é, são atreladas semântica, sintática e pragmaticamente. Trataremos de explicitar resumidamente as propriedades intrínsecas a essas construções. Na perspectiva semântica, o elemento topicalizado é sempre referencial, no sentido de ele ser identificável pelo falante/escritor e pelo ouvinte/leitor, como no exemplo (8), mas não pode ser quantificado, como em (9). Nesse caso, constatamos que o elemento topicalizado não pode ser um quantitativo, porque qualquer sintagma quantificador não pode ser retomado pelo pronome no comentário. (8) Os meninosi, elesi preferem assistir o jogo (KATO, 1998, p. 67). (9) *Poucos meninosi, elesi preferem assistir o jogo (ibidem). 17 Na perspectiva sintática, Kato (1998) considera que o tópico não exerce o papel argumental, visto que o argumento associado ao elemento no topo da sentença aparece sob a forma de pronome, clítico, epíteto, DP repetido ou categoria vazia, conforme o exemplo que segue: (10) O Collori, ninguém mais quer ver (ele, lo, o safado, Collor, ec)i de novo (KATO, 1998, p .68). Já na perspectiva pragmática, não podemos confundir o tópico, que é um sintagma nominal já pressuposto, com o foco, que aparece também em posição periférica inicial, o qual tem proeminência entoacional. Desse modo, o termo topicalizado não pode ser uma informação nova, como mostram os exemplos abaixo: (11) a) Quem comeu o boloi? b) O boloi, a Xuxu comeu cvi. (12) a) O que aconteceu? b) *O boloi, a Xuxu comeu cvi (KATO, 1998, p. 68). No exemplo (11b), o DP em negrito já faz parte do conhecimento partilhado, isto é, está ligado ao assunto em discussão, ao passo que, em (12b), o elemento que está na cabeça da sentença é uma informação nova, devido ao fato de ele ser visto como um constituinte mais importante ou eminente da comunicação. Diante dos fatos apresentados, constatamos que as propriedades discursivas, gramaticais, semânticas e lexicais estão concomitantemente atreladas em uma mesma sentença, ou seja, elas não são derivadas umas das outras, mas convivem em um mesmo enunciado. Essas explanações nos ajudarão a definir o termo topicalizado em nosso trabalho. 18 1.3. PARA UMA DEFINIÇÃO DAS CT EM PORTUGUÊS Explanaremos, primeiramente, a problematização que alguns autores colocam sobre o que sejam DE e TOP. Do mesmo modo, apresentaremos as dicotomias entre tópico marcado versus tópico não marcado; tópico versus foco e informação pressuposta/velha/dada versus informação assertiva/nova, as quais serão necessárias para o entendimento das questões referentes às construções de tópico marcado. A língua tem recursos expressivos, os quais vão permitir que o escrevente e/ou falante usem esse mecanismo para expressar o mesmo conteúdo de diversas formas. Por isso, em algumas estruturas de construções de tópico marcado, podemos ter elementos situados em determinadas posições que não a canônica. Pontes (1987) discorre acerca das explanações de Givón (1979) sobre as construções de tópico-comentário – TOP e DE – e constata que essas esturutras são específicas do modo pragmático, enquanto as construções de sujeito-predicado estão no modo sintático. Desse modo, as estruturas de tópico-comentário têm uma informação velha seguida de uma informação nova, além de ter verbos semanticamente simples e pouca entoação do tópico. Já nas estruturas de sujeito-predicado, a ordem das palavras aponta funções de caso semântico forte, visto que os verbos são semanticamente complexos e a entoação do sujeito é mais ou menos a mesma que a do tópico. Tarallo (1986, p. 129) expõe as ideias de Ross (1967) referentes à oposição entre estruturas topicalizadas e as deslocadas à esquerda. Diversos autores abordaram esse fenômeno linguístico tanto na perspectiva funcional quanto na gerativista. Em português, é difícil percebemos a diferença entre construções do tipo de TOP e DE, visto que a elipse é opcional nessa língua, o que nos faz pensar que trabalhar com essas construções não é algo tão simples. Os exemplos (13) e (14) mostram as construções de tópico acima problematizadas: (13) Pauloi eu vi eci (14) Pauloi eu vi elei (ou: Pauloi eu oi vi) (TARALLO, 1986, p. 129). Vemos que, em (13), o termo topicalizado tem como correferente uma categoria vazia, enquanto em (14), o correferente pode ser um pronome forte, no caso 19 do PB, e um pronome clítico, no caso do PE. Este último pode ocorrer no PB, mas como essa língua está perdendo o processo de cliticização, construções desse tipo não são tão recorrentes nela. Pontes (1987) constata que o pronome e a categoria vazia retomados pelo tópico no comentário encontram-se muitas vezes em variação livre no PB no mesmo contexto, ao passo que Kato (1989) observa que essa variação livre se dá em virtude do desaparecimento do sistema de clítico no português coloquial. No entanto, constatamos que essa variação no PB faz com que a DE se assemelhe às construções de TOP. Vimos acima que a elipse é opcional no português, mas, se compararmos as sentenças (13) e (14) com a sentença (15), verificaremos que essas estruturas são ambíguas no PB em virtude de não sabermos se é uma topicalização ou um deslocamento à esquerda com elipse, devido a essa variação livre. Vejamos o exemplo (15): (15) Essa cerveja eu não bebo (PONTES, 1987, p. 54). No exemplo acima, a diferença entre a TOP e a DE está correlacionada a uma relação pragmático-discursiva. Pontes (1987, p. 65), em conformidade com Ross (1967), afirma que o fenômeno do NP externo e inicial à sentença está vinculado tanto a TOP quanto a DE, mas há uma vinculação para distinguir o NP externo de uma construção da outra, ou seja, na TOP haverá uma categoria vazia no comentário, enquanto na DE haverá um pronome ou um correferente no interior da sentença. Pontes (1987, p. 54), em sua pesquisa do português falado do Brasil, identifica uma grande quantidade de construções de tópico com categoria vazia, mas ao mesmo tempo constata que em língua escrita há mais topicalização do que deslocamento à esquerda. Nesse caso, a TOP seria caracterizada por ter uma lacuna vazia, a qual seria ocupada pelo elemento topicalizado na sentença na ordem canônica, além de retomar um NP dado no discurso ou inferível a partir dele, enquanto que a DE, assim como a TOP, se caracterizam também pela referencialidade, causalidade e tematicidade entre o constituinte com a função de tópico e o elemento no interior do comentário, diferencia- se daquela porque compete a essa construção apresentar NP novos ao discurso. Esse fato nos faz refletir sobre a ocorrência ou não do pronome, pois essa problematização não deixa uma evidência segura no que concerne às diferenças em 20 português, sobretudo no PB, entre TOP e DE. Por isso, nesta pesquisa, vamos determinar que as construções de tópico marcado reunirão as propriedades de TOP e DE. Dessa maneira, o constituinte topicalizado, sob a ótica da perspectiva gerativa, é apresentado como um elemento inicial na parte externa da sentença, podendo vir seguido de um comentário. Mas, para que esse termo topicalizado tenha algum vínculo sintático, é necessário que, no interior da sentença, haja algum correferente ou uma categoria vazia, relacionando-se ao tópico. Caso contrário, haverá apenas uma relação semântica, impossibilitando assim a correferência entre o elemento no topo da sentença com o comentário. Para Galves (1998), o tópico pode ser um PP locativo ou adjunto deslocado à esquerda, mas sem a realização da preposição, ou ser um NP que é movido para a esquerda, sendo retomado por um pronome lembrete em sua posição pré-verbal. Ao trabalharmos com a dicotomia de tópico marcado versus tópico não marcado, verificamos que uma estrutura de tópico marcado se diferencia da outra porque as sentenças que apresentam um termo topicalizado na parte inicial não comungam com os traços gramaticais de sujeito, ao passo que nas sentenças de tópico não marcado, o termo na parte frontal da oração tem configuração idêntica à do sujeito sintático, devido ao fato de estabelecer concordância com o predicador. Esse fato ocorre porque, nas construções de tópico marcado, o constituinte topicalizado não precisa ter relações selecionais com o verbo, ou seja, o tópico é independente do predicador. Mas em algumas construções de tópico, mais específicas do PB – o Tópico Sujeito, o constituinte é alçado para à posição frontal da sentença e estabelece concordância com o predicador, isso ocorre porque o constituinte que deveria ocupar essa posição fica posposto ao predicador. Por isso é que o tópico, e somente nesse tipo de construção, estabelece concordância com o verbo. Desse modo, vemos que em estruturas SVO o elemento que surge na parte frontal da oração será um tópico não marcado (cf. 16), devido ao fato de ele ser selecionado pelo predicador, enquanto que em (17), o elemento externo à sentença seguido por um comentário tem o papel de anunciar e/ou retomar o tema do discurso e, ao mesmo tempo, não exige nenhuma relação com o predicador da sentença- comentário, sendo determinado de tópico marcado. Nesse caso, o tópico tem o controle de correferência da estrutura tópico-comentário. 21 (16) As minhas amigas vão sempre ao teatro, quase sempre (BERLINCK; DUARTE; OLIVEIRA, 2009, p. 105). (17) O prefeito, ele hoje está inaugurando umas obras (CASTILHO, 2010, p. 279). Em (16), o termo em negrito é o próprio sujeito sintático – tópico não marcado – e em (17), o constituinte “O prefeito” é o tópico marcado. Os exemplos acima são bastante ilustrativos, pois vemos que tanto o tópico marcado quanto o sujeito gramatical podem veicular uma informação nova ou velha. Contudo, ao estudarmos essas duas dicotomias, averiguamos que a estrutura informacional é bastante ampla, visto que “em todas as sentenças elementos externos a ela entram em conexão referencial com um constituinte da sentença-comentário”, estabelecendo assim uma relação semântica, podendo ou não existir uma conectividade sintática que é mais ou menos estreita entre os constituintes topicalizados com o correferente no interior do comentário (BERLINCK; DUARTE; OLIVEIRA, 2009, p. 103). Segundo Araújo (2006, p. 80), a função do tópico na sentença é a de “recuperar ou ativar um conhecimento partilhado”, devido ao fato de o tópico se realizar na camada do CP, isso “implica que ele tenha propriedades discursivas” pelo fato de essa camada ser o lugar em que se verificam os traços discursivos, o que se deve à interface sintaxe e discurso (ARAÚJO, 2009, p. 232). Ainda, conforme Araújo (2006, p. 19), “O tópico se refere à informação dada, de conhecimento pressuposto; e o foco, à informação de conhecimento apenas do falante/escritor e que ele supõe que o ouvinte/leitor desconhece”. Observando as dicotomias de tópico/foco e conhecimento novo/asserção e pressuposto/partilhado, vemos que elas estão simultaneamente atreladas. Mioto (2003, p. 169) define essa dicotomia do seguinte modo: Foco é um conceito discursivo que se aplica ao constituinte que veicula a informação nova na sentença. Às vezes, este constituinte pode ser a sentença inteira, às vezes pode estar explicitamente articulado com a pressuposição, que responde pela informação partilhada pelos falantes. Nesse aspecto as dicotomias de tópico e foco são estratégias da língua, as quais servirão para evidenciar determinados elementos do texto, isto é, a pressuposição está 22 ligada ao assunto em discussão dado – tópico – ao passo que a asserção está ligada aos constituintes tidos como mais importantes da sentença – foco. Segundo Mioto (2003, p. 170) “uma sentença pode ter a carga informacional que veicula organizada em duas partes”, isto é, uma delas é que o foco relaciona-se à informação não pressuposta entre eles e a outra está relacionada à pressuposição – à informação do conhecimento comum entre os interlocutores, constituindo assim o tópico. Sabemos que uma das características principais do tópico é referente à sua posição, a parte frontal e à esquerda da sentença, mas, ao mesmo tempo, o constituinte topicalizado pode surgir à direita, enquanto o foco, por ter uma marcação prosódica forte, tende a aparecer em qualquer posição na sentença. Conforme Araújo (2006, p. 86) afirma que “o que é pressuposto tende a vir à esquerda, no início da oração, e o que é novo vem à direita, ou seja, no final da oração, dependendo da configuração da língua.” Ao mesmo tempo em que o foco pode se configurar em qualquer parte da sentença, dependendo da língua, vemos que a noção de tópico nem sempre é tida como informação dada/velha, pois, mesmo que os elementos linguísticos não estejam no contexto discursivo, os interlocutores são capazes de recuperar a sua referência em suas representações mentais, isto é, o tópico tem a função de ativar um conhecimento partilhado, enquanto o foco tem a função de introduzir uma informação nova. Diante desse fato, percebemos que a ordem organizacional dos constituintes dentro de uma sentença vai depender do ponto de vista do falante/escritor em que uma informação para ser considerada velha precisa está compartilhada entre os interlocutores. E para ser uma informação nova basta ser de conhecimento do falante/escritor. Sintaticamente, Araújo (2009, p. 232) define que o tópico pode ser “um SN, lexical ou pronominal que se realiza numa posição geralmente deslocada à esquerda na camada externa da oração”; ou seja, no sintagma de complementizador, “em torno do qual é construído um predicado ou comentário”. Em relação à localização sintática do tópico, a oração dispõe de três camadas: a primeira camada – lexical – é “onde os elementos sofrem a primeira inserção na computação sintática, o vP”; a segunda camada – flexional – é “para onde os elementos são movidos para se verificarem os seus traços morfológicos”; a terceira camada – discursiva – , no CP, é “para onde os elementos são movidos para se verificarem os 23 traços discursivos, como o de tópico, o de foco, o de escopo de interrogação, entre outros” (ARAÚJO, 2009, p. 232). Constatamos que o elemento topicalizado, antes de verificar seus traços discursivos no CP, está inserido no processo de gramaticalização na camada lexical e flexional, o qual possui Caso, enquanto que no CP não recebe. O constituinte topicalizado, no TopP, sob a ótica de Araújo (2009), pode ou não ser retomado por um constituinte em posição mais baixa que a dele, em IP ou VP. Nesse caso, se o constituinte topicalizado não for retomado em posição abaixo de CP, o tópico não possui nenhuma relação sintática com a sentença, visto que haverá apenas uma relação semântica entre o termo topicalizado e a sentença comentário. Berlinck, Duarte e Oliveira (2009, p. 151) definem o tópico como uma construção na qual o constituinte externo à oração é seguido de uma sentença- comentário como uma forma de organização do discurso entre os interlocutores. As definições adotadas por Galves (1998); Araújo (2009); Berlinck, Duarte, Oliveira (2009), em sua maioria são semelhantes, devido ao fato de as CT aparecerem à esquerda da sentença, tendo ou não uma categoria vazia ou um correferente no interior da oração. No entanto, observamos que o constituinte topicalizado será nomeado conforme a linha de estudo do pesquisador, visto que o tópico é um elemento que faz parte da interface entre sintaxe e discurso. A partir das definições adotadas pelas pesquisadoras, assumiremos a posição de que o termo topicalizado seja definido como NP ou PP, externo à sentença- comentário, normalmente já ativado no contexto, sobre o qual se faz uma declaração por meio de um comentário. 1.4. AS CT EM PORTUGUÊS No PB, predominantemente na modalidade oral, muitos enunciados podem iniciar por um DP deslocado, o qual não corresponde ao sujeito gramatical, sendo que o constituinte separado da sentença por uma pausa ou por não estabelecer concordância com o verbo é denominado de tópico, como podemos observar nas sentenças (18) a (20), a seguir: 24 (18) O Pedro, nós vimos ele ontem na festa. (19) O Pedro, ele não ficou. (20) O Pedro, eu vi [-] ontem. Em (18), a relação do tópico com o comentário está nos traços de pessoa, gênero e número. No exemplo (19), o constituinte topicalizado é retomado na sentença seguinte pelo pronome “ele”, ou seja, a função sintática do pronome transfere-se ao constituinte “Pedro”, originando assim uma construção de tópico de Duplo Sujeito. Na sentença (20), a categoria vazia 6 retoma o tópico em negrito como um objeto direto deslocado. Desse modo, percebemos que, no PB, tem-se assumido a hipótese de que seria possível dispensar nas orações a relação sujeito e predicado (quanto à conexidade), bem como a relação predicado e papéis semânticos (quanto ao sentido). Esse evento nos faz notar que tanto o tópico quanto o sujeito sintático podem eximir-se da conectividade com a sentença. Kato (1989) analisa o estatuto categorial e funcional do tópico e do sujeito, comparando línguas como o japonês e o português, no intuito de verificar se estas se encaixavam em um mesmo tipo de língua. A autora constata que as duas línguas podem ser classificadas como línguas de proeminência de tópico e de sujeito. Como vemos, ela concorda com Pontes (1987), que também colocou essas duas línguas na categoria de ambas as proeminências. Já Galves (1998, p. 19) afirma que o PB, se comparado às demais línguas latinas, tem fortes indícios sintáticos de ser uma língua de tópico, visto que apresenta “construções nas quais um verbo transitivo vem acompanhado somente do seu argumento interno, em posição pré-verbal”, mas sem nenhuma marca de flexão que indique modificações na projeção da estrutura argumental do verbo. Apresentamos, abaixo, uma sentença desse tipo: (21) A balança está consertando (GALVES, 1998, p. 19). No exemplo acima, observamos que o termo em negrito foi alçado à posição pré-verbal, devido ao fato de o sujeito sintático não se realizar na sentença. Essa 6 No caso das CT, a categoria vazia é o espaço vazio da sentença, do qual um NP ou PP foi movido para o início da sentença. 25 diferença do PB em relação a outras línguas românicas está relacionada a uma especificidade estrutural da sintaxe do português, o que não ocorre nas outras línguas latinas. Assim, iremos encontrar construções desse tipo somente no PB, visto que em línguas de proeminências de tópico, o termo topicalizado jamais estabelece concordância com o verbo, mas no PB, que tem ambas as proeminências, essa construção de tópico aparece. Ainda segundo Galves (1998, p. 19), há “construções pseudo-transitivas em que um verbo ergativo vem precedido de um NP que não é interpretado como agente ou causa do processo expresso pelo verbo”. É o que podemos observar no exemplo que segue: (22) Esta casa bate bastante sol (PONTES, 1987, p. 34). Esse NP deslocado do comentário para a cabeça da sentença na ordem canônica seria um PP, o qual seria interpretado como um locativo. Desse modo, verificamos que o termo em negrito foi alçado à posição pré-verbal, assumindo assim a posição de sujeito sintático. Segundo Pontes (1987, p. 35), esse tipo de sentença tem “sempre sujeito (ou o que seria sujeito na ordem direta) posposto”. Mas, como o termo topicalizado assume a posição inicial da sentença, “ele se confunde com um sujeito e a ordem da frase dá a aparência perfeita de uma ordem SVO”, como acabamos de constatar nos exemplos (21) e (22) e, mais precisamente, no (23), logo abaixo: (23) A Sarinha está nascendo dentes (PONTES, 1987, p. 35). Expostas algumas especificidades das CT do PB, Pontes (1987) nos apresenta construções de tópico como a de anacoluto, a de deslocamento à esquerda, a de topicalização, a de duplo sujeito e a de tópico sujeito. Três desses tipos de estrutura de tópico-comentário possuem vínculos sintáticos fortes, como é o caso da topicalização, do duplo sujeito e do tópico sujeito, mas algumas vezes a construção de deslocamento à esquerda pode ter também essa relação sintática forte, desde que haja um constituinte interno no comentário que estabeleça correferência com o elemento topicalizado. Caso não seja possível, haverá apenas uma relação semântica. 26 Galves (1998) e Kato (1989) afirmam que o tópico sujeito é característico do PB, visto que não o encontramos em outras línguas românicas. Ainda segundo Galves (1998), entre o PB e o PE, há dois tipos de construção – o tópico sujeito e o tópico com pronome lembrete – que não possuem semelhança com as realizações ocorridas no PE. No PE essas construções foram encontradas na gramática de Mateus et al. (2003), a qual identificou as construções de tópico marcado dos tipos de tópico pendente, de deslocação à esquerda de tópico pendente, de deslocação à esquerda clítica, de topicalização e de topicalização selvagem, sendo que algumas dessas CT não estão mais presentes ou quase raramente aparecem no PB, como a deslocação à esquerda clítica, por exemplo: (24) “[...] os gerentes, trata-os como se fossem míseros contínuos” (MATEUS et al., 2003, p. 494). Se fossemos parafrasear a sentença acima nos moldes do PB, ela ficaria assim: (25) Os gerentes, ele trata [-] como se fossem míseros contínuos. Vemos que a sentença (25) quando comparada a (24) perde o clítico, mas, ao mesmo tempo, ambas têm função de objeto direto. A diferença está no correferente no interior da sentença, visto que, em uma, o termo topicalizado é retomado pelo clítico e, em outra, é retomado por uma categoria vazia. Por sua vez, Araújo (2006/2009) apresenta oito tipos de CT, quais sejam: a topicalização de objeto direto; o tópico pendente; o tópico pendente com retomada; o tópico sujeito; o tópico cópia; o duplo sujeito; a topicalização selvagem; e o tópico locativo. Berlinck, Duarte e Oliveira (2009) explanaram acerca das CT de anacoluto ou tópico pendente, do deslocamento à esquerda, da topicalização, do tópico-sujeito e do antitópico. Essas autoras apresentaram, ainda, a construção de tópico marcado como de “duplo sujeito”, sendo que nessa estrutura o elemento topicalizado é o sujeito externo a IP – o tópico –, isto é, o ser de quem se diz ou faz uma declaração, e o sujeito interno – o sujeito sintático – estabelece concordância com o verbo, visto que é um argumento selecionado pelo predicador. 27 Expostos os tipos de construções de tópico marcado em português, vamos nos deter nas nomenclaturas do PE analisadas por Mateus et al. (2003) e do PB por Berlinck, Duarte e Oliveira (2009) e por Araújo (2009), tendo em vista que a maioria das CT explanadas por essas autoras tem mais semelhanças do que diferenças. Apresentaremos, primeiramente, as cinco construções de tópico na perspectiva de Mateus et al. (2003), sob a ótica de uma gramática do PE que tem por base a teoria gerativa, exemplificaremos os diferentes tipos de CT com sentenças extraídas dessa gramática. Logo em seguida, mostraremos as classificações propostas por Berlinck, Duarte e Oliveira (2009) e por Araújo (2009) que tipificam algumas construções de tópico com a mesma semelhança que aquela proposta pelas autoras portuguesas, diferindo da classificação destas em apenas algumas nomenclaturas. Na secção 1.4.1, apresentaremos os tipos de CT do PE e como essas se comportam nessa língua. Já em 1.4.2, explanaremos acerca das CT sob a ótica da Gramática do Português Culto Falado no Brasil, enquanto que no item 1.4.3, apresentaremos as CT analisadas por Araújo (2009). 1.4.1. As CT na Gramática de Mateus et al. (2003) Mateus et al. apresentam as estruturas de sujeito-predicado e de tópico- comentário no PE. Em relação às primeiras estruturas, o primeiro termo é considerado homólogo, devido ao fato de um mesmo constituinte acumular a relação gramatical de sujeito com papel discursivo de tópico, como ilustrado em (26). (26) [Os miúdos] telefonaram (p. 490). As autoras também apresentam sentenças de tópico-comentário, em que o primeiro termo não é homólogo, porque o tópico frásico não tem a relação gramatical de sujeito – ver sentença (27) –, além de sugerir um teste para determinar se um constituinte é o tópico de uma sentença ou não. (27) [O Pedro...] [os miúdos [vieram com ele da escola]] (p. 490). 28 Segundo as autoras, para identificarmos um constituinte topicalizado é necessário aplicar o teste em uma sentença com um verbo declarativo como complemento da expressão acerca de. Observe-se o esquema abaixo, proposto pelas autoras: X está a afirmar acerca de tópico que F 7 . Esse teste é aplicado ao constituinte em posição inicial das sentenças, visto que conseguimos parafrasear (27) – ver exemplo (28) –, mas se esse teste for aplicado a sujeitos pós-verbais em sentença como em (29), os resultados serão negativos, devido ao fato de não conseguimos parafrasear sentença como (29), o que verificamos em (30). (28) Alguém está a afirmar acerca do Pedro que os miúdos vieram com ele da escola. (29) Já chegou a encomenda. (30) #Alguém está a afirmar acerca da encomenda que ela chegou. Mateus et al. constatam que no PE o tópico marcado está sujeito a mais requisito de definitude (cf. (31) comparado com (32)) e de estatuto informacional (cf. (33) comparado com (34)) do que o não marcado. (31) a) Todos os livros, não li [-], li alguns. (32) b) Todos os miúdos foram à festa. (33) c) O que é que aconteceu? #Quanto à Maria, ela perdeu o avião. (34) d) O que é que aconteceu? [A Maria perdeu o avião] Foco Informacional (MATEUS et al., 2003, p. 491). O tópico não marcado em (32), em contraste com o tópico marcado (31), é menos definido e (34), comparado ao (33), possui menos conteúdo informacional, pois este, em sua maioria, aparece na sentença com uma informação nova. 7 Em que X é alguém no contexto que está a afirmar acerca de F que é a sentença-comentário ( p. 490) 29 Mateus et al. (p. 491) mostram ainda que o “SNs quantificados existenciais específicos e negativos podem ocorrer como tópico não marcados (sic) mas não são legítimos como tópicos marcados”, como exemplificado nos excertos (35) e (36) em contraste com (37) e (38) respectivamente. (35) Alguns autores defendem essa hipótese. (36) Nenhum autor defende essa hipótese. (37) *Alguns autores, ouvi as pessoas criticarem [-] na conferência. (38) *Nenhum autor, (não) consigo que os meus alunos leiam [-] (p. 491). Esse contraste fica bastante evidente quando observamos os exemplos (35) e (36), comparados aos (37) e (38), em que os tópicos não marcados “podem fazer parte do constituinte que recebe o estatuto de foco informacional”, ao passo que o tópico marcado não pode (p. 491). Ainda, segundo as autoras, os nomes simples raramente podem ser denominados como tópico não marcado, visto que eles acumulam a relação gramatical de sujeito com o papel discursivo de tópico ao mesmo tempo, ao passo que, em relação ao tópico marcado, os nomes simples podem ocorrer, legitimando assim a sua não relação gramatical de sujeito, devido ao fato de estar localizado no CP, onde possuirá os traços discursivos (cf. (39) e (40)). (39) *Café é produzido na Colômbia. (40) Café, a Colômbia produz [-] em grandes quantidades (p. 492). As classificações das CT elencadas abaixo por essas autoras foram denominadas por um critério de gramaticalização que se estabelece entre o elemento topicalizado e a frase-comentário, resultando as seguintes construções: i. Tópico pendente; ii. Deslocação à esquerda de tópico pendente; iii. Deslocação à esquerda clítica; iv. Topicalização; v. Topicalização selvagem; 30 As construções de tópico pendente têm um grau mínimo de sintatização, não havendo nenhuma conectividade entre as sentenças, sendo estas restritas a contexto de frase-raiz. O constituinte na parte externa do comentário é um NP ou uma locução preposicional. Não são sensíveis a ilhas 8 por não terem categorias vazias no corpo da sentença. Já em relação à condição de relevância, esta determina que o comentário seja referente ao tópico. No plano textual, o tópico pendente funciona frequentemente como uma estratégia de introdução de um tópico de transição. Ilustraremos essas informações a respeito do tópico pendente em (41) e (42): (41) “[...] filmes estrangeiros, estamos a ver o filme até ao fim e não sabemos do que se trata” (p. 492). (42) Quanto ao debate de ontem à noite, é forçoso reconhecer que há políticos que falam sobre um país que não conhecem (ibidem). Nos exemplos expostos acima, vemos que os tópicos em negrito não têm nenhuma conectividade sintática com o comentário. No caso de (41), o constituinte topicalizado “filmes estrangeiros” é apenas retomado pelo sintagma “filmes”, inserido no corpo da sentença. Em (42), essa construção pode ser iniciada por marcas formais, quanto a..., no que se refere a..., como foi introduzida na oração. O tópico “o debate de ontem à noite” não tem nenhum constituinte interno no comentário que o retome, ficando apenas a informação do evento descrito pelo comentário. Na deslocação à esquerda de tópico pendente, o grau de sintatização é fraco, porque a ligação do constituinte topicalizado e o comentário se dão através de traços de pessoa, gênero e número. A deslocação à esquerda de tópico pendente é restrita ao contexto de frase-raiz e não é sensível a ilhas, assim como o tópico pendente. Quanto à condição de relevância, esta CT assume a forma de correferência, conforme os traços de pessoa, gênero e número. No plano textual é muito utilizado nas sentenças de perguntas e respostas. 8 O fenômeno de ilhas é caracterizado por inserir novos constituintes no interior da sentença, podendo haver uma forte ou fraca ligação sintática com a oração. 31 (43) O João... ouvi dizer que ele tinha ido passar férias a Honolulu. (44) (a) – Tens sabido alguma coisa do João ultimamente? (b) – O João... ouvi dizer que ele tinha ido passar férias a Honolulu (p. 493). Em (43), o pronome “ele”, interno ao comentário, apenas assume a correferência do constituinte externo à sentença. No exemplo (44), as sentenças interrogativas são uma estratégia para confirmar a sentença (43). Nesse caso, a deslocação à esquerda de tópico pendente tem uma concordância de traços gramaticais e uma conexão referencial. A construção de deslocação à esquerda clítica tem um elevado grau de sintatização entre o tópico e o comentário, devido ao fato de o primeiro ter uma conformidade referencial, categorial, causal e temática com o constituinte interno ao comentário, sendo conectado obrigatoriamente pelo pronome clítico ao constituinte externo. Essas construções podem aparecer em contexto de frase-raiz, à esquerda de sintagma complementador (cf. (45)) e em frases encaixadas à direita do complementador (cf. (46)): (45) Esse artigo, onde é que o foste desencantar? (p. 495). (46) Disseram-me que ao João, não lhe pagaram o ordenado este mês (ibidem). As construções de deslocação à esquerda clítica são sensíveis às ilhas (cf.(47)) e são iterativas (cf. (48)), em virtude de ocorrer mais de um tópico na sentença, como mostram os exemplos, respectivamente: (47) Ao João, não encontro [artigos [que lhe possam ser úteis]] (MATEUS et al., 2003, p. 495). (48) À Maria, essa história, ainda ninguém lha contou (MATEUS et al., 2003, p. 495). Por não haver uma categoria vazia na sentença, a deslocação à esquerda clítica não legitima lacuna parasita 9 . No plano textual, essa construção funciona como uma 9 Consiste na legitimação de uma categoria vazia, geralmente contida num adjunto oracional não finito, por uma cadeia cujo pé é uma variável ocupando uma posição que não comanda tal categoria vazia, ou 32 estratégia de preservação do tópico ou como uma listagem exaustiva, como no exemplo abaixo: (49) O tipo é insuportável! É incrível como ele trata as pessoas! Aos amigos, falha-lhes com aquele tom de paternalismo que ninguém aguenta. Os subordinados, considera-os abaixo de cão. Os gerentes, trata-os como se fossem míseros contínuos (p. 496) . A topicalização, assim como a deslocação à esquerda clítica, tem a mesma característica em relação à sintatização, mas ambas diferem quanto a sua conexão entre o constituinte topicalizado e o comentário que no caso da topicalização é obrigatoriamente uma categoria vazia no interior da oração, a qual origina uma lacuna parasita que seria ocupada pelo elemento topicalizado na ordem canônica. (50) A esse político, podes crer que não dou o meu voto [-](p. 497). No plano textual pode introduzir um novo tópico no discurso (cf. (51)) ou ser um elemento do comentário da frase anterior (cf. (52)). (51) Pão, ainda há [-]? (p. 499). (52) Gostas de perfume? Ah sim, perfumes, adoro [-] (ibidem). A topicalização selvagem apresenta apenas conectividade referencial e temática, o que ocasiona algum grau de sintatização por haver um deslocamento de um sintagma preposicional do interior do comentário para a cabeça da oração sem a presença da preposição. A topicalização selvagem ocorre apenas em contexto de frase- raiz e essas construções são aceitas pelos falantes da norma culta no modo oral informal. (53) Esse relatório, acho que não precisamos [-] para a reunião de hoje (MATEUS et al., 2003, p. 501). seja, a variável ocupa uma posição de complemento da frase superior e não a posição de sujeito. (p.495- 496) 33 Neste caso, é possível observar que o constituinte interno ao comentário movido para a esquerda da oração é alçado para o CP sem a regência da preposição. Vemos que o constituinte topicalizado sai de uma posição argumental – objeto indireto – para a parte frontal da sentença. 1.4.2. As CT na Gramática do Português Culto Falado no Brasil (2009) Berlinck, Duarte e Oliveira (2009, p. 152) confirmam em suas pesquisas que o PB é proeminente dos dois tipos de relação predicativa, isto é, tanto está para línguas de tópico quanto de sujeito. Elas afirmam que as CT “não constituem, entretanto, um conjunto homogêneo, diferenciando-se conforme a conectividade entre o tópico e a sentença-comentário”. As autoras apresentam o termo topicalizado como uma forma de organização do discurso, o qual logo em seguida será acompanhado de um comentário. Não vamos nos deter nas CT de anacoluto ou tópico pendente, de deslocação à esquerda, de topicalização e nem de tópico sujeito, porque tanto Mateus et al. (2003) quanto Araújo (2009) já apresentam essas classificações. No momento mostraremos apenas a construção de antitópico exposta por Berlinck, Duarte e Oliveira (2009). Vimos que uma das características mais importantes das construções de tópico marcado nas Tp refere-se à posição do tópico na sentença, ou seja, o tópico aparece no início da sentença porque anuncia o que vai ser comentado. Mas, ao mesmo tempo, o termo topicalizado pode aparecer à direita da sentença – o antitópico, como exemplificado em (54). (54) [-]i Leva azeite de dendê, o acarajéi (p. 162). O DP em negrito acima está numa posição não argumental, assim como o tópico descrito nos exemplos anteriores. A única diferença é a de que o antitópico está à direita da sentença, enquanto o constituinte topicalizado se encontra à esquerda. Segundo Berlinck, Duarte e Oliveira (2009, p.162), o NP antitópico mantém “uma 34 relação de predicação secundária sobre o sujeito pronominal”, sendo que este poderá ser nulo, como ocorre em (54) ou pode ocorrer lexicalizado, como observamos em (55). (55) Elei leva azeite de dendê, o acarajéi (p. 162). O antitópico, assim como o tópico, é sempre definido. Construções desse tipo com o sujeito pronominal realizado são menos frequentes na fala culta e também na escrita. 1.4.3. As CT na Perspectiva de Araújo (2009) No decorrer de suas análises em relação às construções de tópico marcado em português, Araújo (2009) constata em seus resultados que o termo topicalizado se caracteriza como um NP definido, identificável, ativo e referencial, além de ser um elemento que faz parte do conhecimento partilhado dos indivíduos. Essas características vão nos auxiliar no que concerne à diferença entre o constituinte topicalizado e o sujeito sintático, visto que um tópico sempre será mais definido e mais identificável, sendo que, nesse caso, não é necessário que o tópico esteja no contexto, porque o falante/escriba supõe que o referente já se encontra na mente do ouvinte/leitor, o qual poderá ser ativado em um dado discurso. Dessa forma, “somente um referente identificável pode ser recuperado das estruturas mentais a ser denominado de ativo, acessível ou inativo”, mesmo que esse tópico não tenha sido mencionado no contexto. Como afirmamos acima, isso acontece porque esse termo já faz parte das pressuposições entre o falante/escrevente e o ouvinte/leitor (ARAÚJO, 2006, p. 70). A autora também definiu um critério para saber se um constituinte é um tópico ou não, identificando o elemento que retoma o que foi dito, ou sinalizando o elemento que esteja sendo usado como orientador discursivo. Desse modo, “a noção de tópico só pode ser propriamente definida em termos das relações entre uma sentença e o contexto”, mesmo sabendo que podemos estudar de forma independente as estruturas gramaticais, pois, embora algumas regras operam 35 localmente, existem algumas estratégias que são encontradas na estrutura gramatical que só podem ser explicadas na discursividade (ARAÚJO, 2006, p. 62). Apresentaremos as construções de tópico do PB, as quais foram denominadas por Araújo (2009). Apesar de termos mencionado que essa autora identificou oito construções de tópico, explanaremos apenas seis dessas construções, visto que o tópico pendente e a topicalização selvagem já foram expostos por Mateus et al. (2003). Explicaremos apenas seis nomenclaturas com exemplos extraídos da pesquisa de Araújo (2009), em que todas as sentenças são pertencentes à modalidade oral informal. Além das construções apresentadas acima, temos essas mais específicas, cujas características discorreremos resumidamente, para uma maior compreensão das suas diferenças e semelhanças: vi. Topicalização de objeto direto; vii. Tópico pendente com retomada; viii. Tópico cópia; ix. Tópico sujeito; x. Tópico com cópia pronominal ou duplo sujeito; xi. Tópico locativo. Iniciaremos pela topicalização de objeto direto, a qual ocorre em sentença em que o constituinte interno na oração tem função sintática de objeto direto e quando deslocado para a esquerda, não tem relação com nenhum constituinte clítico interno na oração, não havendo correferência entre tal constituinte com o elemento topicalizado. Na topicalização de objeto direto é o sintagma nominal que tem função de objeto que sai do corpo da sentença para o CP, lugar onde o elemento deslocado recebe traço discursivo, acompanhado de um determinante definido. Esse tipo de construção de tópico não sofre restrições de ilhas, assim como o tópico pendente e a deslocação à esquerda de tópico pendente, e pode ocorrer tanto em contextos de frase-raiz como em contexto de frase encaixada como na deslocação à esquerda clítica e na topicalização. Percebemos também que a topicalização de objeto direto tem semelhança com a deslocação à esquerda clítica, pois ambas são construções de tópico de objeto direto, mas como o PB perdeu o processo de clitivização na língua, o termo clítico raramente aparece no contexto. Diante disso, vemos que na topicalização de objeto direto, assim como na topicalização, o correferente é uma categoria vazia e na deslocação à esquerda 36 clítica é um clítico. Os seguintes exemplos mostrarão as características citadas anteriormente: (56) A cachaça eu bebo todo dia, se eu todo dia eu fô lá na praça (ARAÚJO, 2009, p. 235). (57) ...esses criatório (porco, galinha) tamém eu tem muitos ano qu´eu num crio, né? (ARAÚJO, 2009, p. 235). (58) Parece que o poquim que ocê aprende na escola que dorme, quande é no ôto dia parece que já num sabe mais, puquê tanto pá fazê (ARAÚJO, 2009, p. 235). Araújo (2009, p. 235) em sua pesquisa mostra que a construção de topicalização de objeto direto não só aparece apenas no português rural-afro-brasileiro, “mas está presente em todas as modalidades do português brasileiro”, o que nos faz pensar que essas construções de topicalização de objeto direto são mais recorrentes pelos usuários da língua portuguesa. Esse fato é confirmado por Castilho (2010, p. 283) quando discorre em seu texto que essa função sintática foi apresentada por Seabra (1994), a qual compara e analisa os dados extraídos da obra Leal conselheiro, do século XIII, com os documentos da imprensa contemporânea brasileira. Araújo (2009, p. 235) em conformidade com a referida explanação de Cyrino (1993) nos mostra que a topicalização de objeto direto “tem registro no português brasileiro escrito desde o século XIX”. Esse fato nos faz confirmar que tais construções de topicalização de objeto direto não só ocorriam na fala como também na escrita do século XIII da língua portuguesa e só vieram se concretizar na modalidade escrita do PB no século XIX, de acordo com os estudos apresentados acima. Em relação ao tópico pendente com retomada parece que essa construção mescla as suas propriedades com as das outras, tais como a de tópico pendente, de deslocação à esquerda clítica e de topicalização, pois o tópico pendente com retomada mantém uma relação semântica com a oração (cf. tópico pendente), sendo retomado por um elemento interno à oração por pronome forte ou por um pronome clítico (cf. deslocação à esquerda clítica). Essa construção de tópico pendente com retomada expressa na sentença uma generalidade, uma categoria vazia (cf. topicalização), um pronome demonstrativo, um numeral, dentre outros, apesar de essa construção de tópico transitar entre as outras 37 categorias, percebe-se que o tipo de retomada mais frequente é o da relação semântica continente/contido. Conforme a pesquisa de Araújo (2009, p. 236), em outras palavras, o elemento topicalizado é mais amplo e o termo correferente que está inserido no corpo da oração é mais específico. (59) Mas, meus porco, você pricisa de vê, quand´eu crio um... um leitão (ARAÚJO, 2009, p. 236). Vemos que o tópico “meus porco” é retomado pelo constituinte interno “leitão” acompanhado do numeral “um”. Mas, como relatamos que esse tipo de construção ocorre também em outras categorias, detectamos que essa retomada aparece como pronome correferencial, igualmente, a deslocação à esquerda de tópico pendente, onde o pronome no interior da frase tem traços de pessoa, número e gênero, sendo que no tópico pendente com retomada esse traço é apenas referencial, como evidenciado a seguir: (60) Eu, meu nascimento é daqui mesmo, minha residênça é aqui (ARAÚJO, 2009, p. 236). Constatamos que em (60), o tópico apenas tem relação de referenciação com “meu” e “minha”. Vemos também que a retomada do tópico nesse tipo de construção aparece em sentenças com categoria vazia e pronome pessoal na posição de objeto (cf. (61) e (62)). (61) Aquela folha... os menino saía, ia caçá, né, aí Ø bateu aqui nos óio do cachorro (ARAÚJO, 2009, p. 237). (62) A cana... cê pranto ela... ela brotô (ibidem). Em (61) o elemento topicalizado na oração antes estava no interior da mesma na posição de sujeito e em (62) o constituinte que retoma o termo “A cana” é um pronome pessoal na posição de objeto e de sujeito. No tópico pendente com retomada, o constituinte topicalizado pode ser retomado em qualquer posição no interior da sentença, sendo que a relação existente entre o tópico e o elemento no interior da frase é apenas semântica e, por conseguinte, a 38 relação sintática é fraca como ocorre no tópico pendente e na deslocação à esquerda de tópico pendente. Essa ocorrência que Araújo (2009, p.237) reforça em relação ao baixo grau de sintatização entre os constituintes externos e internos na oração ocorre devido ao fato de não haver uma “correspondência morfológica obrigatória entre o elemento topicalizado e o termo que o retoma internamente à oração”, como mostramos em (59), em que o termo topicalizado está no plural, mas a sua retomada está no singular ou vice- versa. O tópico cópia, apesar de ter um elemento no interior da frase que retoma o constituinte topicalizado, difere do tópico pendente com retomada devido ao fato de o sintagma interno na sentença não ser um pronome e sim uma cópia do próprio tópico, como vemos em (63): (63) aí o tratô... a carreta empurrô o tratô, e aí desceu de ladêra abaxo lixado... (ARAÚJO, 2009, p. 238). Os dois termos na oração, tanto o topicalizado quanto o interno, são semelhantes, não havendo nenhuma relação sintática entre os constituintes, pois há apenas uma relação lexical. A CT mais específica do PB é o tópico sujeito, o termo topicalizado é caracterizado por ser um sintagma preposicional, locativo ou adjunto movido para parte externa da oração, sendo que a preposição não se realiza e ao mesmo tempo o tópico assume traço de sujeito, porque estabelece concordância com o verbo. No entanto, o tópico sujeito tem características semelhantes da topicalização e do duplo sujeito, em que o primeiro não estabelece concordância com o predicador e o segundo não coloca na posição de tópico um sintagma preposicional. No tópico sujeito na parte interna da sentença não encontramos um pronome que retome ao elemento topicalizado, mas este estabelece concordância com o verbo, assumindo função de sujeito. Em sentença de tópico sujeito, de acordo com Pontes (1987, p. 37), “há [...] uma mistura de tópico com sujeito, predicado com comentário”, ou seja, o NP posposto – os dentes – não consegue ser alçado para a posição de TopP, na camada CP, porque o sintagma nominal parece ficar interno na oração, porém o elemento que está anteposto ao verbo devia fazer o papel discursivo de objeto e não de sujeito, como vemos na sentença abaixo: 39 (64) A Sarinha está nascendo dentes (PONTES, 1987, p. 35). Vemos que o argumento selecionado pelo verbo está posposto, e não concorda com o predicador, mas se esta sentença fosse colocada na ordem canônica teríamos a sentença (65) em que o sujeito posposto concorda com o verbo: (65) Os dentes da Sarinha estão nascendo. Essa frase se tornaria agramatical se colocássemos o objeto, estabelecendo concordância com o predicador, o que tomaria a sentença (64) ambígua em relação à concordância com verbo, como a apresentada em (66): (66) *A Sarinha estão nascendo os dentes (ARAÚJO, 2009, p.238). Mas Araújo verifica que a sentença (66) fica agramatical por não haver a concordância com o sujeito posposto, ou seja, o NP fica sem nenhuma ligação com a frase “porque é um tópico, e não o sujeito, que estabelece concordância com o verbo” nesse caso de tópico sujeito (ARAÚJO, 2009, p. 239). Ainda segundo as ideias de Araújo (2009, p. 239) essas construções de tópico sujeito ocorrem no português brasileiro urbano, sobretudo na fala culta, “o que torna o português sui generis em relação a essas construções de tópico”. As estruturas de tópico com cópia pronominal ou duplo sujeito ocorrem quando o sintagma nominal deslocado para a parte externa da oração tem como referência um elemento pronominal no interior da sentença com função de sujeito na frase principal, o que constatamos que a conexão entre a parte interior da frase e exterior se dá apenas por traços de pessoa, número e gênero, como ocorre na deslocação à esquerda de tópico pendente. (67) A sussuarana, ela pensa carnêro ta no mato, que... que ´cê num tocô, elas vai no rebanho e mata (ARAÚJO, 2009, p. 241). Essa construção de duplo sujeito difere do tópico cópia porque neste último a cópia no corpo da sentença é idêntica ao termo topicalizado. Isso não ocorre na construção de duplo sujeito, devido ao fato de haver a necessidade de deixar claro o 40 referente topicalizado por um pronome no argumento. De acordo com Galves (1998), esse fato ocorre em virtude da “função de o verbo ter perdido o traço de [pessoa] no português brasileiro”, por isso, há uma necessidade dessa marcação, mesmo sendo redundante (ARAÚJO, 2009, p. 241). O tópico locativo funciona como adjunto de verbo existencial ou de verbo intransitivo. O PP se desloca do interior da frase para o TopP, acompanhado da preposição, enquanto que nas construções de topicalização e tópico sujeito, o sintagma preposicional deslocado para o início da oração perde a preposição, sendo que o tópico sujeito ainda mantém concordância com o verbo. (68) pra Conquista ela sempre vai, mais eu... mas só (ARAÚJO, 2009, p. 242). A ocorrência dessa construção, segundo Araújo (2009, p. 242), para ser de baixa realização, deve ter a presença da preposição no início da frase. Esse fato não ocorre nas construções de topicalização e nem nas de tópico sujeito na modalidade oral, as quais apagam a preposição. As construções de tópico marcado apresentadas acima tem características semelhantes e distintas, mas a principal marca do tópico é a sua posição inicial para introduzir uma informação nova, na perspectiva semântica, ou para comentar uma informação já conhecida, na perspectiva discursiva. Conforme vimos, para que o tópico tenha algum vínculo sintático, é preciso que haja uma categoria vazia ou um correferente no interior da sentença. Constatamos, ainda, que antes de o tópico possuir traços discursivos no CP, ele é um sintagma nominal gramaticalizado no interior da sentença, isto é, esse NP pode ser qualquer termo no PB. 41 1.5. FECHANDO O CAPÍTULO No decorrer do capítulo, apresentamos as propriedades, definições, tipologias, como também as classificações das construções de tópico marcado por Mateus et al. (2003), pela Gramática do Português Culto Falado no Brasil (2009) e por Araújo (2009). A partir dessa revisão teórica nos deteremos em alguns pontos que servirão para os nossos procedimentos e análise dos dados. Em relação às propriedades do constituinte topicalizado, assumiremos os seguintes posicionamentos:  O tópico sempre será definido e demonstrativo;  Na maioria das vezes, o termo topicalizado não estabelece concordância com o verbo, salvo no PB;  O elemento topicalizado se encontra no início da sentença;  O tópico assume o controle de correferência no interior da sentença;  O tópico pode ser qualquer constituinte na sentença – argumentos e adjuntos. Tendo em vista tais posicionamentos, adotaremos em nossa definição que a construção de tópico marcado tem um NP ou PP externo à sentença, sobre o qual se faz uma declaração por meio de um comentário elaborado através de uma sentença com sujeito e predicado. Quanto às tipologias, percebemos que Mateus et al. (2003) estabelecem a gramaticalidade entre o tópico e a sentença-comentário; a Gramática do Português Culto Falado no Brasil (2009) utiliza a organização do discurso; Já Araújo (2009) assume em sua pesquisa o critério sintático e discursivo. Diante das classificações apresentadas, percebemos que as tipologias das CT elecandas se enquadram em um mesmo tipo de construção, por exemplo, temos a topicalização que pode, ao mesmo tempo, se enquadrar como o tipo de topicalização de objeto direto ou tópico locativo por deixar uma ec ou por sair de uma posição de argumento ou não. Já a topicalização de objeto direto tem semelhança com a desclocação à esquerda clítica, já que ambas são extraídas da sentença com a função de objeto direto, mas se diferem em virtude de a primeira deixar um ec no interior da oração e a segunda, um clítico. 42 Ao analisarmos o tópico cópia, o tópico pendente com retomada, a deslocação à esquerda de tópico pendente e duplo sujeito, constatamos que esssas classificações se assemelham, porque nessas construções o tópico tem um correferente no interior da sentença, seja ele um pronome ou NP. Das classificações adotadas acima, vamos optar pelas propriedades das tipologias de topicalização de objeto direto, tópico locativo, tópico sujeito, tópico cópia, duplo sujeito e tópico pendente. 43 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS, QUESTÕES, HIPÓTESES E OBJETIVOS DA PESQUISA 2.1. ABRINDO O CAPÍTULO O nosso córpus de pesquisa se constitui de cartas particulares de diversas regiões do Brasil que estão vinculadas ao Projeto Para a História do Português Brasileiro (doravante PHPB). Para a realização deste estudo, coletamos as missivas dos acervos do PHPB-RN, do PHPB-RJ e das Cartas Brasileiras para formar o nosso córpus mínimo e submetemos os dados a uma análise qualitativa. Para compor a amostra, selecionamos cartas pessoais dos séculos XVIII, XIX e XX, mas determinamos dois critérios para que pudéssemos ter um banco de dados confiável no que concerne à data de nascimento e à nacionalidade dos missivistas. Através desses critérios pretendemos identificar os contextos de realização de tópico marcado, procurando igualmente constatar a presença de construções de tópico marcado típicas do PB, especialmente de tópico sujeito, em cartas de brasileiros natos nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX. Dessa forma, este estudo privilegiará dois aspectos, complementares entre si; por um lado, mostraremos que a idade dos informantes contribuirá com esta pesquisa, no intuito de identificar as CT ao longo dos séculos trabalhados, visto que o objeto de estudo no gerativismo não é a língua, mas a gramática das línguas particulares, apreendida como um conjunto de regras internalizadas que se desenvolve na mente/cérebro dos indivíduos da espécie humana numa determinada comunidade linguística; por outro lado, mostraremos que o critério da nacionalidade do informante nos ajudará a identificar o período em que as construções de tópico marcado, mais precisamente aquelas características do PB e em especial o tópico sujeito, tópico cópia e tópico locativo, aparecem na escrita de brasileiros natos. Os critérios expostos acima nos darão suporte para saber se as construções de tópico marcado, sobretudo, aquelas características do PB, já estavam presentes na língua-I dos missivistas nos séculos analisados. Separamos os 46 informantes brasileiros por século, tendo como base a data de nascimento, para, só assim, identificarmos se há construções de tópico nas correspondências desses missivistas ao longo dos séculos 44 XVIII, XIX e XX ou se podemos encontrar outras estruturas de construções de tópico que não foram abordadas pela literatura, como também queremos saber em qual período as CT específicas do PB surgem na escrita dos brasileiros. Com base nas tipologias das CT apresentadas anteriormente, vamos nos deter nas propriedades da topicalização de objeto direto, tópico locativo, tópico sujeito, tópico cópia, duplo sujeito e tópico pendente, com o propósito de formar três grupos para categorizar os dados que encontraremos em nosso córpus. Expostas as semelhanças e as diferenças das construções de tópico marcado apresentadas, agruparemos as CT em três tipos: (i) Topicalização e deslocação à esquerda; (ii) Tópico Pendente; (iii) Tópico Sujeito. Em (i), estão presentes as construções de tópico marcado que deixam um correferente ou categoria vazia no interior da sentença; Já em (ii), se inserem os tópicos que têm apenas relação semântica com a sentença-comentário e iniciam a sentença com marcas formais, como quanto a; por fim, em (iii), se enquadra o elemento topicalizado que estabelece concordância com o verbo. 2.2. O PHPB Na década de 1980, surgiu no Brasil uma corrente de estudos diacrônicos, a qual ganhou mais notoreidade em meados da década de 1990, com o Projeto Nacional Para a História do Português Brasileiro, o qual teve seu primeiro seminário realizado em 1997, na USP, e tem como coordenador o Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho. Esse projeto começou a constituir o córpus com base em gêneros de textos dos séculos XVII, XVIII e XIX. Os estados pioneiros nesse estudo foram os da Região Sul e Sudeste e o estado da Bahia, no Nordeste. Essas explanações justificam o desenvolvimento desta pesquisa, já que os estudos linguísticos dessa natureza são pouco explorados nas universidades do Rio 45 Grande do Norte, sobretudo no que se refere a um estudo com cartas pessoais de missivistas brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX. Diante disso, podemos afirmar que nossa pesquisa contribuirá com a história linguística desses períodos, visto que não há estudos referentes ao fenômeno linguístico em questão em cartas particulares de brasileiros natos dos séculos mencionados. Além disso, a pesquisa está se integrando ao projeto de estudos diacrônicos do Brasil, consolidando com as pesquisas do PHPB, projeto do qual fazem parte, como representantes da Região Nordeste, os seguintes estados: Paraíba, Pernambuco, Bahia, Ceará e recentemente o Rio Grande do Norte. Assim, este estudo se integra nesse programa de buscas no intuito de descrever e estudar cientificamente a língua portuguesa nos períodos mencionados, sob uma perspectiva gerativa e diacrônica, contribuindo, dessa forma, com os estudos já existentes no Brasil. Atualmente, o PHPB é composto por doze equipes em todo o Brasil e tem por objetivo empreender estudos sobre a história do português, numa perspectiva diacrônica, em diferentes linhas de pesquisa, sejam elas na modalidade escrita ou oral. O nosso estudo está integrado ao projeto de História do Português Brasileiro do Rio Grande do Norte – PHPB/RN – no âmbito estadual, o qual se vincula ao empreendimento nacional – PHPB. A coordenação do PHPB-RN está sob a égide do Prof. Dr. Marco Antonio Martins. Esperamos que a nossa pesquisa com cartas pessoais de brasileiros dos séculos XVIII, XIX e XX possa contribuir com a história linguística do PB não só do RN, como também de todo Brasil, pois o nosso estudo busca investigar, de forma diacrônica, as CT ao longo dos séculos em questão. Acreditamos que um trabalho dessa natureza contribuirá com as questões referentes à mudança gramatical e diacrônica do PB. 2.3. O CÓRPUS DESTA PESQUISA Utilizamos textos escritos de brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX como amostras de Língua-E para teorizar sobre o conhecimento linguístico que os missivistas tinham ao saber uma língua. Nesse sentido, observamos que a teoria da gramática busca respostas em relação ao processo de mudança gramatical através da 46 história da língua. Para a perspectiva gerativa, a mudança gramatical é entendida como fenômeno de aquisição de linguagem no qual uma determinada geração de interlocutores chega a adquirir uma gramática distinta da gramática da geração anterior. Esse fato nos dará suporte para justificarmos em (i) o ano de nascimento dos missivistas e em (ii) a nacionalidade. Diante do que foi exposto, notamos que o trabalho com córpus na teoria da gramática gerativa é uma tarefa árdua, devido ao fato de os dados com que podemos trabalhar limitarem-se ao que foi deixado pelo tempo. Desse modo, não temos como recuperar os aspectos discursivos, mas Paixão de Sousa (2004, p. 15), em sua tese, nos mostra que “o objeto de estudo da linguística gerativa na diacronia é a mudança gramatical, a que por hipótese se tem acesso pelos dados empíricos - as progressões de padrões linguísticos atestados nos textos”. Em relação ao item (i) Paixão de Sousa (2004), Carneiro (2005), e Martins (2009) estipularam esse critério em seus trabalhos no intuito de mostrar que o período de nascimento do autor vai possibilitar a identificação de uma gramática interna, mas que ao mesmo tempo o interlocutor compartilhará propriedades de uma determinada gramática em comum com os demais interlocutores, já que a escrita de um momento pode refletir a fala de um período anterior. Quanto ao critério de naturalidade dos missivistas, determinamos que os autores fossem brasileiros no intuito de conseguir recuperar os dados reais de língua-E para extrair uma gramática abstrata – a língua-I – de brasileiros legítimos nascidos nos séculos mencionados acima. Em relação às cartas particulares selecionadas para este estudo, além de estipularmos dois critérios para a seleção das correspondências, constatamos nas missivas selecionadas o nível de escolaridade, o sexo e a classe social dos missivistas. Desse modo, podemos atestar que as CT não só ocorrem na escrita de pessoas da classe baixa e de pouca escolaridade como também aparecem na escrita de missivistas da classe alta e escolarizados. Em relação às cartas do PHPB-RJ, das seis correspondências que estão na homepage, extraímos apenas duas para atender aos critérios estipulados em nossa pesquisa. Já as cartas do PHPB-RN são compostas por dois grupos de correspondências: o dos irmãos Paiva, que contém 62 cartas, das quais retiramos apenas 16; o do casal de Patu/RN, que são 51 missivas, das quais selecionamos apenas 10. Das 722 correspondências das Cartas Brasileiras, extraímos apenas 72 para que as missivas não 47 ficassem desproporcionais em relação aos demais períodos analisados e atendessem aos dois critérios determinados em nossa pesquisa. Das 100 cartas analisadas, extraímos excertos das construções de tópico marcado para mostrarmos a realização desse fenômeno linguístico nos córpus em questão, mas para chegarmos a essa quantidade de correspondências, tomamos como base os dois critérios estipulados acima: no primeiro – as cartas pessoais devem ser de missivistas cuja data de nascimento fosse correspondente aos séculos XVIII, XIX e XX, e no segundo, as cartas devem ser de brasileiros natos, visto que os indivíduos de uma comunidade de fala em comum não podem ser considerados como usuários que utilizam as mesmas formas de escrita, mas que eles comungam as mesmas normas a respeito da língua, uma vez que os missivistas mais velhos assim como os mais jovens pertencem a grupos de usuários da língua ligeiramente distintos (cf. LIGHTFOOT, 2002). Os quadros abaixo mostram a identificação, a data de nascimento/falecimento e a naturalidade dos informantes por século. Alguns informantes não apresentam o dia exato do nascimento, mas estimamos uma data e/ou período para esses informantes com base na datação de suas correspondências. No Quadro 1, encontramos os informantes do acervo do PHPB-RJ e das Cartas Brasileiras, ao todo são onze homens, os quais são naturais dos seguintes estados: Rio de Janeiro, Bahia, Pará, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Nº Informantes Nascimento Falecimento Natural 1 Félix de Gusmão Mendonça e Bueno Séc. XVII e/ou XVIII RJ 2 José Frias de Vasconcelos Séc. XVIII RJ 3 Jozé da Silva Lisboa 16/07/1756 20/08/1835 BA 4 Visconde da Torre 1779 05/12/1852 BA 5 Romualdo Arcebispo da Bahia 07/02/1787 29/12/1860 PA 6 Visconde de Sapucahy 15/09/1793 23/01/1875 MG 7 Visconde de Olinda 22/12/1793 07/06/1870 PE 8 Miguel Calmon du Pin e Almeida 26/10/1794 26/10/1794 - 22/12/1794 BA 9 José Joaquim Fernandes Torres 14/04/1797 24/12/1869 MG 10 Basto Luiz Paulo de Araújo 30/07/1797 27/07/1863 RJ 11 Patrício Correia Camara 03/06/1798 02/01/1865 RS Quadro 1 - Missivistas Brasileiros - Séc. XVIII 48 No quadro acima, vemos que a primeira metade do século XVIII é representada por dois missivistas, enquanto que a segunda metade é composta por nove informantes. No Quadro 2, temos missivistas de Sergipe, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco e Mato Grosso, sendo que apenas um está inserido na primeira metade e os demais na segunda metade do século XIX. Nº Informantes Nascimento Falecimento Natural 12 Epifânio da Fonseca Dórea e Menezes 07/04/1844 08/06/1976 SE 13 Theodósio Paiva 28/10/1858 07/10/1926 RN 14 Maria [Mª Luiza W. de Araújo Pinho] 28/11/1858 19/08/1942 BA 15 Antonia Thereza Wanderley 20/04/1862 12/09/1944 BA 16 João de Paiva 06/02/1867 03/03/1926 RN 17 Carlos Arthur da Silva Leitão 04/11/1868 PE 18 João da Costa Pinto Dantas 24/7/1874 05/02/1940 RJ 19 Gileno Amado 04/01/1891 25/07/1969 SE 20 Lulu [Mª Luiza W. de Araújo Pinho] 20/04/1891 11/03/1928 BA 21 Joaquim de Santanna Lima 02/06/1893 1975 BA 22 João da Costa Pinto Dantas Jr. 28/08/1898 05/08/1969 BA 23 Filinto Muller 11/07/1900 11/07/1973 MT Quadro 2 - Missivistas Brasileiros - Séc. XIX A maioria dos informantes é do sexo masculino, mas três são do sexo feminino. Os missivistas acima estão inseridos no acervo do PHPB-RN e no das Cartas Brasileiras. No Quadro 3, encontramos o maior número de informantes, nascidos tanto na primeira quanto na segunda metade do século XX, o que se deve ao fato de termos mais cartas particulares de brasileiros natos. Nº Informantes Nascimento Falecimento Natural 24 Aloysio Lopes de Carvalho Filho 03/03/1901 28/02/1970 BA 25 Virginia Ottoni Vieira de Araújo 01/04/1905 13/01/2003 RJ 26 Aracy Leonardo Pereira 23/10/1905 13/12/1985 BA 27 José Alves Trindade 10//7/1912 03/07/2005 MG 28 Lourival Rocha 21/05/1922 julho de 1992 RN 29 João Pitanga Carneiro 14/07/1929 BA 49 30 Manoel Carneiro de Oliveira 1930 aprox. BA 30 Maria Ruzinete Rodrigues Dantas 23/09/1931 RN 31 Zulmira Sampaio da Silva 1935 aprox. BA 32 Lenizete Carneiro Silva mais ou menos 1945/1960 BA 33 Elzinete Carneiro Magalhães mais ou menos 1945/1960 BA 34 Ana de Jesus mais ou menos 1945/1960 RN 35 Regina Célia Siqueira dos Santos mais ou menos 1945/1960 CE 36 Litiere Costa mais ou menos 1945/1960 BA 37 Nelson Francisco Araújo mais ou menos 1945/1960 BA 38 Rosa Argentina mais ou menos 1945/1960 BA 39 Valdecy Lopes Carneiro mais ou menos 1945/1960 BA 40 Ângela Margarida Mesquita mais ou menos 1953 BA 41 Iraildes Carneiro de Oliveira 1957 BA 42 Cleunice Farias mais ou menos 1955/1970 BA 44 Adelmário Carneiro Araújo mais ou menos 1960 BA 45 Doralice Carneiro Oliveira 23/10/1960 BA 46 Ana Helena Cordeiro de Santana 26/04/1961 BA Quadro 3 - Missivistas Brasileiros - Séc. XX No Quadro 3, dos 23 missivistas da primeira e da segunda metade do século XX, apenas sete são homens e dezesseis são do sexo feminino. Os informantes estão inseridos no acervo do PHPB-RN, bem como a maior parte são das Cartas Brasileiras. Nesse século encontramos brasileiros do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, da Bahia, do Rio Grande do Norte e do Ceará. Mostramos acima que o córpus utilizado nesta pesquisa é constituído de cartas pessoais escritas por brasileiros nascidos no curso dos séculos XVIII, XIX e XX, os quais separaremos em quatro grupos para uma melhor descrição. 2.3.1. Cartas dos Irmãos Paiva As cartas foram escritas no período de 1916 a 1925 por João Idalino Xavier de Paiva, no município de Monte Alegre - RN, para Theodósio Xavier de Paiva, residente na cidade do Natal-RN. Este acervo de cartas é composto por 298 missivas, sendo que inicialmente apenas 62 cartas serão disponibilizadas para o domínio público do PHPB. 50 A escrita dessas correspondências tem uma representatividade semiculta e culta de meados do século XX. O conteúdo das correspondências relata as transações de negócios entre os irmãos e seus sócios, intervenções de pedidos para as autoridades públicas em benefício da cidade de Monte Alegre, acontecimentos do cotidiano do município, tais como familiares, religiosos, políticos e meteorológicos. Quanto aos fatores sociais dos informantes, constatamos que tanto Theodósio Paiva quanto João de Paiva fazem parte de uma classe abastada, o que nos faz pressupor que ambos tinham um grau de escolaridade elevado para a época, visto que Theodósio Paiva assumiu diversos cargos públicos no Estado, tais como funcionário do Tesouro, Major da Guarda Nacional e Intendente de Natal em 1916. Já João de Paiva mostrava-se ser um homem bastante influente na região, pois foi através de seus pedidos ao irmão que a cidade em que residia foi se desenvolvendo. A maioria das cartas é do remetente João de Paiva e as correspondências que recebia de seu irmão não foram guardadas porque sua família de criação foi destituída após o seu falecimento. Já as correspondências enviadas para Theodósio Paiva foram todas preservadas graças ao hábito de guardar documentos e cartas dentro de um cofre. Essas cartas foram mantidas durante anos pelo seu filho Áureo Paiva e depois guardadas pelos seus descendentes. No meio dessas missivas foram encontradas apenas seis cartas remetidas a João de Paiva. No ano de 2010, um neto em busca da história de seu avô, Áureo Paiva, filho único de Theodósio Paiva, começa a sondar junto aos seus familiares se eles tinham conhecimento de documentos da família. Depois de algumas buscas, se depara com um cofre abandonado em um galpão, no centro da cidade de Monte Alegre/RN, de propriedade da família. O neto, Murilo Paiva Lopes, pede autorização aos tios para explodir o cofre, devido ao fato de não possuírem mais o segredo e por estar todo enferrujado. Ao mesmo tempo pede aos técnicos para que tenham cuidado com os pertences que estão no cofre, quando o explodirem. Até aquele momento o senhor Murilo Paiva Lopes não sabia a proporção dos documentos guardados, tendo uma grande surpresa quando se deparou com aqueles pacotes todos amarrados, nos quais continham escrituras, inventário, cartas pessoais, documentos oficiais etc. No mesmo ano das descobertas das cartas, ao saber do interesse do grupo de pesquisa do PHPB-RN, fomos à procura do proprietário das cartas pessoais para saber 51 qual era o teor e o estado dos documentos encontrados e somente no ano de 2011, em meados de abril, em conversa com o coordenador do PHPB-RN, relatamos sobre as cartas e ele perguntou se podíamos trazê-las para digitalizá-las no Departamento do curso de História da UFRN para usá-las em pesquisa no âmbito do PHPB-RN. No mesmo mês, todas as cartas pessoais foram digitalizadas em três dias. No período que corresponde ao final do ano de 2011 e meados de 2012, as 62 cartas selecionados foram editadas de acordo com as normas do PHPB. No final de 2012, revisamos as 62 correspondências. 2.3.2. Cartas do Casal de Patu/RN As cartas particulares do casal Ruzinete Dantas e Lourival Rocha foram doadas ao PHPH-RN 10 por Leny Rocha – filha dos informantes. Esse acervo tem um total de 51 cartas escritas ao longo dos anos de 1946 a 1972. O universo discurso das correspondências é diversificado – notícias pessoais, da família, dos partidos políticos, dos negócios e assuntos amorosos. Constatamos uma escrita semiculta representativa da segunda metade do século XX. Nas correspondências, percebemos que os missivistas são de classes sociais distintas, isto é, a senhorita Ruzinete Dantas é de família influente e abastada, pois em umas das passagens do texto a mesma afirma que seu pai é o presidente do partido e vai receber pessoas ilustres no baile que organizara. Já o senhor Lourival Rocha é de classe média e vivia viajando para vender os seus produtos – algodão, arroz, oiticica, açúcar etc. – para se sustentar e garantir o futuro de sua futura família. Lourival Rocha estudou até o Ensino Médio. Ele assumiu o cargo de prefeito da cidade de Patu/RN. Já Ruzinete Dantas, cursou até o 4º Ano do Ensino Fundamental e tinha uma vida estudantil ativa. Ambos se casaram no ano de 1947 e após o matrimônio a senhora Ruzinete dedicou-se exclusivamente às atividades domésticas e à educação dos filhos. 10 Agradeço a Kássia Kamilla (Mestre em Linguística/UFRN) por ter cedido o acervo de cartas pessoais dos informantes de Patu/RN, como também a Diogo Macêdo (bolsista do PHPB), os quais fizeram a transcrição das correspondências de Lourival Rocha e Ruzinete Dantas de acordo com as normas do PHPB. 52 2.3.3. Cartas Brasileiras As Cartas Brasileiras (1809-2000): Coletânea de fontes para o estudo do português é composta de três volumes, dos quais selecionamos apenas algumas correspondências, que estão subdividas em: Volume 1 CD 1: Cartas para vários destinatários (1809-1904) com 208 cartas escritas por 114 pessoas, sendo que 111 são do sexo masculino e 3 do feminino. “A amostra, apesar de mista, configura-se como representativa, majoritariamente, de uma escrita culta do século XIX.” (CARNEIRO, 2011, p. 2); Selecionamos algumas correspondências do CD 1 por serem correspondências de brasileiros nascidos na segunda metade do século XVIII. Volume 2 CD 1: Cartas do acervo Dantas Jr (1902-1962) com 242 cartas escritas por 113 pessoas – 106 homens e 7 mulheres. A maioria dos destinatários é de origem baiana, mas encontramos sergipanos, pernambucanos, mineiros, cariocas, paulistas, cearenses, capixabas, sul-mato-grossenses e paraenses. Parte desse acervo tem uma escrita culta e semiculta do século XX. CD 2: Cartas Baianas, o acervo de João da Costa Pinto Victoria (1911-1958) com 102 cartas escritas por 5 mulheres. As cartas correspondem à primeira metade do século XX e têm uma escrita semiculta. CD 3: Correspondências amigas, o acervo de Valência, Bahia (1980-1993) com 79 cartas escritas por 31 mulheres e 7 homens. As cartas têm uma escrita semiculta e semipopular da segunda metade do século XX. 53 Volume 3 CD1: Cartas em Sisal: Riachão do Jacuípe, Conceição do Coité e Ichu (1906- 2000) com 91 cartas escritas por 23 mulheres e 20 homens. Segundo Carneiro (2011, p. 2) “um conjunto de características presentes nas cartas fornecem algumas pistas para perceber que os seus autores são indivíduos pouco familiarizados com a língua escrita”, ou seja, há nas cartas uma escrita popular do século XX. 2.3.4. Cartas do Rio de Janeiro As duas cartas pessoais de missivistas do Rio de Janeiro são de grande importância devido ao fato de não termos uma grande quantidade de cartas datadas do século XVIII e, sobretudo, de brasileiros natos com data de nascimento deste século. A primeira corresponde ao remetente Félix de Gusmão Mendonça e Bueno. Em relação ao nascimento desse missivista, deduzimos que está inserido nos séculos XVII e XVIII. Durante a nossa pesquisa encontramos a carta de Félix no endereço eletrônico https://sites.google.com/site/corporaphpb no link corpora manuscrito Rio de Janeiro em que a ficha do informante indica que ele é natural do Rio de Janeiro, todavia, ao pesquisarmos em outra plataforma encontramos a mesma correspondência com os dados da naturalidade desse missivista diferente do que apresentamos acima. Já no endereço eletrônico http://www.letras.ufrj.br/phpb-rj/ no link cartas pessoais e documentos particulares do RJ do século XVIII, a informação que encontramos referente à naturalidade do missivista não condiz com a primeira, pois nesse acervo a naturalidade do autor é portuguesa. Diante disso, vamos considerar que esse remetente seja brasileiro em virtude de não possuímos um grande número de correspondências de brasileiros nascidos nesse período. Podemos dizer que a amostra, apesar de não sabermos a escolaridade do escriba, é representativa da escrita culta da primeira metade do século XVIII, considerando que nesse período somente os abastados tinham o privilégio de ler e escrever. A segunda carta é datada da segunda metade do século XVIII e escrita por José Frias de Vasconcelos, brasileiro e nascido entre a primeira e/ou segunda metade do 54 século XVIII. A amostra configura-se como representativa da escrita culta da segunda metade do século XVIII. As duas correspondências, tanto a de Félix de Gusmão Mendonça e Bueno quanto à de José Frias de Vasconcelos, serão de grande relevância para a nossa pesquisa pelo fato de não termos uma enorme quantidade de cartas pessoais de missivistas brasileiros nascidos no século XVIII como também cartas datadas desse período. 2.4. QUESTÕES E HIPÓTESES Apresentamos a seguir as questões que nortearão a investigação do córpus que compõe esta pesquisa e, a partir delas, buscaremos encontrar respostas que possam sustentar ou negar os questionamentos levantados neste trabalho. Questão e hipótese geral Quais construções de tópico marcado encontraremos em cartas particulares de brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX? A nossa hipótese para essa questão é a de que todos os tipos de CT estão presentes nas missivas de brasileiros dos séculos mencionados acima, tendo em vista que estudos têm mostrado que as construções de tópico marcado aparecem tanto na modalidade oral quanto na escrita (cf. PONTES, 1987; ARAÚJO, 2006/2009). Questões e hipóteses específicas Diante da questão e da hipótese gerais, elencaremos a seguir as questões e hipóteses específicas. 1. As construções de tópico sujeito têm uma elevada ocorrência na escrita de missivistas nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX, visto que essas construções de tópico sujeito são específicas do PB? 55 A hipótese referente a esse questionamento é a de que estruturas de tópico sujeito têm uma baixa recorrência nas missivas do PB, porque esse tipo de construção é mais recorrente na modalidade oral (cf. PONTES, 1987; ARAÚJO, 2009). 2. Em que momento, dos séculos analisados, as construções de tópicos específicas do PB aparecem na escrita dos brasileiros? Apesar de Araújo (2006), em seus estudos, não ter conseguido encontrar dados suficientes para indicar que algumas construções de tópico do PB – tópico de sujeito, tópico locativo e tópico cópia – já estivessem registradas no PE e PB, a proposição que levantamos para essa questão é a de que essas CT típicas do PB já se encontravam nas cartas particulares de brasileiros dos séculos XVIII, XIX e XX. 3. Há outras estruturas de construções de tópico marcado, nas cartas particulares dos três séculos analisados, que não foram apresentadas na literatura? A nossa pressuposição é a de que há CT nas missivas que não se encaixam nas tipologias adotadas por Pontes (1987), Mateus et al. (2003), Berlinck, Duarte e Brito (2003) e Araújo (2009), porque o PB é uma língua de proeminência de tópico e de sujeito, logo, não tendo restrição referente ao termo topicalizado, podemos encontrar estruturas de tópico marcado que não se encaixam nas classificações feitas pela literatura. Segundo Pontes (1987, p. 23), a língua portuguesa parece compartilhar essa característica da língua Tp, já que no português qualquer elemento na sentença pode ser um tópico, tais como os argumentos e os adjuntos. 56 2.5. OBJETIVOS Tendo em vista as questões e hipóteses levantadas, esta pesquisa tem os seguintes objetivos: Objetivo Geral  Identificar o fenômeno linguístico construções de tópico na escrita de cartas pessoais de brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX. Objetivos Específicos 1. Investigar o número de ocorrências de construções de tópico de sujeito nas cartas escritas por brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX; 2. Verificar se as construções de tópico específicas do PB já se faziam presentes nas cartas particulares de brasileiros natos nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX; 3. Analisar se nas cartas particulares dos séculos XVIII, XIX e XX há outras estruturas de construções de tópico que não foram apresentadas pela literatura. 2.6. FECHANDO O CAPÍTULO Ao longo dos procedimentos metodológicos apresentamos o nosso córpus de pesquisa, o qual foi extraído do PHPB-RN, PHPB-RJ e das Cartas Brasileiras – coletânea de fontes para o estudo do português. Compomos o nosso córpus com cartas particulares para as quais estabelecemos dois critérios, no intuito de termos uma amostra confiável em relação à data de nascimento e a nacionalidade dos missivistas nos séculos XVIII, XIX e XX. Logo em seguida, separamos o nosso córpus em quatro grupos. 57 A nossa pesquisa contempla um total de 46 informantes brasileiros de várias regiões do Brasil, a saber: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pará, Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará. Para melhor sistematizar tais informações, elaboramos três quadros, nos quais organizamos os autores das cartas por séculos. Do século XVIII, extraímos 2 cartas da primeira metade e 20 da segunda; Do século XIX, selecionamos 1 – da primeira metade – e 39 correspondências da segunda metade, enquanto que do século XX, respectivamente, foram 21 e 17 cartas. Essas 100 cartas foram escolhidas de acordo com os dois critérios estipulados já mencionados anteriormente. Em relação à quantidade de correspondência por séculos, tomamos como base as 22 cartas do século XVIII, para que a nossa amostra não ficasse desproporcional em relação aos séculos XIX e XX, devido ao fato de esses dois períodos terem um maior número de cartas pessoais. Com isso, pretendemos identificar nas cartas dos missivistas brasileiros nascidos nos séculos estudados as construções de tópico marcado, sobretudo, específicas do PB e, em especial, o tópico de sujeito. Estabelecemos ainda que as construções de tópico marcado encontradas em nosso córpus sejam agrupadas em três conjuntos, a saber: (i) topicalização e deslocação à esquerda; (ii) tópico pendente; e (iii) tópico sujeito. As questões, as hipóteses e os objetivos foram levantados para nortear a nossa pesquisa e, no capítulo de análise de dados, iremos comprovar ou negar as asserções acima expostas. 58 3. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 3.1. ABRINDO O CAPÍTULO Analisar e entender a especificidade do PB tem sido um desafio no campo da sintaxe gerativa, sobretudo na diacrônica, visto que o objeto de estudo dessa corrente não é a língua, mas a gramática particular de um indivíduo. Nesse sentido, recorremos a uma amostra de Língua-E – textos escritos – para teorizar sobre o conhecimento linguístico dos missivistas de uma determinada época (cf. MARTINS, 2009). Desse modo, iremos analisar se as construções de tópico marcado já estão presentes nas cartas de brasileiros nascidos no curso dos séculos XVIII, XIX e XX. Para isso, tomaremos como pressupostos teóricos a concepção de gramática da teoria gerativa que se baseia na competência linguística dos indivíduos, ou seja, a de que um falante de uma língua é dotado de um conhecimento linguístico rico e estruturado que ao longo do processo de aquisição da linguagem adquire uma gramática particular. Nesse sentido, o gerativismo assume que “uma pessoa que sabe uma língua tem uma gramática internalizada, um sistema de regras e princípios que atribui descrições estruturais para expressões linguísticas”11. Em nosso caso, essas expressões são as construções de tópico marcado, as quais modificam a ordem canônica SVO (Sujeito-Verbo-Objeto) da língua portuguesa, tendo em vista o lugar pelo constituinte, ou, à esquerda da sentença, isto é, acima de IP (CHOMSKY, 1981, p. 223). A aquisição da linguagem, para os gerativistas, é um processo em que as crianças amadurecem a gramática a partir da experiência linguística, isto é, “gramáticas são entidades mentais que surgem na mente/cérebro de cada criança” e é a partir desse pressuposto que adotamos o critério da data de nascimento dos missivistas, visto que é no período da aquisição da linguagem que a criança adquire uma gramática de uma determinada língua (LIGHTFOOT, 2002, p. 495) 12 . No entanto, iremos trabalhar nesta pesquisa com um conjunto de dados empíricos, os quais representam a Língua-E, para refletir sobre a Língua-I dos 11 That a person who knows a language has internalized a grammar, a system of rules and principles that assigns structural descriptions to linguistic expressions. 12 Grammars are mental entities which arise in the mind/brain of individual children. 59 missivistas, e só assim determinaremos em nossa análise o período que as construções de tópico marcado típicas do PB aparecem na estrutura da sentença. Ao trabalharmos com textos escritos de um determinado período não conseguimos mais recuperar os interlocutores para um possível teste de intuição, mas esses textos servirão de base para confirmarmos as nossas hipóteses, visto que o conceito de Interno para a teoria da gramática, o princípio da projeção tem como consequência o aparato de regras da estrutura da sentença que podem ser eliminados, além de parâmetos específicos da língua, tais como a ordem de categorias principais (CHOMSKY, 1981, p. 229) 13 . Nesse aspecto, os constituintes topicalizados são restritos a uma única regra do núcleo gramatical, ou seja, a regra “mover qualquer categoria em qualquer lugar”14. Desse modo, as construções de tópico marcado poderão sofrer ou não um deslocamento do interior da sentença para a cabeça, sendo que o tópico pode deixar um correferente, uma categoria vazia ou somente ter uma relação semântica no interior da sentença. A abordagem gerativa defende que a mudança linguística se inicia no período de aquisição da linguagem, a qual se manifestará nos textos escritos pelos missivistas. Perante isso, vamos adotar a cronologia das datas de nascimento ao invés das datas de produção das cartas particulares, pois acreditamos que a escrita de um momento reflita a fala de um período anterior. Esse fato nos revelará o período de aparecimento das construções de tópico marcado na gramática dos autores das cartas do PB através de sua escrita. Segundo Galves, Namiute e Paixão de Sousa (2006, p. 2) “para os estudos gerativistas, um ciclo ou período será relevante quando compreendido como uma gramática diferente da anterior”. Não estamos querendo dizer aqui que há um período final e outro que se inicia no que se refere à gramática de um interlocutor, mas estamos dizendo que um indivíduo adquire uma gramática em uma determinada época e esta já se encontra estruturada em sua mente e no decorrer da vida ele a utilizará. Os nossos dados serão identificados através do número da carta, origem do córpus, iniciais do nome do autor e datação da carta, como também separaremos as CT em três grupos: (i) topicalização e deslocação à esquerda; (ii) tópico pendente e (iii) 13 Internal to theory of grammar, the projection principle has the consequence that the complex apparatus of phrase structure rules can be eliminated, apart from language-specific parameters such as order of major categories. 14 Move any category anywhere. 60 tópico sujeito. Já mencionamos anteriormente que a data da correspondência não influenciará em nosso estudo, tendo em vista que estamos trabalhando com o período de aquisição da língua pelos missivistas e não com o período de produção da carta. Portanto, para analisarmos os dados encontrados no córpus em questão, definimos os critérios para os três grupos: no primeiro, o tópico tem que ser retomado por uma ec ou por um correferente no interior na sentença; no segundo, o termo topicalizado não tem correferente na sentença-comentário, iniciando a mesma com marcas formais; e no terceiro, o constituinte movido do interior da sentença para o topo estabelece concordância com o verbo. Neste capítulo, apresentaremos a análise dos dados obtidos por séculos e por tipos de CT encontradas em cada período, para só assim, no final da análise, respondermos às questões levantadas nos procedimentos metodológicos. 3.2. DESCRIÇÃO DAS CT NAS CARTAS POR SÉCULO 3.2.1 As CT nas cartas particulares do século XVIII Encontrar cartas pessoais de brasileiros natos do século XVIII foi uma tarefa bastante difícil, pois nessa época sabemos que havia poucos letrados nascidos no Brasil, mas, mesmo assim, encontramos duas cartas que se encaixaram em nossos dois critérios – o autor deve ter nascido nos séculos em questão e deve ser brasileiro nato. As missivas dos dois informantes desse século são de grande importância para a nossa pesquisa, visto que elas se enquadram em nosso estudo, porque documentos pessoais como estes são difíceis de serem encontrados. Tomando como base a nova proposta de periodização do português (GALVES; NAMIUTI; PAIXÃO de SOUSA, 2006), vemos que a gramática do PB emergiu do Português Médio (PM), visto que a gramática do português dos séculos XV a XVII apresenta fenômenos linguísticos que a diferenciam tanto do PB quanto do PE (cf. PAIXÃO DE SOUSA; KEWITZ, 2011), isto é, o PB tem como base a língua dos séculos XV, XVI e XVII e não a do século XIX do PE, porque é o século XVIII que 61 representa um marco na política lingüística da Coroa portuguesa no Brasil uma vez que, em 1758, o Marquês de Pombal proíbe o uso da língua geral e obriga oficialmente o uso da língua portuguesa em todo território brasileiro” (GALVES, 2007, p. 524). Desse modo, podemos inferir que a gramática do PB já está instanciada nas cartas dos missivistas brasileiros nascidos no século XVIII e é nesse período que o PB apresenta uma variedade de traços sintáticos distintos do PM, os quais possibilitarão uma descrição do sistema linguístico para a formação de uma gramática brasileira. Ao analisarmos as duas correspondências representativas da primeira metade do século XVIII 15 , constatamos que, na escrita dos dois informantes nascidos no Rio de Janeiro, não identificamos nenhuma construção de tópico marcado. Porém, isso não quer dizer que essas construções não estejam presentes no século XVIII, visto que estamos apenas trabalhando com um tipo de córpus – cartas pessoais. Ao mesmo tempo, podemos deduzir que, se considerarmos outros gêneros, essas construções podem ter sido produzidas, pois alguns estudos indicam que as construções de tópico marcado estão presentes desde o século XIII no português (cf. CASTILHO, 2010, p.283). Quando passamos a analisar as 20 correspondências da segunda metade do século XVIII, encontramos, nas Cartas Brasileiras para vários destinatários, topicalização de objeto direto. A partir desse momento, explicitaremos as construções de tópico marcado com base nos três grupos mencionados anteriormente. Vimos que, na primeira metade do século XVIII, não encontramos construções de tópico marcado nas missivas. Em compensação, no segundo período desse século, identificamos um tipo dessas construções. As construções de tópico marcado identificadas no córpus serão incluídas em um dos três grupos determinados em nossa pesquisa, ou seja, de acordo com a sua tipologia. Verificamos que na primeira metade do século XVIII não houve ocorrência de CT, enquanto que na segunda metade do mesmo século, temos construções do grupo (i), visto que associamos as estruturas de tópico que deixam uma categoria vazia ou um correferente no interior da sentença, ao mesmo tempo não identificamos nenhuma 15 Quando falamos que as missivas são representativas de um período determinado, estamos querendo dizer que a datação determinada em nossa pesquisa tem como base o dia do nascimento dos autores das cartas pessoais e não a data das correspondências. 62 ocorrência de tópico pendente nem de tópico sujeito. A seguir, explanaremos as construções de tópico marcado que identificamos nesses grupos. (i) Topicalização e deslocação à esquerda A topicalização de objeto direto ocorre tanto no PE quanto no PB, sendo que, no primeiro, o elemento no interior da sentença que estabelece correferência com o termo topicalizado é um clítico (cf. Deslocação à Esquerda Clítica), enquanto no segundo é uma categoria vazia ou um pronome tônico, como podemos ver no excerto abaixo: (69) Nenhuma esperança tenho [-] de | melhoramento, quando Medico decide causa | de companheiro (Carta 29 – CB V1 CD1 208 - JzSL-09/7/1810). Mateus et al. (2003, p. 491) mostram que os “SNs quantificados existenciais específicos e negativos podem ocorrer como tópico não marcado (sic) mas não são legítimos como tópicos marcados”. Porém, no caso da sentença acima, podemos, sim, considerar que o constituinte em negrito é um tópico marcado, pois o termo em destaque se move da posição argumental – objeto direto – para a cabeça da sentença. Araújo (2009, p. 235) constata em sua pesquisa que as construções de topicalização de objeto direto têm registro no PB desde o século XIX, o que confirmamos nos dados de nossa amostra (cf. excerto (69)), tendo como base a data de produção da missiva, mas de acordo com o nosso critério, a CT de topicalização de objeto direto já surge na gramática de um missivista representante da segunda metade do século XVIII. Em relação ao (ii), Tópico pendente, e ao (iii), Tópico sujeito, não identificamos construções desses tipos, respectivamente, que vêm introduzidas por marcas formais ou por um DP sem nenhuma relação sintática com o comentário ou em que o constituinte topicalizado é alçado para a parte frontal da sentença, assumindo o lugar do sujeito sintático, devido ao fato de o NP sujeito não se encontrar realizado na oração. Estudos sobre essas construções de tópico sujeito têm mostrado que elas são típicas do PB (cf. PONTES, 1987). 63 3.2.2 As CT nas cartas particulares do século XIX Como dito, do século XIX coletamos 36 cartas particulares. Dessas, apenas uma é representativa da primeira metade, e as demais, da segunda. Na missiva do autor Epifânio da Fonseca Dórea e Menezes, representante da primeira metade do século XIX, não identificamos nenhuma construção de tópico marcado. Da mesma forma que não encontramos CT nas cartas particulares de Félix de Gusmão Mendonça e Bueno, também não evidenciamos nas de José Frias de Vasconcelos, missivistas representantes da primeira metade do século XVIII. Mas isso não implica dizer que as CT não estejam presentes nesse primeiro período do século XIX, pois as encontramos em nosso córpus desde a segunda metade do século XVIII, como visto anteriormente. Em relação à segunda metade do século XIX, constatamos que as CT aparecem com uma maior variedade. As construções identificadas nas Cartas Brasileiras – acervo Dantas Jr e cartas baianas – e no PHPB-RN são dos tipos de tópico agente da passiva, topicalização de oblíquo, tópico de complemento nominal, tópico locativo, topicalização de objeto direto, tópico pendente e tópico sujeito. Na primeira metade desse século, constatamos que não houve indícios de CT, assim como na primeira do século anterior. Essas construções serão agrupadas em três tipos de estruturas, como podemos observar logo a seguir: (i) Topicalização e deslocação à esquerda Os tipos de construções que se enquadram nesse grupo foram extraídos dos informantes representantes da segunda metade do século XIX. Nas missivas desse século identificamos construções de topicalização agente da passiva, as quais também foram encontradas no PA (cf. CASTILHO, 2010, p. 283), é o que mostram os seguintes exemplos: (70) Pelo compadre Horacio me foi entre- | gue sua carta de hontem datada [-], de | cujos diseres fico sciente relativamente | o negocio do algodão (Carta 05 – PHPB/RN-JP-02/10/1918). 64 (71) Por Amaro Marques me foi entregue | hontem os 6:000 mil réis [-] de meu ultimo pedido, a | meu debito (Carta 09 – PHPB/RN-JP-16/2/1921). (72) Pelo Sr. José Carambola me foi entre- | gue sua carta [-] de ante- hontem datada e | a vacca com a cria que veio por elle e | pelo mesmo vai a vacca crioula com a cria | e os 2 cavallos, seu e de Tonho (Carta 12 – PHPB/RN-JP-09/6/1922). Os excertos (70) a (72) são extraídos de missivas de um potiguar, cujas construções do mesmo tipo foram encontradas também no Leal Conselheiro, obra do século XIII. Percebemos também que os constituintes alçados para parte externa das sentenças acima foram extraídos da estrutura “me foi entregue”. Se colocarmos esses excertos na voz ativa e passiva, verificaremos que o constituinte em negrito no topo da sentença é um tópico marcado, como mostrado a seguir: Voz ativa 70.a) O comprade Horacio entregou sua carta de hontem datada. 71.a) Amaro Marques entregou o hontem os 6:000 mil réis de meu ultimo pedido. 72.a) O Sr. José Carambola entregou sua carta de ante-hontem datada. Voz passiva 70.b) Sua carta de hontem datada foi entregue pelo compadre Horacio. 71.b) Os 6:000 mil réis de meu ultimo pedido foi entregue hontem por Amaro Marques. 72.b) Sua carta de ante-hontem datada foi entregue pelo Sr. José Carambola. Como podemos observar, o agente da passiva é o sujeito das sentenças que estão na voz ativa. Assim, podemos afirmar que o agente da passiva é o termo da oração que pratica a ação verbal, quando o verbo se apresenta na voz passiva. Constatamos também que as sentenças (70) a (72) estão na voz passiva, mas com o constituinte topicalizado no topo da sentença, ao invés de estar posposto ao verbo. 65 Na segunda metade do século XIX encontramos duas ocorrências de topicalização de oblíquo. Essa construção de tópico foi encontrada nas pesquisas de Araújo (2006) e Morais de Castilho (2013). (73) De Mauricio tive hontem carta [-] | está bom (Carta 75 CB V2 CD2 102 - M[MLWAP]-11/6/1919). Constamos que o excerto acima de topicalização de oblíquo aparece na missiva de Maria [Mª Luiza W. de Araújo Pinho]. O termo em negrito é alçado de uma posição argumental para a esquerda, acompanhado da preposição. O elemento topicalizado antes de estar em especificador de CP é complemento do núcleo do VP 16 – objeto indireto. Segundo Morais de Castilho (2013, p. 36), uma estrutura como essa surgiu “para atender a uma necessidade discursiva”. Só que, no excerto (73), não temos um redobramento de objeto indireto com o clítico, como ocorria no PA e no PE. Entretanto, em nosso dado, vemos que o termo destacado deixa uma ec no interior da sentença. (74) Da festa de Santo Amaro só soubemos [-] por | uma carta de Tété a Jovina que o sermão | do dia 2 não agradou, e por um telepho- | nema de José que não havia animação (Carta 66 – CB V2 CD2 102 - ATW-06/2/1939). Nas construções de topicalização de oblíquo, percebemos que o constituinte que é alçado leva consigo a preposição. Esse fato não ocorre com construções de topicalização selvagem – típica do PB, visto que nesse tipo de construção de tópico marcado, há o apagamento da preposição quando o termo topicalizado é movido para a esquerda da sentença. O tópico locativo se enquadra nesse grupo, porque deixa uma ec no interior da sentença. Estudos têm mostrado que o tópico locativo é uma construção típica do PB, visto que o constituinte topicalizado funciona como um adjunto de verbos existenciais ou de verbos considerados intransitivos, no sentido de complemento cincunstancial (cf. ARAÚJO, 2009). 16 Tive no sentido de receber a carta do Mauricio. 66 (75) Na Bahia estive [-] apenas com Adelaide, Margarida, D. Candinha, | as Carrascosa, Julieta, D. Prazeres e Yázinha Mariani; na tive | tempo para outras visitas (Carta 62 – CB V2 CD2 102 - ATW-12/2/1928). No excerto (75), vemos que o PP movido para a cabeça da sentença é um complemento locativo, visto que o sintagma preposicionado tem que ser alçado de posições de verbos existenciais, intransitivos, com o sentido de complemento cincunstancial. Nesse caso, o PP foi alçado da posição pós-verbal do verbo intransitivo “estive”. Esse fato não ocorre com construções de tópico sujeito nem com a topicalização selvagem, pois elas tendem a apagar a preposição quando deslocadas para a esquerda da sentença. Em nossa análise, encontramos construções de tópico complemento nominal. Essas estruturas foram citadas por Pontes (1987), Araújo (2006), Castilho (2010) e Orsini (2012). Identificamos a topicalização de complemento nominal nas correspondências de Maria [Maria Luiza W. de Araújo Pinho], Antonia Thereza Wanderley, João da Costa Pinto Dantas Jr. e João de Paiva, como podemos constatar abaixo: (76) De Joaquim e José tenho tido | noticias [-], esses com suas eternas | constipações que quer a força | curar com quinino (Carta 74 CB V2 CD2 102 - M[MLWAP]-26/5/1918). (77) De Celina Mello só tem se noticias [-] por uma chamada a Edith pelo telephone, dous dias | depois da chegada á Lapa (Carta 64 CB V2 CD2 102 - ATW-04/7/1934). (78) Do Rio temos | tido boas noticias [-]; chegaram com chuva | torrencial, de modo que João Mauricio se | resfriou e ficou um pouco abatido, mas | já está bom (Carta 65 – CB V2 CD2 102 - ATW-02/5/1938). (79) De Canudos ainda não tinha noticia exata [-] (Carta 55 – CB V2 CD1 242 - JCPDJr-15/3/1926). 67 Nos excertos (76) a (79), vemos que os termos topicalizados são complementos do NP [notícia]. Os elementos no topo das sentenças são alçados para a esquerda, devido ao fato de serem pressupostos pelos missivistas. (80) De saúde vamos bem [-] e o mesmo | posso dizer do Angico de onde rece- | bi hontem carta (Carta 76 CB V2 CD2 102 - M[MLWAP]-22/6/1923). (81) De farinhada vou bem [-], | a roça está rendendo | como nunca vi, em seis | cargas tenho feito de 92 a | 96 cuias de farinha (Carta 14 PHPB/RN-JP- 15/6/1923). Os elementos topicalizados em (80) e (81) carregam as preposições, assim como no tópico locativo, mas a diferença dessa construção de topicalização de complemento nominal em relação àquela é a de que, no tópico locativo, o termo topicalizado deslocado à esquerda é um AP locativo, enquanto na topicalização de complemento nominal é um PP complemento do NP em nosso caso o constituinte “bem”17. Nas correspondências de João de Paiva, Lulu [Maria Luzia W. de Araújo Pinho], Maria [Maria Luzia W. de Araújo Pinho] e Antonia Thereza Wanderley – missivistas da segunda metade do século XIX, encontramos construções de topicalização de objeto direto. Araújo (2009), em seus estudos, mostra que elas são mais realizadas na língua, isto é, tanto na oralidade quanto na escrita. Nesse sentido, concordamos com a autora, pois, em nosso córpus, essa construção aparece nos três séculos que estamos analisando, como veremos abaixo e, logo a seguir, na descrição dos dados do século XX. (82) A banheira ainda não tinha reti- | rado [-] de sua casa, podendo estar la pelo | tempo que Tonho aqui se demorar (Carta 03 – PHPB/RN-JP-21/6/1917). (83) Os 8 saccos de caroço de seu pedido mando [-] a | manhã para a estação e pelo um sacco com feijão vez de gerimú [?](Carta 07 – PHPB/RN- JP-05/8/1919). 17 No sentido de ir bem. 68 Percebemos que os termos em negrito são alçados para o topo da sentença sem nenhuma retomada clítica, deixando apenas uma ec posposta à locução verbal: “tinha retirado” e ao verbo “mandar”. Esse termo, antes de ser movido para a posição de TopP, tem função de objeto direto. Araújo (2009, p. 235) afirma que estrutura de topicalização de objeto direto não é exclusiva “do português rural afro-brasileiro, mas está presente em todas as modalidades do português brasileiro”. Retificamos o que afirma a autora quando encontramos em nosso córpus essas construções. Da mesma forma que constatamos em nossa análise, Araújo (2009, p. 235) assinala que as construções de topicalização de objeto direto “tem registro no português brasileiro escrito desde o século XIX”. Afirmamos, ainda, que construções como essas têm origem na gramática do PB, visto que encontramos em nossa análise um dado de um missivista nascido no século XVIII. O excerto explorado em (69), retomado aqui como (84), serve para mostrar que essa construção de tópico marcado apareceu em nosso córpus desde a segunda metade do século XVIII. Em seguida, apresentaremos (85), como sendo a amostra representativa do século XIX. (84) Nenhuma esperança tenho [-] de | melhoramento, quando Medico decide causa | de companheiro (Carta 29 – CB V1 CD1 208 - JzSL-09/7/1810). (85) Vontade não me faltou [-]! (Carta 73 – CB V2 CD2 102 - L[MLWAP]- 05/11/1924) Na topicalização de objeto direto do PB, percebemos que não há clítico acusativo de terceira pessoa para retomar o tópico, isso ocorre porque nessa língua houve perda da marcação do clítico. (ii) Tópico Pendente Essa construção é bastante comum no português. Na literatura, o tópico pendente é frequentemente mencionado, sobretudo, em cartas pessoais que são mais próximas da fala. Estruturas desse tipo são conhecidas como anacolutos e, em geral, vêm introduzidas por marcas formais ou por um tópico DP. 69 (86) Quanto aos 60 fardos que desejava | vender esta semana o melhor será | esperar um pouco, uma ves que não se | consegue colocall-o de 58:000 réis a 60 000 réis (Carta 05 – PHPB/RN-JP-02/10/1918). (87) Quanto ao locomovel que me dis estar ser- | to em pedir acho que só o deve fazer se for | por preço muito commodo, do contrario tirarei a sa- | fra mesmo com o motor, embora fasendo pouco (Carta 07 – PHPB/RN-JP- 05/8/1919) (88) Quanto á tombola, já disse a Bellinha que | não tomarei, nem passarei bilhetes (Carta 63 – CB V2 CD2 102 - ATW-19/10/1933) Os termos em destaque se constituem em tópicos marcados, mas sem nenhuma ligação sintática com o comentário, visto que não há correferente no interior da sentença que o retome. Por isso, é que a relação entre o termo topicalizado e a oração é apenas semântica. (iii) Tópico sujeito No decorrer da nossa análise, identificamos as construções de tópico mais específicas do PB – tópico de sujeito – nas quais um PP locativo ou adjunto se encontra à esquerda da sentença sem a preposição. Essa construção diferencia-se da topicalização selvagem, do tópico locativo e da topicalização de oblíquo, porque o termo deslocado do tópico sujeito se comporta como sujeito da sentença, visto que ele estabelece concordância com o predicador. Segundo L&T (1976) uma das características das construções de tópico nas Tp é que o termo topicalizado não estabelece nenhuma relação de concordância com o núcleo verbal, mas no PB o termo deslocado do interior para a parte frontal da sentença estabelece concordância com o verbo. Encontramos construções desse tipo nas correspondências de João de Paiva – representantes da segunda metade do século XIX. Os excertos abaixo ilustram esse tipo de construção que deixa uma ec no interior da sentença. 70 (89) Caiçara vai muito bem chuvida [-] e o pre- | juiso em gado ja adias desapareceu (Carta 01 – PHPB/RN-JP-11/3/1916). (90) Muita falta de chuva aqui, o sertão | vai indo regulamente chuvido [-] (Carta 02 – PHPB/RN-JP-11/4/1916). Constatamos em nossa amostra que a construção de tópico sujeito se encontra instanciada na língua-I desse autor potiguar. Nos termos em negrito, anteriormente apresentados, vemos que o NP que foi movido da posição interna da sentença para o CP parece não alcançar o TopP, visto que o elemento topicalizado desencadeia relação de concordância com o predicador na camada do IP. Construções desse tipo fazem com que o tópico se comporte como se fosse o sujeito da sentença. Em nosso córpus detectamos construções de tópico de sujeito, assim como o exemplo clássico de Pontes (1987, p. 35) “A Sarinha está nascendo dentes”. Nele, o argumento interno que está posposto (dentes) não estabelece nenhuma relação de concordância com o verbo, visto que a sentença ficaria agramatical, caso colocássemos “os dentes” estabelecendo concordância com o predicador – * A Sarinha estão nascendo os dentes. Nessas construções de tópico típicas do PB, identificamos um adjunto e/ou PP locativo deslocado para a esquerda da oração, como constatamos, respectivamente, nos excertos (89) e (90). Araújo (2009, p. 240) identificou em seus dados do português afro-brasileiro construções de tópico sujeito; tais construções foram distribuídas em três grupos. No primeiro, a autora mostra que o verbo inacusativo seleciona um argumento interno, mas este não estabelece concordância com o predicador, como exemplo, temos: (91) o carro afundô as roda... [as rodas do carro afundaram] (ARAÚJO, 2009, p. 239) No segundo, o verbo seleciona tanto o argumento externo quanto o interno, mas este último é alçado à posição de tópico, desencadeando assim uma relação de concordância com o verbo, devido ao fato de a posição de argumento externo está vazia. 71 (92) essa casa foi ligêro... que o moço... sabia trabaiá um poço... [foi ligeiro (fazer) essa casa] (ARAÚJO, 2009, p. 240) Por fim, no terceiro grupo, a autora apresenta um termo topicalizado que não tem nenhum correferente no interior. Nesse grupo, a autora determina que há um constituinte que provavelmente pode ser o sujeito da sentença, mas ao mesmo tempo indica que esse elemento não é s-selecionado pelo verbo nem estabelece relação semântica com ele. (93) o canivete é coisa que uma unha tava suja... [melada] aqui... eu fui rapá o canto da unha! (ibidem). Araújo (2009, p. 240) considera que “houve a inserção direta de um tópico na posição de Spec, SujP, em IP, sem que o sintagma tivesse sofrido algum tipo de deslocamento de algum lugar interno da oração”. Por isso, essas construções são inseridas nesse grupo, visto que o termo topicalizado assume a posição de sujeito. Essa autora constatou, ainda, que algumas construções de tópico sujeito por ela analisadas não foram citadas por Pontes (1987), mas “foram encontradas nas comunidades em estudo”. Esse fato faz com que Araújo (2009) acredite que estruturas como essas estejam presentes não só no vernáculo do PB como “em qualquer dialeto” dessa língua. 3.2.3 As CT nas cartas particulares do século XX Nas 34 missivas da primeira metade do século XX, verificamos que as construções de topicalização de complemento nominal, tópico oblíquo e topicalização de objeto direto se realizaram novamente. Averiguamos também o aparecimento de construções específicas do PB e das línguas de tópicos, respectivamente – tópico cópia e duplo sujeito – nas cartas particulares desse período, como também o tópico pendente. Na primeira metade do século em questão, identificamos a topicalização de complemento nominal, o tópico oblíquo, a topicalização de objeto direto, o tópico 72 cópia, o duplo sujeito e o tópico pendente, enquanto que na segunda metade temos ocorrência somente de topicalização de objeto direto, tópico locativo e tópico pendente. (i) Topicalização e deslocamento à esquerda Nas cartas dos missivistas da primeira metade do século XX, encontramos construção de topicalização de complemento nominal, como ilustramos abaixo: (94) Recebi tua carta de tudo fiquei ciente, quanto ao caso da | saúde de Leny fiquei e bem satisfeito [-], sobre o seu caso de | saúde não perguntei porque escrevi até um pouco apressado e destraido | não é porque falte cuidado; pois, as destancias de tu para Leny é | para os meus cuidados a mesma sem nenhuma diferença (Carta 22 – PHPB/RN-LR-07/4/1949). No excerto acima, vemos que “quanto o caso da saúde de Leny” é movido da posição do complemento do NP [satisfeito]. Percebemos que apesar de essa construção iniciar a sentença com as marcas formais características do tópico pendente não é classificado como aquele, porque houve uma conexão sintática entre o tópico e o comentário. Esse excerto será retomado novamente no tópico oblíquo. Constatamos que o termo em negrito é alçado do complemento do nome. Esse fato ocorre em virtude da pressuposição entre os dois missivistas. Os excertos (94 e 95) diferem dos (76 a 81), porque estes últimos levam consigo a preposição, caracterizando assim construções de tópico de complemento nominal, apesar do (94) e (95) serem topicalização de complemento nominal. Essas construções não carregam consigo a preposição para a esquerda da sentença, como vemos abaixo: (95) o preço Você | vai ficar espantada [-] (Carta 67 – CB V2 CD2 102 - ALP- 10/11/1944). A sentença (95) ficaria assim: “Você vai ficar espantada com o preço”. Nessa construção a preposição é apagada quando é alçada para a esquerda da sentença, da mesma forma que a topicalização selvagem. 73 Estruturas de topicalização do objeto direto também apareceram nesse período do século XX. Construções desse tipo vêm marcando presença em nosso córpus desde a segunda metade do século XVIII. (96) Esses sequilhos, Marieta Ribeiro é quem | lhe manda [-] (Carta 70 – CB V2 CD2 102 - ALP-04/5/1955). (97) Mas não perdi | a esperança, os dias correm | até que o tempo chega, pois, | o passado nêgro não quero [-] ja | mais, apelo para tu, para o | futuro para que o meu sonho | sêja realizado (Carta 18 – PHPB/RN-LR-17/2/1946). Verificamos que os elementos em negrito são alçados dos complementos dos verbos mandar e querer, respectivamente. Em relação ao excerto (98), percebemos um fato interessante, visto que o constituinte em negrito, que vem acompanhado de um demonstrativo, uma característica do tópico marcado, é alçado do argumento de uma oração subordinada para o topo de uma oração principal, como podemos constatar a seguir: (98) Agora | mesmo acertei com tio Amadeu, para mandar Antonio Lira, esta | semana, para ficar em meu lugar aqui, enquanto vou à Mossoró | comprar umas louças que me falta, esta viagem tenho que fazer [-] | quarta ou quinta-feira, e ele ficará aqui até o dia 24, quando | devo regresçar (Carta 21 – PHPB/RN-LR-13/9/1947). Vemos que nas estruturas de topicalização de objeto direto, o termo topicalizado pode ocorrer tanto em contextos de frase-raiz (cf. (96)) como em contexto de frase encaixada (cf. (98)). Encontramos tópicos de objetos que são diferentes das classificações adotadas pela literatua, como verificamos nos excertos, a seguir: (99) O óleo ainda não vendi todo [-] | porque a praça está um pouco cheia do produto (Carta 25 – PHPB/RN-LR-16/4/1965). 74 (100) Deus ê quem sabi vom- | tadi eu tenho muitas [-] mais não | poso andar montado poso | compadi (Carta 94 – CB V3 91 – JPC-?). (101) Gente, aquí, nunca se viu tanta [-]! (Carta 17 – PHPB/RN-RD-27/12/1946) Os excertos (99), (100) e (101) são tipos de construções de tópico de objeto, mas os elementos topicalizados à esquerda da sentença são deslocados para essa posição sem levar consigo os quantificadores “todo”, “muitas” e “tanta”, devido ao fato de o termo topicalizado não poder ter quantificadores à esquerda da sentença em línguas de tópico, mas no PB essa características se anula, visto que os quantificadores acima são flutuantes na sentença, ou seja, eles são mais flexíveis, podendo aparecer em qualquer lugar na oração. (102) Recebi tua carta de tudo fiquei ciente, quanto ao caso da | saúde de Leny fiquei e bem satisfeito, sobre o seu caso de | saúde não perguntei [-] porque escrevi até um pouco apressado e destraido | não é porque falte cuidado; pois, as destancias de tu para Leny é | para os meus cuidados a mesma sem nenhuma diferença (Carta 22 – PHPB/RN-LR-07/4/1949). No excerto acima, identificamos mais uma vez o tópico oblíquo em que o termo em negrito é alçado do complemento do verbo transitivo, o qual leva consigo a preposição, caracterizando assim uma construção de tópico oblíquo. Em nosso córpus, identificamos estruturas de tópico cópia, construções analisadas por Araújo (2009) e típicas do PB. A autora descreve que o constituinte topicalizado pode ser retomado por um elemento focalizado, isto é, que tenha algum contraste. Os excertos (103) e (104) nos mostram que o tópico é retomado pela própria cópia no interior da sentença. (103) Retratos: estou anexando um meu retrato e uma reprodução | do teu, apesar de ter recomendado o maximo (Carta 19 PHPB/RN-LR-16/1/1947). (104) MINHA CASA: por ipotese alguma deve alugar a minha CASA pois ela faz parte de um grande sacreficio que passei e | tenho-a como uma relíquia 75 só para mim e o senhor, o mesmo | faça com os armazéns são nossos (Carta 25 PHPB/RN-LR-16/4/1965). Percebemos que o constituinte em negrito e grifado tem caráter constrativo na sentença comentário, pois em (103), o missivista Lourival Rocha comunica que está anexado um retrado dele e da destinatária, mas não outro retrato. Já em (104), a informação é que não deve alugar a casa dele, mas outro imóvel ela pode alugar. Conseguimos encontrar também em nosso córpus construções do tipo tópico com cópia pronominal ou duplo sujeito – construções específicas das línguas de tópico. Estruturas de duplo sujeito têm um NP movido para a posição de tópico, sendo que esse elemento no topo da sentença é retomado por um pronome no Spec de IP da sentença, como ocorre em (105): (105) Sim mãe e Maria elas estão indo | bem, elas manda um abração para você (Carta 86 – CB V2 CD3 79 – NFA-02/9/1980). No excerto acima, vemos que o tópico é retomado por um pronome na parte interna da oração. Isso faz com que a conexão entre a parte interna da sentença e exterior seja apenas por traços de pessoa, número e gênero. Segundo Galves (1998), construções de duplo sujeito ocorrem em “função de o verbo ter perdido o traço de [pessoa] no português brasileiro”, fazendo com que essa marcação seja redundante. Essas construções “em PB, mas não em PE, o duplo sujeito por um pronome em posição pré-verbal é bastante frequente”18, mas alguns autores mostram que o duplo sujeito é “a posição preferida em muitos contextos”19 (COSTA; GALVES, 2002). Em nossa amostra tivemos uma ocorrência não convencionada pela literatura, como podemos ver abaixo: (106) Desde já autorizo vender o motor | a dinheiro pelo preço que achar | o fogão, este não deve vender (Carta 24 – PHPB/RN-LR-24/1/1965). 18 In BP, but not in EP, pronominal doubling of the subject by a pronoun in preverbal position is quite frequent. 19 Preferred option in many contexts. 76 Em (106), percebemos que o termo “o fogão” é alçado do complemento do verbo vender, mas parece que ele passa por duas posições de tópico, isto é, se colocássemos a sentença na ordem canônica, ela ficaria dessa forma: “Não deve vender este fogão”. O constituinte “este fogão”, que está interno na sentença, é alçado por duas vezes para a posição de tópico; no primeiro, a sentença se comportaria assim: “Este fogão não deve vender [-]”. Enquanto no segundo, a frase ficaria como no excerto (106). Nesse caso, confirmamos que o tópico pode ocupar duas posições ao mesmo tempo, porque ele é recursivo (cf. ARAÚJO, 2006). Na segunda metade do século XX, identificamos dois tipos de construções de tópico marcado. Novamente apareceu a topicalização de objeto direto e, logo em seguida, o tópico locativo. Constatamos a presença da topicalização de objeto direto na segunda metade do século XX, como ilustramos abaixo: (107) Sim mãe o papel | grinal eu já cortei | todo [-] já fiz um | bando de flor mais | não deu pra fazer | o que tia Elizabete | queria e comforme | que eu vou pra lar | conforme se comadre | Irailde for mais eu (Carta 95 – CB V3 91 – DCO-?). O termo topicalizado não carrega o quantificador “todo” para a cabeça da sentença, mas no PB esse quantificador poderia ser alçado com o NP [o papel grinal] para o topo da sentença, visto que o [todo] é um quantificador flutuante. Em (108), identificamos uma retomada clítica na missiva de uma representante da segunda metade do século XX. Vimos que as construções de tópico retomadas por um clítico são muito frequentes no PE, mas encontramos uma ocorrência em nossa amostra do século XX. (108) Quanto ao seu novo chefe | eu o conheço e é uma boa pessoa, ele é | irmão e sócio do meu ex patrão o proprie- | tário da JACOTEL com quem trabalhei 4 anos (Carta 82 – CB V2 CD3 79- CF-15/8/1990). Construções desse tipo, mais específicamente de deslocação à esquerda clítica, são menos recorrentes no PB, em virtude de essa língua ter perdido o processo de clitivização. Vemos que o excerto (108) iniciou por uma expressão formal, característica do tópico pendente, mas classificamos essa construção de topicalização de 77 objeto direto pelo fato de o termo topicalizado ter um correferente – um clítico – no interiror do comentário retomando-o. Identificamos novamente o tópico locativo nesse período, assim como constatamos na segunda metade do século XIX, conforme a amostra encontrada no córpus. (109) Em S. Pedro houve [-] quadrilha em minha casa e depois um | pouco de forró, que por sinal dançei bastante, pois adoro dan- | çar forró (Carta 89 – CB V2 CD3 79 - RCSS-02/7/1980). O constituinte em negrito se move para a esquerda da sentença, levando a preposição. Araújo (2009, p. 242), em sua pesquisa, afirma que essas construções tiveram uma baixa realização. Ela supõe que o baixo índice dessas construções de tópico marcado deva ser justamente devido à presença da preposição, visto que, de acordo com os dados encontrados por essa autora nas construções de tópico sujeito e de topicalização selvagem “parece haver uma tendência, na oralidade, para o apagamento da preposição”. (ii) Tópico pendente As construções que inciam por marcas formais apareceram na primeira metade do século XX. (110) Quanto ao estudo | eu vou indo muito bem (Carta 83 – CB V2 CD3 79 - ECM-2O/10/1980). (111) Quanto a sua vinda para cá já estou | providenciando, pois tenho muitas saudades | de todos e muita precisão, mas; tenha | um pouco de calma; quero ver a | carreira do negocio para não sa- | crificar tanto (Carta 24 – PHPB/RN-LR-24/1/1965). (112) Quanto ao meu estado de saúde | saberás pela carta que escrevi a Titia na | qual conto tudo, basta que diga-te: estive | muito duente mas graças a Deus já estou | bastante melhorada (Carta 23 – PHPB/RN-RD-14/4/1951). 78 (113) Quanto a | viuva de Renato Lago, (Estér Proença) é uma pessoa | muito accessível, de uma simplicidade no trato | comparavel ao de Virginia. E o filho educadíssimo(Carta 71 – CB V2 CD2 102 - ALP-02/6/1955). (114) Quanto ao meu pé: já está cal- | cificado nas extremidades, faltando | somente o centro Catão me disse que | no dia 15 eu poderia começar a | andar com o pé enfaixado e depois || que êle chegasse tirava as ataduras, mas | eu respondi que esperaria por êle, 5 dias | a mais não é muita coisa, para quem | já ficou tanto tempo de pé espichado e | ficar em pé e andar na presença do medico | dá mais confiança (Carta 72 – CB V2 CD2 102 - ALP- 08/7/1955). (115) Quanto a Leni também não ficou boa do | braço pois que ainda não pode estira-lo direito (Carta 23 – PHPB/RN-RD-14/4/1951). Os excertos (110 a 115) não têm correferentes no comentário, pois o assunto é sobre o termo topicalizado. No segundo período do século XX, nas cartas particulares selecionadas, identificamos apenas duas construções de tópico pendente, como segue abaixo: (116) Quanto a batida do carro fiquei tris- | te pelo que aconteceu, mas graças a Deus, | felizmente não houve o pior não é mes- | mo? (Carta 86 – CB V2 CD3 79 - NFA-02/9/1980) (117) Quanto ao estudo, estudo o | suficiente para passar de ano e graças | a Deus nunca perdi de ano (Carta 91 – CB V2 CD3 79 -RA-24/3/1980). Nos excertos (116) e (117), vemos que os elementos topicalizados não têm nenhuma relação sintática com a sentença-comentário. Apesar de essas construções terem uma recorrência enorme em outras amostras, elas não tiveram uma expressividade em nosso córpus (cf. Pontes (1987), Mateus et al. (2003) e Araújo (2006/2009)). 79 (iii) Tópico sujeito Não houve ocorrência de construções de tópico de sujeito nem na primeira e nem na segunda metade do século XX, mas não significa que construções desse tipo não estejam presentes nesses períodos, visto que essas construções de tópico de sujeito são específicas do PB, e em nosso córpus apareceram na segunda metade do século XIX. 3.3 FECHANDO O CAPÍTULO Para respondermos às nossas questões de pesquisa em relação às construções de tópico, separamos as construções de tópico marcado por grupos, por períodos e por tipos. Estudos têm mostrado que as construções de tópico são mais recorrentes na oralidade do que na escrita; mas, segundo Orsini (2012, p.188), as CT estão “num processo de mudança, começando a permear os textos escritos, em especial os que apresentam um registro informal”. Apesar de sabermos que as cartas pessoais se aproximam da fala dos interlocutores, a nossa amostra revelou uma pequena quantidade dessas construções. Estipulamos, anteriormente, que as CT do grupo (i) têm que deixar um correferente ou uma categoria vazia no interior da sentença. Esse foi o critério para agruparmos todas essas construções, mas se colocarmos as CT que possuem uma categoria vazia de um lado e as que têm um correferente de outro, confirmamos a explanação de Pontes (1987, p. 54), quando ela assegura que “a topicalização é muito mais comum na língua escrita do que o deslocamento à esquerda”. Em nossa amostra temos mais CT de topicalização do que de deslocamento à esquerda, além de encontramos outras estruturas de tópico marcado em nossa amostra que a literatura não apresenta. Esse fato ocorre porque no português qualquer elemento pode ser alçado para a parte frontal da sentença, com o fim de “realce, ênfase, contraste”. No decorrer da nossa pesquisa levantamos algumas questões para comprovarmos ou negarmos os questionamentos expostos neste trabalho. A questão central de nossa pesquisa queria saber: quais CT encontraríamos nas cartas pessoais de brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX? 80 Depois da questão geral, explanamos as questões específicas: (a) as construções de tópico sujeito têm uma alta ocorrência na escrita dos missivistas nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX?; (b) em que momento dos séculos analisados as construções de tópicos específicas do PB aparecem na escrita dos brasileiros?; (c) há outras construções de tópico nas cartas dos missivistas brasileiros nascidos nos três séculos analisados que não foram identificadas pela literatura? Expostas as questões de pesquisa, constatamos que nas cartas analisadas dos 46 missivistas, encontramos as CT apenas nas cartas de 19 escribas. Ao respondermos à questão geral, verificamos que as construções de tópico estão presentes na escrita dos brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX. Em nossa amostra, encontramos a topicalização de objeto direto, a topicalização de agente da passiva, o tópico oblíquo, o tópico locativo, a topicalização de complemento nominal, o tópico sujeito, o duplo sujeito, o tópico cópia e o tópico pendente. Dessas construções de tópico que identificamos em nossos dados, a topicalização de objeto direto aparece desde a segunda metade do século XVIII e esta está presente nos quatros períodos. O tópico oblíquo e a topicalização de complemento nominal aparecem no final do século XIX e no século seguinte. O duplo sujeito juntamente com o tópico cópia só teve ocorrência no primeiro período do século XX. Já o tópico locativo surge na primeira metade do século XIX e na segunda do XX. As CT de tópico pendente, típicas das línguas de tópicos, aparecem tanto na primeira metade do século XIX quanto na primeira e segunda do século XX. As construções típicas do PB são tópico sujeito, o tópico locativo e o tópico cópia. Essas construções apareceram na estrutura linguística dos missivistas desde a segunda metade do século XIX com o tópico locativo, seguido de tópico sujeito e de tópico cópia na primeira metade do século XX. Ao longo dos dados, constatamos que as cartas dos missivistas nascidos nos séculos analisados registram construções de tópico de sujeito como reflexo de sua língua-I. A construção de tópico sujeito aparece com um baixo indíce na gramática interna dos missivistas nascidos na segunda metade do século XIX. Por fim, em relação à última questão, conseguimos identificar outras construções que não foram identificadas pela literatura. Em nossa amostra encontramos construções de topicalização de objeto direto, topicalização de complemento nominal e duplo sujeito que se diferenciam das construções de tópico marcado apresentadas por Pontes (1987), Mateus et al. (2003), Berlinck, Duarte e Oliveira (2009) e Araújo (2009). 81 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das construções de tópico marcado nas cartas pessoais de brasileiros dos séculos XVIII, XIX e XX revela – em nossa amostra – que as estruturas de tópico ocorrem desde a segunda metade do século XVIII, visto que essas construções não são novas na língua portuguesa. No que tange à posição do tópico, constatamos que esse termo aparece com maior frequência à esquerda da sentença, podendo surgir à direita em alguns casos. A maioria desses constituintes deslocados para o topo da sentença são argumentos e/ou adjuntos, o que nos faz acreditar que o PB – ao licenciar alçamentos que não são oriundos de argumentos como os de adjuntos – é uma língua orientada para o tópico, mas ao mesmo tempo confirmamos que o PB está inserido tanto em línguas de proeminência de sujeito quanto de tópico. Vimos também que as construções de tópico de sujeito, apesar da baixa ocorrência, já estão instanciadas na gramática de missivistas nascidos na segunda metade do século XIX, além de identificarmos em nossa amostra o período em que as construções específicas do PB apareceram na escrita dos missivistas, tendo como critério a data de nascimento. As construções de tópico locativo, tópico sujeito e tópico cópia, típicas do PB, surgiram na gramática dos autores das cartas particulares desde o século XIX. Em relação às construções de tópico que não foram tipificadas pela literatura, vimos que essas estruturas podem ser consideradas contruções de tópico marcado, devido ao fato de as línguas de tópico, assim como o PB, não sofrerem nenhuma restrição em relação ao constituinte que assume a posição do tópico na sentença, uma vez que nessas línguas qualquer elemento pode ser um tópico, tais como argumentos e adjuntos. Percebemos também que as novas estruturas encontradas em nossa pesquisa são dos tipos de topicalização de objeto direto, topicalização de complemtneo nominal e duplo sujeito, mas estas diferem das outras adotadas ao longo de nosso trabalho. Durante a análise, identificamos construções de topicalização de objeto direto com características de tópico pendente, deslocação à esquerda clítica e com quantificador. Já em relação à topicalização de complemento nominal, constatamos que alguns termos topicalizados dessa construção foram alçados para a cabeça da sentença sem a presença de preposição, pois nessas estruturas a preposição é alçada juntamente 82 com o NP. Quanto ao duplo sujeito, verificamos uma ocorrência preenchida por um pronome demonstrativo, visto que essa construção tem sempre um pronome pessoal como correferente do termo topicalizado. Verificamos que as construções de tópico podem ocorrer tanto em sentenças básicas quanto em encaixadas, mas para que esses constituintes no topo da sentença sejam tópico marcado deve ser um NP ou PP, externo à sentença, normalmente já ativado no contexto, sobre o qual se faz uma proposição por meio de um comentário. Durante o levantamento dos dados, identificamos a nacionalidade dos missivistas e, ao mesmo tempo, percebemos que essas construções de tópico marcado não só ocorrem na escrita dos missivistas de classe baixa e de pouca escolaridade, como também aparecem na escrita de missivistas de classe alta e escolarizados. Pontes (1987) verificou que tanto em língua escrita quanto oral há mais construções de topicalização do que deslocamento à esquerda. Da mesma forma, verificamos em nossa amostra que construções de topicalização são mais frequentes, visto que essas estruturas deixam uma categoria vazia no interior da oração. No entanto, a mudança em uma gramática se dá a partir de construções inovadoras, as quais serão, primeiramente, produzidas na fala para, posteriormente, inserirem-se em textos escritos, isto é, “constatamos que a fala de duas pessoas é idêntica, por isso segue-se naturalmente que, se tomarmos manuscritos de dois períodos, seremos capazes de identificar as diferenças e assim apontar a “mudança” linguística”20 (LIGHTFOOT, 2002, p.496). Portanto, em nossa amostra as construções de tópico marcado, sobretudo as típicas do PB, são reveladas na gramática dos missivistas brasileiros nascidos nos séculos XVIII, XIX e XX, através dos textos escritos – representativos da língua-E – os quais usamos para teorizar acerca da competência linguística dos autores, isto é, queríamos saber se essas construções já estavam instanciadas na língua-I dos missivistas e constatamos que as construções de tópico marcado se encontram presentes na mente/cérebro dos escreventes e que elas não sofrem restrições em relação à natureza do constituinte que ocupa a posição do tópico no PB. 20 We note that the speech of two people is identical, so it follows naturally that if one takes manuscripts from two eras, one will be able to identify differences and so point to language ‘change’. 83 BIBLIOGRAFIAS ARAÚJO, Edivalda. As Construções de Tópico. In.: LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (Orgs.). O português afro-brasileiro. 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Cartas 1 Félix de Gusmão Mendonça e Bueno FGMB PHPB-RJ 1 2 José Frias de Vasconcelos JFV PHPB-RJ 1 3 Jozé da Silva Lisboa JzSL CB V1 CD1 208 5 4 Visconde da Torre VT CB V1 CD1 208 1 5 Romualdo Arcebispo da Bahia R/AB CB V1 CD1 208 1 6 Visconde de Sapucahy VS CB V1 CD1 208 1 7 Visconde de Olinda VO CB V1 CD1 208 1 8 Miguel Calmon du Pin e Almeida MCPA CB V1 CD1 208 3 9 José Joaquim Fernandes Torres JJFT CB V1 CD1 208 1 10 Basto Luiz Paulo de Araújo BLPA CB V1 CD1 208 6 11 Patrício Correia Camara PCC CB V1 CD1 208 1 12 Epifânio da Fonseca Dórea e Menezes EFDM CB V2 CD1 242 1 13 Theodósio Paiva TP PHPB-RN 1 14 Maria [Mª Luiza W. de Araújo Pinho] M[MLWAP] CB V2 CD2 102 3 15 Antonia Thereza Wanderley ATW CB V2 CD2 102 9 16 João de Paiva JP PHPB-RN 15 17 Carlos Arthur da Silva Leitão CASL CB V2 CD1 242 1 18 João da Costa Pinto Dantas JCPD CB V2 CD1 242 1 19 Gileno Amado GA CB V2 CD1 242 1 20 Lulu [Mª Luiza W. de Araújo Pinho] L[MLWAP] CB V2 CD2 102 1 21 Joaquim de Santanna Lima JSL CB V2 CD1 242 1 22 João da Costa Pinto Dantas Jr. JCPDJr CB V2 CD1 242 1 23 Filinto Muller FM CB V2 CD1 242 1 24 Aloysio Lopes de Carvalho Filho ALCF CB V2 CD1 242 3 25 Virginia Ottoni Vieira de Araújo VOVA CB V2 CD2 102 1 26 Aracy Leonardo Pereira ALP CB V2 CD2 102 6 27 José Alves Trindade JAT CB V2 CD1 242 1 28 Lourival Rocha LR PHPB-RN 8 29 João Pitanga Carneiro JPC CB V3 91 1 30 Manoel Carneiro de Oliveira MCO CB V3 91 1 31 Maria Ruzinete Rodrigues Dantas RD PHPB-RN 2 32 Zulmira Sampaio da Silva ZSS CB V3 91 1 33 Lenizete Carneiro Silva LCS CB V2 CD3 79 1 34 Elzinete Carneiro Magalhães ECM CB V2 CD3 79 1 35 Ana de Jesus AJ CB V2 CD3 79 1 90 36 Regina Célia Siqueira dos Santos RCSS CB V2 CD3 79 3 37 Litiere Costa LC CB V2 CD3 79 1 38 Nelson Francisco Araújo NFA CB V2 CD3 79 2 39 Rosa Argentina RA CB V2 CD3 79 1 40 Valdecy Lopes Carneiro VLC CB V2 CD3 79 1 41 Ângela Margarida Mesquita AMM CB V2 CD3 79 2 42 Iraildes Carneiro de Oliveira ICO CB V3 91 1 43 Cleunice Farias CF CB V2 CD3 79 1 44 Adelmário Carneiro Araújo ACA CB V2 CD3 79 1 45 Doralice Carneiro Oliveira DCO CB V3 91 1 46 Ana Helena Cordeiro de Santana AHCS CB V3 91 1 91 Quadro 2: Autores e suas respectivas cartas particulares Informantes Nº Carta Data da Carta Córpus Quantidade João de Paiva 1 11/03/1916 PHPB-RN 15 2 11/04/1916 PHPB-RN 3 21/06/1917 PHPB-RN 4 18/07/1917 PHPB-RN 5 02/10/1918 PHPB-RN 6 06/01/1919 PHPB-RN 7 05/08/1919 PHPB-RN 8 15/10/1919 PHPB-RN 9 16/02/1921 PHPB-RN 11 18/02/1922 PHPB-RN 12 09/06/1922 PHPB-RN 13 10/03/1923 PHPB-RN 14 15/06/1923 PHPB-RN 15 04/07/1924 PHPB-RN 16 08/09/1924 PHPB-RN Theodósio Paiva 10 09/10/1921 PHPB-RN 1 Lourival Rocha 18 17/02/1946 PHPB-RN 8 19 16/12/1946 PHPB-RN 20 27/05/1947 PHPB-RN 21 13/09/1947 PHPB-RN 22 07/04/1949 PHPB-RN 24 24/01/1965 PHPB-RN 25 16/04/1965 PHPB-RN 26 20/05/1972 PHPB-RN Rusinete Dantas 17 27/12/1946 PHPB-RN 2 23 14/04/1951 PHPB-RN Aloysio Lopes de Carvalho Filho 47 20/01/1934 CB V2 CD1 242 3 48 13/02/1935 CB V2 CD1 242 49 28/09/1949 CB V2 CD1 242 Carlos Arthur da Silva Leitão 50 12/05/1948 CB V2 CD1 242 1 Epifânio da Fonseca Dórea e Menezes 51 01/05/1939 CB V2 CD1 242 1 Filinto Muller 52 12/12/1962 CB V2 CD1 242 1 Gileno Amado 53 16/09/1948 CB V2 CD1 242 1 João da Costa Pinto Dantas 54 05/06/1933 CB V2 CD1 242 1 João da Costa Pinto Dantas Jr. 55 15/03/1926 CB V2 CD1 242 1 Joaquim de Santanna Lima 56 03/04/1955 CB V2 CD1 242 1 José Alves Trindade 57 26/01/1956 CB V2 CD1 242 1 92 Antonia Thereza Wanderley 58 03/02/1917 CB V2 CD2 102 9 59 14/08/1922 CB V2 CD2 102 60 26/12/1922 CB V2 CD2 102 61 04/02/1923 CB V2 CD2 102 62 12/02/1928 CB V2 CD2 102 63 19/10/1933 CB V2 CD2 102 64 04/07/1934 CB V2 CD2 102 65 02/05/1938 CB V2 CD2 102 66 06/02/1939 CB V2 CD2 102 Aracy Leonardo Pereira 67 10/11/1944 CB V2 CD2 102 6 68 07/03/1951 CB V2 CD2 102 69 24/03/1952 CB V2 CD2 102 70 04/05/1955 CB V2 CD2 102 71 02/06/1955 CB V2 CD2 102 72 08/07/1955 CB V2 CD2 102 Lulu [Mª Luiza W. de Araújo Pinho] 73 05/11/1924 CB V2 CD2 102 1 Maria [Mª Luiza W. de Araújo Pinho] 74 26/05/1918 CB V2 CD2 102 3 75 11/06/1919 CB V2 CD2 102 76 22/06/1923 CB V2 CD2 102 Virginia Ottoni Vieira de Araújo 77 25/03/1934 CB V2 CD2 102 1 Adelmário Carneiro Araújo 78 14/01/1980 CB V2 CD3 79 1 Ana de Jesus 79 09/05/1990 CB V2 CD3 79 1 Ângela Margarida Mesquita 80 12/03/1980 CB V2 CD3 79 2 81 01/11/1980 CB V2 CD3 79 Cleunice Farias 82 15/08/1990 CB V2 CD3 79 1 Elzinete Carneiro Magalhães 83 20/10/1980 CB V2 CD3 79 1 Lenizete Carneiro Silva 84 12/02/1980 CB V2 CD3 79 1 Litiere Costa 85 25/08/1980 CB V2 CD3 79 1 Nelson Francisco Araújo 86 02/09/1980 CB V2 CD3 79 2 87 22/07/1980 CB V2 CD3 79 Regina Célia Siqueira dos Santos 88 12/06/1980 CB V2 CD3 79 3 89 02/07/1980 CB V2 CD3 79 90 24/09/1980 CB V2 CD3 79 Rosa Argentina 91 24/03/1980 CB V2 CD3 79 1 Valdecy Lopes Carneiro 92 10/01/1980 CB V2 CD3 79 1 Manoel Carneiro de Oliveira 93 21/03/1955 CB V3 91 1 João Pitanga Carneiro 94 ? CB V3 91 1 Doralice Carneiro Oliveira 95 ? CB V3 91 1 Iraildes Carneiro de Oliveira 96 23/09/1976 CB V3 91 1 Zulmira Sampaio da Silva 97 03/08/1970 CB V3 91 1 Ana Helena Cordeiro de Santana 98 18/07/1975 CB V3 91 1 93 Jozé da Silva Lisboa 27 16/09/1809 CB V1 CD1 208 5 28 09/04/1810 CB V1 CD1 208 29 09/07/1810 CB V1 CD1 208 30 15/09/1810 CB V1 CD1 208 31 16/03/1812 CB V1 CD1 208 Visconde da Torre 32 20/01/1835 CB V1 CD1 208 1 Romualdo Arcebispo da Bahia 33 22/06/1840 CB V1 CD1 208 1 Visconde de Sapucahy 40 22/03/1860 CB V1 CD1 208 1 Visconde de Olinda 41 03/04/1854 CB V1 CD1 208 1 Miguel Calmon du Pin e Almeida 42 24/11/1851 CB V1 CD1 208 3 43 16/03/1853 CB V1 CD1 208 44 25/11/1853 CB V1 CD1 208 José Joaquim Fernandes Torres 45 04/11/1866 CB V1 CD1 208 1 Basto Luiz Paulo de Araújo 34 01/04/1828 CB V1 CD1 208 6 35 21/10/1828 CB V1 CD1 208 36 30/11/1828 CB V1 CD1 208 37 25/01/1829 CB V1 CD1 208 38 14/02/1829 CB V1 CD1 208 39 17/11/1829 CB V1 CD1 208 Patrício Correia Camara 46 14/05/1864 CB V1 CD1 208 1 Félix de Gusmão Mendonça e Bueno 99 02/08/1720 PHPB-RJ 1 José Frias de Vasconcelos 100 30/08/1782 PHPB-RJ 1 94 ANEXOS Carta 01 Monte Alegre 11 de Março de 1916 || Theodósio || Tive pelo compadre Miguel Mandú sua carta | de 4 deste mes e sciente do que nella me dizia. || Caiçara vai muito bem chuvida e o pre- | juiso em gado ja adias desapareceu. || Por aqui e a onde tenho sabido o inverno | tem cido torrencial, mesmo assim a largata | ja está estragando as lavourinhas. || Com muita dificuldade pude botar até | 5ªfeira desta semana 110 fardos de algodão na esta- | ção de São José e logo que tenha avise de terem | cido recebido irei até ahi fechar o meu ne- | gocio com João Tinoco. || O Padre Antônio foi hontem a noite, em sua | casa, agredido pelo ex. padre Irineu Jalles, que | tentou [inint.], sendo em continente atra- | cado pelo padre Antônio, que para desarmal-o foi pre | ciso jogalo ao chão, recebendo o Irineu um | leve ferimento na testa, proveniente da queda || Fiz esta semana a muda das mangueiras | e ficou, sobrando apenas 12 mangueiras, muito para | que ainda não plantei no Quirambú. || Minhas recommendações a todos de casa || Irmão Amigo e Obrigado || João de Paiva Carta 02 Monte Alegre 11 de Abril de 1916 || Theodosio || Comesso esta accusando as suas de | 5 e 8 de Abril corrente. || Recebi os dois sacos de arrois e um de se- | mente de capim gordura, o que pedimos de levar | ao conhecimento do Governador e por nós agradecer lhe | muito esta finesa. || Sciente da verba para o levantamento do a | terro da lagoa Quirambú. || Ainda esta semana não aparecerei | ahi, alem de muitos atropellos estou com | um túmor em um braço, que ja está | superando. || Sim, por esquecimento ja não tinha | lhe fallado de ter armado a coberta da casa | e mudado a lança, ficando tudo bem. || Arrumamos com o resto das taboas das | portas da casa da escola vinte carteiras | para a mesma, com assento para dois meninos em | cada carteira. || Muita falta de chuva aqui, o sertão | vai indo regulamente chuvido. || Carta 03 Monte Alegre 21 de Junho de 1917 || Theodosio || Tive por Tonho sua presada car- | ta de hontem datada de cujos diserce ficar | sciente. || Tonho chegou em pás com todos da | família, fasendo boa viagem. || A banheira ainda não tinha reti- | rado de sua casa, podendo estar la pelo | tempo que Tonho aqui se demorar. || Acho que ainda faço de 116 a 120 | fardos de algodão, tendo 90 fardos prepara- | dos, e algodão aproximadamente para 30 fardos, | sem comprendendos 19 fardos do algodão | da Varsea Redonda. || Junto conhecimento de um saco de | milho verde, para a canjica de São João. || Só 3ª feira vindoura terminarei com a | limpa do nosos lastro, assim poderei | ir até <↑ahi> na 6ª feira d´aquella semana, | ou mesmo na quarta feira. || Com o milho vai um gerimum || Minhas saudades a todos de casa || Irmão e Amigo || João de Paiva 95 Carta 04 Monte Alegre 18 de Julho de 1917 || Theodosio || Sem carta sua a responder, vou | por meio desta pedir <↑lhe> para ver se colloca 40 | fardos de algodão a preço de 35 mil réis [inint.]. || Quando Tonho estive ahi ultimamente | o [inint.] offereceu este preço para a partida | que quisesse vender até na próxima 2ª feira. || Firmando negocio seja para entrega || o algodão na estação de Papary. || Lupicino está trabalhando a toda | mais penço não conseguirá terminar esta sema- | na, são dois remendos e aborrecidos por serem | dentro da fornalha. || Trabalhei muito com a machina estan- | do ja quase bôa, pelos menos não castiga | mais na costella, como era outro [inint.]. || Toda sua mocidade, Tonho sempre | satisfeito com toda família. || Nossas saudades a vocês. || Irmão e Amigo || João de Paiva || Carta 05 Monte Alegre, 2 de outubro de 1918 || Theodosio || Pelo compadre Horacio me foi entre- | gue sua carta de hontem datada, de | cujos diseres fico sciente relativamente | o negocio do algodão. || Quanto aos 60 fardos que desejava | vender esta semana o melhor será | esperar um pouco, uma ves que não se | consegue colocall-o de 58:000 réis a 60 000 réis || Por ser um grande transtorno suspen- | der com a compra de algodão resolvi baixar | o preço para 15:000 réis, cujas compras são qua- | se nenhumas, pois os vendedores estão na | espera de uma melhora. || A tintas que mandei fallar para | a barra de sua casa ?, o quadro do terraço | que cor deve se dar nas paredes? || Minhas saudades a todos de casa | Irmão e amigo | João de Paiva. Carta 06 Monte Alegre, 6 de Janeiro de 1919 || Theodosio || Por Antonio tive sua carta | de hontem, os jornais e um pacote de | vernis para a limpiza dos bancos da escola. || Que a presente só encontrar Quin | quina em continuação de melhora, são os meus | votos. || A pesar de ter você mandado me diser | que bastava mandar Horacio na próxima | 4ª feira, resolvi mesmo assim mandar logo | hoje, para no caso de puder obter o dinheiro dos | 40 fardos de algodão mandar amanhã pelo | mesmo Horacio, pelo preço que estiver. || Hontem tive uma boa entrada de | algodão, 162 arrobas, e Serviços contratos para rece- | ber esta semana, tanto que seria bom | fechar preço para 100 fardos, pois tenho muito | compromissos a satisfaserem por este més. || Vai o cavallo de Aureo, os carneiros irão | de outra vés. || Dê por fora da carta dusentos mil | reis a Horacio para na saida pagar uma | conta em São José. || Minhas saudades a vocês e Tonho | Irmão e Amigo. || João de Paiva. Carta 07 Monte Alegre, 5 de Agosto de 1919 || Theodosio || Confirmo minha carta de hontem por | José Carambola e estou como prometti nella, escre- | vendo para ir pelo compadre Miguel Mandú que se- | gue hoje; não tendo ido hontem pelo muito inverno | que tivemos por aqui. || Os algodões vão muito bons, prometendo uma bôa sa- | fra, se for aparecendo este chuveiro até o fim | deste mes. || Ja comprei de outro dia para ca 21 bois e | temos entres contratados. || A febre no gado tem atacado <↑com> muita fúria | tanto que hontem perdi um boi manço, felismente | o gado da varsea Redonda ainda vai em pás. || Quanto ao locomovel que me dis estar ser- | to em pedir acho que só o deve 96 fazer se for | por preço muito commodo, do contrario tirarei a sa- | fra mesmo com o motor, embora fasendo pouco. || A vacca surubim deu cria a semana passa- | da mas foi logo atacada da febre, sucedendo as- | sim perder a cria. || Os 8 saccos de caroço de seu pedido mando a | manhã para a estação e pelo um sacco com feijão vez de gerimú [?]. Saudades a todos | Irmão e Amigo João de Paiva. Carta 08 Monte Alegre 15 de Outubro de 1919 || Theodosio || Tive esta semana suas cartas data- | das de 12 e 13 deste mes, vinda com a ulti- | ma, pelo compadre Miguel Mandú, a inspção de | 1:309 000 mil réis, resto do producto de 20 fardos de | algodão que vendemos a Faselli, na semana finda. || Com relação ao gado de Tonho podemos com- | prar mesmo a 170:000 réis por cabeças, [inint.] porem, que | só podemos tirar para aqui no comesso de janeiro | quando se desocupar o sercado do Olho d´agôa, | pois o da Varsea Redonda não suporta mais gado alem do que ja tem. || O gado ultimamente tem declinado um pouco | em preço, o que tem dado lugar a baixa de carne | de sol nas feiras aqui por fora. || Apareceu algum carrapo aqui nos gados do | campo, mas está quase extintos. || Os nossos serviços vão felismente, muito promette- | dores. || Espero terminar com o conserto da caldeira| na próxima semana, e entrarei logo com desça- | roçamento pois está entrando <↑algodão> e vai a melhorar, | tanto que precisa vender mais vinte carro de | algodão para botar na semana seguinte, e por con- | ta delle presizo logo 3:000 000 mil réis que a ser possi- | vel mande pelo compadre Alfredo Xavier, se conseguir | com Faselli, dita quantia. || Estou no trabalho do tijollo e só para a semana comessarei | no da estrada, do jardim a São José. Carta 09 Monte Alegre, 16 de Fevereiro de 1921 || Theodosio || Por Amaro Marques me foi entregue | hontem os 6:000 mil réis de meu ultimo pedido, a | meu debito. || Tivemos aqui muitas boâs chuvas de ante- | hontem para hontem, como ainda não tínhamos | tido este anno, tanto que estou supondo | que o rio desta ves botará alguma agôa. || Junto a isto irão em conhecimen<<↑to> de 20 | fardos de algodão com 1.608 kilos. || Julio Ferreira veio d´ahi na 5ª feira da | semana finda um pouco animado. Tanto que| comprou aqui a Theophilo uma partida de | algodão a 10:000 réis, preço para lã de 28:000 réis. || Pela muita falta de carro não mandei | mais caroço para a [?] Fahil. || A caldeira ficou funcionando bem | com o conserto que fiz ultimamen<↑te>, estou tirando | agora 15 fardos diarios. || O Padre Antônio esteve aqui na 2ª feira desta | semana, vacinou 231 pessôas, aproveitando o encei- | jo da estada delle mandei dar a benção em | nossa caza. Minhas saudades a vocês. || Irmão e amigo || João de Paiva. Carta 10 Natal, 9 de Outubro de 1921. || João de Paiva || Recebi a sua cartinha de ante-hontem datada, | a qual respondo. Teu [inint.], [?] [inint.] tivemos podido ir agora para | ahi, como tinhamos projectado, em consequência | da agitação politica de São José, resolvi renun- | ciar o resto da licença em cujo gogo me | achava e aguardar outra opportunidade | de menos abulição e que eu possa descançar so- | cegadamente, pois me sinto muito fraco e abatido. | Continuo firme na minha neutralidade, em tratando- | se do 97 movimento politico de São José, pois não quero | e não queria eu <↑inint.> tomar mais parte em semelhante | carga; o meu nome não pode figurar em couza | alguma se referido movimento porenquanto não constitui | nenhum procurador para tal fim. || Quanto ao seu modo de agir politicamente nunca | exigi a você couza alguma com quebra de seu | caracter, não é assim? Pois se há quem as- | sim pense está perdendo o seu tempo e o seu latim. || A nossa amisade da qual já lhe tenho dado| sofradas provas da maior estima e <↑acusação> ------ [fol. 1 v] | -------- | ----, não pode ser prejudicada, nem posta | em duvida, por essas tricas de politicagem | da roça, e a seu tempo conversaremos a respeito | de tudo quanto se vai passando actualmente. Carta 11 Monte Alegre, 18 de Fevereiro de 922 || Theodosio || Tenho presente suas cartas de <↑14 e> 16 de | fevereiro corrente que estou respondendo. || Sciente da pretensão do machante | Manoel Eugenio. || Ja vendi do nosso gado 32 bois | a 19:000 reis e 20:000 reis. || Pela muita falta de gado gordo pare- | ce que a carne vai dar ainda muito | do que ja está dando, uma ves que o ser- | tão ja está sem gado de apuro. || Ante-hontem cahiram aqui umas chu- | vas bem regularis, que dá para ir manten- | do a rama que ja estava bem murcha. || Tudo sem novidade || Minhas saudades a vocês. || Irmão e Amigo || João de Paiva || A Tonho que recebi a carta delle pedin- | do para indagar dois burros para comprar e | as depois um recado por Jm. De Souza | desistindo da encommenda, foi mesmo isto? Carta 12 Monte Alegre, 9 de Junho de 1922 || Theodosio || Pelo Sr. José Carambola me foi entre- | gue sua carta de ante-hontem datada e | a vacca com a cria que veio por elle e | pelo mesmo vai a vacca crioula com a cria | e os 2 cavallos, seu e de Tonho. || Escrevi-lhe esta semana, mas | a postada da carta não pegou o trem | de 4ª feira para fazer seguir dita carta | que botou-a no correio para ir na malla | de hoje. || Por aqui tudo em pas, sem- | pre muito inverno, mas pouca lavoura, tanto | que o feijão seco aqui ainda está dan- | do 1:800 e 2000 reis a cuia. || Minhas saudades a vocês. | Irmão e Amigo || João de Paiva. Carta 13 <↑/80/ producto de um boi de | 180[?]000 Aureo > || Monte Alegre, 10 de Março de 1923 || Theodosio || Tive esta semana sua cata de 4 | de Março corrente e sciente do que nella me disse; | bem como da transferença do cazamento de | Aureo, do dia 11 para o dia 12, 2ª feira proxima. || Junto 180 mil réis producto de um boi que | vendi de Aureo. || Estive esta semana com Aninha, a- | chei-a muito abatida, dezanimada mesmo, sendo | gravíssimo o estado della. Estive tambem lá no mesmo dia, de minha estada, Vicentinha e o Padre | Antônio, este ficou para voltar no outro dia | pedois 21 de celebrar mesmo nas [inint.]. || Pelo compadre José Herculano, portador des | ta, mando 2 caixões de mangas para voceis. || Na proxima semana é que vou lhe | mandar o resto do caroço de seu pedido, | quando Julio tem de descaroçar um | resto de algodão que ainda tem em deposi- | to. || Minhas saudades a vocês. || Do Irmão e Amigo || João de Paiva 21 Depois. 98 Carta 14 Monte Alegre, 15 de Junho de 923 || Theodosio || <↑Lançado em | 15 junho 1923> || Tive sua carta de hontem | datada que estou responden- | do. || Como vou mandar vender | hoje ahi umas cargas de farinha | nesta condução mando-lhe | logo duas cargas de caroço e | na próxima semana man- | darei outras [inint.], fasendo | assim as 40 arrobas de seu | pedido. || Ja estou completamente | bom do refluxo que tive | [fol. 1v] ultimamente. || De farinhada vou bem, | a roça está rendendo | como nunca vi, em seis | cargas tenho feito de 92 a | 96 cuias de farinha. || Ante hontem, sabado chu- | veu aqui torrencialmente, | tanto que [inint.] tem | preparada ja está plan- | tando. || Será possivel se encon- | trar ahi para comprar 1 ½ | metro de gacheta de [inint.], roliça, de uma que você me deo | um pedaço, já a tempos? || [fol. 2r] no caso affirmativo indique | a caza ao compadre José Herculano para | elle ir comprar o dito artigo || Junto uma conta de [inint.] | (1:000 mil réis) que levará a meu | vredito. || Aqui tudo em pas || Minhas saudades a vocês. || Do Irmão e Amigo || João de Paiva Carta 15 Monte Alegre, 4 de Julho de 1924 || Theodosio || Por muito atropello de trabalho ja não | tinha respondido suas cartas desta e da | semana ppassada, o que hoje estou fasendo. || Sciente da remessa das 3 latas de | peixe, de meu pedido. || Esta semana foi que pude dar co- | messo a caiação de sua caza, que fica- | rá prompta antes do fim da próxima | semana, podendo assim vir o pintor | da hi logo na semana vindoura. || Os caminhos ja estao muitos enchutos, | pois adias que não temos tido muita chuva | nenhuma por aqui, felismente, só no | rio é que a passagem ainda não está | muito bôa, mas com mais dias ficará. || Diga a Quinquina que mande | João Inácio procurar ahi na feira <↑do domingo> o compadre | Jorge Vicente, para receber delle as rendas | que ella mandou para eu fazer aqui, | que mandarei por elle a, referidas rendas. || Minhas saudades a vocês. || Irmão e Amigo || João de Paiva Carta 16 Monte Alegre, 8 de Setembro de 1924 || Theodozio || Com sua carta de hontem datada | fiquei sciente de ter Olga discançado com | bôa felicidade. Farei isto sciente a Carmi- | nha como me pede você. || Depois de minha vinda da hi ado- | eci do refluxo, que ja estava comessado, so | hoje foi que amanheci melhor delle, não sahi | nem mesmo mais o trabalho, temendo o sol | que tem cido muito forte. || Esta semana é que pretendo ir ao | Maracuja ver o que ha la quanto a estrago da | madeira, para então fallar, se for precizo com | o padre. || Hontem fiz a primeira feira de algodão | comprando 160 Kilos. || Vendi a S.A. VV [inint.] Pedroza, 4000 Kilos | de lã a 5:000 réis, para entregar no correr de Outubro | o que suponho fazer sem atropello, como fez que | o artigo tem estado dezanimando. || Por aqui tudo em pas || Minhas saudades a vocês. || Irmão e Amigo. João de Paiva. Carta 17 Patú 27 de 12 de 1946 || Lourival. || [espaço] Saudades! || Tenho tanto que contar-te e | contudo não sei como comessar esta carta || Cupri-me¹ o dever de responder | tua 99 mimosa cartinha, que veio suavisar | o meu coração pungido pelo punhal | cruciante da saudade! || Lourival, no Sábado, proximo | passado, realisou-se o nosso almejado | comício, este foi esperado em frente de | nossa residencia, o qual, foi um de- | lírio! Gente, aquí, nunca se viu tanta! | Todos, comportavam na mão, uma ban- | deira do retrato do Des. Floriano, | entoando este referido nome com a | maior vibração. || Ocupou a tribuna o ilustre | jóvem Édson Almeida, que em | nome dos representantes dos partidos, | homenageou a figura democrática do emi- | nente Des. Floriano, que logo após fez | o seu deslumbrante descurso incu- [fol. 1 r] || tindo na alma sertaneja, verdadei- | ros sentimentos de fé, de verdadei- | ra luz do porvir de nossa terra; | falou o deputado José Augusto, Mon- | senhor Mata, Dr. Chiquto² Veras, Ca- | pitão Farias e o Deputado Café Filho | que encerrou o comicio; logo serviu-se | o jantar e terminando seguiram a | Almino-Alfonso. || Voltaram pelas 9 horas, per- | noitaram em nossa casa, e regressaram | pelas 7 da manhã. || Lourival, na noite do co- | micio Maria Lira organisou um | baile no grupo, então exigiram | que o papae fosse comigo e eu | para satisfazer ao papae que in- | sistiu fortimente para me levar, | fui, mas só dansei com as | minhas amiguinhas: não me saías | da imaginação um só momento. | Festa foi muita, más não para | mim, pois hoje só tenho no | coração a tua imagem | Como não quero te mas- [fol. 2 v] || sar muito, vou terminar agra- | decendo os votos de boas festas | e feliz ano novo, e desejando que o mesmo ano te proporcione a | maior soma de felicidades!... || Sem mais subscreve-se a tua sincera || Ruzinete Dantas. [fol. 3 v] Carta 18 Mumbaça, 17 de fevereiro de 1946 || Netinha: || [espaço] Saudo-te. || Acabando de chegar ao ponto | aonde devo ficar possivelmente | por quatro meses, passo às tuas | mãos, as minhas noticias. || Quizera eu ser um poeta | nesta hora, um verdadeiro | poeta para descrever com | sentimento o que senti quan- | do daí partí é, especialmente | quando viajava, chegando à “Patú” olhando para a rua sen- | tí o punhal do amor ferir- | me mesmo no intimo do | coração. Mas não perdi | a esperança, os dias correm | até que o tempo chega, pois, | o passado nêgro não quero ja | mais, apelo para tu, para o | futuro para que o meu sonho | sêja realizado. || Netinha; aqui é tal [ilegível] [fol. 1 r] | a Fernando-de-Noronha, os | dias são longos e as noites | invariavelmente incipidas. || Aqui vou terminar para | que os períodos não fiquem | impenetraveis. || Espero ser correspondido | e sinceramente subscrevo- | me || Do... || Lourival Rocha. [fol. 2 v] Carta 19 Páu-dos-Ferros, 16 de dezembro de 1946. || Netinha: || [espaço] Saudades. || Tenho em mãos a tua cartinha, a que recebi com satis- | fação, vendo a imagem dos teus pensamentos ligados ao meu | coração. Não é possivel descrever as saudades dos dias que | ai passei... Talvez que, descrevendo, fosse um grande ro- | mance na estoria Brasileira. Para mim os dias se tornsfor- | maram¹, as noites duplicaram os tamanhos, são intoleraveis. || Quanto é dessagradavel viver loge de quem se ama!... Aqui | tenho um unico prazer para minhas horas de folga, é olhar | para o teu retrato, é mesmo que está vendo, quando ponho | em minha mãos, que vejo os teus olhos, sinto no intimo do | coração as tuas palavras; quanto é belo recordar o passado | de uns dias felizes!... Mas dias se passam... || Retratos: estou anexando um meu retrato e uma reprodução | do teu, apesar de ter recomendado o maximo, achei que não | ficaram como o original, portanto, deixo de enviar como pro- | meti porque vou mandar para Manoelito fazer a reprodução e | depois entregarei pessoalmente, o meu tambem não gostei, | visto que ficaram com 100 uma mancha nos oculos, isto é, no vi- | dro do lado direito. || Mudamos de assunto: recebi o teu convite para o comicio | de 21 deste, mui grato, não vou porque é humanamente impos- | sivel, aqui foi uma coisa extraordinaria, a vibração foi | desmarcada, quase não havia os descursos com o povo gritan- | do Café Filho, Floriano, Zé Augusto e Monsenhor Mata, lamen | to bastante não assentir ai mas credito que a vibração vai ser | identica. || Aqui vou terminar ficando para com a vista o restan- | te. || [espaço] Do seu... || Lourival Rocha | “AS FLORES AINDA NÃO MUCHARAM” | Sempre... Carta 20 Mossoró, 27 de Maio de 1947. || Netinha: || Saudades. || Recebi tua cartinha de tudo estou ciente e quanto ao nosso | caso concordo com a opinião do tio Amadeu; pois, quando estava ai | falei adiantando isto mesmo. Até tinha muita vontade de ir hoje pelo | trem e voltar amanhã, mas não é-me possível, tenho umas cousas que | conversar de muito nosso interesse. || Pelo tio Oliveira estou remetendo a pulseira dividamente conser | tada, já desenganado de que não encontrava a molazinha arranjei com | Lula para tirar de uma volta e botar na mesma referida. || Talvez vá à Páu-dos-Ferros esta semana, não sabendo quando de | vo regressar, se assim acontecer possivelmente demore ir ai. || Sem mais do teu noivo e admirador. || Lourival Rocha Carta 21 Páu-dos-Ferros, 13 de s[e]tembro de 1947. || Netinha: || Saudades. || A dias que era para escrever, mas estava deixando para | quando recebesse o resto dos nossos moveis; pois, queria eu dar | melhor impreção dos mesmos, já recebi quase tudo, falta apenas | uma mezinha que mandei fazer para o Filtro, esta que é tambem | de um pé como a mesa grande. || Fiquei bastante satisfeito com os referidos, as poltro | nas ficaram uma maravilha, enfim tudo com perfeição. Agora | mesmo acertei com tio Amadeu, para mandar Antonio Lira, esta | semana, para ficar em meu lugar aqui, enquanto vou à Mossoró | comprar umas louças que me falta, esta viagem tenho que fazer | quarta ou quinta-feira, e ele ficará aqui até o dia 24, quando | devo regresçar. || A tia Fransquinha ficou maravilhada com nossos moveis, | dizendo ela que iria mandar fazer pelo rapaz, uns que lhe falta. | Mudamos de assunto; apesar dos trabalhos que são demais, cada um | dia para mim é um mês. || Aqui vou terminar, são quase 21horas, durante o dia, | meu tempo é bem resumido para os afazeres. || Sem mais, do teu NOIVO UM APERTO DE MÃO || Lourival Rocha. Carta 22 Mossoró, 7 de Abril de 1949. || Nega: || Meu abraço. || Recebi tua carta de tudo fiquei ciente, quanto ao caso da | saúde de Leny fiquei e bem satisfeito, sobre o seu caso de | saúde não perguntei porque escrevi até um pouco apressado e destraido | não é porque falte cuidado; pois, as destancias de tu para Leny é | para os meus cuidados a mesma sem nenhuma diferença. || Eu de ontem para cá estou bem melhorado, contanto que me cons-| sidero bom. Não é certeza, mais estou pensando que sábado irei no trem | e volto no de segunda, pois aqui estou trabalhando uma porção. || Caso seja possível, queiras dar noticias de todos. || Lourival Rocha. 101 Carta 23 Pau- dos-Ferros 14-4-1951. || Meu filho. || Saudades! || Recebi sua cartinha com a qual | fiquei bastante satisfeita pois há dias | que havias saído e ainda não tinhas | dado noticias de formas que não sabia | se ias até Patú contudo peço-te que fa- | cãs por vir o mais breve possível pois | estou anciosa que chegues apezar de que | talvez ainda não estejas com saudades| de casa. || Quanto ao meu estado de saúde | saberás pela carta que escrevi a Titia na | qual conto tudo, basta que diga-te: estive | muito duente mas graças a Deus já estou | bastante melhorada. Tião telegrafou para | Mossoró te avisando mas, certamente o | telegrama chegou depois que tinhas saído. | Quanto a Leni também não ficou boa do | braço pois que ainda não pode estira-lo direito. | A mesma envia-te beijinhos. Se quando | tiver de vir pois espero que não demorarás mais | se tiver transporte peço-te trazer Mamãe já que Titia obstina-se com não querer mais vir. || Sem mais aqui termino pedindo mais | uma vez o teu breve regresso e recebe um a- | braço saudoso de quem muito te ama. || Rusinete. || Se não puderes vir esta semana | escreva-me por Cícero Almeida. Carta 24 Belem, 24 de Janeiro de 1965. || Neguinha: || Saudades e meu abraço. || Tendo a certeza de que Oliveirinha | irá terça, passo a dar as minhas noticias. |Ainda estamos em faze de instalação da | firma o que terminaremos até o fim desta | semana se Deus quizer. O ponto custou | 8.500.000 (oito milhões e quinhentos | mil cruzeiros) agradecemos a Oliveirinha, | pois depois de tudo já botaram mais; | porém, Oliveirinha muito trabalhou pela | manutenção do negocio e tudo esta conso- | lidado, devemos receber o mesmo quarta | dia 27 se Deus quizer. Minha filha, | são 2 horas da tarde, desde ontem a | tarde estamos na Granja de Oliveirinha, | estou hospedado em sua residência o | mesmo não deixou que eu fosse para | outro canto, estes são ótimos e não sei | como agradecer a ele e sua esposa, | porém, Deus saberá retribuir tudo | em dobro. Oliveirinha e sua esposa devem permanecer alguns dias por | ai que vam batizar a pequena, recomendo | um tratamento que eles merecem. Para dizer | melhor, Oliveirinha aqui é considerado | um dos Homem de mais prestigio em | Belem, e sua situação é tam bôa que | so agente vendo de perto como eu | no momento. || Quanto a sua vinda para cá já estou | providenciando, pois tenho muitas saudades | de todos e muita precisão, mas; tenha | um pouco de calma; quero ver a | carreira do negocio para não sa- | crificar tanto. Mundico quer que | eu arrange uma casa um tanto | boa, pois; as vezes temos que receber | algum [inint.] em visitas e ele não | quer mal impressão da firma, muito | embora que aqui tudo é bem caro, | neste sentido, basta dizer que, Belem | é para Natal o que Natal é para | Mossoró ou com mais proporsão | ainda. É uma cidade bela. || Visitei a Igreja de Nazaré, é muito rica | e bela, por dentro quase a sua totalidade | é de ouro e o restante de mármore. As | ruas são totalmente asfaltadas, os | prédios grandes e bonitos, de um progresso | tão grande que so comparamos um | pouco com Recife e Fortaleza || Agora mesmo iremos para a cidade, | aqui na granja a finalidade é | o descanço depois da semana | de trabalho, tomar banho de | PICINA etc., pois Belem é de uma | vida muito ativa. || Já estamos na cidade; fomos | ao Museu, de la fui com Oliveirinha | olhar uma casa, esta é muito | boa e no centro, bem perto do | comercio mesmo de onde trabalho, | acho um tanto cara, estamos | em entendimento, a que tia Nenem | vai mora já esta certa, [inint.] | até dia 15 proximo, esta por enquanto | será 80.000 cruzeiros. || Desde já autorizo vender o motor | a dinheiro pelo preço que achar | o fogão, este não deve vender | este a preferência é de Oliveirinha | para madrinha Carmelita como | também 102 qualquer outros moveis | que ele intereçar, apenas | relacione que aqui acertaremos, | contanto que estes so deverão ser entregue | com sua saída quando eu estiver | aí. Precisa saber que nada podemos | trazer porque é muito longe e não | compensa nada, quando for levo apenas | a maleta com uma roupa para vir de | avião, é um pouco mais de 4 horas | de vou ótima viagem. || Terminando, um abraço e beijinhos | para você e os meninos, ainda não | recebi notícias. || Do Lourival Rocha Carta 25 Belém, 16 de Abril de 1965. || Seu Chico: || Meu abraço || É com muito prazer que mesmo roubando um pouco do tempo | dedicado as homenagens de N. Senhor Jesus Cristo, passo a fa- | zer esta cartinha para dar as nossas notícias. || Até o momento vamos passando bem e com saúde graças | a Deus, o Kennedy e Leny é que tiveram uma gripe muito forte | mas já estam melhores. A luta aqui é bastante grande quase | não tenho tempo para nada dado ao volume de negocio e as for- | malidades da escrita que é toda classificada para entrosamen- | to na Matriz. || Aqui ainda está chuvendo demais, quase todos os dias | é de maneira que até aborrece, os meninos para ir à escola e | eu para ir para o escritório temos dificuldade as vezes. || Agora mesmo estou recebendo uma partidad de açúcar | de 9. 500 sacos este já vem um pouco mais alterado os preços, | mas, acredito que remos ganhar alguma coisa, muito embora | que a crise é um pouco pesada. O óleo ainda não vendi todo | porque a praça está um pouco cheia do produto. || Mudamos de assunto, vamos tratar das coisas daí, recebi a carta do senhor na qual falou sobre o saldo de Honora|to Suassuna, achei que houve um engano porque eu comecei a | comprar leite a ele do dia 1º de julho para cá somente um li- | tro por dia, mostre a ele mas não faça muita questão porque | o certo é que mais Deus tem para nos dar. || MINHA CASA: por ipotese alguma deve alugar a minha CASA pois ela faz parte de um grande sacreficio que passei e | tenho-a como uma relíquia só para mim e o senhor, o mesmo | faça com os armazéns são nossos. || Aqui vou terminar, no próximo mês darei a posição de | nossos negócios com mais segurança, no momento a praça está | regular já vou vendo uns 5.500 sacos de açúcar nos deixa al- | guma coisa. || Sem mais para o momento, um grande abraço do genro e | recomendações a todos. || Do sempre Amigo || Lourival Rocha. Carta 26 Patu, 20 de Maio de 1972. || Nega: || Meu abraço. || Por motivo de doença estou mandando seu Chico, e pelo | mesmo estou remetendo uns quilos de carne, tenho pena de não | puder passar os meus 50 com você, mas; assim Deus quis, estou | com uma gripe impossível, esta noite passei a noite sentado na | rêde, porém; já estou melhor. Peço não vir com os meninos, aqui | além da gripe tem um sarampo muito forte, ainda esta semana mor- | reu um garoto com mais de 6 anos, mesmo assim na casa de José | tem duas pessoas doente de sarampo. Faleceu ontem a esposa de | nosso amigo Tonho sobrinho, o enterro é aqui em Patu. || Devo ir terça se Deus quiser, devo passar a semana por ai | quando direi tudo melhor. || Sem mais, beijos e abraços a todos || do sempre || Lourival Rocha. Carta 27 Illustrissimo Senhor Manuel Ignacio da Cunha e Menezes | Rio de Janeiro 16 de Setembro de 1809. | Esta serve de me ir recomeindar a lembran- | ça de Vossa Senhoria, 103 e dar lhe os parabens do seu | despacho que leva o Senhor Inspector geral | das Tropas, que tãobem muito abonou a Vossa Senhoria | para o Serviço militar. Ainda que todos reconhe- | [cão] [u]tilidade deste Serviço á Nação, todavia | não m[e] comprazo de ver a Vossa Senhoria implicado | em subordinação e disciplina e, sendo necessário | em serviços penosos, e destacamentos etc etc. | Já Participei a Vossa Senhoria da Mercê que Sua Alteza Imperial | fez a meu filho de hum Lugar de official | da Secretaria de Estado dos Negocios Estrangeiros | e de Guerra, onde Vossa Senhoria deve lansar Procuraçam. | Sua Comadre e minhas filhas se recomendão a Vossa Senhoria. | A Pessoa de Vossa Senhoria Guarde Deus muitos anos | De Vossa Senhoria | Amigo Obrigadissimo Criado | Jozé da Silva Lisboa Carta 28 Illustrissimo Senhor Manuel Ignacio da Cunha eMenezes | Rio 9 de Abril de 1810 | Amigo e Senhor. Já tenho escripto á Vossa Senhoria sobre | a sua causa. Esta ainda não está decidida | Não espero bom exito; pois hade ser Juiz | o Medico que está hoje nas graças de | sua Alteza, e que se acha tão favore- | cido. Como fala os professores de Medicina | nas Leis que tem sahido. Não espere | Vossa Senhoria melhoramento em remisso; pois | nem se concederá, e seria sem utilidade | e pouco politico. Bom será ter Vossa Senhoria | o peito bem preparado. Todavia, como tem | havido demora, tenha esperanças, ainda | que tenues. Adeus. | Saudades de todos desua casa | O senhor conde de Taparica já terá | escripto á Vossa Senhoria sobre o caso: | elle o venera e trata | como seu parente | De Vossa Senhoria | Adeus eobrigadissimo criado. | Jozé da Silva Lisboa. Carta 29 Illustrissimo Senhor Manoel Ignacio da Cunha e Menezes | Rio 9 de Julho de 1810. | O portador desta Jozé Joaquim da Costa he | o Procurador a quem confiei para maior se- | gurança a demanda deVossa Senhoria com o Sanches: | elle informará sobre o estado em que | se acha. Nenhuma esperança tenho de | melhoramento, quando Medico decide causa | de companheiro. Não lho fiz gratifi- | cação: porque ora parte para a Bahia, onde | espero que Vossa Senhoria o remunere como merece, | pois nesta terra de calmas e lamas, todo | o serviço he penoso. | Meu primo agora parte outra vez para a | Comarca dos Ilheos. Desejo que elle possa | prestar á Vossa Senhoria algum obsequio | Sobre a pretenção de Vossa Senhoria no pôsto, já | escrevi que o Senhor Conde de Taparica não | se interessava nisso com o Ministro da | Reparticão, porque lhe parece fora da | ordem, e receou comprometter o seu de- | coro com a negativa. Ainda que receba | muito favor do dito Ministro, jamais o incomo- | do em causa de seu Ministerio. | Aqui fico ao dispor de Vossa Senhoria a Sua Comadre | e minhas filhas se recomendao á sua bondade | De Vossa Senhoria | Amigo do Coraçao e Obrigado Criado | Jozé da Silva Lisboa. Carta 30 Illustrissimo Senhor Manoel Ignacio daCunha e Menezes | Rio 15 de Setembro de 1810. | Serve esta de participar aVossa Senhoria que os Embargos, | da sua causa com o Dr Sanches, se decidirão | contra Vossa Senhoria. Como a Lei naó admitte recurso, | he inutil pretender revista. O mais deixo á pers- | picacia de Vossa Senhoria. Sua Comadre, e todos de casa | nos recomenda-mos á sua bondade. Desejo á Vossa Senhoria | feliz saude, e boa s[?]fra, o seu contendor não | hade medrar com a extorçao: o peior mal he | 104 o exemplo. A Pessoa de Vossa Senhoria guarde Deus muitos anos | De Vossa Senhoria | Amigo e mais affectuozo Criado | Jozé da Silva Lisboa Carta 31 Illustrissimo Senhor Manoel Ignacio da Cunha e Menezes. | Rio 16 de Março de 1812. | Amigo e Senhor. Como parte o Senhor Sanches, | portador desta, e mais melhorando do | que ovio, vou fazer por esta o | meu dever, e participar á Vossa Senhoria que | por elle recebi a sua estimada | carta em que m’o recomendava. | Nenhuns officios [??] lhe pode pagar | mas a justiça da sua conta valeo-lhe | de todo. Aqui fico ao dispor de | Vossa Senhoria. Elle he carta viva para o | mais. Aceite saudades de sua afilha- | da, e meu filho, e mais pessoas de | casas. A fervente e doentia esta- | cão ameaça á todos de morte, ficando | mortaes. Esperarei pelo nosso da [...]. | Escreve [...] desejo a Vossa Senhoria feliz sau- | de, e occasiões de mostrar que sou | De Vossa Senhoria | Amigo Coração Obrigadissimo Criado | Jozé da Silva Lisboa Carta 32 Illustrissimo e Excelentissimo Senhor. | Soube, que Vossa Excelencia chegara do Rio de Janeiro muito in- | fermo; mas que ja se acha melhor, o que muito estimo, e que | conciga o seu restabelecimento, e por se achar na sua | Fazenda da Lagôa não posso ter a saptisfação de | dar-lhe um a braço. Tendo eu vindo ao Engenho | Periperi para da li voltar ao nosso Jacuipe, fui obri- | gado a vir a Cidade e pelo estado de molestia deminha | sobrinha, da qual fica um pouco milhorada. Apro- | veito esta occazião para rogar a Vossa Excelência o obezequio de | instruir-me a respeito de huma emenda do Verguei- | ro ao Parecer da Comissão de Requerimentos sobre | o de Antonio Thomas de Oliveira Botelho na ses- | são de 25 de setembro do anno passado, ja rezolvido na| Camera dos Deputados em sessão de 8 do mesmo | més, para abolição de todos os Morgados e Capel- | las, e ficara empatada para entrar de novo em | discussão; e qual seja o esperito do senado a esse res- | peito: pois não tendo elle conhecimento das Ins- | tituicoens dos Vinculos, e que todos, ou quaze todos fo- | rão estabelecidos em bens pertencentes as 3 as dos ins- | tituidores, sem prejuizo das heranças dos Coherdei- | ros dos Successores dos Vinculos; e outro fim, que | os rendimentos dos bens Vinculados servem de con- | servação e augmento dos livres, os quaes por falecimento dos | Administradores dos Vinculos são repartidos igu- | 1v. almente por seus herdeiros; a lem disso, que haven- | do dispezas extraordinarias com os Vinculos he | a sua importancia lançada no quinhão dos Suc- | cessores delles; talvés, que votem pela emenda, sem | attenção a estas circunstancias, e a outras mais, di- | gnas todas de concideração; como sejão: a obriga- | ção de concorrer o Admenistrador de | a sustentação dos Irmaos quando percizem, e se- | jão pobres: o direito que tem o immediato suc- | cessor de entrar na admenistração do Vinculo quando | o actual Admenistrador deixa arruinar- se os be | de que elle se compoem finalmente que esses bens vem | aficar no numero das Nacionaes, quando o Admenis- | trador não tem parentes que lhe succedão. Por to- | dos estes motivos parece, que são necessarios, e athe | uteis as Instituicoens de Vinculos de Morgados, | e a conservação dos que existem, pelos princípios | por que os querem extinguir com offença da inviola- | bilidade do Direito de Propriedade, fazendo dividir hu | todo, que he administrado por quem tem obrigação de o | conservar, e o não pode a lienar por principio ou | cauza alguma. Sempre que Vossa Excelência queira occupar-me | em seu serviço me achara 105 pronto com a cordialidade e esti- | ma com que sou De Vossa Excelencia | Amigo Venerador e Criado Obrigado | Bahia 20 de Janeiro de 1835 | Visconde da Torre Carta 33 Illustrissimo Senhor Joaquim Floriano de Toledo | Persuadido, de que VossaSenhoria terá já recebido o produc- | to da subscripção, de que se dignou encarregar se | á meo pedido, para reimprimir se a Historia da | vida do Padre Vieira, cujos Exemplares lhe forão | logo entregues: não duvido rogar lhe o obsequio | de entregar o refirido producto á pessoa que esta | apresentar, e que se acha autorisada pelo hestado | da mencionada obra, para receber aquella | quantia, e dar lhe o conveniente destino. | Estimarei occasiões de patentear a Vossa Senhoria | a consideração e amisade, com que sou | De Vossa Senhoria | Bahia 22 de Junho de1840 | Muito attento Venerador e fiel Criado. | Romualdo, Arcebispo da Bahia Carta 34 Caro Amigo, e Compadre do Coraçam | Rio 1º de Abril 1828. | Doente desde Dezembro13, muito se me aggravou o mau mas | desde Fevereiro, com hu ataque de cabeça, do qual não estou | ainda escasso, Vosmice fará idea do meu estado, quando eu lhe di- | ga que nem assignar o meu nome eupodia, hoje mesmo | eu não posso ainda fazer applicaçam, e por isso não sou ex- | tenso. Tenho sempre ouvido por Vosmice sobre huma noticia á | respeito de escravos, noticia, á que aqui se deu o mais | feio aspecto, bem que das cartas não consta coisa que | faça medo. Como está Vosmice todós os seus, meu Affi- | lhadinho, e minha Comadre? Estimo que muito bons de saude, | e de fortuna. Minha Mana Maria está agora com migo, | e á Vosmice, e á todos os seus se recomenda. Vosmice vem áo Rio? | Bem sabe que tem casa para estar, e que nisto dará áo | seu fiel Amigoe tão obrigado o maior gosto, minha Mana | lhe pede este favôr, e lhe manda dizer que agora n’esta | casa há mais ordem, por que ella a governa. Olhe, | eu muito o desejo vêr para ter hu desabafo de coraçam | Ah! Nunca eu sahisse da Bahia, ou pelo menos não | visse a cara áo pão d’assucar !!! Adeus. Se Vosmice | poder mande-me somente o conto e duzentos das Dia- | rias de Deputado, em lettras mesmo, ou como poder ser, | por que preciso. | Recomendacoes á todos, e creia que do Coraçam | sou seu | Amigo fiel, Compadre e obrigado | Basto. Carta 35 Amigo e Compadre do Coraçam | Rio 21 de Outubro 1828 | Desta hé portador o nosso Telles, que parte para ahi, e eu fico! Elle hé | carta viva, e eu nem animo tinha de escrever, porque a vontade | não me convidava muito á isto; mas em fim sempre digo | que quero ser muito recomendado á minha Comadre, e minha Senhora, e as | Excelentissimas Senhoras Dona Judith, e Dona Constança, minha Senhora, e á todos os seus | áos quais desejo a melhor saude, e fortuna: eu vou passando assim | assim; minha Mana vai melhor, e muito se recomenda. | Saberá que estou Intendente Geral da Bahia por Decreto de | 15 do corrente, e hontem recebi Portaria para entrar já no exercício | sem duvida que não me inveja, e veremos o que me accontesse |16 Adeus. Sou do 106 Coraçam | Saudades áos Amigos- Rogo a Vosmice | me mande o Subsidio, se o | tiver entrado. | Amigo Compadre, e muito obrigado | Basto. Carta 36 Amigo e Compadre do Coraçam | Rio 30 novembro 1828. | Esta vai entregue áo Excelentissimo Sr. Arcebispo com outra, que o nosso Telles | aqui deixou, e com as Gazetas; eu nada tenho a dizer, se não | que saudades, e mais saudades, e não há remedio, se não curalas | com o mal de Vosmice, isto hé, e esperar que Vosmice se aparte dos seus, | e de sua casa, e venha aqui ter. Muitas recomendações á todos | os seus, e de minha Mana Maria, que continua á sofrer: Meu | Mano, e Mana a Senhora Dona Emilia vão bem, e elle se recomenda. | O seu socego, e bem, em companhia de todos os seus hé para | mim objecto de todo o desejo. Adeus. Não há novidade; fazem | se as Eleições, em que os Liberaes tem mostrado sua influencia, | e tem em geral havido enthusiasmo; queira Deus tenhamos bons | Deputados com a mira na Constituiçam, e no Bem do Brasil. | Saudades á todos. Sou do Coraçam | | CriadoAmigo, e obrigado | Chanceler dahi. | Basto. Carta 37 Meu Caro Compadre, e Amigo, e Sr. do Coração | Há poucos dias escrevi a Vosmice, e porisso nada occorre á dizer. muito mais | com designação de rua, comodos, etc, mas em fim appare- | siguimento tem | quatro quartos, tem casa de jantar, pequena copa, cozinha, e há | baranda, que segue ate o quarto [...] ultimo dos quatro, entre | a casa de jantar, e aquela baranda, e a orro | com bastante altura, e bom para comodos; tem cavalharice | para dois animaes, e coxeira; custa tudo isto por mes | secenta Mil Reis, menos nada, e se não, dizia o dono ve- | nha a chave; está allugada, e corre o aluguel des-de | do corrente, veja Vosmice se approva, e diga o que quer que | haja na casa, e que eu possa com antecedencia a- | promptar. Muito estimarei que Vosmice no meio de todos os | seus góze saude, fortuna, e socego. Esquecia-me dizer, | a casa hé na rua do Sr. dos Passos, quaze áo Cam- | po de Santa Anna, no penultimo quarteirão, e muito perto | da casa do sogro de meu Mano. Meus respeitos, | e saudades á tudo seu. Recomendacões de meu Mano, | 1v. e [&] Mana, eu vou vivendo como Deos hé servido, e sempre | como muito do Criado seu | 25[&]24 de Janeiro 1829.| Saudades áo Telles. | Amigo, Compadre, e obrigado | Basto. Carta 38 Meu Caro Amigo, e Compadre do Coraçam | Rio 14 de Fevereiro 1829. | N’este | se parece com Vosmice, sei que elle segue para a Bahia, e hia sem haver- | lhe feito os meus cumprimentos; mas amanhã, pois que a em- | barcaçam partirá depois, hei-de-cumprir com este dever. Muito | estimarei que Vosmice, e todos os seus, áos que tenho o prazer de | recomendar-me com muitas saudades, gozem a melhor, e a mais | feliz saude; eu por aqui vou passando. 107 Remetto-lhe as | Gasetas, verá o Decreto da Convocaçam extraordinaria da As- | semblea para o dia 1.º de Abril, e o motivo, e de seu Mano | saberá as novidades. ADeus Recomendacões áo Telles, e | mais amigos, e aceiti-as de meu Mano. | Sou do Coraçam | que parece esplendida. Celina| escreveu que o bando foi lindo e igreja| ornamentada com muito gosto, tanto, que| não parecia de arraial. | A festa no Triumpho foi esplendida. | Não me parecia estar cá fóra. | Serviço muito bom, fructas finas vindas | da Bahia, gêlo, muitos doces, champagne, | emfim nada faltava. A concurrencia | fez jús ao serviço. Calcúlo para mais | de 30 moças todas muito bem vestidas | e uns 40 homens. Conhecidos lá estavam: || 2v. 7 filhas do Sr. Pedro, uma prima, os trez ir- | mãos e um rapaz collega de um delles que | ahi está; 2 filhos do Dr. Zeca Teixeira, um | filho e 2 irmãos do Milton de Oliveira; Cla- |rinha , Dulce Garcez e os irmãos e mais um | rapaz Carneiro Leão que Tontom conhece que | ahi está no Pimentel; Marieta e Julieta, fi- | lhas do Dr. Emygalio Ribeiro, com elle e um | irmão e mais Celina, Dulce e Dr. Eduardo | Vasconcellos com Medeiros Neto. | D. Alice | Berenguer, o marido, 2 filhos, uma filha, | 1 sobrinho e 2 sobrinhas cunhadas de Olga. | D. Clarindinha Gordilho, o marido, 2 filhos, | 1 sobrinho e mais Aydano Sampaio. | Daqui fomos: Yoyô, Felippe, e3 Zeca e eu. | Havia mais: Hacchel Lemos que está em | São Bento, Octavio Machado, Herudilho, An- | nibal Duarte, Oscar Ramos, um irmão de | Carta 59 Angico, 14 de Agosto 1922 | Minha querida Maria | Agradeço a sua cartinha assim como | Felippe. Desejo que Você passando bem, apesar | de tanta tristeza. | No dia 12 o meu pensamento não deixou VVocês, | só me lembrando das emoções crueis que estavam | passando. Teria Mamãesinha ido á Missa, | e como supportava tão grande abalo? | De Felippe sabe por minhas cartas; felizmente | estes dias já está se alimentando bem. | O pessoal de Angico manda muitas lem- | branças a Você, Mamãesinha e Lulú e Jovina. || 1v. 115 Que noticias tem de suas Tias e Primas? Tia | Yáyá quando vêm? Quando escrever mande | lembranças a todos. | Saudades a Jovina, Elisa e Celina e lembranças | ao outro pessoal. | Diga a Lúlú que escreverei a ella na 4ª feira; | abraço-a e aos Meninos. | Quem fez seu vestido e chapés? Quando Você vir | algum vestido que sirva para mim, copie em papel | arengueiro e mande. Onde VVocês acharam o melhor | crêpe? | Felippe lhe manda saudosos abraços. Visitas do | Dr. Antonino, de Etelvina e Damasceno. | Receba saudosos abraços da sua velha e muito| dedicada amiga | Tia Antonia Carta 60 Angico, 26 de Dezembro 1922 | Querida Yáyá | Desejo lhe Boas Festas e que 1923 | traga à compensação das amarguras | passadas em 1922. Receba os meus | abraços e transmitta os a Yôyô com | os meus votos de felicidade; não posso | escrever a elle hoje. | Recebi sua carta de 19, de Santo Amaro, | Mamãesinha já tinha me dado noti- | cia da chegada de Marianna, que | tinha achado bem, e de Tété, magríssima | esta. Peço a Deus que Marianna | seja muito feliz | Quanto ao pedido de D. Elisa Gui- || 1v. marães nada posso fazer, alêm de longe é | difficilimo conseguir mais de uma da | mesma familia - e aqui para nós, reservo | meu interesse para o caso de alguma | pessoa amiga, ou de uma dessas necessida- | des para as quaes precisa se dar remédio. | De mais desde que deixei a Thesouraria, | pouco ou nada tenho trabalhado pela Asso- | ciação e portanto com menos direito de | pedir. | Da Arvore da Natal lhe dirá a carta | que escrevo a Mamãesinha. | Carlota não teve incommodo algum, nem | febre de leite, que teve em abundância, pensei | que elle sentisse mais perder o filhinho, po- | rêm o marido foi quem mais sentiu. | Já ha fartura de leite de cabra, mas, || 2r. por emquanto de mais nada; os umbús estão | inchados, já tendo tomado umbúsada. | Muitas visitas do pessoal da terra toda e | de Damasceno e Etelvina. | Um saudoso abraço da Tia Yáyá, que bonita| idade! Eu é que não desejo chegar a ella, | si chegar, é castigo que Deus me dá. | Felippe está bem e manda abraços. | Aceite affetuosos abraços e muitas saudades | da velha e dedicada amiga | Tia Antonia | Saudades ás Meninas e a Aracy e Armando | Vieram para aqui cartão de agradecimento | de D. Mocinha Lordêlo e Maria Theresa | Pacifico; não mando para não augmentar | o peso da carta. Carta 61 Angico - 4 de Fevereiro 1923 | Minha cara Maria | Hontem o correio trouxe nos sua carta | e os jornaes, não sómente o ultimos como | tambem os atrazados. De Santo Amaro e | de Maria foi que nada veio. | Pode ficar certa de que sabemos que Você | tem todo cuidado em mandar a | correspondencia, mas ninguem pode | confiar no correio. | Hoje já estou muito melhor da erupção, | está quasi toda secca e a comichão di- | minuio muito, mas a erupção foi | enorme, até nos labios e nas pálpebras || 1v. tive; parece que não foi só acido urico e sim | tambem algum intoxicação pelo intestino, embora | eu nada sentisse. Não posso me queixar, | porque nem no quarto fiquei e em poucos | dias estou quasi boa. | Os baralhos estão muitos ruins com o poker | de todas as noutes, porisso veja si Você manda | comprar 2 baralhos. Não compre de mais de | 2$000, e pode mandar pelo Correio. Com o | imposto novo estão carissimos, porisso limito | o preço. Diz Dr. Lessa que na Euterpe | vendem muito bons baralhos e baratos, pois | só servem uma vez e depois vendem; Você | pode perguntar pelo telephone a 116 Adolpho | Vasconcellos e si fôr exacto, mandar comprar | lá. São baralhos para poker. | De novo nada ha. D. Nênê, Carlota Anuca || 2r. e Maninha estiveram aqui hontem e | mandam lembranças, tambem Etelvina e | Damasceno. | Saudades a todos ahi e na Barra | Com Joaquim receba abraços da tia e | amiga de coração | Antonia Carta 62 Serrinha, 12 de fevereiro 1928 | Minha querida Yáyá | Venho dar lhe noticias nossas. Aqui cheguei com muita | boa viagem; achei tudo sem alteração, Lúlú depois de se sentir | mais animada com as melhores, ficou com a vóz mais presa | e sentindo incommodar-lhe a garganta e portanto ficou mais | nervosa. Isto passará, pois não é a primeira vez; felizmente o | tempo continua bom. | Deixei Felippe e o seu pessoal bem e de viagem marcada para | Santa Ignez no dia 15. Como Felippe cedeu a casa do Angico | para Lúlú resolveu ir passar 2 mezes em Santa Ignez, onde o | clima é optimo e ha todos os recursos, medico, phamarcia, lojas, | luz electrica e agua encanada. Arranjou com facilidade | uma casa nova que tem 2 salas, 3 quartos, cosinha, copa, | banheiro e latrina. Para cidade do interior o aluguel é elevado | 140$000 mensaes. | Maria Luiza está muito bonitinha, mas só na ante véspera | da minha volta foi que se deu comigo, até então só queria | graça de longe. Isá deu se immediatamente e trouxe muita | saudades della; na vespera de viajar disse lhe “Vóvó vai | embora,” e ella respondeu “ Não vai, Vóvó, fi ti” que | é, fique aqui. | D. Isabel fica com a chaves do 48 para mandar | arejar, varrer, etc e incumbida de mandar as flores do || 1v. Campo Santo. Fui á Victoria um dia inteiro; ficou tudo | varrido e sacudido; estava tudo direito. Deixei no gavetão de | cima, do lado esquerdo - roupa de mesa e roupa de cama para | Yôyô, e no lugar onde se guarda as chicaras, talheres. Assim no | caso que Você queira ir á Bahia durante a ausencia de Felippe | e ficar em casa, sabe onde está tudo. As chaves do gavetão estão | com D. Isabel num embrulho escripto em cima - chaves que Maria | Pinho procurará. Os bules e salvas do uso estão no guarda roupa | de Mamãesinha; esta chave lá está com Maria desde que viemos, | e agora fica em D. Isabel. | Yôyô si não fôr á Bahia receber os juros de suas apolices, Você pode | mandar procuração a Malú, si Você quizer. Ella ficou com procura- | ção de receber os juros de Mamãesinha e Lúlú, e devem pagar | em principios de Março. | Pagam agora independente de esperar | a lettra, é pagamento indistincto. Em Fevereiro não houve paga- | mento. Pelo Edital junto Você verá que pedem a apresentação | das Apolices até o dia 22 de Março. Eu levei as de Mamãesinha | e de Lúlú e não demoraram um quarto de hora em más | restituir; não levei as suas e de Maria do Carmo porque | ficava um embrulho tão grande que eu não podia carregar | Felippe deixava suas Apolices e de Maria do Carmo na | gaveta de uma mesa do gabinete delle; é a mesa de | jacarandá encostada á parede grande e que tem em cima | o relogio. Querendo tirar D. Isabel mandará abrir a casa com | facilidade. | Na Bahia estive apenas com Adelaide, Margarida, D. Candinha, | as Carrascosa, Julieta, D. Prazeres e Yázinha Mariani; na tive | tempo para outras visitas. Com poucas pessoas falei pelo | telephone, o arrumar ou antes mandar aceiar a casa e as|| 2r. compras roubaram me muito tempo; levei muitas | encommendas inclusive de Dalva. Venho acabar esta hoje. Mandamos dizer Missa de 30º | dia por D. Vicencinha, ficando a de meu Pai para | amanhã. | Soube que Mariana tem mais uma menina; como se | 117 chama. Parabens aos Paes e beijos á Pequenina. Lembranças | a todos ahi. Muitos abraços a José e Stella, escreverei a | elles pelo proximo Correio, mesmo pela duvida de estarem| ahi ou na Bahia. | Mamãesinha diz que vai lhe escrever, mas como estou | escrevendo talvez ella escreva outro dia Ella, Lúlú e | Olympinha mandam saudosos abraços. | O casamento de Dr. André é no dia 16, tenciono ir | e lhe darei noticias de tudo. | Saudades a Yôyô. | Lembranças de todas as Amigas daqui, de Elisa, Damasceno | e Thereza. Maria muida desceu no sabbado, disse que | recebeu cartas chamando a porque o filho estava doente, | mas me parece que ella quer procurar novamente o | tal Senhor Manoel, porque Maria não quiz que eu procurasse | saber de menino quando fui à Bahia. | Receba saudades e abraços de sua dedicada e grata | Tia Antonia | Esqueci de mandar este cartão de Clarice; ella pede que | não responda- | Lúlú hoje não passou tão bem, sentiu oppressão na respiração e || 2v. veixame no estomago; este cedeu logo, mas a respiração só melhorou | com papas quentes que facilitaram a expectoração. É accumulo de | catharro; com papas agora á noute é de esperar que passe. Carta 63 Bahia, 19 de Outubro 1933 | Cara Maria | Tive o prazer de ter boas noticias suas e de | todos d`ahi pela sua carta a Mamãesinha, | recebida hoje. Com que Mariana ainda | não fez ponto final no povoamento do sólo; | coitada! é tempo de descançar, pois a tarefa | que já têm, e o bastante. Felizmente ella está | passando bem e é de esperar que nada tenha. | Aqui todos bons; os meninos já bem, e as meninas | frequentando o Collegio; Maria Luiza é que | ainda não tem muito apetite. Hoje mesmo | os meninos passaram toda a tarde aqui e | brincaram muito. Maria anda muito triste e abatida porque diz ella estar tudo || 1v. acabado entre ella e o doutor. Não diz como | nem porque, mas que foi sorpresa e decepção | muito grande. Bem diziamos elle a estava | debicando e não casaria; emfim, tudo quanto | Deus faz é bom, e creio bem que a cousa | não seria boa. | A cabeça dos velhos prega ás vezes boas | peças; não sei como me esqueci do anniver- | sario de Flavia; só me lembrei ha poucos | dias e ficamos tão veixadas, que nem quizemos | mais mandar cartões. Me esqueci também | do anniversario de Sinhá Soares e só ante- | hontem é que lá foi pedir desculpas. | A posse de Sinhásinha nos Salesianos | foi no dia 9. Nesse dia nada se resolveu | sobre a Festa, marcando uma reunião | para o dia 16. Só me lembrei á noute, | e no dia seguinte telephonei a Bellinha || 2r. para saber o que haviam resolvido. Ella | me respondeu que ficou resolvido não haver | Festa nem no Parque nem na Casa, e | sim fazer no dia 16 de Novembro um | dia da Margarida vendendo se esta | flôr com toda a cidade. Mais, a tombola | de uma frigidaire e pedir ao Prefeito licença | para armar uma barraça no jardim da | Piedade para Kermesse e Rcoshoff nas 5ªs | feiras e Domingos do dia 15 de Novembro | até o fim do mez. Esta ultima resolução | é a única que poderá dar algum resultado. | Quanto á tombola, já disse a Bellinha que | não tomarei, nem passarei bilhetes. Me | limito arranjar algumas cousinhas | para a Kermese. Disse me Bellinha | que Tété Machado foi quem deu uma | ou mais dessas ideais ; não entendi bem no telephone || 2v. Os sapotis estão optimos e Mariquinhas mandou | alguns não só aos Meninos, como a Celina. | Saudades e abraços de Celina, Maria e Joaquim | e beijos dos Sobrinhos. 118 Lembranças de Elisa | e Jovina e visitas do pessoal de serviço. | Abraços ás Meninas Mariana e Aracy, e | carinhos ás crianças | Receba um abraço muito affectuoso de | sua muito amiga | Tia Antonia Carta 64 Bahia, 4 de Julho de 1934 | Minha cara Yáyá | Não preciso lhe dizer como os nossos pensa- | mentos e os nossos corações a acompanharão | amanhã e aos caros Sobrinhos todos. | Mamãesinha não poderá ir á Missa por | causa do tempo que tem estado muito | chuvoso, de grande ventania e, para a | Bahia, bastante frio. Achamos Missa | nos Jesuitas, pois com as Missas de Santo Antonio | e São João ha difficuldade. As nossas | flores para o tumulo de nosso Yôyô | Stella levará, pois por Antoninho lhe | fizemos este pedido. || 1v. Celina e Joaquim vieram dar um abraço | a Mamãesinha no dia 28, estas datas | augmentam a tristesa e as saudades. Celina | está melhor, mas ainda tem inflammação | da colite. | De Celina Mello só tem se noticias por uma chamada a Edith pelo telephone, dous dias | depois da chegada á Lapa. A resposta foi | que ella tinha feito bem a viagem e estava | sem alteração. | Os meninos estão bons e no Domingo passa- | ram a tarde com Joaquim; foi um regalo | e não queriam voltar senão a noute. Mandam | carinhos e todos os nossos saudades. | Lembranças dos amigos, a dar o nome | de todos que as mandam e pedem | noticias suas, seria uma lista enorme || 2r. Maria Luiza Novis tambem foi para o novena- | do das religiosas em Campinas; mandou um | cartão de despedida e abraços para nós e Você. | Visitas de Iá, Jovina e Rufina que aqui veio | hontem. | Triste e saudosa a abraça | Sua amiga muito dedicada | Tia Antonia Carta 65 Bahia, 2 de Maio 1938 | Cara Yáyá | Ha muitos dias estou para lhe escrever | agradecendo o affectuso telegramma | do dia 20 de Abril. Na semana da | Paschoa tive muito trabalho para acabar | as costuras da Obra dos Tabernaculos e com | a arrumação da exposição e na seguinte | até a quinta feira, foi o organisar a | distribuição. Embora houvesse muita | cousa, os pedidos foram tantos que | foi impossivel servir a todos. Com| estes trabalhos, e com a preguiça e | canseira das 76 primaveras, Você compre- | henderá e desculpará a minha falta. || 1v. Graças a Deus, Mariquinhas vai passando | sem alteração e os mais bons. Do Rio temos | tido boas noticias; chegaram com chuva | torrencial, de modo que João Mauricio se | resfriou e ficou um pouco abatido, mas | já está bom. Elle não se esquecia de Você, | e nos primeiros dias lhe procurava muito; | está cada vez vivo e engraçado. | O dia de hoje é de dolorosas recordações; a | Missa por Yôyô foi nos Maristas. Apesar | de muita chuva, Jovina e eu não | perdemos a Missa. | D. Virgilia Cohin morreu no dia 26. Não | fui ao enterro porque só cheguei da | Cathedral às 5 horas, foi quando soube da morte. No dia seguinte fui dar | pesames a Beatriz e Malvina, que || 2r. lhe mandaram lembrança. O numero da | casa agora é 7 – Largo da Victoria | Landulpho vendeu a casa ao Pedro Tenorio | e vão ficar com Helena Baggi até que | fique prompta a casa que vão construir, | creio que na Graça. | Parece que agora cahiu o inverno; no sabbado | e Domingo o calor foi horrivel, mas na | madrugada sahiu o temporal com 119 fortes | relampagos, trovoada ao longe e chuva a | mais não poder. Esta ainda dura, mas | desde hontem ha esteiadas | Deixei até agora para lhe falar de uma | cousa que, pelo muito que me penalisou, | calculo quanto Você terá sentido, é o incen- | dio da Capella de Agua – Boa. Que mal- | fadada romaria! Si não tivessem percebido || 2v. as chuvas ainda cedo, não teria ficado | nada. | Lembranças a José Baptista | Saudades de Jovina. Um abraço a Helena | e para Você muitos, saudosos e de muito | affecto da velha amiga | Tia Antonia Carta 66 Bahia, 6 de Fevereiro de 1939 | Yáyá | Desejo que Você esteja passando bem e que | o tempo esteja correndo favorável. | Estimei as suas noticias pela carta a | Mamãesinha. Aqui todos com saude, | e João Mauricio muito engraçado e | falador.| Só hoje me foi possivel ir buscar as | cadernetas; a do José Octacilio com os | juros até 31 de Dezembro tem 335 $ 620 | Esta caderneta fica aqui? e a de Tété | tambem fica? || 1v. Da festa de Santo Amaro só soubemos por | uma carta de Tété a Jovina que o sermão | do dia 2 não agradou, e por um telepho- | nema de José que não havia animação. | Você já soube que morreu o Achilles | Cardoso? | Aqui nada de novo; tenho sahido pouco. | Temos tido alguma chuvinha, e estes dias | não tem feito calor. | Deus permitta que Celina Mello já | esteja ahi; assim Você fica mais acompa- | nhada e tem com quem trocar ideias. | Não tinha comprado nenhum Ton- | fon porque a nossa fregueza durante | 15 dias não teve, e agora acabou | com o negocio. Como o rapaz que || Carta 67 Bahia 10 de Novembro de 1944 | Minha Madrinha | Pela Centr’oeste sei que a viagem | foi muito bôa e até aí, como en- | controu senhor José Antonio? | Paguei ontem a ultima presta- | ção do imposto de renda | Vai a etamine para13 vestido de | 1ª Comunhão na Manufatura a | Agua de Colonia é de $ 25.00 por | este motivo ainda não comprei. | Não gostei do estado de D. Olim- | pinha ela está mal, já não | fala, não toma alimento não conhe- | ce as pessôas de olhos fechados; ela | teve um derrame cerebral. | Logo que recebi o telefonema de | Marieta, telefonei para a Calçada | o 13 só chegava as 3 horas. Lucinho | foi a esta hora e êle verificou tudo | e respondeu que como êle fazia lhe | prevenido só tinha ficado o caixote | para seguir sabado, tellefonei para Ze e | felizmente ela me respondeu que estava lá. || 1v. Ontem não houve carne, Deus permita | que tenha no sabado. | Maju não está passando bem disse | D. Juliêta a Celina que ela não está falando | mais e o mesmo nos disse Ana Maria | que encontramos ontem na rua. | Celina comprou afinal uma | bonboniêre (bonita e original) de meio | cristal com desenhos por $230.00. A casa | Krauser incumbiu-se mesmo de man- | dar levar na casa da noiva. | Encontramos em castiçal de prata anti- | ga, somente um par; o preço Você | vai ficar espantada, cada um custava | $ 1.350,00 e eram pequenos menores dos que | os nossos que temos aqui, eram bem boni- | tinhos, mas um verdadeiro absurdo, todos | estão cobrando14 a grama da prata comum | a $ 2.00. | Vai a sua roupa, ontem ao meio | dia quando chegou da Alfandega | encontrei-a toda pronta. | Visitas para Senhor José Antonio, lem- | branças a todos daí e com sauda- | des abraça-a com amizade a sua | Aracy 120 Carta 68 Salvadôr 7 de março de 1951 | Minha Madrinha | Como vai Você e Matilde? | Aí choveu bastante á semana | passada e depois tem continuado | a chover? | Vão 550 dóses de vacina | pedi a Lucinho (porque podia | ser que eu não ouvisse muito | bem) para telefonar para a | Inspectoria Agrícola da Defesa Saní- | taria Animal perguntando qual | a vacina que êles indicavam | para mal de quarto, responderam | ser carbunculo sintomatico, as | vacinas são do – laboratorio Vital | Brasil que são reputada umas | das melhores. | Dei a Pedro Carneiro $ 200.08 | que êle pediu para o concerto | da mêsa e outras despêsas. | Mignonne foi hoje para o | Sofia e João ontem. || 1v. Tenho estado ás voltas com compras | de livros, reconhecimento de firmas | etc emfim tudo escolar. | No dia 5 mandei á tarde | Vavá passar o seu telegrama | porque só cheguei aqui as 12 ½ . | Fui ontem a companhia de | Amadôres de Pernambuco, gostei | representam bem e o cenario de | gôsto; no desempenho ha uma | novidade não ha intervalo o | que cansa um pouco. | Maria Delfina e Jovina es- | tiveram ontem aqui. | Anita Ribeiro, Terêsa Dantas, | perguntaram por Você. | Vou telefonar amanhã a D. Lucia | Pires sobre a casa para ela vir vêr. | Estou no seguinte horário | acordo/bóto despertador para ás 6 ½ | levanto- me as 15 para as 7 tómo | banho, café bóto João para o | colegio êle vai com Almir, depois | que êles saem tomo café vou a | missa etc. || 2r. Mandei Vavá comprar um bloco | e êle me trouxe esse aéreo. | O 12 já está alugado a áquelas | antipaticas que se tomaram com | os meninos. | Na Conceição não engordei | nem desejo mais, pois já estou pesan- | do 64 Kilos. | Inacinha está um pouquinho | melhor. | João comprou a lapiseira, a | caneta comprei para com você, Tété | e Lili oferecemos no aniversario dêle, | mas como êle precisava agora porque | a dêle quebrou, comprei adeantada- | mente e êle já está se utilisando | e é otima a pena, é preta e ouro- | Matilde tem saído ou vocês estão | a receber visitas; abraços para ela. | Senhor Moreira veio no dia | que viemos e conversou muito. | Nós viemos para Santo Amaro | no dia 4 e para aqui a 5 no | trem de Cachoeira porque não acha- | mos mais lugar no motriz. || 2v. Muitas lembranças de todos daqui | para Você e Matilde e aos daí | e com saudades e amisade | beija-a a sua | Aracy| Li n’A Tarde’ que o Tenente Coronel | Carlos Farias de Albuquerque foi | nomeado para o Fomento Eco- | nomico. Carta 69 Salvador 24 de março de 1952 | Minha Madrinha | Aproveito o portador | (Elias me preveniu que Nestor | ia viajar hoje) para lhe | enviar uma palavrinha. | Já comprei os pratos fundos | não encontrando os de doce. | Por Senhor Damasio mandarei | a bandeja e o preço dos | Dorme-bem. | Aqui tem chovido constante- | mente | Ceza hoje vai ouvir a opinião | de Dr. Tripoli, porque já aven- | taram a ideia do que ela | sente na vista prenda-se ao | estado geral. || 1v. Os meninos terminaram o | concurso no sabado, ainda | não sabem do resultado. | Antonia trouxe a roupa no | sabado, Jovina já contou e | guardou. | Adalgisa ontem à tarde es- | teve aqui. | Parece que esse ano virá | uma companhia lírica Nacio- | nal com o repertorio seguinte: | Tosca, Traviata, Rigoleto, Madame | Buterfly e uma outra que não | me lembro o nome. | Lucio chegou hoje veio a negocio | e para levar as meninas 121 amanhã. | Com abraços de todos, lembran- | ças nossas nos daí e beija-a | com amisade sua | Aracy Carta 70 Salvador 4 de maio de 1955 | Minha Madrinha | Estava ontem a espera quando Vává | viesse para o almoço para botar a minha | carta no correio, quando Eduardo apare- | ceu, preferi deixar então para lhe | mandar no embrulho. | Lucio chegou ontem e eu pergun- | tei se o seu embrulho já tinha ido | e êle me respondeu que Zé iria lhe | mandar na quinta, portanto será | amanhã que você receberá | Pedrito trouxe ontem $ 1.600.00 que | Senhor Fernando mandou relativo aos | meses de março e abril. | Senhor Graciliano veio cobrar hoje. | Irei consultar a Dr. Sabino e tomar a | procuração caso seja possivel. | Logo que eu possa calçar porque | tomei ontem uma pancada no pé | e está inchado e rôxo, eu irei lá e | lhe escreverei logo. | Celina Mélo vai passando melhor, fui | ontem ao hospital das Clinicas para | ver se marca a operação das amída- | las| Aqui tem chovido sempre. || 1v. O acumulador que você deixou descar- | regado, mandei carregar e mandaram | dizer que o mesmo não serve mais | já está estragado, devolveram sem carre- | gar.| Depois que você está aí, ainda não | saiu artigo de Lenis Pinto. | Esses sequilhos, Marieta Ribeiro é quem | lhe manda. | Euzebio almoçou ontem aqui. | Augusta tem aparecido, vem saber no- | ticias suas e isso ela péde para lhe | mandar dizer. É para dar alguma | coisa a ela quanto? | Mariquinhas esteve ontem aqui, está | com boa aparencia, embora um pouco | mais magra. | Antonia levou ontem a roupa. | Só fui ao cinema 1 vez, quero ver se | no sabado poderei ir assistir o film | do Excelsior. | Felismente acabei agora á tarde | de copiar os apontamentos para | João foram 70 paginas de Fisica e | 20 de Biologia. | Elias esteve domingo aqui. | A caneta é preciso encher, porque estra- | ga a pena deixa-la vasio e notra no | tinteiro não dá certo; não deixe nunca || 2r. aberta quando você não estiver escre- | vendo; cuidado para não dar quéda, | com esses cuidados você terá uma otima | caneta por muitos anos. | O ballet ficou bom? | João felismente, está passando bem. | Morreu uma irmã de Juvenal, uma | que era casada cheia de filhos, morava | aqui na Bahia. | Sinhá Maria apareceu aqui, senti- | da de não ter sabido o dia que você | ia porque ela queria ir para aí | com você. | Quando tiver outro portador man- | darei uma lembrança para Zúzú | não pude aproveitar Eduardo porque | eu não posso sair porque não posso | calçar o pé direito, felismente não | foi no pé quebrado. | As demissões do governo estadual | continuam, mas a cozinha de Palacio | a reforma vai custar $ 400.000.00. | O diretor da Escola Normal passou o | cargo a Dr. Machado sem pedir exone- | ração; parece que não concordava | com as demissões na Escola que | motivaria a suspensão das aulas no- | turmas. A sucessão presidencial no | mesmo bôlo, desta vez estou completa- || 2v. mente indiferente ao desenrolar dos fatos. | Amelia Carvalho foi hoje para a Europa | com o marido, 1 filha e sobrinha, foram | a passeio, viajaram no Audes. | Prisco comprou um apartamento na Graça | para a filha custou $ 500.000.00 (para a que| vai se casar no dia 19. Vai o convite, nós | também recebemos. | Li na Cronica Social de Sandra que Tancinha | Villas-Boas está gostando de um francês. | Eduardo ficou de vir as 4 horas, portanto | não deve tardar. | Para todos daí as nossas lembra- | cãs, para você e Jovina os nossos abraços e | com beijos da sua | Aracy 122 Carta 71 Salvador 2 de junho de 1955 | Minha Madrinha | Vou aproveitar a cesta de lá de casa para lhe | mandar, mais uma palavrinha, assim como as | revistas; hoje um Senhor veio avisar que o menino havia | saído, mas que a partir de hoje não faltará mais, | virá regularmente. | Já escrevi a Dr. Sabino sabendo o que tenho a fazer, | Senhor Durand ainda não apareceu. No dia 31 quando Milton | esteve aqui eu tratei de me informar, êle me disse que | poderia esperar alguns dias. | José chegou bem? | Zeca mandou trazer hoje á tarde $800.00 que | Senhor Fernando tinha dado a êle para lhe entregar. | Olga de Antoninho Lacerda hoje á tarde encontrou-se | com Flavinha e disse que Marieta estava na | Piedade com uma enfermeira que havia exigido $ 500.00 | por mês, Flavinha perguntou o nome da enfermeira | Galdina, imagine você; que ela hoje não estava passan- | do muito bem; portanto ela está aí só com a empregada. | Antonia Mélo hoje esteve aqui: disse que Isabel Maria | ficou bonita e muito elegante de noiva; o serviço foi| feito pelo hotel da Bahia, foi irrepreensivel. Quanto a | viuva de Renato Lago, (Estér Proença) é uma pessoa | muito accessível, de uma simplicidade no trato | comparavel ao de Virginia. E o filho educadissimo. || 1r. A menina da Simeão chama-se Rosa Maria, devem | ter ido ontem para Terra-Nova. | Já paguei Sul America , cemiterio e dei o dinheiro para | as flores do dia 19. | Nesse dia é também aniversario de Celina Mélo | quanto é para dar a ela e a de Antonia? | Nair não conseguiu falar para a casa de Chiquitinho | para saber de Iaiá; Carmem disse a José que ela havia | tomado uma forte quéda. | foi hoje a demissão de todos os professores de ginásio de Santo Amaro | não sei como poderá funcionar | Será que na próxima semana poderei sair? | não se assim for ficarei satisfeitissima. | Muitas lembranças para todos, abraços para | você e Jovina e beija-a afetuosamente sua | Aracy Carta 72 8-7-1957 | Minha Madrinha | O dinheiro você póde tirar no| Fomento (a caderneta é côr rosa | vivo.) | Mostrei o seu exame de urina | a Catão, ele disse que você está | urinando pouco e retendo; que | não póde comer nada pesado e | nem coisa alguma de conservas. | Já telefonei a Dr. Taciano para | ir lhe vêr. | Falei com Maria para comprar | limas para você tomar 2 a 3 lima- | das por dia. | Catão disse que você precisava | tomar antiesclerotico, disse que | você tinha comprado mas, esquecia | de tomar. Ele vai amanhã para o | sertão, voltando no dia 20. | Quanto ao meu pé: já está cal- | cificado nas extremidades, faltando | somente o centro Catão me disse que | no dia 15 eu poderia começar a | andar com o pé enfaixado e depois || 1v. que êle chegasse tirava as ataduras, mas | eu respondi que esperaria por êle, 5 dias | a mais não é muita coisa, para quem | já ficou tanto tempo de pé espichado e | ficar em pé e andar na presença do medico | dá mais confiança. | Recebi os seus convites, no momento | não aceito porque não posso mover nem | balançar como seria preciso para que eu | saisse daqui, mesmo tomando automo- | vel. Se você não quizer venha passar | uns dias aqui conôsco. | Abraços | Aracy Carta 73 Bahia, 5 de Novembro 1924 | Minha querida Yayá | Respondo hoje a sua cartinha | de 29 de Outubro, excusado é dizer- | lhe o prazer que me casou. Felizmen- | te as nossas 123 noticias são boas, o | mesmo dá-se ahi. | Estive sempre com Zeca e Stella nos | poucos dias que aqui estiveram. Deram- | nos boas noticias dos amigos do Rio | De Tonho disseram que está mais || 1v. magro e namorando; aliás isto é esta- | do chronico nelle. Stella está fina | e bem, Zeca tambem. Diz ella que | tem muitas saudades de cá, mas a | vida lá é outra, apezar de sahirem | pouco á noite. Á tarde ella sahe | todos os dias, mas á noite Zeca tem | sempre muito trabalho para o dia | seguinte. A vida lá, salvo para | quem tem certas obrigações pela | posição, está muito mais barata | de que aqui. Elles insistiram || 2r. muito, até a ultima hora para que | fosse com elles, mas Você bem vê que era | impossivel. Vontade não me faltou!...| As coisas no Rio não vão nada bem. | Quando se pergunta em palacio, | parece que está tudo em “mar de ro- | sas”; garanto é que si eu lá morasse | não estaria tranquilla; mas aquel- | las meninas vivem tão no ar! | Hontem revoltou - se o “São Paulo” | e sahiu barra á fora, perseguido | pelo bombardeio das fortalezas do | Carta 74 Meus caros Filhos | Essa vai para Yóyó e Felippe. | Depois da carta desse de 13 e| o telegramma sobre licença | nada mais tive dos viajantes, | já não me admiro d’isso,| as cartas de Antonio aludidas | na que veio registrada até | hoje não chegaram, só me | lembro o que será quando | elle estiver no Paraná e Voces | de volta. | Mauricio manda dizer a | Felippe que recebeu o dinheiro | e recolheu ao banco. || 1v. Pelos tel[e]grammas e pelos jornaes | Voces verão as novidades com o empas- | telamento da Hora, felizmente | até agora nada mais houve. | De Joaquim e José tenho tido | noticias, esses com suas eternas | constipações que quer a força | curar com quinino. Acho-o | magro e palido e por nada quer | fazer uma consulta. | Yáyá vai amanhã a Santo Amaro | com Maria da Gloria, pretedendo | se demorar até meados de Junho. | Se não fosse a boa companhia | de D. Olympia, ficariamos reduzidas | às 2 velhas Lulú e Mauricio. | Pela carta a Antonio verá o que há | sobre molestia de Affonso, pobre | Guilherme tem soffrido muito pelo || 2r. irmão. | De forá nada tenho sabido, só que | a chuva já é demais, é raro o | dia que não chove e isso dura, o | que vale é que faz umas horas de | estiada. Hoje o dia foi soffrivel e | por isso já os autos rodão. | Saudades de todos. | Zinho, dizem, com os choques ilec- | tricos vai dizendo palavras soltas. | Clarinha aqui esteve, coitada, faz | pena vel-a tão pobremente vestida. | Não sei qual será o fim d’elle, o | resto de melhor quantia está sendo | liquidado, José ficou com alguma | coisa. | Para ambos carinhos e saudades | da mamãi | Maria | 26-5-1918 | Carta 75 Meus caros Filhos | Recebi a carta de Felippe, | estimo estarem com saúde | e sciente de que só virão (isto | é Felippe) no dia 17. | A grêve está terminada com | a ordem que veio do Rio | para o governo requisitar | as forças de mar e terra que | remedio sinão essa fôra cha- | mar os seus sequazes e man | dal-os so agora. As fabricas | augmentaram o salario 124 e dimi- | nuiram as horas de trabalho. | Os bondes que começaram a || 1v. trafegar ante-hontem ás 10 horas | da manhã, até hoje viagavam ca- | da um com duas praças embala- | das. O commercio hontem abrio, | mas ainda ha no ar como que | um receio de que as coisas se | possam toldar. | Jornaes durante 5 dias não hou- | ve a não ser o Tempo. A Tarde | de hontem mais ou menos diz as | coisas, mas como não quer desa- | gradar os operarios não diz tudo | cala o furar de pneumaticos, etc. | De Mauricio tive hontem carta | está bom. | Zeca aqui está. | O cas-amento de Fiel se realisou || 2r. depois de uma das scenas do | Paulo com Moniz, o certo é que | esse e Pedrito Gordilho garantiram | os autos e esses sahiram para o | casamento e não mais se recolhe- | ram por felicidade da Bahia, que | sem isso estaria sem trafego algum | até hoje. | Vão os jornaes que ha. | Saudades de todos. | Adeos, para ambos um saudoso | abraço da | mamãi affectuosa | Maria | 11-6-1919. Carta 76 Meus caros Filhos A ambos aqui escrevo pois não | ha assumpto para muita coisa | De saúde vamos bem e o mesmo | posso dizer do Angico de onde rece- | bi hontem carta. Felippe revestiu | -o de coragem, montou um jegue | e foi a casa da fazenda, ¹/2 hora hora | de ida e de volta, nada teve e por | isso muito animado | Vai por Antoninho o plaid de | Tonho e umas castanhas, sequilhos | e doce de banana para ambos, | esse está um pouco escuro, porem | foi feito por pessoa de casa || 1v. José e Stella devem chegar hoje. | A Bahia está lavando a cara para | as festas, nem consegui um pintor | para pintar as janelas e almofadas | de sala de jantar que estão um | pouco cascudas, queria-as limpar | para receber os seus amigos, ainda | estou a procura. Nada verei de | festas, as procissões que por | aqui passarão No dia 19 e hoje não esqueci de Voces, passeio o meu telegramma e | o de Voces recebi na mesa do almoço | Tomei com todo cuidado as dimen- | ssões dos campos, como verão os | passeios em volta não obedecem | a mesma largura em ambos [?] || 2r. dos lados, ahi resolveram como melhor, | tirar uns centímetros não altera, mas | é proibido se utilisa de todo. | Vi hoje o mosoleu do Dr. Júlio Adolfho | é de granito ‹acinzentado› por com pingos pretos, canto | de bronze e um grinalda de bronze | e em baixo 2 cobras de bronze que | sustentam o medalhão com o retrato, | tudo em bronze e não está mau | É bem semelhante ao projeto numero 1 que d’aqui foi. | Saudades de Titia, Lúlú e Joaquim | Yáyá deve chagar á 28. | Adeos, para ambos saudosos abraços | e a benção da | mamãi muito affectuosa | Maria. | 22-6-1923 Carta 77 Rio, 25-3-934 | Muito querida Yáyá. | Felismente vamos nos animando com | as noticias da saúde de Yôyô - | Antonio tendo telephonado para o | sanatorio, o director deu todas as | informações que elle vae enviar a | José para poder decidir definitiva- | mente. | Com o maior prazer receberemos Aracy | você bem sabe o quanto ella nos é | querida, e quanto apreciamos a sua | bondade e sympathia - | Nesta mesma carta aproveito para | 125 escrever-lhe uma palavrinha, por | isso minha Yáyá, aqui ficam | os nossos abraços para todos os casos | d’ahi, saudades a Yá, Celina e | Jovina e o carinho dos irmãos muito | amigos, | Virginia e Antonio Carta 78 Valente, 14 de janeiro de 1980 | Olá Amor tudo bem? | Olha querida espero que esta a encon- | tre com paz e saúde juntamente com os seus | manos e pais e familiares. || Aninha quando você receber esta carta me | responda logo por que estou com medo | de você não receber esta e pensar que eu não | lhe escrevi, por que tenho dúvidas no endereço| que não conheço, mas aqui em Valente tudo | bem, conheço tudo. || Quando você subiu no ônibus me deu | uma vontade tremenda de viajar com você pelos | menos até em Feira de Santana mas quando a gente | é empregado só pode sair aos sábados e feriados, | minhas férias será de 15-04 à 13-05-80 um período | de estudos mas assim mesmo vou sair uns 15 dias. || Querido até hoje sinto sua falta, até hoje | penso naqueles dias felizes que estava junto a ti | com aquele, todo afeto todo amor e ternura | com aquele teu sorrizo doce, meigo com teus lábios | sensíveis e aquele gesto de menina moça. || [fol. 2r] Para mim você foi até hoje a menina | que muito marcou em minha vida, se você esti- | vesse aqui perto de mim eu não ficaria um dia | sem ti ver por que você é uma menina linda | e sabe sair com um namorado <↑você é> uma garota simples | que não tem medo da realidade, para mim | você foi meu ideal, só falta você vir aqui | para morar ou eu morar ai em Salvador ago- | ra que trabalhe perto para eu lhe encontrar todos | os dias. Você me falou na foto da moto eu man- | dei hoje o nosso filme para a Sandra, assim | que chegar eu lhe envio as fotos. || Eliana menina linda | menina que mora no sertão | Para que ficar triste agora | Se tu estás em meu coração || Eliana garota inteligente | Não sei como conseguir te encontrar | mas só sei que tu és linda | E te quero e quero muito para te amar. || Se eu fosse um jardineiro | te daria uma flor | Como sou um estudante | te darei o meu amor. | [fol. 3r] Sem mais do seu inesquecível que | nunca te esquece. || Beijos e beijos do seu. | Adelmário (Maro) | De lembranças a Angela e todo o pessoal | legal dai. Carta 79 Natal-RN 9/05/90 | Amigo Mário | Recebi sua carta, fiquei bastante | feliz. Aqui tudo vai bem graças | a Deus, Eliana já estár boa, | estar indo para escola todos | os dias, feliz da vida. Já recebi | os primeiros teste que ela fez | tão lindo. No dia do Indio ela | estava linda vestida de índio | eu tirei a foto dela, deve ficar | pronta amanhã se ficou boa | eu mando uma para você ver || Ela adora ouvir história que | já ando cheia de contar as | mesma estória todo dia, tanto | que vou ver se compro uns | livros infântis. || Mário porque você não volta | [fol. 1v] a estudar? se atualizar em | outra coisa. Tenho certeza que | o Correio é um orgão muito | importante para <↑a> vida de todos | nós, por isso jamais vai aca- | bar. Até no interior de meus | pais já tem correio e eu | adoro pois quando quero | ter noticia deles basta escre- | ver. E voces dois ainda não | encomendaram um bebê não? || Para ser sincera Mário | ter filho é a coisa mais linda | do mundo, mais dar um | trabalho que você não queria | nem saber. || Vou ficar por aqui, lembrança | a sua esposa e a toda sua | família. || Com saudades → Ana e | Eliana | 126 Carta 80 Salvador, 12 de março de 1980 | Olá Maro | beijinhos | Sua carta chegou na hora certa, | pois estava louca para receber no- | tícias de amigos. Hoje recebi carta lá | do Paraná de Celso, primo das meni- | nas, grande amigo. || Por que minha outra carta demorou | de chegar aí? O problema é do cor- | reio? || Não sabia que você tinha a mesma | idade minha, pensava que você era | mais velho. Meu aniversário é no dia | 3 de dezembro. || Rosa é solteira, mas vou lhe di- | zer logo ela é bem diferente de mim, | [fol. 1v] pois é bem introvertida. Inclusive | me admirei dela mandar este re- | trato. || Estou com vontade de leva-la | aí na micareta. Quando tiver um | retrato melhor mandarei. || Sabe Maro, eu não tenho con- | tato com Eliana, só me aproximei | dela aí em Valente, isto porque eu | moro distante dela. || Eu conversei com Nane a respei- | to de Eliana, e ela acha que sua | paquera de São Domingos não é | o motivo de você não receber cartas. || Quando me encontrar com Elia- | na vou ver se consigo saber qual- | quer coisa. || Nane mandou lhe perguntar se | você esqueceu das amigas. || Apesar de minhas aulas começa- | [fol. 2r] rem desde o dia 9, poucos profes- | sores tem aparecido. Estou sem | nada para estudar, e aproveito | o tempo para ler, pintar e escre- | ver. || Gostei muito do seu retrato, já | foi colocado no álbum. || Estou morrendo de vontade de | voltar a Valente, espero poder es- | tar por aí na micareta. || Acho que por hoje é só. Lem- | branças a seus parentes e amigos | Beijos da amiga de sempre | Ângela Margarida Carta 81 Salvador, 1º de novembro de 80 | Oi Maro! | Será que esta vai lhe encontrar em Valente ou | em Salgadália? Resolvi mandar para aí por que | você me disse que depois do dia 30 de outubro já | estaria em Valente. || E agora você vai ficar parado? terminar | seus estudos até o fim do ano, sem perder mais | aulas; ou vai viajar para outra cidade? || Na escola eu vou indo bem, já estou | passada em uma matéria, nas outras ainda | não recebi a segunda nota. Mas eu sei que te- | rei de fazer duas finais, precisando de pouca | coisa. || Agora estou ouvindo disco, primeiro é o de | [fol. 1v] Caetano Veloso e depois o de Gal Costa. Você gos- | ta deles. || Eu lembrei do seu aniversário, você recebeu | um cartão, que eu mandei, desejando felicidades? || Eu já lhe falei, que nasceram 5 cachorrinhos aqui | em casa, são três machos e duas fêmeas. | Todos são uma gracinha, mas não podemos ficar com | nenhum. || As paqueras vão ruins, não estou interessa- | da por ninguém. Porém tenho um colega que es- | tá me paquerando, eu que não estou afim. Um | dos motivos para isto é que ele é casado. Eu vinjo | que não entendo a coisa e vou levando tudo | como se fosse amizade. || E voces com as paqueras? Continua | com aquela que o pai queria que você se casasse | dentro de um mês? E a de São Domingos? [fol. 2r] Na semana passada, | eu fiz uma farra, coisa muito dificil de | eu fazer. Foi aniversário de um amigo, e cer- | ca de 20 colegas saímos para comemorar. Fo- | mos para um barzinho, que fica no Rio Ver- | melho, ficamos cantando, conversando, contan- | do piadas, e [.] bebendo. Nós combinamos de | fazer a mesma coisa no meu aniversário, 127 mas | ainda não está bem certo. || Aí vai tudo bem, não é? Lembranças | para todos daí. || Receba um beijo da amiga | Ângela Margarida Carta 82 Jacobina, 15 de agosto de 1990 | Meu Caro amigo, | Recebi sua carta, você não | imagina a alegria que ela me trouxe em | saber que a qualquer momento estarei rece- | bendo sua visita. || Desculpe-me por não mais ter | te mandado notícias, prometo que isto não | vai mais acontecer. || Continuo trabalhando na KOBIJOL | e o Nº do telefone é: 621-3274, quando vier | aqui pode me telefonar, será um prazer cice- | ronear um amigo como você. || Quanto ao seu novo chefe | eu o conheço e é uma boa pessoa, ele é | irmão e sócio do meu ex patrão o proprie- | tário da JACOTEL com quem trabalhei 4 anos. || Quando você aparecer aqui | conversaremos melhor. || Espero que dê tudo certo para | você nesta nova mudança. || Termino com um abraço sau- | doso de sua amiga que muito a estima. | “Cleu” | ATÉ BREVE. Carta 83 Retirolândia 20-10-80 | ola Mario | Tudo bem? espero que sim, eu vou bem Graças a | Deus. Como esta indo de trabalho. || Espero que esteja gostando. voçê sempre gostou de | trabalhar ai. || Você esta fazendo muinta falta, no correio, com o | amigo, e as piadas que você contava. || Amigo como você <↑agente> não encontra em qualquer lugar, | nem toda Hora. || Eu achei você uma pessoa porreta. um migo e tanto. | Como ficou você e minha tia? || Quando que vão se ver agora? Quanto ao estudo| eu vou indo muito bem. || Quando passo na frente do correio sempre lembro de | você. || obrigado pelos abraços que mandou para mim pelo | telefone, eu fiquei muito contente quando Bel me falou. || Fiquei contente ainda mais em saber que você | não me esqueceu, saiba da mesma forma que você | me considero como amigo eu te considero em dobro. || Sempre a Primeira carta não tem muinto assunto | mais na proxima eu vou escrever um Jornal. || Izalmir, Izabel, Toinha manda Lembranças para | você. || Um fim de semana que eu estiver de foga e que | meus pais deixarem eu vou em Valente passar | com você. Quando você estiver lá, é claro. || Estou com sentindo muinto a sua falta Mario. | Tchau um beijo e um abraço | de sua amiga que não lhe esqueci || obs: Desculpe as letras | e os erros. [espaço] Elzinete “Nete” Carta 84 Feira de Santana, 12 de Fevereiro de 1980. | Oi Maro, Tudo Bem? | Recebi sua carta hoje ao meio dia, quando cheguei em casa para | almoçar, fi (sic) muito contente s<ó> em saber que você não se esquece | da gente, aliás em têrmos de correspondência, é o único que colo- | ca em pratica, talvez seja porque você trabalha numa agência de | correios e tenha mais facilidades para tanto, isso é muito bom, | continue sempre assim, é bacana mesmo receber cartas das pessoas | que a gente gosta. || Olha Maro, eu não entendi muito bem “Você - Ana” estão se corres- | pondendo? bom de qualquer forma darei lembranças a ela, você hein? | tá um malandrão de primeira. || Quanto ao carnaval não há nenhum esquema em vista, gostaria de | brincar, adoro carnaval, talvez daremos uma chegadinha a Santo Este- | vam no domingo. Vocês aí têem varias opções como por exemplo Santa | Luz, Serrinha, Rio do Jacuipe, vá lá, divirta-se. Falar em Micareta | ou melhor carnaval, quando vai ser a de Valente? espero que não | coincida com a de Feira de Santana, pois assim temos duas oportuni- | dades para brincar juntos, nos iremos a 128 Valente e vocês vêem à Fei- | r de Santana. || Ah! já estava me esquecendo, tá faltando papel paltado em Valen- | te é? tudo bem, gostei da brincadeira gosto de gozação, não se preo- | cupe, não vou usar o papel vou guardar na minha caixa de correspon- | dência. || Bom Maro, eu não tenho muitas novidades, minha vida não é muito | movimentada, a gente “Eu e Maria” trabalha durante a semana e rara- | mente saímos no fim de semana. Apareça aqui num dia de sábado, é o | melhor dia para se sair à noite. || No mais, tudo bem, um bom carnaval para você, espero que esta | não chegue depois do mesmo. || Um abraço, || Tua Prima | [Lenizete Carneiro da Silva] | Lene| Carta 85 Salgadália 25 de agôsto de 1.980 | oi Maro! | Aqui está tudo bem até o presente momento. || gostei muito de receber a tua carta, deixou- | me bastante alegre. || Fiquei mais alegre ainda quando você disse | que gostou daqui, realmente o pessoal é legal. | Não pense que estou falando isso porque sou | daqui. De forma alguma é porisso. || Saiba que eu também gostei muito de voce, te | achei um cara legal mesmo. Espero que volte sem- | pre aqui, serás bem recebido. || Quanto à foto, no momento não disponho de | nenhuma, mas quando tirar mandarei. || É verdade mesmo que voce vem trabalhar | aqui no lugar de Angelita quando ela for em- | bora? ou são boatos? | Tchau! | outro beijão! | Litiere! Carta 86 Fazenda Pontais, 2/09/80. | Prezado subrinho Adelmário. | “Deus o abençoe” | O objetivo desta é para respostar sua | carta que fiquei muito feliz em recebe-la | e em saber notícias daí. || Aqui até o momento estamos indo | bem de saúde graças a Deus. || Espero que ao receber esta estejam todos | bem de saúde. || Quanto a batida do carro fiquei tris- | te pelo que aconteceu, mas graças a Deus, | felizmente não houve o pior não é mes- | mo? Dêem graças a Deus por não ter acon- | tecido coisas mais perigosas. || Sim mãe e Maria elas estão indo | bem, elas manda um abração para você. || Aqui não tem nenhuma novidade | importante está tudo normal. || Vou terminar por falta de assunto e | com bençãos para todos daí. || Sem mais Seu tio que não o esquece. | Nelsom Francisco de Araújo. | Vire [fol. 1v] Sim Ademário pergunte as meninas | por que é que elas não me escreveram | mais certo? | Tchau! Carta 87 Valente, 22 de julho de 1980 | Olá Marão | Tudo bem, aqui tudo jóia só não estar | melhor por que o trabalho estar demais você | sabe como é quem esta numa boa é voçê talvez | ai nem tenha tempo de trabalhar por que de | brincar deve ter muito mais. Marão recebi o | seu atestado do correio e entreguei a Ivanildo | para ele entregar no colégio quanto ao dinheiro | já chegou e já falei a bilu depois escrevo com | mais tempo por que agora estou sem tempo. | um abração do colega | Nelson F. da Silva. Lembranças as | menininhas bonita desta cidade. [rubrica] | Obs: Recebi seu bilhete depois Giza eu não o| encontrei segue as borrachas. 129 Carta 88 Fortaleza, 12 de Junho de 1980 | Querido [ilegível] <↓ADelmário> | Espero também que ao chegar esta | lhe encontre você e seus familiares com | paz e harmonia. || Aí, vai uns selos, será que estes que | estão aí, serve, se servir depois te enviarei | mais. || Também te gosto muito. Agora que | já passou a onda das provas do Banco, | quero que você me escreva mais. Pois você | com estas demoras está me deixando com | saudades. || Sobre aquilo, lógico que não te levei | a mal, pois acredito que existem muitas | maneiras de se amar. Olha, gostei de saber | que você me quer muito, viu? || É, rapaz [ilegível] persista, [ilegível] insista || que um dia [ilegível] você vencerá. Se não | passou uma vez, estude mais, que na | certa na próxima você irá passar. || Vou fazer novamente o cursinho, | para no começo do ano fazer o vestibular. || Não gosto de moto, mas acho um | barato quem tem moto. [fol. 1v] Nunca andarei de moto. Pois acho que | não tem muita segurança. Mais acho | legal quem anda de moto. Espero que | você compre uma maior, pois assim é | o seu desejo, não é mesmo? || Como é que vai de amor, tudo bem? || Atualmente estou namorando, mais | não é nada sério. | Escreve-me logo | Mil Beijos | Regina Carta 89 Fortaleza, 2 de julho de 1980 | Querido Adelmário | Espero que também esta o encontre com paz, saúde e a- | legria juntamente com seus familiares. || Não sei como é que vai ser o vestibular aqui em Forta- | leza. || Vou fazer o cursinho agora no 2º semestre. E você como | é que vai nos estudos? Tudo bem? || Gostaria que você me escrevesse me falando mais sobre | sua vida, certo? || O namorado que tinha já terminamos, por isto estou li- | vre e por enquanto não pretendo arranjar nenhum tão cedo. || Não se preocupe pois tenho bastante cuidado com os pa- | queras que arranjo, viu? Pois você já deve estar sabendo que | sou toda sua (brincadeirinha, viu?). || Como é que foi de festas juninas? || Em S. Pedro houve quadrilha em minha casa e depois um | pouco de forró, que por sinal dançei bastante, pois adoro dan- | çar forró. E você gosta de dançar forró? || Depois com uma turma de colegas eu e meus irmãos fo- | mos a uma festa e só chegamos às 6hs da manhã. || Meu amor, últimamente você está escrevendo pouquíssimo | para mim, porquê? || Como é, os selos servem? Se você quiser mais me di- | ga que te enviarei, pois recebo muitas cartas e pos (sic) isto tenho | bastante selos. || Meu querido, como é que vai de namorada? || Gostaria de saber a data do teu aniversário, certo? || Gostaria também que se possível você me enviasse pos- | tais daí, pois faço coleção, Se você quiser daqui é só dizer/ | que te enviarei com todo prazer [p. 2] Vou te fazer umas perguntas, certo? || - O que você acha do sexo livre? || - O que vocêacha da masturbação? || - Como é que você gosta de ser beijado? || - O que você acha de mim? || - Você é a favor do top- less? || Qual a sua opinião sobre a juventude atual? || Bem, por hoje é só depois te farei mais, viu? || Se você quiser fazer qualquer tipo de pergunta não faça | cerimônias, pode perguntar pois responder com toda sinceridade e | com todo prazer, pois assim através de perguntas você poderá con- | hecer-me um pouco mais. | Um beijo de quem te gosta muitão. | Regina Célia. | Regina Célia 130 Carta 90 Fortaleza, 24 de setembro de 1980 | Querido Adelmário | Tudo bem? Não estou muito legal, | pois estou com crise de garganta pois ulti- | mamente tenho fumado bastante. || Mais, meu amor que letra horrí- | vel, quase não dá para entender. Pre- | guiça, é? || Espero que você consiga se interes- | sar novamente pelos estudos. Se a | pessoa não tiver força de vontade não | consegue mesmo não. || Sabe, ainda não me decidi para | que vou fazer o vestibular. Só sei | te dizer que vou fazer na Federal, Es- | tadual e Unifor. || Olha, aí segue o meu retrato, | gostou? || Não tem importância quanto aos | postais, quando você conseguir, está | bom, certo? || Bom amor, vou terminar pois | estou com uma tremenda dor de ca- | beça. || Te aguardo com saudades. Beijos Regina. Carta 91 Salvador, 24 de março de 1980 Maro, | Gostei de ter recebido seu retrato, | não o esperava, e sua carta. || Estou no 1º ano de Medicina. | Fiz o curso de Laboratório Médicos no | 2º grau. || Não conheço Valente. Ângela quer | ir na micareta dai e quer que eu vá. Não | sei se dará, pois, tenho prova dia 22|04. || Conheço ao seu respeito atravez | de Ângela e Nani. Elas falam muito de você | e sua moto. || Gosto de pintar em tecidos, dese- | nhar, ir a praia, ouvir música – não ba- | rulhenta –. Quanto ao estudo, estudo o | suficiente para passar de ano e graças | a Deus nunca perdi de ano. Espero con- | tinuar nesse ritmo. || Vou ficando por aqui esperan- | do sua carta. | [fol. 1v] Um beijo da nova amiga | Rosa Argentina Carta 92 Barreiros, Riachão do Jacuípe Bª 10/01/80 | Oi tudo bem? | Aqui tudo bom e nada presta...|| Vera me falou O que Você mandou me | dizer. || Obrigada! [espaço] Agradeço-lhe. || Quanto a festa, talvez eu vá, não é certeza. || Desculpe-me. Escrever pouco. | Por que não tenho Assunto. || Por que não me escreveu, se quizesse | que eu O escrevesse? | Então...| tchau. Um beijo pra você. | Sem mais Valdecy Lopes Carneiro Carta 93 Bela Vista 21 de Março di 1955 | Prezado Irmão ADeus | João o fim destas doas linha e | para saber de Zacarias o preço das | tabôa de Vavá e se for di 1000 para | cá me traga duas duzia que quando | chegar nos acerta e estou esperando | segunda feira como nos tratemos | que já acertei com os oficial para | fazer as porta aceite lembraça de | todos daqui Nada mais do seu | Irmão | Manoel Carneiro de Oliveira Carta 94 saudasão i felisidade que eu dizirjo a | todos compade pitanga aDeus | o fim desta linha i somen- | ti a li dizer que estamos | comos Deus ê silvido | compade dezirjo saber da sua notis | di todos eu não sei que dia | apareco Deus ê quem sabi vom- | tadi eu tenho muitas mais não | poso andar montado poso | compadi eu tou mi achado | doente não poso sair dei muita | lebranca a comade almerinda abencoi | os mininos todos lebranca a irmão | i a todos que alembra de mim todos | meus manda muita lebranca i | vou terminal com sodade comade meu | receba o meu Deus di longe que de per | to não poso 131 comade eu não escrevi | pra sinhora porque não tive tenpo | mais mando o meu coracão trepasado | de sodade comade si Deus nos der | vida i saude eu vor lar no fim maio | si Deus quezir pra concolar meu coração | nina [fol. 1v] João pitanga Carta 95 Fazenda Baliza | em Candial | Alou Alou mãe e pai | aquele abraço. | Desejo que esta carta | lhe encontre com muita | feliciadade pra senhora | com todos. | mãe como passou | de domingo pra car. | eu passei [.] bem | graça ao nosso Bom | Deus. | Sim mãe o papel | grinal eu já cortei | todo já fiz um | bando de flor mais | não deu pra fazer | o que tia Elizabete | queria e comforme | que eu vou pra lar | conforme se comadre | Irailde for mais eu | eu volto com ela | Nada mais da sua | Filha | Doralice Carneiro Oliveira | [fol. 1v] Mãe dei Lembrança | a todos da casa Carta 96 Fazenda Baliza 23 do 9 de 76 | Prezada Tia Almerinda| Dezejo que esta Carta li enconter gozando | Saude juntamente Com todo da dinga | Casa aqui estamos todos com saude | graca ao bom Deus sim lia | Eu li escrevo para li pedi Comadre | Doralice para ficar mais eu ate no | dia 2 a te pelo amor de Deus que | eu tenho tanto trabalho que eu não | Poso fazer olhe tia não mi falter | e para ela me ajudar eu arumar | A casa que eu não poso fazer so | Ai mãe manda li dizer que ela estar | Andano doemte não estar podemo mi | Ajudar nos trabalho e eu não po s o | Fazer sozinha Erismar e mesmo que eu | estar so se eu pudece fazer sozinha eu | não mandava li abusar a Senhora | eu e para fazer toudo Quantos | Trabalho e meu e eu não estou emi | A olhi tia não mi faltre pelo | Amor de Deus nada mais da Sua | subrinha que não li esquece que | e Iraildes Carneiro de Oliveira| [fol. 1v] olhe tia eu não me | Aqueto hora em uma | e costoramo o dia entero | Pai manda Lembraca para a | Senhora e eu peco que mi | bote uma benca de Lonje que | de perto não posso dar | e diga a tiu que me abmcoi | dei um[.] bejinho em Andre Carta 97 Fazenda Viva Deus 3 di Agosto di 70 | Saldação Conmadri Almerinda | ufim desta duas linha e Sol | mente para lhi dar as minha | nutisa i no mesmo tenpo | Salber das Sua commadre | eu mais todos meu Vou | indo- eu Vou sempre andano | sempre duentada commadre | Aseite uma Bensa de Raque | e dos menino conmadre | eu estou com muita | sodadi da senhora si | eu fosi um passarinho | eu dava um avoio i ia | liver Vo terminar | in viano lembransa | pra siora i compadri | Pitanga nada mais da | sua conmadre | Z Zulmira Sanpaio da | Silva| Agora e otro Asunto | compadri eu quero que u sior | mi in manoel da jiboia mi | fazer um gardaloisa Bem feito | 4 vidro [.] i u sior mandi Viri | [fol. 1v] por Manoel Virgino nada | mais do seu Amigo i | compadri Antonio Carneiro Oliveira | Vai um Ferro | Para o seor Fazer | otra levanca com 7 | Palmo Vai 10,000 cruzeiro | da otra que Veio | eu Peso que u sior não | deixe manoel Virgino | Vim sem u gradloisa 132 Carta 98 Fazenda Mubuca 18 do 7 75 | Sáudacão | Querido Zezito te escrevo esta duas | linha par te resposta a carta querido | Zezito em primeiro loga un | abraco Só te digo que te amo | toda vida amor não te esqueso | un Sigundo Zezito Hejé fez um | mêis e 8 dias que te vi de lonje | presizo te vê[?] de perto eu tenho | vontade de te vê[?] de perto não| Sé[.] quando eu te espero ainda | amôr Zezito e o mesmo [.] carinho contigo amôr que e a | minha vida cancigo le esperaei no | São João não apareceo eu fique | treste você de lá e eu de cá | cada dia que pasa a lembrança | e mais de você Querido do olho | preto Sombranseha de veludo eu Só | probi mais [.] você é, tudo | eu peço que você apareça é | continunhi escrevendo par mim | que eu continunhi par você | Querido José Mindes de Almeida | Querido fiquem bastante alege | recebe a Sua carta consigo | asim ti amando Querido Ti amo | amor? | Nada mais da Sua | Querida Tá o que | Ana Helena Cordeiro de Santana | páz é amor?! | Carta 99 Commovido do zello, de fiel vasallo, e comduýdo, do que vejo | uzar como fazenda de Vossa Maggestade Vendo, que os homens, que oferecem, | só procuram meyos como cada hum ade tirar a sua parte! Me | motiva, aoferecer aos pez de Vossa Maggestade estas rezoens que como | Verdades, merecerâm lugar, na actensám Real de Vossa Maggestade porque | Senhor digo Sam tantas as comfuzonz, que em todo ultra mar sucedem que | parece que não tem eztes homens, nem justisias, que os castiguem, | nem Rey, que os governem; e cada hum viue como lheparece, | fazendo cada dia: hum levantamento, cada hora, hum crime, | e cada instante, hum furto: e todos se valem, do Real nome de Vossa | Maggestade para capear seu malleficio: tudo izto, se oculta a | Vossa Maggestade porque, as diztancias o premitem, e porque os homenz | não cuidam, senão como ade, cada hum levar dinheyro, | seja, pella via que for. [espaço] Ja da fazenda de Vossa Maggestade nem creyo, que emteira noticia | lhedam das rrendas que tem neste Brazil, que eu´ heide levar. | Maggestade as noticias, que alcansar, das que tem, asy nas minas | como neste Rio de Janeyro. [espaço] Emportam as rendas Reaez, cada trienio, neste Rio | de Janeyro, muyto perto de seis sentos mil cruzados, enoque toca | as minas vejo que nem dizimos dos quintos de Vossa Maggestade | porque cada hum anno emtrão neste Rio de Janeyro, oi- | to, dez, e doze milhons, epara a Bahia vay muyto mas; a ser | teza desta rezam, sepode lá aberiguar,sabendo Vossa Maggestade | o que vay nas frottas cada anno, porque tudo, serremete ena | da fica quá. Veja Vossa Maggestade com quanto, o querem com- | tentar os Povos secomtrinta arrobas que dam: pagam os di- | zimos dos quintos de Vossa Maggestade. [espaço] Entendo eu Senhor que os Ministros são os mas cul- | pados nezta satisfasam, porque todos tratão somente deadquirir [2a pág.] [espaço] Deadquirir ouro, ceabedaes, e para nada mas olham, nem para o | Servisso de Vossa Maggestade nem para o de Deos, nem para o zello do pro | ximo, senão somente , atropellam tudo, comosolhos na sua com | veniencia rezam porque emtendo: que não vay dequá nem hum rico, | que tudo, não pretensa direyta mente a coroa de Vossa 133 Maggestade porque | com a sua fazenda he que se fazem todos os negocios, ja deabzentes. ja | [dev] [sanos], ja da Real, que essa he comum e a desgrasa mayor. he | que sempre obram bem, arrezam a seu tempo adarey, quando Vossa | Maggestade se digne ouvirme. [espaço] Nas Minas tem Vossa Maggestade dedizemos, passagens, lotes e ou | tras pertensas, vinte ou vinte esinco, arrobas deouro, cada trienio | e como adespeza he pouca emtendo senão vai a mão de Vossa Maggestade | que o tornam para a terra, e a tudo sedá sabida. | Se dizem a Vossa Maggestade que as minas estam atrazadas | he engano /senhor / porque as minas, he hua couza muyto grande, | e nam pode faltar nellas ouro, salvo por decreto absoluto de Deoz | que natural mente, he impocivel, adminuissão no ouro, porque são | muitas legoas de terra essas deouro e inda senão tem lavrado hua, | nem penetrado a terra, e só, seanda arranhando por riba da terra, em | huns buracos taez que, he couza redicula [revertas], isso Senhor. He falso | com a experiencia dedoze ou quatorze annos deaciztencia de Minaz, | alem de outros averes que não faltam poraquelle Sertam, ea | seu tempo semostrarâ. [espaço] Agora nova mente tem sucedido nas minas hum levantamento | que la fizeram os Povos ou[??] quizeram, como constará das noticias do | Conde, a cauza, dizem a hua voz todos, quehe porque se faz | o lansamento para az trinta arrobas cada anno, esetiram secenta | Sesenta; que não aparecem nem sabe` o caminho que levão, | [3a pág.] e apennas aparecem as poucas que vão a Vossa Maggestade fique asua | eleisam, o emtender o caminho, que levarâm as outras, que tambem | aseu tempo, sedirá, e não fora mao, que Vossa Maggestade fora | mandando recolher, todo quanto vay por mãons dos que quá | oferecem, porque tudo, pertence a Vossa Maggestade como Senhor, de | fazenda, evida; eu, muyto tinha que dizer, porem a seu tem | po ofarei a Vossa Maggestade prezente, como tambem sey, omeyo | seguro, everdadeyro, emeatrevo, asegurar asy’as minas, | detumultos, e solevasons, como, segurar nelles o ultimo Real | dos quintos de Vossa Maggestade sem, que sedezemcaminhe nen hum, | quando Vossa Maggestade se digne, ocuparme em seu servisso, que | para ficar, o que prometo, e me obrigo, he fiadora amin ha ca | bessa, aqual, senão ade afastar dos reaez péz de Vossa Maggestade | que Deos, guarde e prospere dillatados annos para augmento | deceos vasalos Rio de Janeiro 2 de agosto de 1720. Felix de Gusman M. Bueno. Carta 100 Joaquim Joze das Nevez Por mostrar que dezejo servir avossa mercê, envio a Ama de leit[e] a qual / entre asque tenho / hé a maiz suficiente, eCertamente anão man[da]ria izenta do filho por conveniencia alguâ, esó o= faso pela Razão expreçada, por quanto ficando odito filho se= faz necessario despensar outra doserviço para bem manter os dois, ficando o Lucro de huâ [p]elo serviso de duaz; porem estas circunstancias, eoutras maiores, não se opo[e]m aoseu 134 empenho, maior mente aCompanhando-me hum grande gozto deasim mostrar que sou avossa mercê obrigado [espaço] [espaço] Hei de estimar vá em tudo amedida doseu dezejo, e que igual mente partecipe o nosso= amigo Fernando Pinto. A pe[teco] avossamercê hua continuada saude emuitas felicidades, econheça que lhetributo os Rendimentos de minha escravidão por ser Parahiba 30 de De vossa mercê Agosto dE 1782 Muito obrigado venerador eCriado Joze deFriaz e Vaz